Castel Gandolfo, 9 de dezembro de 1995
(De um discurso às focolarinas)
O carisma da unidade tem a sua origem em Deus Uno e Trino e no mistério do Verbo encarnado que, na Paixão, vive o abandono. Chiara explica como entrar no dinamismo do amor trinitário.
(…) A vontade de Deus é Deus e Deus é Amor. A sua vontade, portanto, é amor. E é que também nós amemos: a Ele, com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e a cada próximo como a nós mesmos (cf Mt 22, 37-39).
Também nós, durante a vida, devíamos ser amor: pequenos sóis ao lado do Sol.
Se, naquela época, a palavra "amor" significava comumente o sentimento natural que une um homem e uma mulher entre si, ou significava o erotismo; se, em geral, não era usada na linguagem religiosa, que preferia o termo "caridade", mas frequentemente com uma conotação mais restrita de esmola, a manifestação especial de Deus Amor que tivéramos e o contato direto com a Palavra de Deus, nos haviam lançado luz sobre o seu significado cristão. Aliás, logo intuímos que o amor era o coração da mensagem cristã e, portanto, era dever absoluto colocá-lo em prática.
Começamos com o amor aos pobres, mas, graças a essa prática – pois o amor é portador de luz –, logo entendemos que o amor deveria ser dirigido a todos.
De que modo? Servindo, dizíamos. “Servindo”, que o Espírito Santo logo nos explicou com uma expressão: “Fazer-se um”.
"Fazer-se um” – lemos num escrito – “com cada pessoa que encontramos é partilhar os seus sentimentos, partilhando os seus sentimentos, carregar os seus pesos, sentir em nós os seus problemas e procurar resolvê-los como coisa nossa, que o amor tornou nossa.
'Fazer-se um' com os outros em tudo, menos no pecado.
É o 'tornar-se tudo para todos' de são Paulo (cf. 1Cor 9, 22)".
"Este 'fazer-se um' exige a morte contínua de nós mesmos. Mas é justamente por isso que, mais cedo ou mais tarde, o próximo, amado desse modo, será conquistado por Cristo, que vive em nós sobre a morte do nosso eu.
Mas quando é assim, o irmão responde ao nosso amor com o seu amor. Eis aí o amor ao próximo que chega à reciprocidade.
"Em todos os próximos que encontras no teu dia, da manhã à noite” – encontramos escrito – “vê neles Jesus.
Se o teu olho é simples, quem olha por ele é Deus. E Deus é Amor e o amor quer unir, conquistando. (…)
Olha para fora de ti, não para ti, nem para as coisas, nem para as criaturas: olha para Deus fora de ti para unir-te a Ele.
Ele está no fundo de cada alma que vive e, se morta, é tabernáculo de Deus, que ela espera para alegria e expressão da própria existência.
Olha, portanto, cada irmão amando; e amar é doar. Mas dádiva chama dádiva, e serás por ele amado.
Assim, o amor é amar e ser amado, como na Trindade.
E Deus em ti arrebatará os corações, acendendo nesses corações a Trindade que neles repousa, quem sabe, pela graça, mas neles apagada. (…)
Olha, portanto, cada irmão doando-te a ele para doar-se a Jesus, e Jesus se doará a ti. É lei de amor: “Dai e vos será dado” (Lc 6, 38).
Deixa-te invadir pelo irmão – por amor de Jesus –, deixa-te “consumir” pelo irmão – como outra Eucaristia – ; coloca-te todo a seu serviço, que é serviço de Deus, e o irmão virá a ti e te amará. (…)
O amor é um fogo que invade os corações em perfeita fusão.
Então, encontrarás em ti não mais tu mesmo, não mais o irmão; encontrarás o Amor, que é Deus vivo em ti.
E o Amor sairá para amar outros irmãos porque, simplificado o olho, encontrar-se-á neles e todos serão um (…)”.
E “todos serão um”. Por conseguinte, não um amor qualquer, mas o amor que é portador de unidade.
(De Chiara Lubich, Um novo caminho. A espiritualidade da unidade, Cidade Nova, São Paulo, 2004)
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