17 de nov. de 2014

O Sermão da Montanha (4° Parte)

Harmonia entre o Espírito e o mundo exterior

"Evitai praticar vossas boas obras diante dos homens para serdes notados por eles, porque assim não tereis recompensa da parte de vosso Pai que está nos céus. Quando, portanto, deres esmolas, não faças tocar a trombeta diante de ti, com procedem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, com o fim de serem aplaudidos pelos homens. Eu vos declaro esta verdade: já receberam a sua recompensa. Mas, quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita, para que a tua esmola fique oculta. O Pai, que vê a ação oculta, te recompensará. E quando rezardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar com ostentação na sinagogas e nas encruzilhadas, para aparecerem diante dos homens. Eu vos declaro esta verdade: já receberam a sua recompensa. Mas, fecha a porta, e reza a teu Pai que está presente até em lugar oculto. E teu Pai, que vê o que fazes ocultamente, te dará a recompensa. Quando rezardes, não multipliqueis as palavras como fazem os pagãos: pensam que, devido à força de muitas palavras, é que são atendidos. Não sejais semelhantes a eles: porque o vosso Pai sabe do que precisais, antes de fazerdes o pedido" (Mateus 6:1-8).

Nosso Senhor quer que façamos o bem desinteressadamente, para agradar o Senhor e para ajudar os outros, e não para o nosso proveito ou honra. Nosso Senhor quer que as nossas intenções sejam tão puras quanto as palavras e as ações. No tempo em que Cristo viveu na terra, a virtude era altamente honrada e os judeus tinham o hábito de competir entre si, quem rezava por mais tempo e com mais freqüência e quem jejuava mais rigorosamente e quem dava esmolas mais generosas. Através dessas rivalidades na exibição de boas ações, os escribas e fariseus principalmente, procuravam ganhar honrarias. Essa forma interesseira de encarar a religião tornava-os hipócritas e santimônios. Das boas ações só restava a aparência, uma casca sem nenhum conteúdo. O Senhor alerta seus seguidores sobre a falsa devoção com o propósito de honras, e chama-os para agradar a Deus de coração puro.

Dando exemplos de boas ações, o Senhor nos ensina como rezar e como dar aos pobres de forma que essas boas ações sejam aceitas por Deus. "Evitai praticar vossas boas obras diante dos homens para serdes notados por eles, porque assim não tereis recompensa da parte de vosso Pai que está nos céus" (Mat. 6:1). Nestas e em outras palavras similares, o Senhor chama a nossa atenção para a intenção com a qual iniciamos uma boa ação. Uma boa ação feita em segredo, que não tenha propósito de mostrar aos outros, mas que seja para Deus, merece uma recompensa Dele. Entretanto, é preciso observar que rezar em segredo não invalida é claro a oração coletiva, pois Nosso Senhor nos chamou para a oração coletiva ao dizer: "Porque onde estão duas ou três reunidos em meu nome, eu estou lá entre eles" (Mateus 18:20).

O mandamento para evitar palavras supérfluas nos ensina a não ver uma oração como uma formula mágica cujo sucesso depende da quantidade de palavras. O poder da oração está na sinceridade e na fé com as quais a pessoa se eleva a Deus. No entanto uma oração longa não é proibida: pelo contrário, ela encoraja, pois quanto mais a pessoa reza mais tempo estará com Deus. Nosso Senhor Jesus Cristo Ele próprio constantemente passava noites inteiras em oração.

É necessário mencionar que, mais adiante Nosso Senhor nos fala sobre o jejum,com a mesma freqüência que Ele falou da oração e de dar aos pobres. Portanto, é necessário jejuar. Lamentavelmente hoje em dia os cristãos negligenciam a abstinência para satisfazer a carne que é submissa ao pecado. Essas pessoas costumam se justificar dizendo: "Não é o que entra pela boca que nos torna o homem impuro; mas pelo contrário, aquilo que sai da sua boca " (Mat. 15:11), Entretanto, é impossível aperfeiçoar o seu coração sem domar o seu estômago e o desejo da carne. É por isso que as outras virtudes como a oração e a compaixão não poderão se manifestar por inteiro sem o esforço pela abstinência.

Certamente que nossas condições de vida hoje são diferentes assim como os parâmetros morais da nossa sociedade contemporânea. É duvidoso que uma pessoa seja elogiada por jejuar e rezar, provavelmente as pessoas irão debochar ou chamá-lo de idiota. É por isso que um cristão se vê obrigado a ocultar suas virtudes mesmo contra a sua vontade. Mas isso não significa que a hipocrisia não existe, apenas mudou de forma. Hoje ela poderá aparecer como boa educação e lisonjas não sinceras. Muitas vezes o desprezo e a raiva são encobertos por sorrisos e palavras simpáticas; aqueles que o elogiam na sua frente podem estar o difamando pelas costas. Então a benevolência cristã e o amor se transformam em lastimável aparência. É a mesma hipocrisia com outras vestes. Portanto o Sermão de Nosso Senhor sobre a falta de sinceridade está direcionado a todas as formas de hipocrisia, antigas e novas.

A Oração do Senhor (O Pai Nosso)

"Pai Nosso que estás nos Céus, santificado seja o Teu Nome, venha a nós o Teu Reino seja feita a Tua vontade assim na Terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dá hoje e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do maligno" (Mat. 6:9-13).

Ensinando-nos a não sermos supérfluos Nosso Senhor nos dá um exemplo de oração que freqüentemente é chamada de oração do Senhor (O Pai Nosso). Essa oração é extraordinária porque em algumas palavras ela abrange os assuntos principais do que é espiritual e também material, necessários a todo o ser humano. Além do mais, a Oração do Senhor separa as preocupações mais importantes das que são menos importantes, mostrando-nos quais deverão ser as nossas prioridades.

Pai Nosso que estás nos Céus: Dirigindo a Deus com as palavras "Pai nosso " nos faz lembrar que Ele é o Nosso Pai, que nos ama, que sempre quer o melhor para nós. Nós dizemos Céus: uma palavra que faz mudar o rumo de nossos pensamentos, do caos dos afazeres cotidianos em direção ao lar eterno ao qual nossas aspirações devem ser dirigidas em todos os dias da nossa vida terrena. É importante notar sobre a Oração do Senhor é o fato de que todas as petições a Deus estão no plural. Isso significa que oramos a Deus não somente por nós mesmos mas por todos que tem uma relação conosco seja de sangue ou religião e até um certo grau por toda a humanidade. É um lembrete para nós de que somos todos irmãos e irmãs - filhos do nosso Pai Celeste.

Santificado seja o Teu Nome. Neste primeiro apelo expressamos nosso desejo de que o nome de Deus seja honrado e glorificado por nós mesmos e por todas as pessoas, e a verdadeira fé e piedade estendida pelo mundo todo. O segundo apelo complementa o primeiro: Venha a nós o Teu Reino. Aqui nós pedimos a Deus que Ele seja o regente dos nossos corações. Queremos que Sua lei governe nossos pensamentos e ações e que Sua graça santifique nossas almas. O Reino de Deus está vedado aos nossos olhos durante a nossa temporária existência na terra: ele está em processo de nascer nas almas dos cristãos. Mas virá o tempo quando as almas e os corpos renovados daqueles que tem o Reino de Deus dentro de si terão passagem ao Reino de Sua eterna glória. Nenhuma riqueza ou prazer terreno podem ser comparados com a felicidade do Reino Celeste, onde habitam os anjos e santos. É por isso que almas virtuosas ficam extenuadas nesse mundo e anseiam alcançar o Reino Celeste.

Muitos interesses e desejos, freqüentemente egoístas e pecaminosos, se confrontam entre si nas relações humanas. Estes são fonte de conflitos, frustrações e ofensas mútuas. Considerando a tamanha variedade de interesses de cada um não podemos nos sentir satisfeitos porque nossas intenções e ações estão muitas vezes erradas. A Oração do Senhor nos lembra que somente Deus sabe perfeitamente o que na verdade precisamos e nos ensina a pedí-Lo a nos orientar e ajudar: assim na terra como no céu.

Nas três primeiras petições pedimos Deus o que é mais importante: o entranhamento do bem nas nossas almas e nas nossas vidas. As petições que sucedem se referem à necessidades mais banais e menos importantes: tudo que precisamos para a nossa existência física. O pão nosso de cada nos dá hoje. No texto original em grego o termo para "cada dia" é epi-usion, o que significa necessário. Este pedido do pão de cada dia inclui o alimento, um abrigo sobre as nossas cabeças, roupa e o que é necessário para a nossa existência. Não especificamos tudo isso porque nosso Pai Celeste sabe o que precisamos. E não pedimos nada para amanhã porque nem sabemos se estaremos vivos.

O próximo pedido, sobre perdoar as nossas dívidas, é o único pedido limitado por uma condição: E perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. O sentido de dívidas é mais abrangente do que o sentido de pecados. Temos muitos pecados mas dívidas mais ainda. Deus nos deu vida para que possamos fazer o bem aos outros e aumentar nossos talentos. Quando não seguimos este propósito terreno, então como aquele escravo preguiçoso da parábola, enterramos os nossos talentos e nos tornamos devedores a Deus. Ao perceber isso pedimos a Deus para que nos perdoe. O Senhor conhece a nossa fraqueza e falta de experiência e Ele se apieda de nós. Ele está pronto a perdoar-nos mas com uma condição, que nós perdoemos todos que transgridem contra nós. A parábola sobre o devedor impiedoso (Mateus 18:21-35) ilustra expressivamente a relação entre perdoar dívidas e receber perdão de Deus.

Ao final da Oração do Senhor dizemos: E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do maligno. A palavra maligno refere-se ao diabo - a fonte principal de todo o mal no mundo. Mas as tentações podem vir de uma infinidade de fontes: de outras pessoas, de circunstâncias de vida desfavoráveis e principalmente de nossas próprias paixões. É por isso que no final da oração, humildemente confessamos a Deus a nossa fraqueza espiritual e pedimos que nos resguarde do pecado e nos proteja das intrigas do príncipe das trevas.

Finalizamos a Oração do Senhor com palavras que expressam nossa plena fé na Sua resposta favorável às nossas petições porque Ele nos ama e tudo obedece à Sua onipotente vontade: Porque é o Teu reino, e o poder e a glória para sempre. A última palavra "Amém" significa "verdadeiramente" ou "assim será."

Adquirindo o Tesouro Eterno

Paixão pela riqueza representa um sério obstáculo no caminho para a virtude. No Seu sermão e nas parábolas, Nosso Senhor Jesus Cristo repetidamente nos alerta contra a excessiva ligação aos bens materiais. No Sermão da Montanha Ele claramente proíbe os cristãos dizendo:

"Não junteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões penetram para roubar. Mas acumulai para vós tesouros no céu, onde nem traça nem ferrugem os consomem, e onde os ladrões não penetram para roubar. Porque, onde estiver o teu tesouro, ali estará também o teu coração. Os olhos são como uma lâmpada para o corpo. Se, pois, teus olhos estão bons, todo o teu corpo estará na luz. Mas se teus olhos estão doentes, todo o teu corpo estará em trevas. E se a luz que está em ti são trevas, como serão grandes essas trevas! Ninguém pode servir a dois patrões, porque odiará a um e amará ao outro, ou se afeiçoará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro" (Mateus 6:19-24).

Estas palavras, é claro, não se aplicam ao nosso emprego que nos provê o que necessário para a família. Na verdade as pessoas são proibidas de se empenhar em um esforço excessivo e penoso, almejando enriquecimento. As Escrituras nos falam da necessidade do trabalho: "quem não quer trabalhar não coma" (2 Tessalonicenses 3:10).

Para desviar do excessivo apego a riquezas materiais Nosso Senhor nos lembra que todas essas coisas são passageiras e deterioráveis: elas são destruídas por corrosão, traças e por todos os tipos de acidentes; podem ser subtraídas por pessoas más ou roubadas por ladrões; e finalmente, quando iremos morrer, deixaremos tudo para trás. Por esse motivo, ao invés de usarmos toda a nossa energia para acumular fortuna de curto prazo devíamos nos preocupar na aquisição de riquezas dentro de nós mesmos, que tem real valor e que permanecerão conosco para sempre.

Essa riqueza interior inclui os talentos da pessoa: habilidades intelectuais e espirituais dadas pelo Criador para o desenvolvimento e aperfeiçoamento. Mas em primeiro lugar, a riqueza espiritual consiste das virtudes da pessoa: fé, coragem, auto controle, paciência, constância, confiança em Deus, compaixão, magnanimidade, amor, etc. Estes tesouros espirituais deveriam ser adquiridos por meio de uma vida justa e de boas ações. Os tesouros espirituais mais valiosos são a pureza moral e santidade, que são dados a uma pessoa virtuosa pelo Espírito Santo. As pessoas deveriam zelosamente pedir a Deus a dádiva deste tesouro. E quando concedido, elas deveriam guardá-lo diligentemente dentro de seus corações. No Sermão da Montanha o Senhor urge-nos a ganhar esta versátil riqueza interior.

Da mesma forma que um tesouro espiritual ilumina a alma de uma pessoa, as preocupações exaustivas sobre prazeres provisórios obscurecem a mente, enfraquecem a fé e preenchem a alma com confusão penosa. Ao falar sobre isso de forma figurada, o Senhor comparou a mente da pessoa com o olho, que deveria funcionar como um condutor de luz espiritual (Mateus 6:22).

Em outras palavras, na medida que um problema na vista enfraquece a capacidade de enxergar, a alma também, coberta por excessivas preocupações mundanas está inabilitada a receber a luz espiritual e assim não compreende a natureza espiritual dos eventos e o seu sentido ou propósito de vida. É por isso que uma pessoa obcecada por dinheiro pode ser comparada com um homem cego. Nas Suas parábolas sobre o homem rico e sobre o homem rico e Lázaro, O Senhor descreve de maneira expressiva a degradação espiritual e a morte dos dois ricos que provavelmente,não fosse o dinheiro, não seriam maus. (Lucas 12:13-21 - Lucas 16:14-31).

Entretanto, talvez seja possível que o enriquecimento espiritual possa ser combinado com o material? O Senhor nos explica que isso é impossível. é como servir a dois patrões ao mesmo tempo Ninguém pode servir a dois patrões, porque odiará a um e amará ao outro, ou se afeiçoará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e a Mamon (personificação do dinheiro)" (Mateus 6:19-24). Nos tempos antigos Mamon era uma divindade pagã patrocinadora das riquezas. Ao mencionar o nome desse ídolo o Senhor compara o caçador de riquezas com um idólatra demonstrando assim a baixeza dessa paixão por dinheiro. A história sobre o jovem rico nos mostra que um homem apegado à sua riqueza não consegue se desfazer dela mesmo que desejasse sinceramente servir a Deus. O apego à fortuna se sobrepõe a todas as boas intenções e ele confia mais no seu dinheiro do que na ajuda que vem de cima. Por isso é dito: É importante entender que a paixão pela riqueza não é pecado somente dos ricos mas de todos aqueles que costumam sonhar com a riqueza e relacionam isso com a felicidade. Concluindo essa parte do Sermão da Montanha, o Senhor explica que tudo o que precisamos na vida ganhamos nem tanto pelo nosso próprio trabalho mas pela graça de Deus, quem na qualidade de Pai generoso sempre cuida de seus filhos.

"Por isso vos digo: não estejais preocupados, em relação à vossa vida, com o que haveis de comer (e beber), nem em relação ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não vale a vida mais que o alimento, e o corpo mais que a roupa? Olha as aves que voam no céu: não semeiam o grão, nem colhem, nem acumulam a colheita nos celeiros; pois o vosso Pai celeste lhes dá de comer. Acaso não valeis muito mais do que elas? Quem dentre vós, à força de preocupações pode prolongar um pouco mais a sua própria vida? E quanto à roupa, por que vos preocupais? Observai como crescem as flores dos campos. Não se cansam em fiar para sua roupagem. Mas eu vos digo que nem Salomão, em toda a sua glória jamais se vestiu como uma delas. Sê, então, Deus assim reveste a planta que hoje está no campo, mas amanhã é lançada ao fogo, quanto mais a vós, homens pobres de fé. Portanto, não vos preocupeis dizendo: Que havemos de comer? que havemos de beber? com que havemos de nos vestir? São os pagãos que se preocupam com todas estas coisas. ora, vosso Pai celeste bem sabe que precisais de tudo isto. Portanto, acima de tudo tende todo o interesse pelo Reino e pela justiça de Deus e todas estas coisas vos serão dadas a mais" (Mateus 6:25-33).

Com certeza o dom da vida e o extraordinário mecanismo de nossos corpos, a terra com seus recursos naturais, flores, frutos e diferentes colheitas, a luz solar e o seu calor, o ar e a água, estações do ano e todas as condições físicas necessárias à nossa existência - tudo isso é dado a nós pelo nosso generoso Criador. É por isso que a maior parte dos animais, aves peixes e outras criaturas não se esforçam tanto quanto as pessoas, mas apenas acumulam o alimento pronto. A natureza também providencia a eles um abrigo.

Pessoas com fé restrita deveriam aprender a confiar mais em Deus do que no seu próprio poder. o Senhor não nos chama a ociosidade mas nos quer libertos de preocupações que nos torturam e excessivos esforços para bens passageiros, a fim de dar nos uma oportunidade para cuidarmos de assuntos perenes. O Senhor promete que se nós nos preocuparmos com a nossa salvação em primeiro lugar Ele mesmo nos mandará todo o resto: "Portanto, acima de tudo tende todo o interesse pelo Reino e pela justiça de Deus e todas estas coisas vos serão dadas a mais."

Assim, essa parte do Sermão da Montanha urge-nos a não sermos avarentos, mas estarmos contentes com o necessário que temos e acima de tudo, a preocuparmos com a riqueza espiritual e vida eterna.


Fonte:  http://www.paideamor.com.br/


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