No mês de setembro, temos como tradição na Igreja Católica celebrar o
mês da Bíblia no Brasil. Esse costume vem do fato de que no dia 29 celebramos a
morte de São Jerônimo, o tradutor da Bíblia do grego antigo e do Hebraico para
o Latim.
Para orientar o leitor das Sagradas Escrituras, cada ano a equipe
coordenadora propõe um lema e um determinado livro da Bíblia para ser estudado,
refletido, seja individualmente como nas comunidades. Para este ano foi
indicado o Evangelho de Jesus segundo Lucas sob o prisma do
discipulado-missionário, tendo como o lema: “Alegrai-vos comigo, encontrei o
que estava perdido” (Lc 15).
“Há muito, Deus tem tentado esclarecer ao homem, acerca do seu grande
amor por nós. A ovelha perdida, é uma parábola contada por Jesus, afim de
mostrar a busca incessante do pai por seus filhos. Deus criou o homem à sua
imagem e semelhança. O sopro do pai o fez vivente. Somos seus filhos. Jesus
começa ilustrando a disposição do bom pastor, que na falta de uma ovelha,
somente uma delas, sai e enfrenta o que for preciso para a resgatar e a trazer
em segurança ao aprisco. E foi isso mesmo que aconteceu. O pai nunca rompeu a
sua relação com o homem. O ser humano foi quem se perdeu, se distraiu, não teve
atenção suficiente e errou o caminho”.
Nesta perspectiva de encontrar o caminho de volta, a Palavra de Deus é a
bússola que orientará com certeza ao rumo do amor infinito de Deus. E no
retorno à casa, ao aprisco das ovelhas a alegria se transformará em festa,
amigos e vizinhos serão convidados para se alegrar por uma única ovelha que
voltou, que foi encontrada.
Ao mesmo tempo que a Palavra de Deus na Bíblia é bússola, não podemos
esquecer de que ninguém vive sozinho. A presença de um amigo, de um irmão, para
caminhar juntos será fundamental, a fim de sentir no retorno a força para
chegar. Como faz bem, como é indispensável um Cirineu, para apoiar e dividir o
pesa da cruz.
Cada um nós tem uma história, uma vida que vai sendo construída a cada
momento. Na dinâmica do caminho somos interpelados de todos os lados, por
propostas encantadoras.
Porém nenhuma propõe em primeiro lugar a cruz. O Mestre Jesus ao fazer a
proposta do seguimento dele deixa claro: “Quem quiser me seguir, renuncie a si
mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me” (Lc 14,26). No mundo ninguém fala em
renúncia, em cruz, em perseguição, tudo é festa, tudo é feito para viver um
paraíso terrestre, onde tudo termina aqui. Toda escolha exige renúncia, perdas,
e também ganhos, com uma pequena diferença, que tudo se encaminha para o
paraíso celeste, onde tudo será uma festa eterna.
Nunca e ninguém pode substituir ninguém no caminho da felicidade aqui e
no outro mundo. Não existe representação e muito menos delegação. Somos todos
convidados em primeira pessoa e julgados como indivíduos agraciados e amados
desde toda a eternidade.
O Deus que nos amou e ama nos chama para ir contra a corrente do
mundo, das ideologias alienantes, das doutrinas modernas, e do modernismo
facilitador de tudo. É preciso coragem para retomar o caminho. Se faz
necessário renunciar as coisas de Deus e ficar com o Deus das coisas.
Alegremo-nos por uma só ovelha que volta ao colo do pastor.
Dom Anuar Battisti é Arcebispo de Maringá (PR).
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