
No começo deste ano, todos os olhares
se voltaram para o Vaticano. Era uma triste manhã de segunda-feira, 11 de
fevereiro. As redações dos jornais e dos noticiários de todo o mundo anunciavam
o inesperado: o Papa Bento XVI iria renunciar. O que levou o Sumo Pontífice a
fazê-lo? Por que Sua Santidade abdicara o trono de São Pedro e decidira passar
os últimos anos de sua vida em recolhimento? As dúvidas não deixavam dormir as
mentes mais preocupadas. Aquilo sequer parecia verídico.
E, no entanto, era. Os católicos tinham
pouco mais de duas semanas para se despedir de Joseph Ratzinger. O mês de março
começava com a Sé Vacante e, pouco mais de um mês depois da renúncia do Santo
Padre, dia 12 de março, os cardeais eleitores entravam na Capela Sistina para
eleger o novo bispo de Roma. Depois de um conclave rápido, apareceu na sacada
da Basílica de São Pedro a figura de Jorge Mario Bergoglio, que viria a
chamar-se Francisco.
Pouco a pouco, a agitação que tomara
conta dos fiéis católicos começava a se dissipar e todos se davam conta de que
havia um novo Pai em Roma. Habemus Papam! O sentimento de tristeza era
lentamente substituído pelo dom da esperança, pela certeza de que Deus não
abandona a Sua Igreja, não deixa o barco que Ele mesmo construiu à deriva.
No fragor de tantos acontecimentos,
vislumbrou-se a oportunidade de conhecer melhor a Igreja e aquele que é
comumente considerado seu líder espiritual. Afinal, quem é aquele senhor
vestido de branco que mora em Roma e todos chamam bondosamente de
"Papa"?
O excelente Catecismo de São Pio X diz
que o Papa "é o sucessor de São Pedro, porque São Pedro reuniu na sua
pessoa a dignidade de Bispo de Roma e de chefe da Igreja e porque, por
disposição divina, estabeleceu em Roma a sua sede, e aí morreu. Por isso quem é
eleito Bispo de Roma, é também herdeiro de toda a sua autoridade" (n.
192).
Quando Jesus Cristo fundou a Sua
Igreja, ele deixou ao encargo dos apóstolos a continuidade de sua missão nesta
terra, mas deu a Pedro um ministério especial, concedeu-lhe a primazia entre os
doze. Isto se depreende não só da análise histórica dos primeiros séculos da
era cristã, mas de várias passagens da Escritura. De fato, se é verdade que
Cristo disse a seus discípulos: "tudo o que ligardes sobre a terra será
ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no
céu" (Mt 18, 18), também é verdade que só em Pedro afirmou que edificaria
a Sua Igreja e só a ele entregou de modo particular "as chaves do Reino
dos céus" (Mt 16, 19). E ainda depois de ter negado a Cristo por três
vezes, o mesmo apóstolo recebeu novamente do Ressuscitado a missão de
apascentar as Suas ovelhas (cf. Jo 21, 17).
Se não é
possível negar a preferência de Jesus pelo apóstolo Pedro, tampouco é possível
negar que este, tendo viajado para vários lugares para pregar o Evangelho, veio
a ser martirizado em Roma, onde estabeleceu a comunidade que "preside à caridade
na observância da lei de Cristo e que leva o nome do Pai", como escreveu
Santo Inácio de Antioquia01. Em uma
epístola enviada aos coríntios, Clemente, bispo de Roma, refere-se aos mártires
Pedro e Paulo como "atletas que nos tocam de perto"02,
fazendo clara alusão ao seu martírio na cidade eterna. Outros documentos
históricos que respaldam este fato estão citados na ótima "História
Eclesiástica", de Eusébio de Cesareia03.
Em suma, tendo morrido Pedro,
sucederam-no outros na cátedra de Roma: Lino, Anacleto, Clemente, Evaristo,
Alexandre, Sisto e, numa cadeia ininterrupta até os dias de hoje, Francisco. O
Papa é sucessor direto do apóstolo Pedro e, mais que uma pessoa, representa um
encargo, um múnus deixado pelo próprio Senhor.
É por
este motivo que, diferentemente do que as pessoas e os meios de comunicação
comumente pensam, um Papa não pode mudar o ensinamento
constante e unânime do Magistério e da Tradição da Igreja. Sendo verdadeiro rei
e detendo a missão de reger, santificar e governar todo o povo de Deus, ele
exerce seu poder com autoridade, mas não de modo arbitrário. O Santo Padre é,
antes de qualquer coisa, servidor. É
depositário de uma mensagem cujo conteúdo essencial não pode violar, sob o
risco de que o próprio edifício da Igreja venha abaixo.
Um fato
particularmente interessante da história da Igreja ilustra esta verdade.
Chamado a defender a humanidade e divindade de nosso Senhor, o glorioso Papa
São Leão Magno enviou uma carta doutrinal aos bispos reunidos no Concílio de
Calcedônia, na qual defendeu de forma tão brilhante o depósito da fé, que todos
ali reunidos exclamavam, em uníssono: "Pedro falou pela boca de Leão"04.
Por este motivo, todos os fiéis
católicos alegram-se ao ouvir a voz do Pontífice repetindo as doces verdades
que Cristo nos veio revelar... É como se ecoasse nos séculos a voz de São Pedro
confirmando a fé de seus irmãos (cf. Lc 22, 32).
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