As Confissões de Santo Agostinho não são apenas o retrato
extraordinário desta alma tão grande, cuja sombra cobriu não só a Idade Média,
como toda a história da humanidade. Por trás do gênio de Agostinho estão as
súplicas e o fervor incansável de uma mãe. A autobiografia deste doutor da
Igreja inclui, em suas páginas, a incrível história de Santa Mônica, que orou
dia e noite para que seu filho pagão se encontrasse com a Igreja e se fizesse
seu filho.
A primeira grande lição da vida de Mônica está no valor do
sofrimento escondido. De fato, são inúmeras as vezes que Santo Agostinho
interrompe a narrativa de sua vida para falar das devotadas lágrimas de sua
mãe: “Minha mãe, tua fiel serva, chorava-me diante de ti muito mais do que as
outras mães costumam chorar sobre o cadáver dos filhos, pois via a morte de
minha alma com a fé e o espírito que havia recebido de ti" [1]; “Tuas
mãos, meu Deus, no segredo de tua providência, não abandonavam minha alma; e
minha mãe, dia e noite, não deixava de te oferecer em sacrifício por mim o
sangue de seu coração, na forma de suas lágrimas" [2].
“Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, fecha a
porta e ora ao teu Pai que está no escondido. E o teu Pai, que vê no escondido,
te dará a recompensa" [3]. Aquele pranto, que engendrou a conversão e a
santidade de um dos santos e escritores mais aclamados do mundo, ficou oculto;
enquanto as grandes obras de Agostinho ainda hoje gritam ao mundo as verdades
eternas, as lágrimas e os cuidados de Santa Mônica, silenciosos, não queriam
ganhar um livro, mas tão somente a alma de seu filho: preciosas lágrimas, que
tão grande valor tiveram diante de Deus; notáveis cuidados, que, conta
Agostinho, “para me gerar em espírito eram piores que os que [ela] suportava
quando me concebeu pela carne" [4].
Certa vez, preocupada com a adesão de seu filho à heresia
maniqueísta, Mônica procurou a ajuda de um bispo, instando-o para que
conversasse com Agostinho e o convencesse do erro dessa doutrina. O bispo se
negava a fazê-lo, dizendo que o rapaz descobriria por si mesmo o engano em que
se encontrava. Mas, Mônica não se contentava e continuava suplicando ao bispo
que fizesse alguma coisa. “Já com certo enfado de sua insistência", ele
respondeu à santa: “Vai-te em paz, mulher, e continua a viver assim, que não é
possível que pereça o filho de tantas lágrimas" [5].
O segundo ensinamento de Santa Mônica está em seu testemunho
valoroso de mãe, que transformou a sua afeição natural pelo filho em amor
verdadeiramente virtuoso, de caridade. De fato, antes de partir para Roma,
Agostinho escreve que ela, “como todas as mães, e ainda mais que a maioria
delas, desejava manter-me junto de si, (...) buscando em lágrimas ao que com
gemidos havia dado à luz" [6].
Auxiliada pela graça de Deus, no entanto, Mônica supera o
apego por Agostinho para amá-lo em Deus. Com efeito, tendo presenciado a
conversão do filho à fé católica, esta santa mulher deixa o seguinte
testamento:
“Filho, quanto a mim, já nada me atrai nesta vida. Não sei o
que faço ainda aqui, nem por que ainda estou aqui, se já se desvaneceram pra
mim todas as esperanças do mundo. Uma só coisa me fazia desejar viver um pouco
mais, e era ver-te católico antes de morrer. Deus me concedeu esta graça
superabundantemente, pois te vejo desprezar a felicidade terrena para servi-lo.
Que faço, pois, aqui?" [7]
Impossível não lembrar os suspiros apaixonados que Santa
Teresa de Jesus dirigia a Nosso Senhor, quase que morrendo por não poder
morrer. É o que anseiam as almas que amam ordenadamente este mundo: nada mais
querem nele senão a glória de Deus e a salvação das almas.
Em 387, na cidade de Óstia, poucos dias depois de uma
memorável experiência mística com seu filho, partiu Mônica para o Céu, deixando
como último desejo que rezassem por ela “diante do altar do Senhor" [8].
Hoje, nos altares do mundo inteiro, todos os cristãos celebram a memória de seu
filho e cantam agradecidos a Deus pela vida desta santa mulher, mãe e esposa,
que, com suas orações e súplicas, deu à humanidade um grande exemplo de amor e
um santo bispo e doutor da Igreja.
Santo Agostinho e Santa Mônica, rogai por nós!
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
Confissões, III, 11
Ibidem, V, 7
Mt 6, 6
Confissões, V, 9
Ibidem, III, 12
Ibidem, V, 8
Ibidem, IX, 10
Ibidem, IX, 11
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