2. O meu Venerado Predecessor Pio XII, na Encíclica Ad coeli Reginam, à qual faz referência o texto da Constituição Lumen gentium, indica como fundamento da realeza de Maria além da maternidade, a cooperação na obra da redenção. A Encíclica recorda o texto litúrgico: ‘Santa Maria, Rainha do céu e Soberana do mundo, participava no sofrimento, junto da Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo’ (AAS 46 [1954] 634). Ela estabelece depois uma analogia entre Maria e Cristo, a qual nos ajuda a compreender o significado da realeza da Virgem: Cristo é rei não só porque é Filho de Deus, mas também porque é redentor; Maria é rainha não só porque é Mãe de Deus, mas também porque, associa-a como nova Eva ao novo Adão, cooperou na obra da redenção do gênero humano (AAS 46 [1954] 635). No Evangelho de Marcos lemos que no dia da Ascensão o Senhor Jesus ‘foi arrebatado para Deus’ (16, 19). Na linguagem bíblica, ‘sentar-se à direita de Deus’ significa compartilhar o Seu poder soberano. Ao sentar-se ‘à direita do Pai’, Ele instaura o Seu reino, o Reino de Deus. Elevada ao Céu, Maria é associada ao poder de seu Filho e dedica-se à extensão do Reino, participando na difusão da graça divina no mundo. Olhando para a analogia entre a Ascensão de Cristo e a Assunção de Maria, podemos concluir que, em dependência de Cristo, Maria é a rainha que possui e exerce sobre o universo uma soberania, que lhe foi dada pelo seu próprio Filho.
3. O título de Rainha não substitui certamente o de Mãe: a sua realeza permanece um corolário da sua peculiar missão materna, e exprime simplesmente o poder que lhe foi conferido para exercer essa missão. Ao citar a Bula Inefabilis Deus, de Pio IX, o sumo Pontífice põe em evidência esta dimensão materna da realeza da Virgem: ‘Tendo por nós um afeto materno e assumindo os interesses da nossa salvação, Ela estende ao gênero humano inteiro a sua solicitude. Estabelecida pelo Senhor como Rainha do céu e da terra, elevada acima de todos os coros dos Anjos e de toda a hierarquia celeste dos Santos, ao sentar-se à direita do seu único Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, Ela obtém como grande certeza aquilo que pede com as suas súplicas maternas; aquilo que procura, encontra-o e não lhe pode faltar’ (AAS 46 [1954] 636-637).
4. Os cristãos olham, portanto, com confiança para Maria Rainha, e isto não só diminui, mas antes exalta o seu abandono filial naquela que é mãe na ordem da graça. Antes, a solicitude de Maria Rainha pelos homens pode ser eficaz de maneira plena, precisamente em virtude do estado glorioso consequente da Assunção. Bem o põe em evidência São Germano de Constantinopla, o qual pensa que esse estado assegura a íntima relação de Maria com seu Filho e torna possível a sua intercessão em nosso favor. Ele acrescenta, ao dirigir-se a Maria; Cristo quis ‘ter, por assim dizer, a proximidade dos teus lábios e do teu coração; desta maneira Ele atende a todos os desejos que Lhe exprimes, quando sofres pelos teus filhos, e Ele realiza, com o Seu poder divino, tudo o que Lhe pedes’ (Hom. 1, PG 98, 348).
5. Pode-se concluir que a Assunção favorece a plena comunhão de Maria não só com Cristo, mas com cada um de nós; Ela está ao nosso lado, porque o seu estado glorioso lhe permite acompanhar-nos no nosso itinerário terreno diário. Como lemos ainda em São Germano: ‘Tu habitas espiritualmente conosco e a grandeza da tua vigilância sobre nós faz ressaltar a tua comunidade de vida conosco’ (Hom. 1, PG 98, 344). Longe, portanto, de criar distância entre nós e Ela, o estado glorioso de Maria suscita uma aproximação contínua e solícita. Ela conhece tudo o que acontece na nossa existência e sustenta-nos com amor materno nas provas da vida. Elevada à glória celeste, Maria dedica-se totalmente à obra da salvação, para comunicar a cada vivente a felicidade que lhe foi concedida. É uma Rainha que dá tudo aquilo que possui, comunicando sobretudo a vida e o amor de Cristo.
* L’Osservatore Romano, ed. port. n.30, 26/07/1997, p. 8(348)
JOÃO PAULO II (Audiência Geral- 23/08/97)
Fonte: Cléofas
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