15 de nov. de 2014

O Sermão da Montanha (2° Parte)

As Bem-Aventuranças são o Caminho para o Céu

O sermão se inicia com as Nove Bem-Aventuranças, que completam os Dez Mandamentos do Antigo Testamento entregues a Moisés no Monte Sinai. Os Mandamentos do Antigo Testamento determinam o que é proibido fazer e dão um tom de severidade. Os Mandamentos do Novo Testamento, entretanto, apontam o que é necessário ser feito e são impregnados de amor. Os antigos Dez Mandamentos foram escritos em tábuas de pedra e assimilados por meio de estudos. Ao contrario destes, os mandamentos do Novo Testamento foram escritos pelo Espírito Santo nas tábuas do coração dos que acreditam. Aqui está o texto destes perenes mandamentos:

"Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; e Ele passou a ensiná-los, dizendo: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos insultarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim.Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que existiram antes de vós" (Mateus 5:1-12).

O fato extraordinário sobre as Bem-aventuranças é que cada uma delas começa com a palavra Bem-aventurados. Os mandamentos do Antigo Testamento agem com proibição de certas coisas e ameaçam com castigo enquanto que as Bem-aventuranças encorajam com o bem, convidam à mais alta e infinita alegria junto a Deus.

Desde o tempo que sucumbiu ao pecado de nossos ancestrais, as pessoas perderam a noção da verdadeira felicidade e até a correta noção do que ela é. O verdadeiro sentido da palavra "felicidade" começa a soar como um sonho inacessível ou ideal inatingível. Porém, Nosso Senhor Jesus Cristo oferece-nos a felicidade, numa realidade específica e acessível. E essa promessa aplica-se não somente à vida futura nos Céus, mas nesta realidade aqui mesmo, quando a pessoa se liberta do fardo do pecado, ganha paz em sua consciência e torna-se capaz de receber a graça do Espírito Santo. É o Espírito Santo que nos dá essa inexplicável alegria que não pode ser comparada com nenhum prazer terreno. Ao lermos sobre as vidas de santos nós percebemos que os autênticos cristãos, no esforço de preservar e fortificar a graça de Deus em suas vidas estavam prontos para sacrificar-se em qualquer situação.

Ao adentrarmos no sentido profundo do significado das Bem-aventuranças, torna-se evidente que elas se formam em determinada seqüência. Elas mostram o caminho da real felicidade e explicam como seguir este caminho. Elas podem ser comparadas a uma escada celeste ou a uma uma sólida edificação das virtudes.

O ponto inicial das Bem-aventuranças é o fato de que qualquer pessoa sem exceção é atormentada pelo pecado e como resultado, fica sentindo-se desamparada e miserável. A tragédia do pecado original de Adão e Eva é a tragédia de toda a humanidade. O pecado anuvia a mente, enfraquece e escraviza a vontade e enche o coração de desgosto e desespero. Por isso é que todo pecador, sente-se infeliz, miserável, sem saber exatamente porque. Pelo seu sofrimento ele está pronto a culpar toda a humanidade e as condições de vida. O primeiro mandamento faz o diagnóstico certo: a causa da infelicidade das pessoas é a sua doença espiritual.

Nosso Senhor Jesus Cristo veio ao mundo para curar as pessoas. Ele chama todos à Deus e à entrar em Seu Eterno Reino para a eterna felicidade. O chamado de Cristo soa como a voz do Pai que ama, pedindo ao filho perdido a voltar para casa. E quando um homem retorna a Deus, ele não carrega uma bagagem de virtudes ou vem acumulado de talentos, ao invés disso, ele volta como o filho pródigo que gastou os bens de seu pai.

A primeira bem-aventurança chama o homem para que ele entenda sua doença espiritual e assim se dirija a Deus para pedir ajuda. Esse primeiro passo é extremamente difícil. Não é fácil ao "filho pródigo" a voltar aos seus sentidos, admitir sua falta e deficiência e voltar atrás. É por isso que é prometida uma grande recompensa somente por este esforço da sua vontade e cumprimento deste bom início: "Bem-aventurados os que são pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus." É extraordinário que da mesma forma que aconteceu a queda do homem no pecado através do orgulho (serão como deuses) a recuperação desse pecado começa com o humilde reconhecimento de sua debilidade.

Pobreza espiritual não é a escassez financeira ou inabilidade emocional. Pelo contrário, os pobres de espírito podem muito bem ser ricos e talentosos. Pobreza espiritual é uma maneira humilde de conduzir o pensamento, é o que resulta do reconhecimento da própria imperfeição. Entretanto, humildade cristã não é desespero e tampouco pessimismo. Pelo contrário, é uma intensa esperança na misericórdia de Deus e na real possibilidade de tornar-se melhor. Ela está imbuída de alegre expectativa de que, com a ajuda de Deus, nos tornaremos Seus filhos virtuosos que O agradam.

O reconhecimento da própria miséria (fraqueza) e o estado de pecado daquele que crê se manifesta no estado de espírito penitente, se assumindo pelas culpas passadas e a intenção de corrigir-se. Um arrependimento sincero não raro acompanhado de lágrimas, é provido de poderosa graça. Ao passar por isso a pessoa sente tanta leveza, como se um pesado fardo lhe fosse tirado dos seus ombros. Esse sincero arrependimento nos direciona à segunda bem-aventurança: "Bem aventurados os que choram, porque serão consolados."

Quando purificamos nossa consciência dos pecados, a harmonia e ordem se aninham no nosso interior e preenchem nosso pensamento, nossos sentidos e nossos desejos. Então uma sensação de apaziguamento e serena alegria tomam o lugar da irritação e da ira. Uma pessoa em tal estado de espírito não sente vontade de brigar com ninguém. Ela prefere perder uma pequena causa do que perder a paz de espírito. Assim, o arrependimento leva o cristão ao terceiro passo em direção à retidão - a humildade: "Bem-aventurados os mansos porque eles herdarão a terra."

Certamente as pessoas maliciosas às vezes usam essa humildade dos cristãos para seu próprio proveito, enganando, roubando ou humilhando. Deus conforta os cristãos dizendo que na vida futura ganharão muito mais do que perdem aqui. Se não for nesta vida, então na vida futura a justiça triunfará e os mansos herdarão a terra, o que significa que herdarão todas as bênçãos do mundo renovado onde habitará a verdade.

Por isso, as três primeiras bem-aventuranças que chamam o povo a se voltar humildemente à Deus em estado de arrependimento e humildade são o alicerce no qual a casa da virtude cristã deverá ser construída.

Da mesma forma que a volta do apetite num doente significa que ele está se recuperando, o desejo para a retidão é o primeiro sinal de recuperação do pecador. Enquanto ele vive em pecado o homem tem sede de prosperidade, dinheiro, reconhecimento e prazeres corporais. Ele nem cogita sobre enriquecimento da alma e até demonstra desprezo pela idéia. Mas quando sua alma está livre da doença do pecado então o homem começa a desejar ardentemente a perfeição espiritual. A quarta bem-aventurança fala sobre essa aspiração à retidão: "Bem-aventurados os que tem fome e sede por justiça, porque serão saciados."

O desejo para se tornar reto, ou justo, poderá ser comparado com a próxima etapa da construção da casa da virtude - a construção das paredes. Ao usar as palavras fome e sede, o Senhor nos mostra que o nosso anseio à retidão não deverá ser inerte e passivo; pelo contrário, deverá ser ativo e vigoroso. Afinal, um homem faminto não só pensa na comida mas também faz tudo para saciar a fome. De acordo com o Sermão da Montanha, somente um desejo ardente almejando a virtude fará um virtuoso a se saciar.

Subindo ao quarto degrau da virtude o homem já ganhou uma certa experiência espiritual. Tendo recebido o perdão de Deus, tendo recebido a paz de espírito e a alegria de ser adotado filho de Deus o cristão agora nesta etapa já experimentou o Seu infinito amor. E o amor divino lhe aquece o coração que responde com amor a Deus e compaixão ao semelhante. Em outras palavras, ele se torna bondoso e compassivo e dessa forma sobe ao quinto degrau da virtude - a misericórdia: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia."

A bem-aventurança da misericórdia é muito rica em significados. A misericórdia deverá se expressar não somente em auxílio material, mas também pelo perdão às ofensas, visita aos doentes, conforto aos aflitos, bons conselhos, palavras de apoio, orações pelos seus semelhantes e muitas outras ações. Literalmente todo dia temos oportunidades de ajudar o próximo. A maior parte são pequenos e aparentemente insignificantes incidentes que passam despercebidos. Mas a sabedoria espiritual de um cristão está na capacidade de não desprezar pequenas boas ações pela grande causa da almejada realização futura.

Os grandes planos muitas vezes não são realizados enquanto que as pequenas boas ações em grandes quantidades se armazenam ao longo da vida formando um significativo patrimônio espiritual.

Esse tipo de amor dinâmico purifica o coração do egoísmo e traz o homem mais próximo a Deus, isso de forma tão forte que sua alma se transfigura sob a influencia da luz espiritual. A pessoa começa a sentir no ar a graça divina, e mesmo ainda na vida terrena já percebe Sua presença através dos olhos de seu espírito. Assim, a alma humana se assemelha a um lago, que depois de muitos anos de negligência ficou turvo e cheio de algas, mas quando limpo, a luz do sol penetra em suas águas cristalinas. As pessoas que alcançaram tal pureza da alma são o tema da sexta bem-aventurança: "Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus." Exemplos de tal pureza espiritual que levam à clarividência podem ser encontrados nas vidas de santos como São Serafim de Sarov, São João de Kronstadt, os Santos Pais de Optina e tantos outros santos da Igreja Ortodoxa.

Deus faz destes homens o instrumento de Sua Providencia para a salvação das pessoas e para este propósito abençoa-os com a sabedoria e alta sensibilidade espiritual. No processo missionário de mostrar o caminho da salvação esses santos homens se assemelham ao Filho de Deus, que veio ao nosso mundo para reconciliar os pecadores com Deus. Essa pacificação espiritual é a idéia central da sétima bem-aventurança: "Bem-aventurados os pacificadores porque serão chamados filhos de Deus." É claro que todos devem procurar ser pacificadores no seu meio familiar e com os amigos, mas a alta forma dessa virtude requer um dom especial, que vem de Deus e que é dado a pessoas de coração puro.

Ao procurar ser semelhante ao Filho de Deus, fazendo o bem, o cristão também deve estar apto para imitar a Sua paciência. As duas últimas bem-aventuranças falam do triste fato de que o mundo imerso no pecado não suporta a retidão por muito tempo e se rebela contra os que a tem: "Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos insultarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim." Da mesma forma que a luz faz dispersar a escuridão e mostra as coisas como elas são, as vidas virtuosas dos verdadeiros cristãos evidenciam a crueldade moral dos maus. Essa é a razão porque os pecadores odeiam os justos e querem se vingar por sentirem remorso na sua consciência. Podemos ver esse ódio através da História: a história de Caim e Abel e até a presente data, como por exemplo nas perseguições aos cristãos nos países ateus.

As pessoas que tem uma fé fraca receiam demonstrar a sua fé pois temem perseguição por sua convicção religiosa. Mas os verdadeiros justos e mártires assumiram o sofrimento por Cristo com alegria porque seus corações ardiam por amor a Deus. E até se sentiam felizes pela honra de poder sofrer pela fé. Em dias de provação os cristãos devem tomar o exemplo daqueles justos e consolar-se com as palavras de Cristo que prometeu: "Regozijai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus," pois quanto mais forte é o amor maior será a recompensa.

Resumindo os comentários das últimas cinco bem-aventuranças podemos verificar que todas elas apontam para o amor. A misericórdia que temos ao nosso semelhante é a primeira forma desse amor. A pacificação espiritual é a forma superior de amor que, para que seja bem sucedida requer pureza de coração e iluminação que vem de Deus. Conservar a lealdade para Deus apesar de insultos e perseguições e o desejo de oferecer a própria vida por amor a Cristo representa a mais alta forma de amor a Deus. Portanto as últimas cinco bem-aventuranças, que mostram ao cristão as mais perfeitas manifestações de amor, desenham para ele o plano das arcadas superiores da catedral da virtude.


Ao concluir, é preciso prevenir o cristão que almeja o amor, para que não esqueça os alicerces sobre os quais se assentará o edifício da virtude: esses alicerces são a humildade, a pureza de consciência e a modéstia (bem-aventurados os mansos). Pois, se os alicerces espirituais se enfraquecem e racham o edifício ruirá. Nosso Senhor fala sobre esse perigo na última parte de Seu Sermão. As partes seguintes que abordaremos, podem ser vistas como o desenvolvimento dos princípios espirituais dados a nós através das Bem-aventuranças.

Fonte: http://www.paideamor.com.br/

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