Há uma vergonha que conduz ao pecado, e uma vergonha que atrai a
glória e a graça.
Muitas pessoas dizem não ter coragem de se aproximar do sacramento
da Confissão porque têm vergonha.
É preciso reconhecer: não é fácil acusar os próprios pecados ao
sacerdote. No entanto, urge vencer o que Santo Afonso de Ligório chama de
"falsa vergonha", afinal, não
há outro modo pelo qual seja possível reconciliar-se com Deus senão pela
confissão dos pecados. Jesus, ao instituir este sacramento,
poderia muito bem ter dito: Quando tiverdes pecado, entrai em vossos próprios
quartos, prostrai-vos diante de Mim crucificado e obtereis o perdão. Seria
muito mais cômodo. No entanto, Ele não disse isso. Antes, deu aos Apóstolos a
chave da reconciliação: "Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão
perdoados; àqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos" [1].
Para vencer essa "vergonha" que todos sentimos de contar
as próprias misérias, vale meditar um pouco sobre as verdades eternas. Quando
perdemos a graça, pelo pecado mortal, não só somos condenados ao inferno, na
outra vida, e a inúmeros tormentos, nesta, como perdemos a amizade de Deus, o
bem mais precioso que o homem pode entesourar. Escrevendo a respeito do pecado
mortal, Santo Afonso avalia:
"Se o homem recusasse a amizade de Deus, para alcançar um
reino ou um império do mundo inteiro, já seria isso uma horrenda perversidade,
pois que a amizade de Deus é muito mais
preciosa do que o mundo todo e milhares de mundos. E
afinal por amor de que coisa o pecador ofende a Deus? Por um pouco de terra,
para satisfazer a sua ira, por um gozo bestial, por uma vaidade, um capricho.
'Eles me desonraram por um punhado de cevada e um pedacinho de pão' (Ez 13,
19)." [2]
Ao nos depararmos com a gravidade da ofensa que cometemos, com o
grande amor com que Deus nos amou, derramando o Seu próprio sangue para
salvar-nos, é preciso que nos comovamos e verdadeiramente nos envergonhemos...
Mas, que a causa da nossa vergonha seja
o pecado! E que essa mesma vergonha nos leve a um propósito firme e sério de
não mais ofender a Deus! Caso contrário, será
uma vergonha estéril e sem nenhuma serventia.
O autor sagrado diz que "há
uma vergonha que conduz ao pecado, e uma vergonha que atrai glória e
graça" [3]. Com razão se poderia chamar a "vergonha que conduz
ao pecado" aquela que leva a pessoa ou a fugir ou a omitir seus pecados na
Confissão, já que essa atitude causará a sua própria perdição eterna. Quanto à
segunda vergonha, não é aquela que sentimos na fila do confessionário, mas que
logo se esvai depois que somos absolvidos pelo sacerdote? "Quando estamos
em fila para nos confessarmos, sentimos (...) vergonha, mas depois quando
termina a Confissão sentimo-nos livres, (...) perdoados, puros e felizes"
[4]. Por isso, diz Santo Afonso, "devemos fugir da vergonha que nos leva
ao pecado e nos torna inimigos de Deus; não, porém, da que, ligada à confissão
dos pecados, nos granjeia a graça de Deus e a glória do céu".
Quando o demônio nos tentar sugerindo que, por vergonha, ocultemos
as nossas faltas ao sacerdote, lembremo-nos de que os pecados dos condenados
serão revelados a todos os homens no Juízo Final: "Porque teremos de
comparecer diante do tribunal de Cristo" [5]; "Vou arregaçar o teu
vestido até teu rosto, e mostrar tua nudez às nações, aos reinos a tua
vergonha" [6]. Quando a sugestão for a de que sequer procuremos a
reconciliação, lembremo-nos a joia de altíssimo valor que corremos o risco de
perder, se morremos em estado de pecado mortal: o próprio Deus.
Transformemos, por fim, a "falsa vergonha" da Penitência
em disposição para servir a Deus, porque o arrependimento não consiste em
grandes sentimentos ou em prantos efusivos, mas em uma resoluta vontade de
amar, como ensina Santa Teresa: "Consiste [o amor] numa total determinação
e desejo de contentar a Deus em tudo, em procurar, o quanto pudermos, não
ofendê-lo e rogar-lhe pelo aumento contínuo da honra e glória de seu Filho e
pela prosperidade da Igreja Católica" [7].
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Fonte: Blog Pe Paulo Ricardo
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