São Gabriel das Dores morreu com 23 anos, cinco anos depois de haver entrado para a Congregação da Paixão de Jesus Cristo. Em 1920, foi declarado pelo Papa Bento XV modelo para a juventude da época. Será que esse santo pode continuar a ser considerado um modelo para a juventude atual, 95 anos depois dessa declaração do Santo Padre? Para responder a essa pergunta, é necessário entrar um pouco mais na vida desse jovem santo e perguntar-se o que foi que o levou a santidade.
Na Igreja existe apenas um caminho à santidade: Cristo. Todos conhecemos a passagem na qual Ele fala de si mesmo como “O Caminho, a Verdade e a Vida.” No entanto, ao percorrer esse mesmo caminho ou chamado Universal para a Santidade, cada pessoa o percorre com determinados acentos ou ênfases espirituais. A isso podemos dar o nome de vocação específica ou chamado particular. Normalmente esse chamado particular está ligado a alguma congregação específica na Igreja, que com seu carisma particular é um caminho de santidade para os que são chamados.
A Congregação da Paixão de Jesus Cristo foi a instituição na qual Francisco (Nome de Batismo do santo, escolhido em honra a São Francisco de Assis) ingressou e se santificou. Qual é o carisma dessa congregação? Sem querer esgotar toda a riqueza dessa espiritualidade, pode-se dizer alguns pontos centrais: Reconhecer na Paixão de Jesus Cristo, junto com o fundador, a maior e mais admirável obra do amor divino; Anunciar aos seus contemporâneos o amor de Deus por cada pessoa, manifestado na Paixão e Morte de Cristo e tornado vitorioso pela Ressurreição; promover (por um voto especial que fazem) a memória da Paixão de Cristo com a palavra e com a própria vida, sobretudo com a pregação e com a sua presença junto dos pobres e dos marginalizados; enfim, junto de todos os “crucificados” da atualidade.
A santidade de uma pessoa que pertence a uma congregação é viver de acordo com o carisma de tal instituição. Para ver como Francisco se santificou, precisamos olhar como em sua vida se refletiu de alguma maneira essas características e, para responder a pergunta do início, ver se isso ainda é relevante para os jovens atuais.
A curta vida de Gabriel das Dores na congregação foi marcada, especialmente no último ano, pela doença que finalmente o levaria a morte, a tuberculose. Durante um ano essa doença foi se agravando e o jovem a suportou com o espírito abnegado e generoso, o que certamente o assemelha muito a Cristo em sua paixão. Com certeza é um testemunho muito forte de santidade poder carregar essa cruz tão jovem e com tantas perspectivas de “sucesso” por sua excelente conduta moral e religiosa, que chamava muito a atenção no convento.
Por outro lado, apesar de que essa experiência da doença certamente iluminar os jovens atuais, outra experiência, anterior a sua vida no convento, me parece que pode iluminar de maneira especial a juventude dos dias de hoje.
Francisco era um jovem modelo. Era um ótimo aluno, excelente orador, tinha uma boa aparência física e sua formação cristã era impecável, fruto de uma família tradicionalmente católica. Por outro lado, era também um pouco vaidoso e as coisas do mundo o atraiam bastante. Gostava muito dos bailes e festas e caçar era uma de suas paixões mais fortes.
Mas Francisco sabia que aquela vida mundana não o realizava totalmente. Ele sabia que Deus o chamava a algo mais. Como o sabia? Estando doente uma vez, prometeu que se melhorasse ele se tornaria religioso. Deus aceitou essa promessa e o garoto melhorou, porém o amor pelo mundo falou mais forte e ele acabou deixando de lado o compromisso que tinha feito.
Essa parte da história me fez pensar em Cristo no horto de Getsêmani. Nesse momento difícil da vida de Nosso Senhor, Ele chega a pedir ao Pai que, se fosse possível, afastasse o cálice que Ele deveria beber. Francisco também sabia que Deus lhe pedia tomar o cálice da vocação, mas decidiu fazer a sua própria vontade e não a de Deus.
E isso aconteceu uma segunda vez. Novamente ficou doente e fez a mesma promessa, dessa vez pedindo inclusive a intercessão de um santo, Santo André Bobola, para conseguir a cura. Deus uma vez mais lhe concedeu essa graça e de novo Francisco “se esqueceu” da promessa.
Uma terceira vez renovou a promessa quando, em uma de suas saídas a caçar, quase morreu com um tiro acidentalmente disparado. Mas ainda assim postergou sua entrada à vida religiosa. Foi preciso um acontecimento mais trágico para que o mundo e as seguranças de Francisco se abalassem de verdade. Em 1855 sua irmã mais velha, muito próxima de Francisco, morreu pela cólera que assolava a região onde morava (Spoleto). Isso foi um golpe duríssimo no jovem. Mas ainda assim, se decidiu a entrar no convento apenas depois de ouvir, no meio de uma procissão de um ícone mariano, que Nossa Senhora lhe falava suavemente: “Francisco, o mundo não é para ti; a vida no convento te espera”. A partir desse chamado pessoal, o jovem Francisco decidiu entrar na vida religiosa e optou pela congregação dos Passionistas.
Essa experiência interior de Francisco, todo esse itinerário de fé, de afastamento de Deus e de reconciliação pessoal com certeza iluminam muito qualquer jovem que honestamente olhe para o seu interior e perceba que ele reclama algo a mais. Algo que o mundo não pode oferecer, uma felicidade infinita que insiste em buscar nas coisas materiais que por sua natureza finita não pode oferecer. No fundo do coração de cada jovem existe esse desejo de infinito, essa nostalgia por algo realmente nobre, verdadeiro, que dê um sentido definitivo para suas vidas. E isso só é possível encontrar em Deus. E o caminho de Deus é o caminho que passa pela Cruz, fato que São Gabriel das Dores pode testemunhar em primeira pessoa. Não é um caminho fácil, mas é o único que conduz à ressurreição.
Por esses motivos, acredito que São Gabriel das Dores continua sendo um santo muito importante para orientar e iluminar os caminhos da juventude atual. Que ele nos ajude a acolher o chamado de Deus para nossas vidas e perseverar nesse caminho até o fim.
Fonte: http://www.a12.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário