Maria está a caminho de Belém. Junto a José. E com Jesus no
seu interior. É advento. É espera. É silêncio. Desligamos o celular e nos
conectamos a Deus. Descansamos do barulho do mundo. Faz bem desconectar-se um
pouco. Renunciar um pouco. Fazer mais silêncio.
Caminhamos com Maria e José. Maria acalma José quando ele se
inquieta. José se ajoelha diante de Maria, diante de Jesus em Maria. Maria, no
advento, é o único lugar do mundo onde se encontra o Deus feito carne. Que
grandeza! Que pequenez!
O medo, a incerteza, o sentimento de fragilidade, o poder
descansar em José. Maria não está sozinha. Como Deus é bom! Ela pode falar com
José, sonhar com ele, rezar com ele olhando as estrelas, caminhar na ponta dos
pés pela vida, levantar o olhar e os anseios, construir um mundo de ternura.
Ele sabe de tudo e compreende Maria. Com ele, ela pode falar
tudo. Com José, com suas mãos sobre sua barriga. Os três estão sozinhos neste
momento.
Imagino a intimidade de Maria com Jesus. Os diálogos
intermináveis no silêncio do caminho. Imagino a intimidade de Maria com José, a
intimidade dos três. Como será que eles rezavam juntos? Certamente, também
tinham medos, dúvidas, inseguranças.
“Como será este menino? O que vai acontecer? Onde ele
nascerá? O que teremos de fazer? Como poderemos educar o próprio Deus?” Eles
sentem que não sabem nada, que são fracos e ignorantes. Como se educa um Deus
que sabe tudo, que pode tudo?
José está tranquilo porque Maria está presente. Ele confia
totalmente nela. É um tempo de olhares, de silêncios, de ternura. De abraços
calados. O anjo veio ao seu encontro. Ao de Maria, ao de José. Mas depois o
anjo parece ficar calado. Não há mais sinais. Só Deus em Maria, só Maria em
Deus.
Quantos caminhos nesse primeiro advento! O caminho de Deus
até nós, tocando com imenso respeito a porta de Maria, a porta de José. O
caminho até a casa de Isabel, Maria cheia de Deus, levando a alegria em seu
ventre.
Há quadros que representam José caminhando com Maria rumo à
casa de Isabel. Como poderia deixá-la sozinha? O caminho sagrado até Belém.
Muitos passos, muitos dias, muitas noites. Calor e frio. Escuridão e luzes.
Vento e medo. Alegria e espera. Assim como em nossa vida, quando caminhamos.
Repassamos o passado e encontramos também caminhos em nossa
história, encontros e desencontros, medos e esperanças. Como José e Maria no
advento. Caminhos e descansos. Muitos momentos de quietude, de recolhimento, de
oração profunda, interior, de descansar em silêncio, um junto ao outro, os três
unidos.
O maior milagre está escondido em Maria. O maior segredo é
cuidado por José. Deus cresce dentro dela. Maria o guarda como o mais sagrado.
Acaricia-o. E o espera quando ninguém o espera. Em silêncio, seu corpo e sua
alma se preparam para Ele.
Ela já sabe seu nome. Chama-o pelo nome. Calada, em seu
coração. Pronuncia seu nome. Chama-o suavemente. Com imensa ternura. Ela sempre
o amou, e agora Ele está com Ela, para sempre.
Maria pensa nas pessoas a quem Jesus ajudará. Repete seu
“sim”. Às vezes com força. Às vezes também com voz suave. Subitamente, diz como
um grito. Mas, outras vezes, seu “sim” será o silêncio, o gesto calado. O
simples estar em pé. O ajoelhar-se para segurar aquele que não consegue se
manter em pé.
Esse “sim” de Nazaré, esse “sim” de Ain Karim, esse “sim”
repetido no caminho a Belém. Esse “sim” em Belém, escondida ao lado de uma
manjedoura. Esse “sim” no Egito, cheia de desconcerto. E novamente esse “sim”
do silêncio de trinta anos.
Esse “sim” oculto em uma família santa. Esse “sim” que nós
tantas vezes não pronunciamos. Esse “sim” que fica preso na garganta. Esse
desejo torpe e pobre por levantar o olhar, a alma, o interior. Esse anseio
profundo por chegar ao mais profundo da vida.
Hoje, podemos nos unir a esta oração:
“Ensina-me, Maria, neste advento, a querer, a velar, a
guardar, a olhar para o meu interior sem mês distrair. Porque eu me distraio.
Ajuda-me a caminhar, como tu. Tu carregas Deus sem dizer nada. Isso me comove.
Como eu gostaria de me parecer mais com você!
Tu carregas Deus em tua paz, em tua ternura, em tua
misericórdia, na luz dos teus olhos, nesse teu jeito de estar preocupada pelos
detalhes mais humanos, de acolher com teu olhar limpo, de deixar de pensar em
ti para pensar no outro.
Teu ‘sim’ de Nazaré... Ah, quantos ‘sim’ saíram dos teus
lábios, da tua alma! Agora, tu e José não veem mais que o hoje, mas confiam. Em
breve, haverá outro passo a ser lado, e Deus lhes marcará esse pedaço de
caminho com seus passos, dando-lhes luz.
Ajuda-me a ser assim, a dar o meu ‘sim’ nos passos que
preciso dar hoje, e confiar em que, para os passos de amanhã, Deus estará
comigo. ‘Sim’ ao hoje. ‘Sim’ a este passo.”
Neste advento, queremos aprender novamente a caminhar. Sem
pressa. Em silêncio. Desconectados um pouco. Conectados profundamente com Deus.
Primeiro um passo, depois o outro. Assim, o caminho se tornará mais leve.
Enxergaremos mais longe. Confiaremos com mais força. Como as crianças, que
sabem que alguém as espera para iluminar seu caminho de cada dia.
PADRE CARLOS PADILLA
Nenhum comentário:
Postar um comentário