Se
existe algo que mexe como coração de um jovem que começa a descobrir a sua
afetividade e a sua sexualidade, é o desejo de namorar. Cantada em verso e
prosa, esta fase da vida faz parte do desenvolvimento humano e do plano de Deus
para nos fazer crescer e amadurecer no relacionamento, sendo também um caminho
(embora não o único, nem o maior) de exercitar a capacidade de amar.
Entretanto,
para um jovem cristão, muitas interrogações se levantam: Por que namorar?
Quando namorar? Como ter um namoro cristão?
Por que namorar?
Em primeiro lugar, é importante saber que o desejo de relacionar-se com
o sexo oposto é algo natural e implica na forma como Deus nos criou.
A partir de um certo momento do desenvolvimento humano,sente-se a
necessidade e a sadia curiosidade de relacionar-se com o sexo oposto, de
descobrir parte da riqueza, da diversidade da obra criativa de Deus,uma outra
pessoa que não é igual a mim, mas que em muitos pontos chega a me complementar.
Neste ponto, o relacionamento com pessoas do outro sexo é enriquecedor e fonte
de formação e edificação do meu crescimento como pessoa.
Entretanto, o que é belo e edificante pode-se transformar em situações
que nem sempre nos edificarão ou contribuirão para o nosso crescimento. Devemos
levar em conta que estamos vivendo em meio a uma sociedade hedonista, marcada
pela sensualidade. A partir dos meios de comunicação, as próprias crianças,
adolescentes e jovens vão sendo manipulados nos seus afetos e instintos para
que, de maneira precoce e deformada, vejam na pessoa do outro sexo um objeto de
prazer genitalista ou um meio de satisfação de suas carências afetivas.
Isto é fruto do pecado que marcou as faculdades do nosso ser e também
das feridas de família, onde a fé e o desenvolvimento dos valores cristãos
foram abandonados e a unidade e indissolubilidade do matrimônio e da família,
na vivência do amor, são negligenciadas ou até atingidas de maneira
irremediável,produzindo no meio de nós gerações marcadas pela dor, insegurança,
desvios afetivos, psicológicos e sociais.
Por estes e muitos outros fatores, quando o (a) adolescente vai
atingindo sua puberdade (e muitas vezes ainda como criança), a sociedade e,em
muitos casos, a própria família, começam a exigir que este (a) jovem”arranje”
seu namorado (a) para provar sua masculinidade ou feminilidade.
É preciso que entendamos que o processo natural e salutar de
conhecimento do sexo oposto como pessoa não implica necessariamente em um
relacionamento de namoro, quando, pelo contrário, a amizade é o passo
fundamental e sadio aonde, pelo diálogo e a convivência, vamos podendo
construir mutuamente a nossa personalidade de maneira sadia e
equilibrada.Muitos jovens cristãos, como muitos que encontramos, se perguntam:
Qual é a hora de iniciarmos o namoro?
Em primeiro lugar, é necessário que alguns tabus possam ser quebrados.
Isto não significa que todas as pessoas tenham que namorar.Precisamos nos
lembrar neste momento das Palavras de Jesus que dizem: “Há eunucos que se fizeram
eunucos por causa do Reino dos céus. Quem tiver capacidade para compreender que
compreenda.” (Mt 19,2)
Devemos nos lembrar que há muitos são chamados para avirgindade como uma
oblação espiritual e um serviço à Igreja e aos homens, enisto encontram sua
plena realização. Alguns, muito cedo podem descobrir estechamado no seu
interior e, apesar de como pessoa experimentarem acomplementariedade do sexo
oposto na convivência comum e fraterna, não viverãoesta complementariedade no
plano da afetividade-genitalidade, próprio dos quesão chama¬dos ao Sacramento
do Matrimônio.
Alguns passam por relacionamentos de namoro antes de descobrir este
sublime chamado, outros não precisam passar por esta etapa, pois a vocação já
se faz manifesta no seu interior de maneira definida.
Para isso é necessário que o jovem cristão tenha sempre no seu interior
este questionamento: – Qual é a vocação que Deus me chama a viver?– e uma reta
e séria motivação de respondê-la. Sabemos que isso, para muitos,se constitui em
um longo processo, onde graças a Deus vai iluminado, tirando a cegueira e
apontando onde encontrar e aderir à sua vontade, pois aí está a felicidade.
Entrando no processo de namoro propriamente dito, falando para os jovens
que acompanhamos, procuramos orientá-lo em algumas etapas para este
discernimento:
A amizade
A amizade entre sexos opostos é benéfica e edificante. A amizade se
constitui em uma identificação que, se baseada em Cristo Jesus e nos valores do
Evangelho, caracterizando-se pela doação de si e respeito mútuo,muito
contribuirá para o nosso amadurecimento e crescimento. Atenção, nem toda
amizade precisa desembocar em um namoro. Pelo contrário, é perigoso confundiras
coisas.
Às vezes a pessoa atrai fisicamente e afetivamente, mas isto não
significa que seja da vontade de Deus e edificante para os dois um
relacionamento mais profundo pelo namoro. Podemos acabar uma bela amizade se
precipitarmos as coisas. É compreensível também que em um relacionamento entre
um rapaz e uma moça que são atraentes, possam aparecer desejos e aspirações
mais superficiais que, de uma maneira geral, pode jogar esses jovens em um
relacionamento sem maiores bases. Ora, o aparecimento destes sentimentos só
atestam a normalidade da afetividade e sexualidade de ambos e não deve ser ele,principalmente
nos primeiros momentos, o ponto de discernimento de um compromisso de namoro.
Para evitar namoros precipitados (baseados só na atração física,
carências ou sentimentos efêmeros), que fazem alguns mudarem de namoro como se
troca de roupa e que, em vez de gerar crescimento, pode gerar tantas feridas,
dores e marcas na pessoa e nos futuros relacionamentos, é preciso que se
tenhamos um relacionamento de amizade. O momento é de aprofundar o conhecimento
do outro e procurar ir à luz da oração e da convivência buscando alguns pontos
de discernimentos.
Pontos de discernimento no plano psicológico:
Enquadramos aqui alguns pontos na maturidade humana e na identificação
dos projetos e planos de vida, inclinações, aspirações, gostos,formação e
educação que cada um teve e que não podem ser ignoradas, sob o risco de serem
fonte de profundos desgastes e verdadeiros furos que farão naufragar o
relacionamento. Não se trata de que o outro seja igual a mim, mas que se nestes
pontos podemos nos completar, aceitar e nos construir mutuamente, e se há
maturidade em ambos para isto.
Pontos de discernimento no plano espiritual:
Se queremos nos relacionar em Deus e com Deus, este plano não pode ser
esquecido. É necessário, na convivência, perceber as aspirações espirituais e
se o outro está disposto a colocar Deus como o centro de um relacionamento,
para que o relacionamento não seja nada de egoísta, para a”minha”, ou “nossa”
satisfação, mas para que ele, apoiado na Graça de Deus, seja voltado para
Jesus, seguindo os Seus ensinamentos de renúncia, pureza e abertura. Conhecer a
espiritualidade do outro, suas aspirações de conduta moral e de compromisso com
a Igreja é fundamental para evitar conflitos futuros, ou namoros onde Deus e
sua Palavra estejam ausentes.
Pontos para discernimento no plano afetivo:
A afeição em um relacionamento afetivo é o primeiro passo,mas com
certeza não se constitui em sinal de presença real de uma semente de amor. Se o
que me faz afeiçoar-me ao outro é só sua aparência física, isto tem sua importância,
mas não é tudo.
As aparências passam e o coração, mentalidade e forma de ser permanecem.
É preciso descobrir se o sentimento que me move tem a maturidade de ENXERGAR e
ACEITAR os limites, defeitos e fragilidades do outro. Pondo na balança o que pesa
mais, é o que nos une ou o que nos divide? Neste momento, um certo realismo é
salutar, para que a paixão não cegue, e evitemos dar um passo que depois vai
nos ferir e ferir ao outro.
Também convém ter a sensibilidade para perceber se eu ou o outro estamos
buscando um relacionamento para “minha” satisfação,fechado sobre nós mesmos e a
nossa “fantasia romântica” ou se o relacionamento, mesmo com o tempero de
romance, é voltado para Deus, para o outro e para as outras pessoas, numa
perspectiva de abertura.
Permeando todas estas considerações e orientações, devemos encontrar a
oração. É através dela, que a graça de Deus vai purificar as nossas motivações,
iluminar a nossa cegueira, fazer-nos entender o que só humanamente não nos é
possível, e perceber os reais sinais do Espírito que nos move ou nos detém para
um relacionamento que, se quer ser cristão, deve buscar, em todos os sentidos,
a maior glória de Deus.
A ajuda de uma pessoa mais amadurecida e vivida no campo espiritual e
humano se constitui em ajuda indispensável para chegarmos a um discernimento
claro e uma decisão conjunta e madura em nos comprometer em um relacionamento
de namoro.
O namoro
Uma vez sedimentado no nosso interior o processo de discernimento (que
exige tempo, pois não se resume a dias ou poucas semanas,mas a alguns meses de
convivência e oração) e chegando a um discernimento positivo em relação ao
namoro, alguns pontos não podem ser esquecidos:
A amizade
O namoro é, antes de tudo, uma amizade que se aprofunda e sedimenta uma
caminhada a dois. É essencial que o tempo que os namorados passam juntos seja
animado pelo diálogo e a abertura do seu ser que se deixa conhecer e revelar.
Muitos namorados não sabem conversar e fogem em carícias,desagradáveis a Deus e
destruidoras do relacionamento. O esforço do diálogo,conversar assuntos que
unem e saber também conversar as divergências;revelar-se para o outro através
da arte do diálogo é fonte de relacionamentos saudáveis e maduros.
A oração
A presença de Jesus dentro de um namoro cristão não pode ser decorativa
ou em plano inferior. Ele tem que ser o primeiro para dar fertilidade ao
relacionamento. Por isto, é necessário dar tempo e espaço para a oração,
partilhar de experiências da vida espiritual, de leitura espiritual. É
importante que se saiba que se tem a responsabilidade de levar o outro para
Deus e para a Igreja, e não ser um obstáculo para a comunhão com Deus e o
serviço na Igreja. A oração e os sacramentos serão também a fonte da graça para
permanecer sob as orientações da Palavra e da Igreja, e nos capacitará acrescer
na escola do verdadeiro amor, que é aquele que ama apesar dos defeitos e
limites do outro.
A abertura
Os namorados cristãos não podem estar somente voltados para si mesmos,
como se só o outro existisse, ou que este relacionamento, se não foro único,
torne os outros opacos e insignificantes.
Os namorados cristãos sabem fugir do risco da dependência,que sempre é
sinal de carência e não de verdadeiro amor, e se aplicam na abertura, amizade e
dedicação aos outros (amigos, família), que também são fontes de complemento
para a nossa vida, e esta abertura toma-se fonte de enriquecimento do próprio
namoro.
Os carinhos
Especial cuidado devemos ter neste campo, pois, muitas vezes, mesmo em
namoros cristãos, constatamos cenas de carícias que levam a estados de profunda
excitação emocional e orgânica que, seguindo o modelo do mundo considera-se
normal, quando na verdade estes atos são apropriados para a preparação do ato
conjugal dentro do matrimônio.
O não se deter no físico, e o traçar limites bem definidos e claros para
os dois, buscando a pureza e evitando o puritanismo, é ponto básico e que muito
necessita da graça para não se deixar levar pelas”facilidades” mútuas, que o
sensualismo deste mundo e a concupiscência da carne plantaram em nós.
Nós precisamos construir um Mundo Novo, baseado na Boa Nova de Jesus e
da Sua Igreja. Entretanto, não haverá Mundo Novo se não houver Famílias Novas.
Não haverá Famílias Novas se não houver Namoros Novos, baseados na graça e no
poder do Espírito.
Se meditarmos nestas orientações, sentiremos que são superiores à nossa
capacidade. Lembre-se de que “o Verbo se fez carne”, por isto a graça penetrou
em todas as realidades da vida humana, e Pentecostes é a certeza de que o
Espírito nos capacita a dar nosso sim integral a Deus.
Fonte http://www.comshalom.org/
Nenhum comentário:
Postar um comentário