As ações valem mais do que as palavras, mas o cristão tem que dizer "sim" e ser coerente com ele.
Na primeira missa de uma terça-feira aparentemente igual a todas as outras, no seminário, bem cedinho da manhã, um venerável e gentil sacerdote começou a sua homilia, breve e marcante, recitando uma lista. Era uma lista surpreendente, que simplesmente ia citando todo tipo de pessoas. Pessoas de diferentes grupos étnicos e nacionalidades, de vários estilos de vida, de diversas ocupações e hábitos, uma após a outra. Mas, para descrevê-las, a lista citava de forma sucinta apenas epítetos raciais e nacionais dos mais vulgares, chocantes, politicamente incorretos e socialmente inaceitáveis. Estávamos todos, de repente, muito bem acordados; aquele, sem dúvida alguma, não era um início comum para uma homilia.
Os altos padrões de qualidade deste site, além do bom gosto, me impedem de reproduzir os termos citados naquela homilia, mas imagino que você já ouviu a maioria deles, se não todos, em algum lugar (menos numa homilia, provavelmente).
Depois de ter listados todos aqueles termos inusitados, o padre simplesmente declarou: "Você vai se surpreender com as pessoas que encontrará no céu".
Pronto. Você já pode imaginar qual foi o assunto de todo mundo no café da manhã daquele dia.
Embora eu não recomende essa “abordagem retórica” para outros sacerdotes, o fato é que eu nunca me esqueci daquela homilia, nem depois de tantos anos. E nunca me esqueci do choque brutal que aquela homilia me causou. O evangelho é mesmo para confortar os aflitos e para afligir quem está acomodado!
Isto é exatamente o que o próprio Senhor fez quando se atreveu a dizer aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos que os cobradores de impostos e as prostitutas entrariam no reino de Deus antes que eles.
E apesar de Jesus não ter chegado a usar de insultos raciais para enfatizar as suas proposições, dificilmente poderemos imaginar o quanto era escandaloso, ofensivo e rude, naquela sociedade, ser chamado de cobrador de impostos ou de prostituta, especialmente se você era um dos “mocinhos” da sociedade, por assim dizer: os sacerdotes, os anciãos, os que faziam o que era de se esperar que fizessem.
Para piorar a situação, aquele arrivista presunçoso, aquele autoproclamado rabino (com certo sopro de blasfêmia, do ponto de vista de muitos da época), tinha apenas levado os sacerdotes e os anciãos a caírem numa armadilha brilhante, a mesma armadilha em que muitas vezes nós mesmos caímos. "Que filho", perguntou-lhes, "fez a vontade do Pai? Aquele que disse ‘sim’, mas não foi, ou aquele que disse ‘não’, mas no final acabou indo trabalhar no campo?". O que Ele estava perguntando a eles (e a nós), no fundo, era "qual filho você é?".
Eles, é claro, sendo inteligentes, disseram a óbvia e correta resposta: "Aquele que foi para o campo, mesmo tendo dito que 'não'". E com isso, eles se denunciaram!
Na sua autojustiça (uma doença a que nós também somos suscetíveis), eles se viam como os filhos (de Abraão, pertencentes assim a Deus) que dizem "sim!", que diziam "sim" em tudo o que faziam, guardando a lei, orando e jejuando (coisas, aliás, muito boas). E eles achavam que isso era suficiente.
Mas, na parábola, o filho que diz "sim" não é o que faz a vontade do pai (ou do Pai). Ele não vai para o campo. Ir para o campo significa seguir a Cristo. Mas antes que se possa seguir a Cristo, é preciso, como o filho que disse "não", mudar de postura. A Escritura nos diz que "ele depois mudou de ideia" (o que também poderia ser sinônimo de "arrependeu-se"); há, naturalmente, um sentido mais profundo nesta frase: o de uma conversão, o de um ponto de virada.
E é por isso que os publicanos, as prostitutas e muitos outros.
Os altos padrões de qualidade deste site, além do bom gosto, me impedem de reproduzir os termos citados naquela homilia, mas imagino que você já ouviu a maioria deles, se não todos, em algum lugar (menos numa homilia, provavelmente).
Depois de ter listados todos aqueles termos inusitados, o padre simplesmente declarou: "Você vai se surpreender com as pessoas que encontrará no céu".
Pronto. Você já pode imaginar qual foi o assunto de todo mundo no café da manhã daquele dia.
Embora eu não recomende essa “abordagem retórica” para outros sacerdotes, o fato é que eu nunca me esqueci daquela homilia, nem depois de tantos anos. E nunca me esqueci do choque brutal que aquela homilia me causou. O evangelho é mesmo para confortar os aflitos e para afligir quem está acomodado!
Isto é exatamente o que o próprio Senhor fez quando se atreveu a dizer aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos que os cobradores de impostos e as prostitutas entrariam no reino de Deus antes que eles.
E apesar de Jesus não ter chegado a usar de insultos raciais para enfatizar as suas proposições, dificilmente poderemos imaginar o quanto era escandaloso, ofensivo e rude, naquela sociedade, ser chamado de cobrador de impostos ou de prostituta, especialmente se você era um dos “mocinhos” da sociedade, por assim dizer: os sacerdotes, os anciãos, os que faziam o que era de se esperar que fizessem.
Para piorar a situação, aquele arrivista presunçoso, aquele autoproclamado rabino (com certo sopro de blasfêmia, do ponto de vista de muitos da época), tinha apenas levado os sacerdotes e os anciãos a caírem numa armadilha brilhante, a mesma armadilha em que muitas vezes nós mesmos caímos. "Que filho", perguntou-lhes, "fez a vontade do Pai? Aquele que disse ‘sim’, mas não foi, ou aquele que disse ‘não’, mas no final acabou indo trabalhar no campo?". O que Ele estava perguntando a eles (e a nós), no fundo, era "qual filho você é?".
Eles, é claro, sendo inteligentes, disseram a óbvia e correta resposta: "Aquele que foi para o campo, mesmo tendo dito que 'não'". E com isso, eles se denunciaram!
Na sua autojustiça (uma doença a que nós também somos suscetíveis), eles se viam como os filhos (de Abraão, pertencentes assim a Deus) que dizem "sim!", que diziam "sim" em tudo o que faziam, guardando a lei, orando e jejuando (coisas, aliás, muito boas). E eles achavam que isso era suficiente.
Mas, na parábola, o filho que diz "sim" não é o que faz a vontade do pai (ou do Pai). Ele não vai para o campo. Ir para o campo significa seguir a Cristo. Mas antes que se possa seguir a Cristo, é preciso, como o filho que disse "não", mudar de postura. A Escritura nos diz que "ele depois mudou de ideia" (o que também poderia ser sinônimo de "arrependeu-se"); há, naturalmente, um sentido mais profundo nesta frase: o de uma conversão, o de um ponto de virada.
E é por isso que os publicanos, as prostitutas e muitos outros.
pecadores que “disseram ‘não’” entram no Reino: não por terem dito ‘não’, o que não leva a lugar nenhum, mas por terem tido uma mudança de coração, uma conversão.
Eles foram para o campo, seguiram Jesus. Mesmo depois de rejeitarem a vontade de Deus com um coro de nãos, depois de uma vida de "eu não quero" (tradução mais próxima do que o filho diz no original grego), eles começaram a mudar de postura, a deixar para trás aquele “não” inútil e destrutivo e a dizer, com obras, mesmo que ainda não explicitamente em palavras, o grande “Sim” que é Cristo.
Se você sabe que o seu "não" não é bom, é mais fácil mudar e dizer "sim"; se você acha que o seu "sim" é a resposta, então você não tem quase nenhuma chance de mudar.
Normalmente, só quando percebemos que não estamos sendo limpos, só quando percebemos que vínhamos dizendo “não” a Cristo de várias maneiras (“não” a perdoar os outros, “não” à paciência, “não” ao amor, “não” à oração, “não” ao que a Igreja ensina, e assim por diante), encontramos o ímpeto, a confiança, a força para mudar, para nos converter. Essa é a grande vantagem do pecador que sabe que é pecador: a consciência dos seus pecados. Não é o que acontece, porém, com o pecador (e todos nós somos pecadores) que usa o seu “sim” para esconder o seu “não”.
É claro que, nesta interessante e complexa parábola, o verdadeiro herói está escondido. Ele não é, certamente, o filho que disse que “sim”: este só está enganando a si mesmo ao achar que fez o que seu pai queria apenas porque disse “sim”. Também não é o filho que disse “não”, mas depois acabou fazendo a vontade do pai: este é o caso, de alguma forma, de todos nós. O verdadeiro herói, evidentemente, é Cristo, o Filho que não somente disse “sim”, mas que de fato cumpriu a vontade do Pai. Toda a sua vida é um Eterno Sim ao Pai.
A promessa desta parábola também é escondida. Onde quer que estejamos neste momento, sejamos o filho ou a filha que diz “sim” e não faz ou que diz “não” e acaba mudando de postura, sempre existe a esperança de nos tornarmos aquele que diz e realmente faz a Vontade do Pai. Quanto mais nos deixarmos envolver por Cristo, quanto mais o deixarmos afastar-nos tanto do “não” que leva à morte quanto do “sim” falso que é só uma ilusão de autojustificação, mais poderemos nos tornar verdadeiros filhos e filhas de Deus.
Um epílogo, que talvez tenha pouco a ver com essa homilia, mas que eu incluo como um incentivo para a equanimidade que nos liberta: logo depois da homilia que eu mencionei no início, um seminarista vietnamita, muito brincalhão, foi até o pregador e lhe disse, fazendo-se de sério: "Padre, eu fiquei ofendido!". O padre não sabia direito o que dizer e ficou um pouco nervoso. O seminarista (que hoje é um sacerdote muito bom, por sinal) ficou com pena e explicou: "Eu me senti excluído, padre. O senhor não usou nenhum termo ofensivo específico para o povo vietnamita na sua homilia! Só usou insultos orientais genéricos!".
Enxergar tudo com santo humor nos ajuda a ver tudo, inclusive a nós mesmos, “sub specie æternitatis”, ou seja, do jeito que Deus nos vê.
Tenho certeza de que vamos nos surpreender com as pessoas que encontraremos no céu, mas elas também podem ficar surpresas ao nos encontrar por lá... Esse é o começo da alegria; e nós podemos começar a praticá-la agora!
Eles foram para o campo, seguiram Jesus. Mesmo depois de rejeitarem a vontade de Deus com um coro de nãos, depois de uma vida de "eu não quero" (tradução mais próxima do que o filho diz no original grego), eles começaram a mudar de postura, a deixar para trás aquele “não” inútil e destrutivo e a dizer, com obras, mesmo que ainda não explicitamente em palavras, o grande “Sim” que é Cristo.
Se você sabe que o seu "não" não é bom, é mais fácil mudar e dizer "sim"; se você acha que o seu "sim" é a resposta, então você não tem quase nenhuma chance de mudar.
Normalmente, só quando percebemos que não estamos sendo limpos, só quando percebemos que vínhamos dizendo “não” a Cristo de várias maneiras (“não” a perdoar os outros, “não” à paciência, “não” ao amor, “não” à oração, “não” ao que a Igreja ensina, e assim por diante), encontramos o ímpeto, a confiança, a força para mudar, para nos converter. Essa é a grande vantagem do pecador que sabe que é pecador: a consciência dos seus pecados. Não é o que acontece, porém, com o pecador (e todos nós somos pecadores) que usa o seu “sim” para esconder o seu “não”.
É claro que, nesta interessante e complexa parábola, o verdadeiro herói está escondido. Ele não é, certamente, o filho que disse que “sim”: este só está enganando a si mesmo ao achar que fez o que seu pai queria apenas porque disse “sim”. Também não é o filho que disse “não”, mas depois acabou fazendo a vontade do pai: este é o caso, de alguma forma, de todos nós. O verdadeiro herói, evidentemente, é Cristo, o Filho que não somente disse “sim”, mas que de fato cumpriu a vontade do Pai. Toda a sua vida é um Eterno Sim ao Pai.
A promessa desta parábola também é escondida. Onde quer que estejamos neste momento, sejamos o filho ou a filha que diz “sim” e não faz ou que diz “não” e acaba mudando de postura, sempre existe a esperança de nos tornarmos aquele que diz e realmente faz a Vontade do Pai. Quanto mais nos deixarmos envolver por Cristo, quanto mais o deixarmos afastar-nos tanto do “não” que leva à morte quanto do “sim” falso que é só uma ilusão de autojustificação, mais poderemos nos tornar verdadeiros filhos e filhas de Deus.
Um epílogo, que talvez tenha pouco a ver com essa homilia, mas que eu incluo como um incentivo para a equanimidade que nos liberta: logo depois da homilia que eu mencionei no início, um seminarista vietnamita, muito brincalhão, foi até o pregador e lhe disse, fazendo-se de sério: "Padre, eu fiquei ofendido!". O padre não sabia direito o que dizer e ficou um pouco nervoso. O seminarista (que hoje é um sacerdote muito bom, por sinal) ficou com pena e explicou: "Eu me senti excluído, padre. O senhor não usou nenhum termo ofensivo específico para o povo vietnamita na sua homilia! Só usou insultos orientais genéricos!".
Enxergar tudo com santo humor nos ajuda a ver tudo, inclusive a nós mesmos, “sub specie æternitatis”, ou seja, do jeito que Deus nos vê.
Tenho certeza de que vamos nos surpreender com as pessoas que encontraremos no céu, mas elas também podem ficar surpresas ao nos encontrar por lá... Esse é o começo da alegria; e nós podemos começar a praticá-la agora!
Nenhum comentário:
Postar um comentário