Estas duas palavras estão em crise de identidade. Passam por um processo
de esvaziamento e perda de sentido. Fé é adesão firme em Deus, que é fiel. É um
fato que supera toda nossa compreensão humana, mas não afeta a liberdade ao
tomar decisão. Pelo contrário, livremente a pessoa age com atitude de
fidelidade.
Fidelidade é a prática de quem é fiel ao que faz e tem compromisso sério
no cumprimento do que assume e é confiável, é constante. Há um texto bíblico
que diz que “o justo viverá por sua fidelidade” (Hab 2, 4). A infidelidade é
descumprimento de um compromisso de fidelidade e ruptura com consequências
desastrosas.
Fé e fidelidade são dons de Deus, mas também frutos de decisão
consciente e responsável. Ambas fazem parte da estrutura natural das pessoas,
mas precisam ser trabalhadas com sinceridade para que sejam um bem para a
sociedade. A falta de fidelidade, em determinadas circunstâncias da vida, pode
ser também ameaça à fé.
Não podemos agir apenas por fantasia, sem profundidade, despidos de
responsabilidade. A fé e a fidelidade do outro depende do testemunho que lhe
for proporcionado. Não ter uma fé como fundo de garantia, sem fidelidade, mas
como firmeza na adesão aos princípios que contam e que nos levam à realização
de vida com dignidade.
Toda pessoa deve estar a serviço do Reino de Deus. É um caminho de
construção, que supõe desapego, desprendimento e atenção ao que é mais
importante para o bem comum. Em vez de ser servido, a fé e a fidelidade, como
condição de vida digna, fazem de nós servidores da comunidade com determinação
e coragem.
Estamos numa mentalidade que busca compensação para tudo que se faz numa
mentalidade totalmente calculista e muito marcada pelo materialismo, onde o ter
passa a ser mais importante do que o ser. Para ser diferente, devemos ter
dedicação total no servir, mas com o coração aberto e sem interesses puramente
vazios. Não é saudável a ambição de poder, de aparecer e de compensação.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba
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