Ser casto é muito mais do que ser virgem. No entanto, a pureza, ou
castidade, inclui necessariamente a vivência da virgindade. Ser casto abrange
toda a pureza de coração, de intenções e de desejo sincero de fazer a vontade
de Deus. Inclui a determinação de não pecar (e isso não somente com relação ao
sexo, mas em todas as áreas da vida). Inclui, ainda, uma compreensão madura do
que seja a vida e a decisão de viver para cumprir a vontade de Deus.
Viver a pureza é uma grande graça, da qual hoje todos zombam
abertamente. É correr o grande risco de ser incompreendido, chacoteado,
caluniado, humilhado, maltratado. No entanto, vale a pena buscar esta
graça.Vale a pena pedí-la a Deus e colaborar com toda a nossa vontade para que
ela seja efetiva na nossa vida.
No meio do “Anti-tabu” do sexo, agressiva e desafiadoramente praticado
nos dias de hoje como algo muito natural, a busca da vida pura é um desafio
para jovens de têmpera. Os tolos e imaturos nem sequer o entendem. Aqueles,
porém, que encaram a vida com a serena alegria dos que creem em Deus abraçam o
desafio com grande confiança de que a graça irá socorrê-los.
Falar de maneira genérica sobre a castidade nos levaria a todo um
tratado sobre a vida santa, o que é muito além de nossas possibilidades e das
desta revista. Como sabemos que o que mais questiona o jovem é a razão para a
castidade com relação à vivência da sexualidade, é sobre ela que falaremos.
Baseando-se no texto de D. Rafael Cifuentes, vê-se que ele ressalta três
pontos essenciais:
A pureza de vida é um mandamento
evangélico.
Parece óbvio demais? Engano! Há educadores (desculpe,”educadores”) que
não mais entendem ou ensinam o sexto mandamento da lei de Deus. O “Não pecar
contra a castidade” não faz parte de suas pregações ou é covardemente omitido.
Conheço dezenas de casos de ensinos, pregações, aulas, debates, mesas redondas,
onde o representante do pensamento cristão, de quem todos esperam respostas
esclarecedoras e firmes, se perde em observações esquivas, omissões e
relativismos. Com certeza, infelizmente, você conhece outras dezenas.
No entanto, a Palavra e a Doutrina continuam como antes. Não mudaram.
Não mudou tampouco (ao contrário do que muitos meios de comunicação divulgaram)
a visão da Igreja sobre o sexo pré-marital, a masturbação, o homossexualismo, o
adultério, a fornicação, a luxúria. No Catecismo da Igreja Católica em língua
francesa (sua língua original) estes conceitos continuam imutáveis. Pensando
bem, quem se atreveria a mudar um mandamento da lei de Deu se, ao mesmo tempo,
um mandamento evangélico ensinado por Jesus que diz: “bem-aventurados os puros
porque verão a Deus?” (Mt 5,8).
Enganam-se os que pensam poder-se relativizar o que está bem claro tanto
no Novo quanto no Antigo Testamento, tanto na Doutrina quanto na Tradição e
Magistério da Igreja. O problema é que hoje tem gente que nem a isso dá
importância.
Enganam-se, também, os que pensam que o casamento seria uma “‘quebra” da
castidade ou uma “concessão” feita quanto a este mandamento. Muito pelo
contrário: a noção correta de castidade envolve o mandamento evangélico da
pureza que deve, obrigatoriamente, estar presente tanto no matrimônio quanto no
sacerdócio ou no celibato. O conceito evangélico de pureza ultrapassa o de
estado de vida.
O segundo ponto ressalta que “o mandamento é muitas vezes recalcado
devido à mentalidade de hoje”.
De fato. Tem-se medo de pensar diferente, de ser diferente da imensa
maioria das pessoas, sejam jovens ou adultos. Tem-se medo de testemunhar o que
pensa Deus a este respeito, o que a Igreja ensina, o que todos nós, no fundo no
fundo, temos desejo de viver, pois Deus nos criou para sermos santos. O medo e
a covardia, sem falar na ingratidão, nos levam a calar, a sermos omissos, a
preferirmos a mentalidade do mundo à vontade de Deus. Desta forma, “recalcamos”
o mandamento evangélico da pureza, isto é, abafamo-lo, ignoramo-lo, tratamos de
relativizá-lo para sermos mais “normais”, mais bem aceitos. Corremos até o
risco de achar que se fizermos isso vamos ter mais facilidade de nos aproximar
dos jovens e levá-los a Jesus. Terrível engano! Como se pode levar alguém a
Jesus deixando-o em seu pecado? O método de Jesus era bem diferente. Ele se
aproximava amorosamente do pecador, mas não admitia seu pecado. Claro, não
condenou jamais o pecador e, no entanto, nunca deixou de condenar o pecado
abertamente e a ordenar com clareza: “Vai e não peque mais” . Quanto mais a
gente conhece a beleza de alma que Deus deu ao jovem, mais a gente se convence
que o que ele quer é Jesus. Jesus como Ele é: verdadeiro; radical quanto à
perfeição de vida, mas extremamente misericordioso para com o pecador;
absolutamente radical quando se trata de redimir ou retratar o pecado (veja-se
Zaqueu), mas extremamente flexível quanto à regeneração do homem aviltado por
seus pecados. Jovem quer Jesus. Um Jesus corajoso, radical, misericordioso,
livre, como o jovem deseja ser.
O terceiro ponto é contundente: este recalque do mandamento, seja por
medo e covardia, seja na ilusão do ser aceito para”evangelizar”, “produz
distúrbios espirituais e psíquicos”.
Nada mais previsível. Se Deus criou o homem para o amor a Ele, a seus
irmãos e a si mesmo, tudo o que venha deturpar esta finalidade última de amor e
santificação deforma o homem. A isto se dá o nome de pecado.
O recalque do princípio evangélico da pureza visto aqui principalmente
como o princípio de castidade, traz enormes prejuízos espirituais,
especialmente devido à intemperança e ao vício. E, veja, aqui não estamos
falando somente de coisas “‘fortes” como relações sexuais antes do matrimônio
ou masturbação e homossexualismo masculino ou feminino. Estamos falando de toda
uma caminhada de relacionamento também no namoro e no noivado, caso a vocação
do jovem seja a do matrimônio. Estamos falando também dos pensamentos, das
fantasias, dos filmes e revistas, dos programas de televisão(mesmo aqueles que
parecem meros programas de variedades, mas contêm centenas de sentidos duplos
em cada palavra dos apresentadores) das conversas; da maneira de vestir; do
comportamento sensual ao andar, falar, sentar; das diversões; da busca
desenfreada de mais prazer, de mais emoções, de mais “coisas novas”.
Tudo o que, no campo da sexualidade, for uma manipulação do meu irmão
para o meu próprio prazer é contrário à castidade, seja fora, seja dentro do
matrimônio, fora ou dentro do namoro, na amizade ou no relacionamento
superficial. O que for uma manipulação do outro ou de mim mesmo (pois só sou
manipulado, usado, se o permitir, exceto no caso do estupro) vai,
obviamente,ser ultraje para a minha alma e para o meu psiquismo. Mais que isso,
vai produzir distúrbios espirituais como o vício, a incontinência, a falta de
auto-domínio, o afastamento de Deus e da Igreja, o afastamento da oração e da
Eucaristia, o esfriamento da alma, a falta de temor a Deus, a relativização dos
valores evangélicos, só para citar alguns.
No campo dos distúrbios psíquicos teremos a insegurança, a dependência
emocional do outro, a dependência emocional de sensações, a culpa,o medo, o
sentimento de ser sujo, de não servir mais para nada, entre muitos outros
prejuízos, por vezes, irreversíveis.
Mas qual a vantagem de um jovem viver a
castidade? Por que ser casto?
Perguntar isso de maneira genérica equivaleria a perguntar qual a
vantagem de ser santo. No entanto, se a pergunta se refere especificamente à
castidade quanto à sexualidade, dentre as inúmeras vantagens pode-se destacar
duas: a fomentação do amor e a liberdade para discernir a própria vocação. É
ainda D. Rafael Cifuentes quem nos ensina:
“O coração humano está destinado a amar. Só no amor ele encontra o seu
alimento. Quando não se lhe dá amor, ele procura, esfomeado, o primeiro que
encontra: a excitação sexual, a descarga hormonal que o levam a uma
insatisfação afetiva e a uma frustração amorosa. O coração humano necessita de
um amor à altura da sua dignidade. “
Bastaria esta última frase, não é verdade? O seu coração não necessita
de um amor degradante, passional, quase animalesco. O seu coração humano
necessita de um amor à altura de sua dignidade de filho de Deus. Este amor
verdadeiro é o alimento do seu coração e é o único que o leva a Deus. A
vivência de uma sexualidade deturpada, pelo contrário, afastam-no de Deus e
deixam o seu coração cada vez mais inquieto e faminto em busca de ilusões que o
farão cada vez mais fraco e escravizado. Tem razão a Palavra de Deus quando
diz, em Jeremias: “Meu povo me abandonou a mim, fonte de água viva, para cavar
para si cisternas, cisternas fendidas, que não retêm a água (Jer 2,13)
O seu coração pode descobrir, na vivência tranquila e corajosa da
castidade – seja você homem ou mulher o amor que corresponda ao preceito de
“amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Desta
maneira, você está colocando todo o seu ser, seu espírito,suas forças, na
vivência do amor autêntico e, nesta vivência, com toda a certeza,vai ter um
ambiente mais propício para descobrir a sua vocação. E, entenda,seja ela
celibato, sacerdócio ou matrimônio, seu coração estará muito melhor preparado
para descobri-la se estiver livre por amor e para o amor, ainda que namorando,
ainda que com inúmeros amigos, ainda que vivendo como o mais normal dos jovens
cristãos.
Sendo casto, você fomenta o amor real em você, você se prepara para
assumir a vontade de Deus em sua vida. Estas duas coisas são suficientes para
garantir a “inteireza”‘ e a felicidade permanente,serena e madura de qualquer um.
Feliz aquele que não se deixar iludir pelos inúmeros prazeres e ofertas do
mundo e aceitar o desafio de trilhar a estrada do amor para um amor maior.
Como viver a castidade hoje
Encontro somente uma resposta: como Maria, tendo coragem e fazendo uma
opção radical de vida por Jesus e inteiramente apoiada na graça.
A coragem de optar radicalmente por Jesus, como Maria. Na fé. A coragem
sustentada pela convicção de que Jesus é a resposta e de que a Igreja fala por
Ele, ainda que o mundo pense o contrário, ainda que meus colegas não me
aceitem, ainda que o mundo inteiro espere outra coisa de mim.
A coragem de apoiar-se inteiramente na graça de Deus e de abandonar-se
com toda a confiança em Deus, sabendo que, ainda que você sofra, d’Ele vem a
recompensa, pois Ele é um Deus fiel e sustentará você constantemente.
Viver a castidade hoje exige coragem e determinação. Exige convicção
para vestir-se, comportar-se e pensar diferente de todo o mundo.Exige a
determinação de ser fiel à vontade de Deus.
Isto, porém, não depende somente de você. A fonte desta coragem e
determinação é a graça de Deus. Somente um encontro pessoal com Jesus
ressuscitado vai dar a você a coragem e determinação que você não encontra em
si mesmo. Somente uma graça especial deste mesmo Jesus levará você a fazer
d’Ele o Senhor de sua vida, entregando-se sem medidas e cumprindo a vontade de
Deus não por voluntarismo e muito menos por moralismo, mas por amor. Amor a
quem amou você primeiro, amor a quem o sustenta e conduz, amor Àquele que
transformou sua vida. Um jovem que conhece e ama Jesus assim vive a castidade e
as outras virtudes apoiado na graça e encontra n’Ele a coragem de ser luz na
escuridão. Aquele que não encontrou Jesus, porém, vai achar tudo muito bonito
evai fazer uma força enorme para viver tudo isso, mas, infelizmente, sozinho
ele não conseguirá. Precisará da graça, da força da oração, do poder da
Palavra, da graça poderosa da reconciliação e Eucaristia.
Maria contou com a graça de Deus como ninguém. Disse seu”sim”
incondicional e foi fiel. Viveu de maneira diferente de todas as pessoas de
todos os séculos, enquanto durar a humanidade, pois nela refletia-se de maneira
singular o próprio Deus. Ser diferente não a abalava.Era uma mulher de fé.
Especialmente, era uma mulher que sabia amar, que viveu plenamente sua
sexualidade feminina e a maternidade que dela decorre na pureza,na castidade,
na fidelidade e obediência a Deus. Quem, de fato, crê, não tem medo de ser
diferente. Pelo contrário, sem agressões e vivendo com toda a simplicidade a graça
de Deus, é diferente pelo mero fato de ter-se entregue aEle. Da mesma forma,
para quem ama de verdade, ser aceito ou não pelo mundo tem muito pouca, mas
muito pouca importância mesmo. Importa Aquele a quem ama e para quem vive e
aqueles para quem Ele ama e vive.
Deixo você com esta reflexão de D. ‘Rafael sobre o poder da graça e da
virtude da castidade sobre o amor humano:
“O amor humano, que vem da natureza, e o divino, que provém da graça,
entrelaçam-se e complementam-se: a graça fortifica, eleva,sublima a natureza. É
um privilégio único do ser humano que a vida sexual, que deriva da natureza,
esteja impregnada pelo amor de Deus que deriva da graça.Dito de maneira mais
clara, a energia sexual, a libido, é banhada, é tonificada pelo amor de Deus. O
amor de Deus eleva de tal modo o instinto sexual que muda profundamente a sua
contextura. Assim, é possível viver de modo estável e gostoso a virtude da
castidade”.
Fonte; http://www.comshalom.org/
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