Neste banquete, no daqui, no desta vida, o Senhor nos estimula a duas atitudes, dois comportamentos profundamente evangélicos.
Primeiramente, a humildade: “Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar... Vai sentar-te no último... Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: ‘Amigo, vem mais para cima’”.
O que é ser humilde? Humildade deriva de húmus, pó, lama, barro... Ser humilde é reconhecer-se dependente diante de Deus, é saber-se pobre, limitado diante do Senhor. Quem é assim, sabe avaliar-se na justa medida porque sabe ver-se à luz do Senhor!
O humilde tem diante de si a sua própria verdade: é pobre, é indigente, mas infinitamente agraciado e amado por Deus. Por isso, o humilde é livre e, porque livre, manso. Tinha razão Santa Teresa de Jesus quando afirmava que a humildade é a verdade. O humilde vê-se na sua verdade porque vê-se como Deus o vê, vê-se com os olhos de Deus!
Então, o humilde é aberto para o Senhor, Dele reconhece que é dependente, e a Ele se confia. Podemos, assim, compreender as palavras do Eclesiástico: "Filho, realiza teus trabalhos com mansidão; na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor. O Senhor é glorificado nos humildes".
É assim, porque somente o humilde, que reconhece que depende de Deus, pode ser aberto, e acolher como uma criança o Reino que Jesus veio trazer
A segunda atitude que o Cristo hoje nos ensina é a gratuidade: “Quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”.
Esse Jesus nosso Senhor é mesmo realista? Quem lá faz isso: chamar pobre, doente, estropiado para uma festa?
Mas, atenção! Não se trata de uma festa qualquer: é a festa da vida, é a sua existência, a nossa, uns ao lado dos outros! Abra sua vida para os outros, abra o coração para quem necessita de você! Convide outros para participar da sua alegria de viver, dos dons que o Senhor lhe concedeu! É isto! De graça recebemos a vida e suas oportunidades; de graça devemos partilhar a alegria e a ventura de viver com os demais!
A gratuidade é a virtude que dá sem esperar nada em troca, dar e sentir-se feliz, sentir-se realizada no próprio dar. Se prestarmos bem atenção, a gratuidade é filha da humildade. Só quem sabe de coração que em tudo depende de Deus e de Deus tudo recebeu gratuitamente (humilde), também sente-se impelido a imitar a atitude de Deus: dar gratuitamente! “De graça recebestes, de graça dai!” (Mt 10,8) ou, como dizia Santa Teresinha do Menino Jesus: “Viver de amor é dar sem medida, sem nesta terra salário reclamar; sem fazer conta eu dou, pois convencida de que quem ama já não sabe calcular!”
Pois bem, quem faz crescer em si a humildade e cultiva a gratuidade, experimenta a Deus e Seu Reino, pois aprende a sentir o coração do próprio Deus, que tudo nos deu gratuitamente. Quem cultiva a humildade e a gratuidade deixa o Reino ir entrando em si e entrará, um dia, no Reino de Deus!
Se pensarmos bem, nada disso é fácil, pois vivemos no mundo da autosuficiência e dos resultados. O homem já não mais se sente dependente de Deus; deseja ele mesmo fazer a vida do seu modo. Assim, se fecha para Deus e, para Ele se fechando, já não mais reconhece no outro um irmão e, não experimentando a misericórdia gratuita de Deus, já não sabe mais dar gratuitamente: tudo tem que ter retorno, tudo tem que apresentar contrapartida, tudo tem que, cedo ou tarde, dá lucro, tudo é pensado na lógica do custo-benefício. Como é triste a vida, quando é vivida assim...
Mas, não será o nosso caso? Pensemos bem, porque se assim o for, jamais experimentaremos Deus de verdade, jamais conhecê-Lo-emos de verdade. Nunca é demais recordar a advertência da Escritura: “Quem não ama não conhece a Deus!” (1Jo 4,8)
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