22 de set. de 2013

Dom Henrique Soares da Costa


Reflexão do Evangelho de (Lucas 16, 1-13) Missa do 25° Domingo comum

O sentido do Evangelho deste XXV Domingo Comum encontra-se numa constatação e num conselho de Jesus.

Primeiro, a constatação: “Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios que os filhos da luz”.

Depois, o conselho, que, na verdade, é uma exortação: “Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas”.

Que significam estas palavras? Pense um pouco... Arrisque uma resposta, mas só depois de pensar com o coração!
A constatação de Jesus é tristemente real: os que vivem entregues ao pecado são mais espertos e mais dispostos para o mal, que os cristãos para o bem!

Pecadores entusiasmados com o pecado, apóstolos do pecado, divulgadores do pecado...
Cristãos sem entusiasmo pelo Evangelho, sem ânimo para a virtude, sem criatividade para crescer no caminho de Deus!

Pecadores motivados, cristãos cansados e preguiçosos! Que vergonha!

Hoje, como ontem, a constatação de Jesus é verdadeira!

Olhemo-nos, olhemos uns para os outros, olhemos para nossa Comunidade que, dominicalmente, se reúne para escutar a Palavra e nutrir-se do Corpo do Senhor... Somos dignos da Eucaristia?

Sê-lo-emos se nos tornamos testemunhas entusiasmadas e convictas Daquele que na santa Assembleia dominical escutamos, Daquele por Quem no Banquete sagrado somos alimentados!
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Da constatação triste do Senhor, brota Sua exortação grave, Sua ordem sem apelo:

“Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas!”

Palavras estranhas; à primeira vista, escandalosas... Que significam?
Jesus chama o dinheiro de “injusto”.

Primeiro: que significa, aqui, dinheiro? É toda e qualquer riqueza que tenhamos, todo e qualquer bem, material ou espiritual: minha vida, minha saúde, meus amigos, minha família, minha inteligência, meus bens materiais, meu trabalho, minha vida de piedade, as pessoas a quem amo... Tudo é riqueza, tudo é dinheiro!

Mas, então, por que o Senhor chama este "dinheiro" de injusto, iníquo? Isso não é demais? O que Ele quer dizer?!
Jesus chama o dinheiro de “injusto” porque o dinheiro, isto é, a riqueza, os bens materiais e os bens da inteligência, do sucesso, da fama, ainda que adquiridos com honestidade, são sempre traiçoeiros, sempre perigosos, sempre na iminência de escravizar nosso coração e nos fazer seus prisioneiros.

Dinheiro injusto porque sempre nos tenta à injustiça de dar-lhe a honra que é devida somente a Deus e de buscar nele a segurança que somente o Senhor nos pode garantir. Por isso, Jesus chama os bens deste mundo de “dinheiro injusto”... Sempre injusto porque sempre traiçoeiro, sempre traiçoeiro porque sempre sedutor! Todos os nossos bens são ambíguos porque ambíguo é o nosso coração!

Constantemente corremos o risco de nos embebedar com esse "dinheiro", fazendo dele o fim de nossa existência, nossa segurança e nosso deus...

Pense se não é! Pense nos seus dinheiros... Pense na tentação do apego, de absolutizar o que é relativo, fazendo do Senhor Absoluto um relativo na nossa vida... Que tentação, minha e sua!
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Mas, os bens espirituais e materiais, em geral, e o dinheiro, em particular, não são maus de modo absoluto... Eles podem ser usados para o bem! Por isso Jesus nos exorta a fazer amigos com eles...

Fazemos amigos com nossos bens materiais ou espirituais quando os colocamos não somente ao nosso serviço, mas também ao serviço do crescimento dos irmãos, sobretudo dos mais necessitados. Aí, o dinheiro se torna motivo de libertação, de alegria e de vida para os outros... Aí, então, tornamo-nos amigos dos pobres, que nos receberão de braços abertos na Casa do Pai! Bendito dinheiro, quando nos faz amigos dos pobres das várias pobrezas deste mundo e, por meio deles, amigos de Deus!

Que o digam os cristãos que foram ricos e se fizeram amigos de Deus porque foram amigos dos pobres! Que o digam Santa Brígida da Suécia, Santo Henrique da Baviera, São Luís de França, os Santos Isabel e Estevão, reis da Hungria... e tantos outros, que souberam colocar seus bens a serviço de Deus e dos irmãos!

Uma coisa é certa: é impossível ser amigo de Deus não sendo amigo dos pobres! Sobre isso o Senhor nos adverte duramente na primeira leitura deste Domingo: Ai dos que celebram as festas religiosas dos sábados e das luas novas em honra do Senhor com o pensamento de, no dia seguinte, roubar, explorar o pobre e pisar o fraco! Maldita prática religiosa, esta!

A queixa do Senhor é profunda, Sua sentença é terrível. Ouçamos o que Ele diz e tremamos: “Por causa da soberba de Jacó, o Senhor jurou: ‘Nunca mais esquecerei o que eles fizeram!’”
A verdade é que não podemos usar nossos bens como se Deus não existisse e não nos mostrasse os irmãos necessitados, como também não podemos adorar a Deus como se não tivéssemos dinheiro e outros bens materiais ou da inteligência, bens que devem ser colocados debaixo do senhorio de Cristo!

Não se pode separar nossa relação com Deus do modo como usamos os nossos bens! Ou as duas vão juntas, ou a nossa religião é falsa!

Por isso, perguntemo-nos hoje: como uso os bens materiais, como uso meus talentos, como uso minha inteligência? Somente para mim? Ou sei colocar-me a serviço, fazendo de minha vida uma partilha, tornando outros felizes e o nome de Deus honrado?
Os bens deste mundo são pouco, em relação com os bens eternos que o Senhor nos promete para sempre!

Pois bem, escutemos o que diz o nosso Salvador: Quem é fiel nas pequenas coisas, também é fiel nas grandes. Se vós não sois fieis no uso do dinheiro injusto, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois fieis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso?"

Em outras palavras, para que ninguém tenha a desculpa de dizer que não compreendeu o que o Senhor quis dizer: Quem é fiel nas coisas pequenas deste mundo, será fiel nas coisas grandes que o Pai dará no Céu. Se vós não sois fieis no uso dos bens desta vida, como Deus vos confiará a vida eterna, que é o verdadeiro bem? E se não sois fiéis nos bens que não são vossos para sempre, como Deus vos confiará aquilo que é o verdadeiro bem, a Vida eterna, que será vossa para sempre?

Amigos, cuidemos nós, que o modo de nos relacionarmos com o dinheiro e demais bens diz muito do que nós somos! Afinal o nosso tesouro está onde está nosso coração!

Dizei-me onde anda o vosso coração, o vosso apego, a vossa preocupação, e eu vos direi qual é o tesouro da vossa vida!

Tristes de nós quando o nosso tesouro não for unicamente Deus!

Tristes de nós quando, por amor ao que passa, perdemos a Deus, o único Bem que não passa!

Uma coisa é certa: a advertência duríssima de Jesus: “Ninguém pode servir a dois senhores. Vós não podereis servir a Deus e ao dinheiro!”

Que nos converta a misericórdia de Deus, que sendo tão bom, “quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade”. A Ele a glória para sempre. Amém.

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