1.Como todas as obras sobrenaturais, é ela meritória e satisfatória. O que propriamente lhe pertence é a impetração. O homem ora e pede: Deus o ouve e atende a prece, não tanto em vista dos merecimentos que a criatura possa ter, porém, principalmente em virtude da Sua misericórdia e da mesma prece. A impetração corresponde à força da oração como tal e não ao mérito daquele que ora. E esse caráter particular, é o que mais cabalmente demonstra a excelência da oração e sua valia aos olhos de Deus.
2.E até onde vai o poder da impetração? Entende-se a todas as necessidades do homem sem excetuar nenhuma, não tendo outros limites que não os da onipotência e misericórdia divina. Assim no-lo afirma o Salvador: “Crede que obtereis tudo o que pedirdes” (Mt 21, 22; 7,7). “Pedi e recebereis” (Jo 14,13.)
Se, pois, Deus nada excetua, não nos cabe a nós fazer restrições. Por conseguinte, devemos pedir tudo o que razoavelmente desejarmos e que seja conforme a vontade divina, mormente os bens espirituais. A nossa confiança de obtê-los deve estar na razão da excelência e necessidades desses dons. Relativamente às vantagens temporais, importa proceder com alguma reserve. Talvez algumas delas não nos poderiam ser concedidas, senão por punição divina. A Sagrada Escritura prova magnificamente a eficácia da oração. Israel no deserto, Moisés, Josué, os grandes feitos dos juízes e dos Macabeus, os milagres de Jesus e os dos Apóstolos, em suma, toda a história da oração e de seus efeitos. É uma contínua e maravilhosa cadeia em que a prece humana e a humana miséria se entrelaçam com a misericórdia divina, o socorro de Deus.
As leis naturais derrogam ante o poder da oração, porquanto momentaneamente podem permanecer suspensa: foi a oração que fez parar e retroceder o sol (cf. Jos 10,13).
Assim como a abóbada celeste se estende sobre nosso globo, tal a prece se desdobra, por sobre a humanidade e lhe protege a marcha através dos séculos.
3.Existe um mundo, o mais das vezes oculto aos nossos olhares e conhecido apenas do céu, no qual a ação da prece se revela gloriosamente; é o mundo das almas, o reino onde elas se formam e se purificam santificando-se. Tudo acaba por ceder ante a suave e penetrante eficácia da oração: paixões indômitas, violência das tentações, ocasiões perigosas; de tudo ela triunfa, transformando o homem, brandamente, por uma gradação insensível.
O ferro é duro de malhar. Submetei-o, porém, à ação do ferro e podereis dar-lhe a forma que quiserdes. Orai, perseverai na oração e dominareis vossas paixões, quaisquer que sejam.
“Ei-lo que ora” dizia o Senhor a Ananias, referindo-se a Paulo, convertido durante o percurso de Jerusalém a Damasco. Saulo só respirava ódio e ameaças contra o Senhor: o Senhor o subjuga e, mediante a oração, o transforma em seu Apóstolo.
Nada há que temer de um homem que ora, assim como nada há que recear a seu respeito.
Aquilo que os Antigos esperavam da filosofia, isto é, a nitidez e a paz do espírito, o equilíbrio dos sentimentos, a fortaleza na tribulação e no sofrimento, a oração dava aos primeiros cristãos. Era ela que lhes fazia às vezes de escola e metafísica; era ela a poderosa alavanca que lhes permitia soerguer a terra do mundo pagão.
Ainda hoje, é nela que reside a força , a ciência e a politica da Igreja, que por meio dela triunfa sempre, seja subjugando o adversário, seja convertendo-o.
4.Onde, porem, se acha o segredo da eficácia da oração?
Na união da criatura com o Criador. Grande é o poder do homem no domínio da natureza, ainda quando se acha reduzido às próprias forças. Qual não será, se ele opera com Deus e nele se apoia, se tem a seu favor a Providência, a Sabedoria e o Poder da mesma Divindade?
É, pois, de admirar que haja milagres?
Mediante a oração o homem torna-se, nas mãos de Deus, um instrumento inteligente, e assim a ele redunda parte do resultado.
Na aliança formada pela oração, entre Deus e o homem, este só concorre com a própria fraqueza, a qual confessa, implorando o auxílio divino. Deus contribui com a sua bondade, seu poder e fidelidade.
Não se trata, no presente caso, de qualquer mérito nosso, mas da misericórdia divina, causa eficiente do poder da oração.
A fraqueza é sempre poderosa ante a verdadeira magnanimidade. Se um animalejo recorre à nossa proteção, não lhe rejeitamos a súplica. A criança é onipotente no seio da família; pede e tudo obtém. Comparativamente ao animal, o home é menos favorecido, em mais de um ponto de vista. O animal nasce provido do necessário para subsistir: possui armas e vestimentas; o homem permanece sem defesa, por largo espaço de tempo. Eis a razão pela qual Deus o dotou de mãos cuja habilidade e indústria lhe permitem acudir às suas necessidades. Em relação à vida espiritual, a oração nos presta auxilio similar. Por meio dela o homem pode prove-se de alimento, vestuário, adornos e proteção; pode empreender coisas árduas e tudo leva a cabo. É ela, pois, a dinâmica do cristão. Quem era fosse a nossa vida sempre conforme as suas leis!
Por meio da oração, o homem toma parte nos conselhos da S. S. Trindade onde se debatem os interesses do mundo. Não há um só deles em que a prece não tenha o direito de intervir e assim um simples e humilde cristão regula, de concerto com a Divindade, os destinos do universo. E sempre assim foi.
A sorte do cristianismo não se decidiu unicamente no combate da ponte Milvia, nem tão pouco, apenas no anfiteatro, onde os mártires davam a Deus o testemunho do sangue; mas também no silêncio das igrejas subterrâneas onde oravam os fiéis; sob as palmeiras dos eremitas êmulos de S. Paulo, e nas grutas dos Antônios. Imensa é a eficácia da oração e não está na nossa alçada aquilatar o poder que ela nos confere, porquanto atinge o próprio Deus, que ela, num peculiar sentido, desarma e violenta, evidentemente porque Ele assim o determinou. O Senhor se apraz nessa violência que, longe de apoucá-Lo, o glorifica.
Essa verdade nos deve animar e dar confiança na valia da oração, ou melhor, na sua onipotência.
Trecho retirado do livro: A Vida Espiritual Reduzida a Três Princípios
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