Se faz
presente nas coisas, nos lugares e nos seres.
1)
Presença de Cristo em todas as coisas, em todos os lugares, e em todos os
seres, por Sua ubiqüidade ou onipresença, i.e., em virtude de seu poder.
2)
Presença de Cristo em todos os homens, pecadores ou justos, pela ubiqüidade,
mas também, e de modo mais especial, por amor e por semelhança.
3)
Presença de Cristo nas almas dos justos, i.e., dos que estão em estado Importa,
antes de tudo, diferenciarmos os modos pelos quais Deus de graça ou já se
encontram salvos, quer no céu quer no purgatório, pela inabitação, ou seja,
mediante a graça santificante.
4)
Presença de Cristo nas páginas das Sagradas Escrituras, nos ministros, em
certos sacramentais, nas imagens, no altar, pelo uso que deles se faz.
5)
Presença de Cristo na assembléia dos fiéis, pela graça, uma vez que é reunião
de almas dos justos e, por isso, decorre da inabitação, presença essa que se
chama, mui significativamente, espiritual.
6)
Presença de Cristo na Santíssima Eucaristia pela realidade e pela substância,
não como se nas outras Ele não estivesse real ou substancialmente presente, mas
por antonomásia, de modo excelso.
Feitas
essas diferenciações, por alto, passemos à consideração de cada uma dessas
maneiras de Deus fazer-Se presente.
"'Cristo
Jesus, aquele que morreu, ou melhor, que ressuscitou, aquele que está à direita
de Deus e que intercede por nós' (Rm 8,34), está presente de múltiplas maneiras
em sua Igreja: em sua Palavra, na oração de sua Igreja, 'lá onde dois ou três
estão reunidos em meu nome' (Mt 18,20), nos pobres, nos doentes, nos presos,
nos sacramentos, dos quais ele é o autor, no sacrifício da missa e na pessoa do
ministro. Mas 'sobretudo (está presente) sob as espécies eucarísticas.'" (Cat., 1373)
Em
todas as coisas, seres e lugares, faz-Se presente Deus, uma vez que um de Seus
atributos é a imensidão ou ubiqüidade, também chamada onipresença.
Embora
Deus esteja em sua Sua substância, nela não se convertem as substâncias das
coisas onde Ele está presente em virtude de Seu poder. A substância de cada
criatura permanece a mesma, não tendo ela substância divina, sob pena de
cairmos no erro do panteísmo, que confunde o Criador com os seres criados.
No ser
humano, mesmo pecador, Deus está presente também pela ubiqüidade. Em certo
sentido, é a mesma presença divina com a qual o Senhor está em todas as coisas,
lugares e seres. Em outro, é uma presença mais íntima, pois o homem é Sua
imagem e semelhança. "Tu estavas comigo, mas não eu contigo." (Santo
Agostinho, Conf., X, 27, 38) Ainda assim, esta presença é inferior àquela
efetuada por Deus mediante a graça. De fato, a presença de Deus no justo,
chamada inabitação, é uma participação na vida divina, na natureza divina. Não
muda o homem sua substância, mas participa, pela graça santificante, da de
Deus.
"A
pesar del pecado de los hombres, Dios siempre ha mantenido su presencia
creacional en las criaturas. Sin ese contacto entitativo, ontológico,
permanente, las criaturas hubieran recaído en la nada. León XIII, citando a
Santo Tomás, recuerda esta clásica doctrina: «Dios se halla presente a todas
las cosas, y está en ellas "por potencia, en cuanto se hallan sujetas a su
potestad; por presencia, en cuanto todas están abiertas y patentes a sus ojos;
por esencia, porque en todas ellas se halla él como causa del ser"» (enc.
Divinum illud munus: STh I,8,3). Pero la Revelación nos descubre otro modo por
el que Dios está presente a los hombres, la presencia de gracia, por la que
establece con ellos una profunda amistad deificante. Toda la obra
misericordiosa del Padre celestial, es decir, toda la obra de Jesucristo, se
consuma en la comunicación del Espíritu Santo a los creyentes." (RIVERA, Pe. José; IRABURU, Pe. José María.
Síntesis de la Espiritualidad Católica, Fundación Gratis Date)
"Para
melhor entender a natureza e efeitos desse dom, convém recordar o que, depois
das Sagradas Escrituras, ensinaram os sagrados doutores, isto é, que Deus se
acha presente em todas as coisas e que está nelas 'por potência, enquanto se
acham sujeitas a sua potestade; por presença, enquanto todas estão abertas e
patentes a seus olhos; e por essência, porque em todas se acha como causa de
seu ser.' Mas, na criatura racional, encontra-se Deus já de outra maneira, isto
é, enquanto é conhecido e amado, já que é segundo a natureza amar o bem,
desejá-lo e buscá-lo. Finalmente, Deus, por meio de sua graça, está na alma do
justo de forma mais íntima e inefável, como em seu templo; e disso se segue
aquele mútuo amor pelo qual a alma está intimamente presente diante de Deus, e
está nele mais do que se possa suceder entre os amigos mais queridos, e goza
dele com a mais regalada doçura.
E esta admirável união (...) propriamente se chama inabitação (...)." (Sua Santidade, o Papa Leão XIII. Encíclica Divinum Illud Munus)
"Trabalhemos sempre vivendo conscientemente Sua inabitação em nós, sendo nós Seu templo, sendo Ele nosso Deus dentro de nós." (Santo Inácio de Antioquia, Ad Eph., 15,3) A inabitação é formalmente uma união física e amistosa entre Deus e o homem, fundada na caridade e realizada pela graça, mediante a qual Deus Se dá à alma e nela Se torna presente pessoal e substancialmente, sem alteração da substância própria do homem, porém, fazendo-a participar da vida divina. "Deus mora secretamente no seio da alma" (São João da Cruz, Chama, 4, 14) Essa santificação ou divinização não é uma mudança da substância humana em divina, mas elevação da primeira à última. A grande reformadora do Carmelo sempre se referia às "(...) três Pessoas que trago na alma (...)." (Santa Teresa d'Ávila, Consc., 42)
E esta admirável união (...) propriamente se chama inabitação (...)." (Sua Santidade, o Papa Leão XIII. Encíclica Divinum Illud Munus)
"Trabalhemos sempre vivendo conscientemente Sua inabitação em nós, sendo nós Seu templo, sendo Ele nosso Deus dentro de nós." (Santo Inácio de Antioquia, Ad Eph., 15,3) A inabitação é formalmente uma união física e amistosa entre Deus e o homem, fundada na caridade e realizada pela graça, mediante a qual Deus Se dá à alma e nela Se torna presente pessoal e substancialmente, sem alteração da substância própria do homem, porém, fazendo-a participar da vida divina. "Deus mora secretamente no seio da alma" (São João da Cruz, Chama, 4, 14) Essa santificação ou divinização não é uma mudança da substância humana em divina, mas elevação da primeira à última. A grande reformadora do Carmelo sempre se referia às "(...) três Pessoas que trago na alma (...)." (Santa Teresa d'Ávila, Consc., 42)
Santo
Tomás de Aquino explica: "O especial modo da presença
divina própria da alma racional consiste precisamente em que Deus esteja com
ela como o conhecido naquele que o conhece e o como o amado no amante. E
porque, conhecendo e amando, a alma racional aplica sua operação ao mesmo Deus,
por isso, segundo este modo especial, se diz que Deus não só é na criatura
racional, senão que habita nela como em seu templo." (S. Th., I, q. 43, a. 3)
Em
virtude da Encarnação, Cristo é Deus, mas também homem, duas naturezas em uma
só Pessoa. Evidentemente, quando nos referimos à onipresença, estamos falando
de um atributo da divindade. Ainda que esta se una indissoluvelmente à
humanidade de Cristo em Sua Encarnação, aquela é preexistente. Antes mesmo de
tornar-se carne, o Verbo, por ser Deus, já estava em tudo e em todos (sem
alterar-lhes, contudo, a substância, nem fazer-lhes participar de Sua natureza
divina); na Eucaristia, porém, eis que é Cristo, Verbo feito carne, não só a
divindade como a humanidade do Salvador estão presentes.
Deus
não está presente na pedra ou na árvore de modo a fazê-las participar de Sua
divindade. Cada ser conserva sua substância própria. A pedra é pedra, não Deus.
Sua semelhança com o Criador se dá pela participação da perfeição divina
enquanto tem, como Deus, o ser (no caso, o ser pedra). Assim também, o homem
não é Deus por estar Este presente naquele; sua natureza humana, substância
humana, resta inalterada. É o homem semelhante a Deus apenas na medida em que
participa das faculdades da inteligência e da vontade, as quais são perfeições
divinas. No homem, Deus está presente, pela ubiqüidade, sendo a ele semelhante,
vez que é inteligente e possui vontade (Deus, que é puro espírito, também é
inteligente e possui vontade).
No
homem em estado de graça (e nos anjos do céu), Deus faz-Se presente de modo
ainda mais excelso: pela participação na natureza divina. Ainda nesta, o homem
continua homem (e o anjo, anjo), mas, pela graça, recebe algo da divindade,
algo da substância divina, sem alterar a sua própria, contudo.
Nenhuma
dessas presenças, entretanto, é a mesma de Deus na Eucaristia. Nela, Deus não
está presente como em todos os lugares, seres e coisas. Nela, Deus não está
presente apenas enquanto esta tem o ser. Nela, Deus não está presente pela
participação na vontade e na inteligência, que caracterizam a semelhança. Nela,
Deus não está presente pela graça ou elevando a substância, a natureza, até Si.
Não! Se a pedra, ainda que Deus nela esteja presente, continua pedra, sem mudar
a substância de pedra, sem assumir a natureza divina (daí que não adoramos a
pedra nem a consideramos Deus, o que seria panteísmo); se o homem
não-justificado continua homem, ainda que Deus nele esteja também presente e
seja ele criado à Sua imagem e semelhança; se mesmo o homem em estado de graça
continua homem, sem mudar sua substância, sua natureza humana (ainda que
participando, pela graça santificante, da natureza divina); a Eucaristia é o
próprio Deus! Não está Cristo nela como na pedra (que continua pedra) ou no
homem (que continua homem, mesmo elevado pela graça à natureza divina), mas há
verdadeira mudança de substância (transubstanciação): as substâncias do pão e
do vinho, após a consagração e por ela, mudam-se em Corpo, Sangue, Alma e Divindade
de Nosso Senhor, Deus, Rei e Salvador, Jesus Cristo. A pedra tem a presença de
Deus, porém resta com a substância de pedra. O homem tem a presença de Deus,
porém resta com a substância de homem. A Eucaristia tem a substância de Deus,
pois nela Cristo não só está presente: a Eucaristia É Deus! Sob a aparência de
pão, encontra-se o Criador do Universo! Daí que a adoremos, o que não se faz
com uma pedra, ainda que Deus nela esteja presente pela ubiqüidade, nem com um
homem, ainda que seja feito à Sua imagem e semelhança e, no caso do homem
justificado, participe da natureza divina.
Cristo,
pois faz-Se presente nas coisas, em virtude de sua onipresença; faz-Se presente
nos homens pela grandiosa semelhança entre eles e Deus, criados à Sua imagem,
com vontade e inteligência; faz-Se presente nas almas justas em razão da graça,
presença essa chamada inabitação; faz-Se presente na Bíblia, nos ministros, nos
sacramentais, pelo uso; e, muito especialmente, na Eucaristia. "Esta
presença chama-se 'real' não por exclusão, como se as outras não fossem
'reais', mas por antonomásia", diz Paulo VI, "porque é substancial e
porque por ela Cristo, Deus e homem, se torna presente completo". (Encíclica Mysterium Fidei, de 3 de
setembro de 1965, nº 39) A Eucaristia não é apenas presença de Cristo: ela é o
próprio Cristo! Ainda que estivesse em todos os lugares, uma vez que, sendo
Deus, era onipresente, Cristo, em Sua vida terrena, após a Encarnação, estava,
de modo especial, presente em locais específicos: em Cafarnaum, Nazaré, Jerusalém,
na manjedoura, nas bodas de Caná, em um barco no mar da Galiléia... A preseça
de Jesus em um local específico e determinado não elimina Sua ubiqüidade,
imensidão, onipresença. O mesmo em relação ao Santíssimo Sacramento: é Deus
conosco, e Sua presença nele, específica, não invalida a ubiqüidade. De
qualquer maneira, é uma presença excelente, real por antonomásia!
A
presença de Jesus Cristo, outrossim, entre o povo fiel, é explicada de dois
modos. Primeiro como conseqüência da inabitação: Cristo está presente, pela
graça, nas almas de muitos. Segundo, pela promessa de estar presente no meio
deles, como bem lembrou o consulente. É uma presença, ainda que real, que se dá
de maneira espiritual. A substância do lugar não muda.
Fonte: Autor: Dr. Rafael Vitola Brodbeck
Publicação original: Maio de 2006
Extraído: http://www.veritatis.com.br/article/3596
Publicação original: Maio de 2006
Extraído: http://www.veritatis.com.br/article/3596
Saiba mais: Catecismo da Igreja Católica, 1365-1381
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