1 de set. de 2013

Dom Henrique Soares da Costa

Meditação sobre o evangelho de hoje. (Lc 14, 1.7-14) Missa do 22° Domingo Comum


Que coisa, o Evangelho deste Domingo (Lc14,1.7-14)!
Jesus falando em regras num banquete de casamento, sobre normas de etiqueta! Não lhe parece um assunto sem importância?
Cabe lá na boca de Jesus palavras que exprimam tais preocupações?
No entanto, engana-se quem pensa que o Evangelho de hoje é um guia de etiqueta e de boas maneiras em banquetes e recepções. Nada disso!


Jesus pensa, aqui, no Banquete do Reino, que é preparado pelo banquete da vida; sim, porque somente participará do Banquete do Reino quem souber portar-se no banquete da vida!
O Banquete é dito "de casamento". Tratam-se das núpcias do Cordeiro com Sua Esposa, a Igreja: "Felizes os convidados para o Banquete das núpcias do Cordeiro!" (Ap 19,9). Pois bem: banquete da vida e Banquete do Cordeiro, que começa aqui, na vida cristã, sobretudo no Banquete eucarístico, e será pleno no final dos tempos.
Neste banquete, no daqui, no desta vida, o Senhor nos estimula a duas atitudes, dois comportamentos profundamente evangélicos.

Primeiramente, a humildade: “Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar... Vai sentar-te no último... Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: ‘Amigo, vem mais para cima’”.

O que é ser humilde? Humildade deriva de húmus, pó, lama, barro... Ser humilde é reconhecer-se dependente diante de Deus, é saber-se pobre, limitado diante do Senhor. Quem é assim, sabe avaliar-se na justa medida porque sabe ver-se à luz do Senhor!

O humilde tem diante de si a sua própria verdade: é pobre, é indigente, mas infinitamente agraciado e amado por Deus. Por isso, o humilde é livre e, porque livre, manso. Tinha razão Santa Teresa de Jesus quando afirmava que a humildade é a verdade. O humilde vê-se na sua verdade porque vê-se como Deus o vê, vê-se com os olhos de Deus!

Então, o humilde é aberto para o Senhor, Dele reconhece que é dependente, e a Ele se confia. Podemos, assim, compreender as palavras do Eclesiástico: "Filho, realiza teus trabalhos com mansidão; na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor. O Senhor é glorificado nos humildes".

É assim, porque somente o humilde, que reconhece que depende de Deus, pode ser aberto, e acolher como uma criança o Reino que Jesus veio trazer 


A segunda atitude que o Cristo hoje nos ensina é a gratuidade: “Quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”.

Esse Jesus nosso Senhor é mesmo realista? Quem lá faz isso: chamar pobre, doente, estropiado para uma festa?

Mas, atenção! Não se trata de uma festa qualquer: é a festa da vida, é a sua existência, a nossa, uns ao lado dos outros! Abra sua vida para os outros, abra o coração para quem necessita de você! Convide outros para participar da sua alegria de viver, dos dons que o Senhor lhe concedeu! É isto! De graça recebemos a vida e suas oportunidades; de graça devemos partilhar a alegria e a ventura de viver com os demais!

A gratuidade é a virtude que dá sem esperar nada em troca, dar e sentir-se feliz, sentir-se realizada no próprio dar. Se prestarmos bem atenção, a gratuidade é filha da humildade. Só quem sabe de coração que em tudo depende de Deus e de Deus tudo recebeu gratuitamente (humilde), também sente-se impelido a imitar a atitude de Deus: dar gratuitamente! “De graça recebestes, de graça dai!” (Mt 10,8) ou, como dizia Santa Teresinha do Menino Jesus: “Viver de amor é dar sem medida, sem nesta terra salário reclamar; sem fazer conta eu dou, pois convencida de que quem ama já não sabe calcular!”

Pois bem, quem faz crescer em si a humildade e cultiva a gratuidade, experimenta a Deus e Seu Reino, pois aprende a sentir o coração do próprio Deus, que tudo nos deu gratuitamente. Quem cultiva a humildade e a gratuidade deixa o Reino ir entrando em si e entrará, um dia, no Reino de Deus!

Se pensarmos bem, nada disso é fácil, pois vivemos no mundo da autosuficiência e dos resultados. O homem já não mais se sente dependente de Deus; deseja ele mesmo fazer a vida do seu modo. Assim, se fecha para Deus e, para Ele se fechando, já não mais reconhece no outro um irmão e, não experimentando a misericórdia gratuita de Deus, já não sabe mais dar gratuitamente: tudo tem que ter retorno, tudo tem que apresentar contrapartida, tudo tem que, cedo ou tarde, dá lucro, tudo é pensado na lógica do custo-benefício. Como é triste a vida, quando é vivida assim...

Mas, não será o nosso caso? Pensemos bem, porque se assim o for, jamais experimentaremos Deus de verdade, jamais conhecê-Lo-emos de verdade. Nunca é demais recordar a advertência da Escritura: “Quem não ama não conhece a Deus!” (1Jo 4,8)




Fonte 
https://www.facebook.com/domhenrique.dacosta?hc_location=stream

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