1° Leitura (Is 7, 10-14)
Sl 23 (24)
2° Leitura (Rm 1, 1-7)
Evangelho (Mt 1, 18-24)
Estamos às portas do Santo Natal. Eis o que vamos contemplar nos ritos,
palavras e gestos da sagrada liturgia: o Verbo eterno do Pai, o Filho imenso,
infinito, existente antes dos séculos, fez-Se homem, fez-Se criatura, fez-Se
pequeno e veio habitar entre nós. Sua vinda ao mundo salvou o mundo, elevou
toda a natureza, toda a criação. Mas, atenção: a Palavra de Deus hoje nos diz
que este acontecimento imenso, fundamental para a humanidade e para toda a
criação, passou pela vida simples e humilde de um jovem carpinteiro e de uma
pobre menina-moça prometida em casamento numa aldeia perdida e pobre das
montanhas da Galileia. O Deus infinito dobrou-Se, inclinou-Se amorosamente
sobre a pequena e pobre realidade humana para aí fazer irromper o Seu plano de
amor! Acompanhemos piedosamente o Evangelho deste Quarto Domingo do Advento.
São Mateus diz que a Mãe de Jesus “estava prometida em casamento
a José, e, antes de viverem juntos ela ficou grávida pela ação do Espírito
Santo”. As palavras usadas pelo Evangelista são simples, mas escondem
uma realidade imensa, misteriosa, inaudita. Pensemos em José e Maria, ainda
jovens. Eles certamente se amavam; como todo casal piedoso daquela época
pensavam em ter filhos – os filhos eram considerados uma bênção de Deus. Mas,
eis que antes de viverem juntos, a Virgem se acha grávida por obra do Espírito
Santo! Deus entra silenciosamente na vida daquele casalzinho. Nós sabemos, pelo
Evangelho de São Lucas, que Maria disse “sim”, que Maria acreditou, que Maria
deixou que Deus fosse Deus em sua vida: “Eu sou a serva do Senhor!
Faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38) De repente, eis que
uma vida de família, que tinha tudo para ser pacata e serena, viu-se agitada
por uma tempestade! Por um lado, a Virgem diz “sim” a Deus e, sem saber o que
explicar ou como explicar ao noivo, cala-se, abandonando-se confiantemente nas
mãos do Senhor. Por outro lado, José sabe que o aquele filho não é seu; não
compreende como Maria poderia ter feito tal coisa com ele: ser-lhe infiel... E,
no entanto, não ousa difamar a noiva. Resolve deixá-la secretamente. Quanta
dor, quanta dúvida, quanto silêncio: silêncio de Maria, que não tem o que dizer
nem como explicar; silêncio de José que, na dor, não sabe o que perguntar à
noiva; silêncio de Deus que, pacientemente, vai tecendo a Sua história de
salvação na nossa pobre história humana. E, então, como fizera antes com a
Virgem, Deus agora dirige Sua palavra a José: “José, filho de Davi, não
tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do
Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu Lhe darás o nome de Jesus, pois
Ele vai salvar o Seu povo de seus pecados”. Atenção aos detalhes! O
Anjo chama José de “filho de Davi”. É pelo humilde carpinteiro que Jesus será
descendente de Davi. Se José dissesse “não”, Jesus não poderia ser o Messias,
Filho de Davi! Note-se que é José quem deve dar o nome ao Menino,
reconhecendo-o como seu filho. Note-se ainda o nome do Menino: Jesus, isto é,
“o Senhor salva”! Deus, humildemente, revela Seu plano a José e, depois de
pedir o “sim” de Maria, suplica e espera o “sim” de José. E, como Maria, José
crê, José se abre para Deus em sua vida, José mostra-se disposto a abandonar
seus planos para abraçar os de Deus, José diz “sim”: “Quando acordou,
José fez conforme o Anjo do Senhor havia mandado, e aceitou sua esposa!”
Eis! Adeus, para aquele casal, ao sonho de uma vida tranquila! Adeus aos
filhos nascidos da união dos dois! Agora, iriam viver somente para Aquele
Presente que o Senhor lhes havia dado, para a Missão que lhes tinha confiado...
O plano de Deus passa pela vida humilde daquele casal. Para que São Paulo
pudesse dizer hoje na Epístola aos Romanos que é “apóstolo por vocação,
escolhido para o Evangelho... que diz respeito ao Filho de Deus, descendente
de Davi segundo a carne”, foi necessária a coragem generosa da Virgem Maria
e o sim pobre e cheio de solicitude do jovem José. Para que a profecia de
Isaías, que ouvimos na primeira leitura, fosse concretizada, foi necessário que
aquele jovem casal enxergasse Deus e seu plano de amor nas vicissitudes de sua
vida humilde e pobre!
Também conosco é assim! O Senhor está presente no mundo. O que veio pela
Sua bendita Encarnação, nunca mais nos deixou. Na potência do Seu Espírito
Santo, Ele Se faz presente nos irmãos, nos acontecimentos, na Sua Palavra e,
sobretudo nos sacramentos. Sabemos reconhecê-Lo? Abrimo-nos aos Seus apelos? E
na nossa vida: essa vida miúda, como a de José e Maria, será que reconhecemos
que ela é cheia da presença e dos apelos do Senhor? No Advento, a Igreja não se
cansa de repetir o apelo de Isaías profeta: “Céus, deixai cair o
orvalho; nuvens, chovei o Justo; abra-se a terra e brote a Salvador!” (Is
45,8). É interessante este apelo: a salvação choverá do céu, vem de
Deus, é dom, é graça... Mas, por outro lado, ela brota da terra, da terra deste
mundo ferido e cansado, da terra da nossa vida miúda e, por vezes, ressequida e
sem graça...
Supliquemos à Virgem Maria e a São José que intercedam por nós, para que
sejamos atentos em reconhecer o Senhor nas estradas de nossa existência e
generosos em corresponder aos Seus apelos, como o sagrado casal de Nazaré.
Assim fazendo e assim vivendo, experimentaremos aquilo que o Carpinteiro e sua
santa Esposa experimentaram: a presença de Jesus no dia-a-dia humilde de nossa
vida.
por : Dom Henrique Soares da Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário