Litúgia do Domingo
Is 49,14-15
Sl 61
1Cor 4,1-5
Mt 6,24-34
Um só Senhor a Quem servir...
Caríssimos em Cristo, já há alguns domingos estamos acompanhando as
palavras do Senhor no Sermão da Montanha. São palavras sempre surpreendentes;
poéticas, é verdade, mas surpreendentes! No fundo, Cristo deseja nos colocar
diante do Seu Pai, de coração aberto; deseja que creiamos de verdade, que
vivamos como se Deus realmente existisse! Sim, meus irmãos, não vos assusteis:
há muitos cristãos que vivem como se Deus, de fato, não existisse! Por isso
mesmo, a dura admoestação de Jesus: “Ninguém pode
servir a dois senhores! Não podeis servir a Deus e ao dinheiro!” Eis: a Palavra de Deus deste Oitavo Domingo Comum pode ser resumida
nesta advertência do Senhor!
Pensemos um pouco: dinheiro, aqui, nos lábios de Jesus, significa tudo
quanto temos na vida: posses, amizades, saúde, amigos, familiares, prestígio,
talentos, inteligência, trabalho... Pois bem: há dois modos fundamentais de
viver: fazer de Deus o nosso Senhor, o nosso tesouro, o sentido da nossa
existência ou, por outro lado, colocar como prioridade as nossas coisas, os
nossos interesses! Em outras palavras: podemos viver realmente servindo a Deus,
colocando-O em primeiríssimo lugar e ordenando, organizando todo o restante em
função Dele ou, ao contrário, podemos viver colocando em primeiro lugar mil
interesses nossos, mil paixões, mil apegos, dando a Deus as sobras... Servir a
Deus ou ao dinheiro, servir a Deus ou aos mil interesses e preocupações!
Atenção, que Jesus nos previne: quem serve a si próprio, a seus interesses, ou
seja, ao seu “dinheiro”, odeia a Deus – odiar aqui significa deixar em segundo
plano, em segundo lugar! Mas, caríssimos, o nosso Deus é o Deus das primícias
(cf. Ex 23,19), do primeiro lugar; é um Deus ciumento (cf. Ex 34,14), que não
aceita um coração dividido! Basta recordar o primeiro mandamento: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus, o Senhor é um! Amarás o Senhor teu
Deus com todo o teu coração, com todas as tuas forças, com todo o teu
entendimento!” (Dt 6,4). Pensemos bem, irmãos! Façamos um sério exame de
consciência: A quem sirvo realmente na minha vida? Quem é o meu critério: o
Cristo nosso Deus, com Sua palavra, Seu Evangelho ou, ao invés, eu mesmo, com
meus interesses, com minhas ideias, com meus critérios movidos por minhas
paixões?
É verdade, meus Amados em Cristo, que colocar Deus e não nosso dinheiro
em primeiro lugar exige que nos deixemos, obriga-nos a sair de nós mesmos!
Deixar-se é um modo de perder-se, de perder a vida, de arriscar! E podemos nos
perguntar até que ponto Deus cuida de mim, preocupa-Se comigo... O que nos diz
Ele, Irmãos? O que nos promete, Irmãs? Escutemos: “Acaso pode a
mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu
ventre? Se ela se esquecer, Eu, porém, não me esquecerei de ti!” Vede: podemos nos abandonar ao Senhor, podemos, serenamente servi-Lo,
colocar nosso primeiro interesse, nosso coração nas mãos Dele, pois Ele nos
conhece – conhece cada um de nós pelo nome! -, nos ama de verdade, mais que
nossa própria mãe. Recordai-vos da palavra do Salmista: “Se meu pai e minha mãe me abandonarem, o Senhor me acolherá!” (26,10). A questão é se
realmente cremos neste Deus, se realmente vivemos levando em conta de fato que
Ele existe, que é presente na nossa vida, que é fiel! Observai que no Evangelho
que escutamos, o nosso Salvador adverte que os pagãos, os que não conhecem a
Deus é que vivem colocando tantas coisas – tantos “dinheiros” – acima de Deus e
no lugar de Deus. Por que colocam? Porque não conhecem a Deus, nunca
experimentaram realmente o Seu amor, o Seu aconchego, a Sua providência... Mas,
nós, olhando a cruz, sabemos até onde vai o amor apaixonado de Deus por nós;
contemplando o Coração transpassado de Cristo sabemos até onde vai o Seu amor
entranhado por nós! Então, por que temos medo de confiar? Porque confiamos
desconfiando? Certamente, que no Evangelho Jesus ao nos ensinar a confiar, a
não nos preocupar-nos com o dia de amanhã ou com o que comer ou vestir, não nos
quer ensinar a malandragem, a imprevidência, a irresponsabilidade... Nada
disso! Ele deseja sim, que vivamos a vida de modo responsável, mas colocando no
Senhor Deus a nossa confiança, dando-Lhe de verdade o primeiro lugar no nosso
coração. Aí sim: a partir de nossa confiança e de nossa real amizade em relação
ao Senhor, todo o mais se organiza, todo o mais pode ser ordenado na nossa
vida: “Buscai em primeiro lugar o Reino de
Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas!” Isto mesmo: buscai na vossa vida que Deus possa reinar nos vossos
corações; buscai a justiça do Reino, isto é, buscai viver na vontade de Deus, e
tudo o mais será acréscimo, tudo o mais encontrará seu lugar e terá sua justa
medida na vossa vida!
Meus caros, a advertência do Salvador não é brincadeira! Cuidemos de
viver Sua Palavra, de levar a sério Sua exortação, porque é por ele que seremos
julgados. Na segunda leitura de hoje, o Apóstolo, exatamente porque colocou o
Reino de Deus como critério último de sua vida, pôde dizer com admirável
liberdade: “Pouco me importa
ser julgado por vós; nem eu me julgo a mim mesmo. Quem em julga é o Senhor!” Isto mesmo: é Ele, Jesus crucificado e ressuscitado, o critério do nosso
julgamento! Não são os outros, não são as modas do mundo, nem somos nós mesmos
o critério da verdade da nossa vida! O critério é Jesus, a vida é Jesus, o
caminho é Jesus, a salvação e paz de nosso coração, o sentido da nossa vida –
tudo isto é somente Jesus Cristo, nosso Deus! A Ele a glória pelos séculos dos
séculos. Amém.
Por : Dom Henrique Soares da Costa
Fonte: http://visaocristadomhenrique.blogspot.com.br/
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