11 de jun. de 2014

O que é namorar? (Parte 2)

Enquanto você estiver dominado pela vontade de falar de si mesmo, é porque ainda não está apto a acolher o outro.
Entretanto, não  arranque o outro do seu silêncio à força; respeito-o, e aos poucos, ajude-o a falar. Não devasse a sua intimidade.
Você está vendo que o namoro é como uma escola, um educandário  do amor; por isso é belo e rico.
Vá interrogando-o com suavidade sobre a sua vida, as suas preocupações, o seu passado, a sua família, a escola, etc.
Deixe-o dizer tudo o que ele quiser, e não fique com aquele olhar distante, longe, nas nuvens (…).
O diálogo exige gratuidade.
Se você estiver nervoso, preocupado, irritado e de mau humor, então, pegue tudo isto e entregue a Deus, na fé, para estar disponível.
O mau humor, a lamúria, a constante reclamação, são venenos mortais para o diálogo e o relacionamento.
Sorria, ainda que o seu coração esteja chorando, por amor; isto não é fingimento.
Saiba caminhar em direção ao outro, estenda-lhe a mão para ajudá-lo a entrar em você.
Se ele vier a você cheio de problemas e angústias, não tenha pressa em querer dar-lhe a solução mágica para as suas dores. Não, apenas deixe que ele se esvazie; deixe-o falar; só depois, quando ele tiver “posto tudo para fora”, só então, você lhe dirá uma palavra amiga, e de conforto.
Quando o médico vai tratar um tumor, primeiro deixa-o vazar completamente, tira todo o material infeccioso, só depois coloca o remédio.
Assim também ocorre com as “infecções da alma”; primeiro é preciso esvaziá-la, para depois curá-las.
A grande necessidade das pessoas hoje é ter alguém que as ouça com tempo e disponibilidade.
Não será o namoro uma bela oportunidade também para isso?
Se você quiser que o seu namorado abra-lhe a alma, e se revele do fundo do seu ser, então saiba ser receptiva, silenciosa, discreta (…). Então você ouvirá muitas confidências, e ele irá embora aliviado e crescido.
A experiência tem me mostrado que a maioria das pessoas que nos procuram para resolver os seus problemas, mais do que conselhos, querem desabafar uma angústia que está no coração. E quando você se dispõe a ouvi-las com atenção e carinho, elas vão se acalmando e encontrando o remédio que precisam, sem que às vezes a gente não diga nada. É a necessidade da alma humana de desabafar.
Portanto, saiba que o que o outro mais precisa no diálogo é da sua atenção esmerada. Não seja aéreo enquanto o outro fala, esqueça de você mesmo neste instante.
Dialogar não é discutir.
Na discussão gasta-se muita energia, irrita-se e chega-se ao nervosismo que não leva a nada, ao contrário, só destrói o relacionamento.
O diálogo conduz ao amor; a discussão leva à briga. Eis a diferença.
Na discussão cada um – cheio de si mesmo – se acha o dono da verdade e da razão, e não abre mão disso. É o orgulho que impera.
No diálogo ambos procuram a verdade juntos, não se acham cheios de razão, e não se preocupam com quem ela está.
Na discussão são pessoas que se exibem querendo vencer a outra; no diálogo, são argumentos e idéias que são apresentadas.
A discussão é uma luta entre dois egos orgulhosos; o diálogo é o encontro de duas almas queridas.
Entendeu a diferença?
Na discussão um quer arrasar os argumentos e ideias do outro, e desmoralizar os seus raciocínios, já  no diálogo cada um se esforça para compreender os argumentos e ideias do outro, ao invés de atacá-los apressadamente.
Quando você discute, já dá a resposta antes mesmo que o outro termine de falar o que queria expor; no diálogo, você quer que ele repita o que disse para que você possa entendê-lo melhor.
Há um sabor mórbido em arrasar o outro numa discussão. É próprio dos adversários quando se encontram; não de namorados que se amam e querem construir-se mutuamente.
O que você pode lucrar em “dobrar” o outro numa discussão. Nada, a não ser um pouco mais de orgulho e de
arrogância! Além disso você deixa o outro ferido e magoado, mais longe de você… talvez até com mágoa e ressentimento, e com ódio no coração.
A discussão termina com um vencido e um vencedor, como se fosse uma guerra. Será que isto deve acontecer entre duas pessoas que se amam?
O diálogo autêntico e necessário no namoro, não admite portanto, palavras, expressões ou gestos que humilhem o outro, ou que demonstrem pouco caso, cinismo, soberba, arrogância, prepotência (…).
“Você tem um raciocínio de criança imatura!”
“Sua argumentação está toda vazia e furada!”
“Você parece louca, no mundo da lua!”
“Acho que você está precisando de um psiquiatra!”
“Será que você não vai crescer nunca?”
“Até quando você vai continuar com este seu jeito de bebê chorão?”
Expressões desse tipo ferem e magoam; e exigem que se peça perdão.
Ao contrário são expressões do tipo:
“Você fez algo importante!”
“Sua opinião é muito importante!”
“Esta palavra que você disse, me fez feliz”.
“A minha vida é melhor porque você está a meu lado (…)”
E tudo isso pode e deve ser dito sem fingimento ou bajulação, sem a preocupação de entrar numa arena de disputa, mas num coração para amar.
Enfim, na discussão você está diante de um adversário a ser vencido; no diálogo, você está diante de uma pessoa a ser construída pelo amor.
No entanto, se a conversa se transformar numa discussão, há uma saída nobre: deixe que o outro “vença” para que ela acabe o mais rápido possível. Perder nesta “guerra” será uma vitória do amor.
No diálogo, deve-se começar sempre observando o lado positivo das coisas e dos acontecimentos, e não se deixar derrotar pelo pessimismo que só vê o  lado negativo.
Lembre-se que tanto o pessimismo quanto o otimismo contagiam facilmente as pessoas, com a diferença que o otimismo eleva os ânimos.
Outra coisa importante no diálogo, é que você se expresse numa linguagem que o outro o entenda, sobre um assunto que compreenda.
Você não pode dar um bife a um recém nascido; e não pode dar uma feijoada a um velho doente.
Se a diferença de cultura existir entre o casal, então cada um precisa se esforçar para levar o outro a compreendê-lo. E esta será mais uma tarefa do amor.
Mesmo a diferença cultural e científica pode ser superada pelo diálogo e pelo amor.
É importante dizer que o compromisso de cada um, mais do que consigo mesmo, deve ser com a verdade. Se, como fruto do diálogo, você perceber que a verdade é diferente do que você pensava, então, por coerência, saiba aceitar a opinião do outro. Isto jamais será uma derrota sua, antes, uma vitória de ambos.
Numa discussão ninguém muda de opinião, pois o orgulho não permite.
No diálogo, vence a verdade, surge a luz, reina a paz.
Talvez agora você esteja começando a entender porque o diálogo autêntico é o instrumento indispensável para que você possa descobrir as riquezas que estão escondidas no interior da pessoa que você ama.
Tudo que se faz de bom exige sacrifícios e tem um preço.
Para que o casal cresça no namoro, têm que pagar o preço da renúncia ao próprio ego soberbo e arrogante, prepotente e asqueroso, exibicionista ou cheio de amor próprio.
No diálogo, preocupe-se em procurar e apresentar “a ” verdade, mas não a “sua” verdade.
Não podemos ser donos da verdade; ela é autônoma, não depende de nós.
Só Jesus é a Verdade; todas as outras dependem dele.
Se o assunto é, por exemplo, a doença, a verdade não está comigo e nem com você, está com quem entende de medicina.
Se o assunto é religião, a verdade está com a Igreja, e não com o que eu acho ou com o que  você pensa.
E assim por diante. A verdade é objetiva.
Não podemos nos perder em raciocínios vazios e devaneios subjetivos que nos afastam da verdade subjetiva e da responsabilidade.
Namorar é isto!
Na medida que o tempo for passando, o diálogo for amadurecendo, e o namoro for se firmando, então será necessário conversar sobre as coisas do futuro, para se saber quais as aspirações que cada um traz no coração, e se elas se coadunam mutuamente.
Não se trata de ficar sonhando no vazio sobre o futuro, mas de começar a escolher e a preparar a vida  que ambos vão viver e construir amanhã: a família, os filhos, etc.
Nada de real se faz nesta vida sem um sonho, um projeto, um plano e uma construção.
Se de um lado, sonhar no vazio é uma doce ilusão, refletir sobre o que se quer construir no futuro é uma necessidade.
É assim que nasce um lar.
Para você meditar:
Tempo de Renovação
Perdão, Senhor!
Embora bem intencionado e cheio de boa vontade, nem sempre acertei em meu relacionamento humano.
Eu queria ser uma flor e fui um espinho…
Eu queria ser sorriso e fui mágoa…
Eu queria ser luz e fui trevas…
Eu queria ser estrela e fui eclipse…
Eu queria ser contentamento e fui tristeza…
Eu queria ser força e fui fraqueza…
Eu queria ser o amanhã e fui o ontem…
Eu queria ser paz e fui guerra…
Eu queria ser vida e fui morte…
Eu queria ser carinho e fui rudeza…
Eu queria ser sobrenatural e fui terreno…
Eu queria ser lenitivo e fui flagelo…
Eu queria ser amor e fui decepção…
Recebe,  Senhor, em tuas mãos de misericórdia e perdão infinito o gosto amargo desta revisão. (Pe. Rafael Lopes C.M.)
Texto extraído do Livro Namoro – Prof Felipe Aquino


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