Não depender dos afetos e das simpatias dos outros para ser feliz, mas ser livre para amar
A afetividade é um dom de Deus que precisa ser retamente ordenada pela castidade para o verdadeiro bem, para que possamos amar a Deus e aos outros com amor puro e desinteressado. Além de ordenar nossa sexualidade, a castidade também nos encaminha para a maturidade afetiva, ou seja, a capacidade nata de manifestar o amor, que está envolvido em todos os nossos relacionamentos.
A vivência da castidade nos leva a uma liberdade em relação às pessoas. Isso não significa uma autossuficiência, mas uma liberdade de não depender dos afetos e das simpatias dos outros para ser feliz, mas ser livre para amar. Significa não colocar as pessoas como fonte da nossa realização e felicidade, descobrindo que essa fonte é unicamente o Senhor. É essa descoberta que nos coloca em liberdade para nos dar inteiramente na vivência do amor, para viver o dom de si.
Quando nos colocamos na postura de nos saciar nas pessoas, caímos no amor egoísta, imaturo, que só ama pensando na recompensa, porque quer receber algo em troca. Neste amor egoísta, as pessoas passam a ser instrumentos do nosso prazer, da nossa satisfação, não há liberdade na doação nem gratuidade. A busca insaciável do afeto das pessoas é sinal de imaturidade afetiva.
A castidade, educando-nos ao amor, nos leva a sair da predominância do eu para chegar na predominância do outro, esse é o caminho da maturidade afetiva. No desenvolvimento do ser humano, o amadurecimento afetivo é um processo que se inicia desde o nascimento. Na infância, a pessoa vive a fase receptiva – a predominância do eu – onde ela precisa receber atenção, carinho, amor, afeto para se desenvolver e amadurecer. No decorrer do seu desenvolvimento (adolescência), esse amor recebido deve frutificar despertando progressivamente nela a necessidade de retribuir e dar amor. À medida que a necessidade de amar cresce (juventude), a pessoa vai superando a fase receptiva até chegar à fase oblativa – predominância do outro – que caracteriza a maturidade afetiva (fase adulta). Aí, verdadeiramente, a pessoa experimenta em sua vida que há maior felicidade em dar do que em receber. Todo adulto deveria viver na fase oblativa.
Para que a nossa afetividade seja verdadeiramente livre, equilibrada e madura, precisamos confiar que Deus pode saciar plenamente o nosso coração e fazer essa experiência. “A mais elevada realização do homem consiste no encontro com seu Criador”1.
Viver a castidade exige que nós acreditemos nisso e confiemos que o amor de Deus nos basta e nos sacia plenamente, que nada pode nos realizar mais do que o amor d’Ele.
1- Píer Giordano Cabra, “Amarás com todo o coração”, p.53.
Por André Botelho
Fonte: Canção Nova
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