2 de jun. de 2014

Atraídos pelo desejo

Cristo nos garantiu uma liberdade que nos faz plenos, nos motiva a irmos além, nos retira de uma visão reduzida e superficial. Propõe-nos escolhas maduras e um caminho certo de felicidade. Isso dá uma motivação enorme, não é?
Segundo a psicologia, motivação é um processo psicológico básico que a partir da necessidade orienta o comportamento! Certo, não estamos em um aula de psicologia, e o que tem isso a ver com tudo que estamos falando?
Só para dizer que, dentre tantas motivações que temos na vida, uma delas é a motivação sexual. Sim, temos o impulso sexual, uma força que age em nós. O desejo está dentro de cada um de nós, e foi Deus quem nos deu isso. Rola em nosso corpo, independente de quem seja, esta força maravilhosa, que não é pecado em si mesmo. Mas o como deixamos essa força agir em nosso comportamento que faz toda a diferença. A maneira como encaminhamos isso dentro de nós e como exteriorizamos nos diferencia de todos os outros animais.
O impulso em nós não é o mesmo que o instinto sexual encontrado nos animais. Neles o instinto sexual é um modo reflexo de ação que não depende de pensamento consciente. Explico melhor e sem rodeios: por exemplo, uma cadela no cio não reflete qual o melhor tempo, lugar ou circunstância para ela acasalar, nem pensa em qual cão macho da vizinhança ela quer como parceiro ideal. Os cachorros simplesmente agem por reflexo, de acordo com seus instintos. Não há uma dimensão de amor!
Nós somos diferentes, pois não precisamos ser escravos do que está borbulhando dentro de nós. Temos a razão e a graça de Deus para impedir que o impulso nos controle. É questão de ser inteiro e não pela metade. É caso de inteligência. Nós escolhemos o que faremos com este impulso e quais caminhos trilhar.
Quando, por exemplo, um homem sente atração sexual por uma mulher, ele sentirá seu corpo reagir a isso tudo. Há alterações consideráveis em seu fisiológico, que fazem parte de seu ser masculino, independe de sua vontade. Porém essa atração pode e deve estar ordenada por sua razão e sua vontade. Podemos não ser sempre responsáveis pelo que acontece na área da atração sexual, mas sempre somos responsáveis pela resposta.
O cristianismo não nos escraviza naquilo que sentimos, pelo contrário, reorienta o que sentimos para a plenitude, e não para o “prazer” de dez minutos. Ele é, na verdade, o caminho para a maturidade plena (estatura, sabedoria e graça) e nos faz verdadeiramente humanos, livres e felizes.
João Paulo II disse que: “O impulso sexual humano está por natureza subordinado à vontade. Pelo ato de amor o impulso sexual transcende o determinismo da ordem biológica”.
O impulso sexual não é, em si mesmo, ruim. Na verdade, é o jeito que Deus nos fez, orienta e encaminha para o encontro com outra pessoa. O desejo sexual pode fornecer um espaço para o autêntico amor se desenvolver. Pode ser o cenário de um começo, mas jamais deve ser o fim, pois o amor vai além de uma química que rola em nosso corpo.
O amor envolve muito mais do que as reações sensuais ou emocionais espontâneas, que são produzidas pelo desejo sexual; o autêntico amor requer atos da vontade dirigidos para o bem da outra pessoa. E sempre este amor humano, que é bom, gostoso e dá sabor a vida, será reflexo do Amor Maior ao qual somos atraídos e destinados. O impulso sexual pode fornecer a “matéria-prima” para um grande começo, que, somado à dimensão de sermos presentes e preciosos, nos faz aventurar no amor que tem sempre seu fim em Deus.
Diante de um mundo que aparentemente se animalizou, podemos pensar  que não há saída e que as pessoas estão abandonadas as forças de seus hormônios. Não creio nisso, pois vejo uma saída. Cristo revela o homem ao homem, e podemos sim ser gente de verdade e não mero produto biológico. A força se encontra em nossa capacidade de escolher e não se render!
Existe um filme bacana que mostra a nossa força quando lutamos pelo que acreditamos, A Corrente do Bem. Conta a história de um menino de dez anos, que, desafiado pelo professor a mudar o mundo, tem várias iniciativas que realmente causam um impacto no bairro onde ele mora. Há uma fala dele perfeita para este momento. Ele diz assim ““As pessoas têm medo de mudar, de pensar que as coisas podem mudar. O mundo não é feito somente de sujeira! Mas é difícil pra quem se acostumou com as coisas como elas são. Mesmo que sejam ruins elas não mudam, então as pessoas desistem… Quando isso acontece todo mundo sai perdendo”.
Não dá para se acostumar com uma mentalidade que nos divide e nos despersonaliza. Temos que buscar a integração de todo nosso ser! Corpo, alma e espírito. É um primeiro passo de uma longa jornada, mas, garanto, a alegria da chegada superará qualquer dor, sofrimento ou renúncia que possa surgir, e com certeza surgirá durante o caminho!
Se a “revolução sexual”, iniciada no século passado, trouxe tanta “sujeira” para nossa geração, acredito que uma nova “revolução” está acontecendo, e esta nos propõe a valorização do corpo, o assumir-se como dom e ser um presente para o outro. Nunca usá-lo e sim amá-lo. Segundo o teólogo George Weigel, “a teologia do corpo de João Paulo II é uma das mais ousadas reconfigurações da teologia católica desde vários séculos, uma espécie de bomba-relógio tecnológica, programada para explodir com consequências magníficas… talvez no século XXI”.
Façamos a corrente do bem dessa nova forma de ver a beleza de nosso corpo, de nossa sexualidade, do sentido mais profundo que temos e que nos faz mais gente. Tá a fim de revolucionar? Que possamos mudar nossa mentalidade e deixar que Cristo vença em cada parte de nossa vida. Eu digo sim e você?


Trecho do Livro ‘Quero um Amor Maio’ de Adriano Gonçalves

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