22 de mar. de 2019

Que tal um pouco de "esmola espiritual" nesta Quaresma?

Quando falamos de esmola, como é fácil esquecer  daqueles que têm tudo, menos o fundamental!

Depois da alegria do Natal, a Igreja se prepara para a celebração do acontecimento mais extraordinário da história do universo, acima inclusive do Big Bang, que, segundo os cientistas, deu origem a tudo o que existe: a Ressurreição do nosso Senhor Jesus Cristo.

Esta celebração é precedida por um tempo especial que, se bem aproveitado, traz imensos benefícios espirituais aos que o levam a sério e de maneira disciplinada: a Quaresma. Quando ouvimos falar dela, talvez nos venham à mente ideias nem sempre claras do seu real significado espiritual, como "peixe sim, carne não", ideias do senso comum.

Há três verbos que marcam o sentido do tempo da Quaresma: jejuar, orar e compartilhar. De fato, na Quarta-Feira de Cinzas, lemos um trecho do Evangelho de Mateus (cap. 6) no qual Jesus nos recorda a importância destas três atitudes purificantes e purificadoras que nos ajudam a ser melhores humanos e cristãos.

O que às vezes se esquece é que estas três atitudes estão unidas tão intimamente, que uma sem a outra é impossível: quem jejua e não ora só está passando fome; quem jejua e não compartilha só está economizando dinheiro; quem compartilha e não ora só faz filantropia; quem ora e não compartilha tem um diálogo egoísta com Deus.

O papa emérito Bento XVI, em sua mensagem para a Quaresma de 2012, menciona uma passagem da Carta aos Hebreus (10, 24) e, retomando as palavras do autor sagrado, recorda a necessidade de "prestarmos atenção uns nos outros". Mas, além disso, ele nos convida a pensar que esse olhar que repousa no outro não é só para ver os momentos de carência material, mas também o vazio espiritual e a possibilidade de perder a salvação.

Quando pensamos na Quaresma, pensamos em solidariedade; lembramos de milhares de pessoas prejudicadas pelas catástrofes naturais, dos mais carentes, dos que foram vítimas de violência. Mas pensamos pouco nas outras pessoas: naquelas, que, tendo tudo, não têm Jesus em seu coração.

Provavelmente, pensamos que "isso não é problema meu" e que cada um deve encontrar seu caminho de salvação. Mas até neste ponto a Bíblia, que é Palavra de Deus, nos ensina a necessidade e a obrigação de orar e velar uns pelos outros. Não rezamos o Pai-Nosso no plural, mesmo estando sozinhos? Preste atenção nesta oração ensinada por Jesus e você descobrirá que cada petição é elaborada de tal forma que, quando pedimos, não o fazemos só por nós, mas pelos outros também.

Às vezes, o respeito humano e o temor nos levam a fazer vista grossa diante do pecado dos outros, e pensamos: "Que cada um faça da sua vida o que bem entender; eu não me intrometo na vida de ninguém e ninguém se intromete na minha". Esta indiferença precisa ser arrancada de nós nesta Quaresma e para sempre, porque, ainda que seja necessário respeitar a individualidade e privacidade do outro, também precisamos ser conscientes de que, se Deus nos permitiu ver ou conhecer o pecado dos outros, não é para que o divulguemos ou difamemos os outros, mas para que façamos algo por eles, para que os ajudemos a encontrar o caminho certo.

É preciso ser astutos como as serpentes e mais sagazes que os filhos das trevas, a quem sobra imaginação para o mal. Ao pensar na maneira de viver a Quaresma, não nos dediquemos exclusivamente a fazer doações para paliar o sofrimento físico das pessoas (é claro que isso é importante!), mas pensemos também naqueles que não precisam do nosso dinheiro, mas sim de uma palavra de estímulo, um ombro amigo, alguém que seja capaz de corrigi-los com amor.

Já não é suficiente buscar só a solidariedade econômica, mas também a solidariedade
espiritual. As duas devem caminhar juntas: um pedaço de pão e uma palavra de motivação; um pedaço de terra para os desabrigados e uma chamada de atenção aos que causam o mal. Pregar o nome de Cristo a quem não o conhece não pode ser parte de um "hobby" das horas vagas, e sim uma obrigação moral de quem sente o outro como semelhante.
 
A dor solidária pelos mais carentes deve se estender àqueles em quem o vazio do coração faz que tudo na vida fique sem sabor, precisamente porque nada do que existe é capaz de satisfazer as necessidades espirituais mais urgentes do coração. Ter sem ser é como um pacote sem conteúdo, um corpo sem alma.
 
Se você quer viver uma Quaresma verdadeiramente renovadora, vai precisar abrir não só o bolso, mas também a consciência e a vontade, para estender a mão aos que mais precisam de você, justamente porque, tendo tudo, podem sentir que sua vida não tem sentido, já que não conhecem o Senhor.
 
Imagine uma refeição deliciosa, preparada com todo empenho, com ingredientes selecionados, mas que, na hora de provar, você percebe que não tem sal. Ela tem tudo, mas lhe falta este elemento tão simples e tão barato que muda totalmente seu sabor.
 
Não existem apenas danificados materiais, mas também espirituais: aqueles que foram devastados pelos tsunamis morais, por pecados de grande peso, e não são capazes de erguer a cabeça, sentem o peso da vida como uma enorme massa de concreto que cada dia os esmaga mais.
 
Prestemos atenção em todos esses irmãos nossos e membros da nossa família que têm medo de ver-se no espelho, pela simples razão de encontrar-se com seu pior inimigo e verdugo. Eles precisam se encontrar com alguém que não seja um policial, alguém que se preocupe por eles e pelos seus problemas, alguém que não se pergunte somente se o outro tem o que comer, mas se também está em paz com Deus.
 
A Quaresma não é somente um tempo para "deixar de fazer coisas", mas sobretudo para ver "o que mais podemos fazer".
 
Olhe ao seu redor e então descobrirá os rostos que esperam por você.

 Fonte:  http://www.aleteia.org/

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