Quando
o jovem rico disse para Jesus que cumpria desde a infância todos os
mandamentos, Jesus fixou os olhos nele e o amou. Em seguida, disse que deveria
vender seus bens e segui-lo (Mc 10, 21-22). O restante da parábola é bem
conhecido.
O
homem de hoje não foge à regra. Ele segue os mandamentos, rompe com o pecado,
mas, se entristece quando Deus lhe pede que venda seus bens. Apesar disso, da
mesma maneira que fez com o jovem rico, Jesus fixa o olhar nesse homem e o ama.
Mas, tal como o jovem rico, Jesus pede também a esse homem moderno que entregue
o que lhe é mais precioso e o siga. Como trilhar esse caminho de despojamento
de si mesmo, entregando-se completamente a Deus? Como passar pela porta estreita?
Durante todo o início e percurso da Igreja ao longo dos séculos,
grandes santos místicos perpassaram a história, mas não havia uma fórmula, uma
sistematização, por assim dizer, da mística desses homens e mulheres. Foi
somente com Santa Teresa d’Ávila e seu livro "Castelo Interior" no qual compara a vida com Deus como um
castelo com sete moradas que se pode, enfim, entender como se dá o "vender
tudo e seguir a Deus".
A
maioria dos católicos que estão em estado de graça, ou seja, sem pecado grave
ou mortal estão ainda na Primeira Morada. Porém, todos são chamados à
perfeição. É preciso dar um passo à frente. É preciso ir para a Segunda Morada.
É preciso fazer a "segunda decolagem".
Amar
a Deus sobre todas as coisas deve ser o objetivo de cada cristão, de cada
católico. Mas isso só poderá ocorrer se a voz do Senhor for ouvida, se o apelo
que ele faz a cada um que se encontra na Primeira Morada for atendido. Romper
somente com o pecado não é o bastante, é preciso deixar o mundo. É preciso
preferir a Deus acima de tudo e de todos. Só assim é possível adentrar na
Segunda Morada.
A resposta do jovem rico é
conhecida. Mas, e a sua?
Na primeira morada do Castelo da alma, descreve a Santa
essas almas que, bem enredadas ainda no mundo, têm, contudo bons desejos, rezam
algumas orações, mas andam ordinariamente com o espírito cheio de mil ocupações
que lhes absorvem os pensamentos. Têm ainda muitas prisões, mas esforçam-se por
se desembaraçar delas uma vez por outra. Mercê desses esforços, entram nas
primeiras quadras do Castelo, nas mais baixas; com elas, porém, se introduz um
sem-número de animais daninhos (as suas próprias paixões), que as impedem de
ver a beleza do Castelo e de lá ficar tranquilas. Esta morada, se bem que a
menos elevada, é já uma grande riqueza. Terríveis, porém, são os ardis e
artifícios do demônio, para impedir essas almas de avançar; o mundo, em que
estão ainda mergulhadas solicita-as com seus prazeres e honras; e assim
facilmente são vencidas, apesar de desejarem evitar o pecado e fazerem obras dignas
de louvor. Por outros termos, estas pessoas pretendem aliar a piedade com a
vida mundana; a sua fé não é bastante esclarecida, a sua vontade não é assaz
forte e generosa para as levar a renúncia não somente ao pecado, senão também a
certas ocasiões perigosas; não compreendem suficientemente a necessidade da
oração frequente, nem da rigorosa penitência ou mortificação. E contudo querem
não somente salvar a sua alma, mas ainda progredir no amor de Deus, fazendo
alguns sacrifícios.
Fonte do texto: http://padrepauloricardo.org/
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