29 de out. de 2016

29/10 – São Narciso

Os registros da Igreja revelam que na diocese de Jerusalém houve um Bispo que foi eleito com quase cem anos de idade. E que ele teria morrido com mais de cento e dezesseis anos. Um fato raro na História da Igreja Católica. Trata-se de Narciso que não era judeu e teria nascido no ano 96. A lembrança que se guardou dele é a de um homem austero, penitente, humilde, simples e puro. Também que desde a infância demonstrando apego à religião esperou a idade necessária para se tornar sacerdote. Fez um trabalho tão admirável, amando os pobres e doentes, que a  população logo o quis para conduzir a paróquia de São Tiago. Como Bispo, a idade não pesou, governou com firmeza e um longo período marcado por atuações importantes e vários milagres. Presidiu o Concilio onde se decidiu que a Páscoa devia cair no domingo. Conta-se que foi também na véspera de uma festa de Páscoa, que Narciso transformou água em azeite para acender as lamparinas da Igreja que estavam secas.
Entretanto um fato marcou tragicamente a vida de São Narciso. Ele foi caluniado, sob juramento, por três homens. Um deles disse que podia ser queimado vivo se estivesse mentindo. O outro, que podia ser coberto pela lepra se a acusação não fosse verdadeira. Já o terceiro empenhou a própria visão no que dizia. Embora perdoasse seus detratores, o inocente bispo preferiu se retirar para o isolamento de um deserto. Mas não tardou para que os caluniadores recebessem seu castigo. Um morreu num incêndio no qual pereceu também toda sua família. O outro ficou leproso e o terceiro chorou tanto em público, arrependido do crime cometido, que ficou cego.
O bispo Narciso não foi encontrado para reassumir seu cargo e todos pensaram que tinha morrido. Assim, dois outros Bispos o sucederam.  Quando o segundo morreu, Narciso reapareceu na cidade. O povo o acolheu com aclamação e ele foi recolocado para liderar a diocese novamente.
A última notícia que temos desse bispo de Jerusalém está numa carta escrita por Santo Alexandre, na qual cita que o longevo bispo Narciso tinha completado cento e dezesseis anos, e, como ele, exortava para que a concórdia fosse mantida.

Fonte: Cléofas 

Papa: não se pode ser católicos e sectários

29/10/2016 


O Papa Francisco concedeu uma entrevista sobre sua viagem apostólica à Suécia, que se realizará de 31 deste mês a 1° de novembro, ao sacerdote jesuíta Pe. Ulf Jonsson, diretor da revista jesuíta sueca “Signum”, junto com o diretor da revista jesuíta italiana “La Civiltà Cattolica”, Pe. Antonio Spadaro.
"Não se pode ser católico e sectários" disse o Pontífice na entrevista concedida na véspera da visita à Suécia para a comemoração ecumênica dos 500 anos da Reforma Luterana.
“Na entrevista o Papa falou, entre vários assuntos, sobre sua amizade com os luteranos desde quando era garoto e depois nos tempos de seu ministério episcopal. Além de explicar as modalidades da visita e seu significado, Francisco falou sobre o desafio espiritual para as Igrejas “envelhecidas” e sobre a importância da inquietude na sociedade marcada pelo bem-estar. A propósito do diálogo ecumênico sublinhou a importância de “caminhar juntos” para não permanecer fechados em perspectivas rígidas, porque nelas não há possibilidade de reforma.
Introdução do Pe. Jonsson
“Durante um encontro dos diretores das revistas culturais europeias da Companhia de Jesus, na metade de junho, manifestei ao Pe. Antonio Spadaro, diretor de La Civiltà Cattolica, um desejo que eu tinha no coração há muito tempo: entrevistar o Papa Francisco na véspera de sua viagem apostólica à Suécia, 31 de outubro de 2016, para participar da comemoração ecumênica dos 500 anos da Reforma Luterana. Pensei que uma entrevista fosse a melhor maneira de preparar o país para a mensagem que o Pontífice teria endereçado às pessoas durante sua visita. Como diretor da revista cultural dos jesuítas suecos Signum, pensei que este objetivo entrasse plenamente em nossa missão.
O ecumenismo, assim como o diálogo entre as religiões e também com os não fiéis, está muito no coração do Papa. Ele fez entender isso de muitas maneiras. Ele é um homem de reconciliação. Francisco está profundamente convencido de que os homens devem superar barreiras e cercas de qualquer tipo. Acredita no que define “cultura do encontro”. Isso para que todos possam colaborar para o bem comum da humanidade. Queria que esta visão de Francisco pudesse tocar a mente e o coração de muitos antes de sua chegada à Suécia: a entrevista teria sido o meio melhor para alcançar tal objetivo. Disse isso ao Pe. Spadaro com o qual prossegui a reflexão até agosto, quando juntos chegamos à conclusão de que era realmente oportuno apresentar ao Pontífice este pedido a fim de que pudesse decidir se realizá-la ou não. O Papa tomou tempo pra refletir sua oportunidade. No final, a resposta foi positiva e nos deum um encontro na Santa Marta na tarde do sábado, 24 de setembro passado.
Foi um dia realmente agradável por causa da temperatura e luminosidade do céu. Atravessando o trânsito de Roma de carro com Pe. Spadaro, estava ansioso, mas feliz. Chegamos a Santa Marta 15 minutos antes do previsto. Pensei que devíamos esperar e ao invés fomos logo convidados a subir ao andar onde o Papa tem o seus aposentos. Quando o elevador se abriu, vi um guarda-suíço que nos saudou com cortesia. Ouvi a voz do Papa falar cordialmente com outras pessoas em espanhol, mas não o vi. A um certo ponto ele apareceu com duas pessoas, conversando amigavelmente. Nos saudou com um sorriso indicando-nos de entrar em seus aposentos: ele voltaria logo.
Fiquei surpreso com esta simples e calorosa familiaridade o acolhimento. Foi-nos dito na portaria que o Papa teve um dia intenso, e eu pensei que estivesse cansado no final do dia. Ao invés disso, fiquei surpreso em vê-lo tão cheio de energia e relaxado.
O Papa entrou na sala e nos convidou a sentar onde preferíamos. Sentei-me numa poltrona e Pe. Spadaro diante de mim. O Papa se sentou no sofá no meio das duas poltronas. Apresentei-me no meu italiano pobre, mas suficiente para entender e dialogar com simplicidade. Depois de algumas brincadeiras do Papa acendemos os gravadores e iniciamos a conversa.
Pe. Spadaro traduziu do inglês algumas perguntas que eu queria fazer ao Papa e que eu tinha preparado, mas depois da conversa entre nós três fluiu naturalmente, numa atmosfera amigável e sem distâncias artificiais. Sobretudo porque foi claro e direto, sem rodeios e sem que a atmosfera típica dos encontros com os grandes líderes ou pessoas a respeito. Não tenho nenhuma dúvida de que o Papa Francisco ama conversar, comunicar com os outros. Às vezes toma tempo para refletir antes de responder, e suas respostas sempre transmitem uma sensação de envolvimento sério, mas não pesada ou triste. Na verdade, durante a nossa visita, ele deu várias vezes sinais de seu humorismo.
Entrevista
Santo Padre, em 31 de outubro o senhor visitará Lund e Malmö para participar da Comemoração Ecumênica dos 500 anos da Reforma, organizada pela Federação Luterana Mundial e pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Quais são as suas esperanças e suas expectativas para este evento histórico?
“Digo somente uma palavra: aproximar-se. A minha esperança e expectativa são as de me aproximar mais de meus irmãos e irmãs. A proximidade faz bem a todos. A distância ao invés nos faz adoecer. Quando nos distanciamos, nos fechamos dentro de nós mesmos e nos tornamos nômades, incapazes de nos encontrar. Nos deixamos levar pelo medo. É preciso aprender a se transcender para encontrar os outros. Se não o fazemos nós cristãos nos adoecemos de divisão. A minha expectativa é a de conseguir fazer um passo de proximidade, de estar próximo aos meus irmãos e irmãs que vivem na Suécia.”
A sua visita à Suécia tocará um dos países mais secularizados no mundo. Boa parte de sua população não acredita em Deus, e a religião tem um papel um pouco modesto na vida pública e na sociedade. Segundo o Senhor, o que perde uma pessoa que não acredita em Deus?
“Não se trata de perder alguma coisa. Trata-se de não desenvolver  adequadamente uma capacidade de transcendência. O caminho da transcendência dá lugar a Deus, e nisto são importantes também os pequenos passos, até mesmo o do ateu a ser agnóstico. O problema para mim é quando se fecha e se considera a própria vida perfeita em si mesma, portanto, fechada em si mesma, sem necessidade de uma transcendência radical. Mas para abrir aos outros a transcendência não é necessário fazer muitos discursos e palavras. Quem vive a transcendência é visível: é um testemunho vivo. No almoço que tive em Cracóvia com alguns jovens, um deles me perguntou: “O que deve dizer a um mio amigo que não acredita em Deus? Como faço para convertê-lo? Eu lhe respondi: “A última coisa que deve fazer é dizer alguma coisa. Aja! Vivi! Depois, vendo a sua vida, o seu testemunho, talvez o outro irá perguntar porque você vive assim. Estou convencido de que quem não crer ou não procura Deus talvez não sentiu a inquietude de um testemunho. Isso está muito ligado ao bem-estar. A inquietude se encontra dificilmente no bem-estar. Por isso, acredito que contra o ateísmo, ou seja, contra o fechamento à transcendência, valem realmente, somente a oração e o testemunho.”
Os católicos na Suécia são uma pequena minoria, e na maior parte composta por imigrantes de várias nações do mundo. O senhor se encontrará com alguns deles celebrando a Missa em Malmö em 1° de Novembro. Como vê o papel dos católicos numa cultura como a sueca?
“Vejo uma convivência saudável, onde cada um pode viver sua fé e expressar o seu testemunho, vivendo num espírito aberto e ecumênico. Não se pode ser católicos e sectários. Devemos nos esforçar para estar com os outros. "Católico" e "sectário" são duas palavras que se contradizem. É por isso que no início eu não previa celebrar uma missa para os católicos nesta viagem: Eu queria insistir num testemunho ecumênico. Depois eu refleti bem sobre o meu papel de pastor de um rebanho católico que chegará também dos países vizinhos, como a Noruega e a Dinamarca. Então, respondendo ao pedido fervoroso da comunidade católica, decidi celebrar uma missa, aumentando a viagem de um dia. Na verdade eu queria que a missa não fosse celebrada no mesmo dia e não no mesmo lugar do encontro ecumênico para evitar confundir os planos. O encontro ecumênico deve ser preservado em seu profundo significado, segundo um espírito de unidade, que é o meu. Isto criou problemas de organização, eu sei, porque eu vou estarei na Suécia também no Dia de Todos os Santos, que aqui em Roma é importante. Mas, a fim de evitar mal-entendidos, eu quis que fosse assim.”
(MJ)
Rádio Vaticano 

Papa: respeito é a base da relação entre bispos e religiosos

29/10/2016


O Papa Francisco recebeu em audiência no Vaticano, no final da manhã desta sexta-feira dia 28 de outubro, os participantes do I Congresso Internacional dos Vigários e Delegados Episcopais para a Vida Consagrada.
Depois de ouvir a saudação do promotor do evento, o Cardeal brasileiro João Braz de Aviz, o Papa fez seu discurso refletindo sobre três dimensões da vida consagrada: a sua presença dentro da Igreja particular, a criação de novos Institutos e as relações mútuas.
Francisco citou alguns documentos da Igreja para ressaltar que a vida consagrada é “um capital espiritual que contribui ao bem de todo o corpo de Cristo” e não somente das famílias religiosas. Portanto, o Pontífice pediu aos bispos, vigários e delegados para a vida consagrada que acolham este dom como “elemento decisivo para a sua missão”, promovendo em suas dioceses os diferentes carismas, antigos e novos. Aos consagrados, Francisco recordou que a autonomia e isenção não podem se confundir com isolamento e independência. Os bispos são chamados a respeitar, sem manipular, a pluridimensionalidade que constitui a Igreja. Por sua vez, os consagrados devem se recordar que não são um patrimônio fechado, mas uma dimensão integrada no corpo da Igreja.
Maturidade eclesial
Quanto à criação de novos Institutos, o Papa reforçou que cabe ao bispo diocesano discernir e reconhecer a autenticidade dos dons carismáticos, levando em consideração inúmeros critérios: a originalidade do carisma, a sua dimensão profética, a sua inserção na vida da Igreja particular, o compromisso evangelizador e a também a sua dimensão social. O bispo deve verificar ainda que o fundador ou a fundadora tenha demonstrado maturidade eclesial e uma vida que não contradiga a ação do Espírito Santo. O pastor tem ainda a obrigação de consultar sempre previamente a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e a as Sociedades de Vida Apostólica.
“No momento de erigir um novo instituto não podemos pensar somente na utilidade para a Igreja particular”, afirmou Francisco, acrescentando que os Bispos, seus vigários e delegados não devem ser simplórios na decisão, já que assumem uma responsabilidade em nome da Igreja universal. Ao ser criado, deve-se pensar que o Instituto será destinado a crescer e a sair dos confins da Diocese que o viu nascer. Além disso, o Papa pediu uma atenção especial à formação dos candidatos à vida consagrada.
Responsabilidade
Por fim, o Pontífice falou da relação entre bispos e consagrados – tema que será debatido no Congresso em andamento e matéria de estudo da Congregação para a Vida Consagrada.
“Não existem relações mútuas lá onde alguns comandam e outros se submetem, por medo ou conveniência. Mas há relações mútuas onde se cultiva o diálogo, a escuta respeitosa, a recíproca hospitalidade, o encontro e o desejo de fraterna colaboração pelo bem da Igreja. Tudo isso é responsabilidade seja dos bispos, seja dos consagrados”, reiterou o Papa, que prosseguiu: “Neste sentido, somos todos chamados a ser ‘pontífices’, construtores de pontes. O tempo atual requer comunhão no respeito das diversidades. Não tenhamos medo da diversidade que provém do Espírito”.
Francisco concluiu pedindo uma atenção especial às irmãs contemplativas. “Acompanhem-nas com afeto fraterno, tratando-as como mulheres adultas, respeitando as competências que lhes são próprias, sem interferências indevidas.”
“Queridos irmãos, amem a vida consagrada e para este fim, busquem conhecê-la em profundidade. Construam relações mútuas a partir da eclesiologia de comunhão, do princípio de coessencialidade e da justa autonomia que compete aos consagrados”, foi a exortação final do Papa. 
(BF)

Rádio Vaticano

28 de out. de 2016

28/10 – Santos Simão e Judas

São Judas e São SimãoDe Simão, o mais desconhecido dos apóstolos, a Sagrada Escritura conserva somente o nome, dividido com outro Simão. Para distingui-lo de Pedro, os evangelistas Mateus e Marcos lhe dão o sobrenome de Zelote ou Cananeu. O apelido pode significar tanto a cidade de proveniência, como a sua participação no partido dos zelotes ou conservadores das tradições hebraicas. Nada sabemos das circunstâncias que se referem a sua vocação. Simão, o desconhecido, é sempre um apóstolo do Senhor, protótipo de tantos discípulos sem nome, que trabalham a vida toda na lavoura do Senhor ou combatem nas trincheiras da fé não em vista de uma menção de honra, mas para o triunfo do Reino de Deus. Como os outros apóstolos, também Simão percorreu os caminhos do Evangelho “sem mala, sem dinheiro, pregando o reino dos céus; curou os enfermos, ressuscitou os mortos, limpou os leprosos, expulsou os espíritos maus”; zeloso desde jovem das tradições hebraicas, e agora zeloso e humilde servo do Senhor. Simão, conforme notícias duvidosas do historiador Eusébio, parece ter sido o sucessor de Tiago na cátedra de Jerusalém, nos anos da trágica destruição da cidade santa.
Também as suas atividades além dos confins da Palestina são uma dedução dos lendários Atos de Simão e Judas, segundo os quais, os dois apóstolos percorreram juntos as doze províncias do império persa. Outras fontes assinalam para Simão o Egito, a Líbia e a Mauritânia. Segundo uma notícia de Egesipo, o apóstolo teria sofrido o martírio durante o império de Trajano, em 107, com a respeitável idade de 120 anos. Judas, não o Iscariotes (apressa-se a distinguir o evangelista são João), ocupa o último lugar no elenco dos apóstolos, com o sobrenome de Tadeu, e é identificado com o autor da epístola canônica que traz o seu nome. O apóstolo que teve a infelicidade de partilhar o nome com o traidor, é chamado também irmão do Senhor: “Não é este – perguntam-se os nazarenos, maravilhados pela fama de Jesus – o carpinteiro… o irmão de Tiago e Judas?” Conforme as notícias de Eusébio, Judas teria sido o esposo nas núpcias de Caná (bodas de Caná), (isso explicaria a presença de Maria e de Jesus). Dada a notoriedade de Tiago, na Igreja primitiva, Judas era sempre lembrado como o irmão de Tiago. O breve escrito de Judas é uma severa advertência contra os falsos mestres e um convite a manter a pureza da fé.

Cléofas 

Papa: Jesus que reza por nós é o fundamento da nossa vida

28/10/2016



Sexta-feira, 28 de outubro: na Missa em Santa Marta o Papa afirmou que Jesus é o fundamento da nossa vida. Francisco sublinhou que Jesus que reza ao Pai é a pedra angular da Igreja.
No Evangelho do dia proposto por S. Lucas encontramos Jesus que depois de ter rezado longa e intensamente, escolhe os discípulos. “Jesus foi para o monte rezar e ali ficou toda a noite” – disse o Santo Padre – e só depois acontecem as outras coisas: “as pessoas, a escolha dos discípulos, as curas”. A pedra angular é “Jesus que reza”. Nós rezamos a Jesus, “mas o fundamento é Ele que reza por nós” – observou Francisco:
“Esta é a pedra angular da Igreja: Jesus em oração” – declarou.
Quando encontramos Jesus no altar “Ele vem interceder, e rezar por nós. Como na Cruz” – afirmou o Papa. E isto dá-nos uma grande segurança, a segurança de pertencer a uma comunidade que tem como pedra angular Jesus que ”reza por nós” – disse Francisco no final da sua homilia.
Rádio Vaticano 

Papa Francisco: desconcertante cancelar diferenças sexuais

28/10/2016



A beleza do plano de Deus para o matrimônio e a misericórdia para com as famílias feridas, os desafios das novas tecnologias e a desconcertante ideologia de género: estes os temas abordados pelo Papa Francisco com o Pontifício Instituto “João Paulo II” para os Estudos sobre o Matrimónio e Família
Crise familiar: prevalece cada vez mais o “eu” sobre o “nós”
Hoje “os laços conjugais e familiares são de muitos modos colocados à prova”: o Papa parte de uma reflexão sobre a cultura actual “que exalta o individualismo narcisista, uma concepção da liberdade desligada da responsabilidade pelo outro, o crescimento da indiferença para com o bem comum, o impor-se de ideologias que agridem directamente o projecto familiar, como também o crescimento da pobreza que ameaça o futuro de tantas famílias”.
“Depois, há as questões abertas pelo desenvolvimento de novas tecnologias - sublinha -, que tornam possíveis práticas, por vezes, em conflito com a verdadeira dignidade da vida humana”. Prevalece cada vez mais o “eu” sobre o “nós”, o indivíduo sobre a sociedade: “É um êxito que contradiz o plano de Deus, que confiou o mundo e a história à aliança do homem e da mulher”.
Ideologia de género: desconcertante
Sem mencionar directamente a ideologia de género, o Papa fala da necessidade de “reconhecer a diferença como uma riqueza e uma promessa, não como um motivo de sujeição e de prevaricação. O reconhecimento da dignidade do homem e da mulher leva a uma correta valorização de seu relacionamento recíproco. Como podemos conhecer profundamente a humanidade concreta da qual somos feitos sem aprendê-la através desta diferença?”:
“É impossível negar a contribuição da cultura moderna à redescoberta da dignidade da diferença sexual. Por isso, é muito desconcertante constatar que agora esta cultura apareça como bloqueada por uma tendência a cancelar a diferença, em vez de resolver os problemas que a mortificam”.
Na verdade - continuou o Papa -, “quando as coisas estão indo bem entre homem e mulher, também o mundo e a história vão bem. Caso contrário, o mundo se torna inóspito e a história pára”.
Beleza do matrimónio e misericórdia para as famílias feridas
O testemunho da “beleza da experiência cristã da família” - destaca Francisco -, deverá inspirar-nos ainda mais profundamente; ao mesmo tempo, é necessário ter “grande compaixão e misericórdia pela vulnerabilidade e falibilidade do amor entre os seres humanos”, mas sem resignar-se à falência humana, para apoiar o resgate do plano de Deus para a família, “ícone da aliança de Deus com toda a família humana”:
De fato, é correto reconhecer que, às vezes, “apresentamos um ideal teológico do matrimónio demasiado abstracto, construído quase artificialmente, distante da situação concreta e das possibilidades efectivas das famílias tais como são. Esta excessiva idealização, sobretudo quando não despertamos a confiança na graça, não fez com que o matrimónio fosse mais desejável e atraente; muito pelo contrário”.
Proximidade da Igreja
Os dois Sínodos sobre a família – observou ainda o Papa –, “manifestaram a necessidade de ampliar a compreensão e o cuidado da Igreja por este mistério do amor humano no qual o amor de Deus por todos se sedimenta”. Neste sentido, “o tema pastoral de hoje não é apenas o da distância de muitos do ideal e da prática da verdade cristã do matrimónio e da família; mais decisivo ainda se torna o tema da ‘proximidade’ da Igreja”:
“Proximidade às novas gerações de cônjuges, para que a bênção de seu relacionamento os convença sempre mais e os acompanhe, e proximidade às situações de fraqueza humana, para que a graça possa resgatá-los, reanimá-los e curá-los. O indissolúvel vínculo da Igreja com seus filhos é o sinal fiel mais transparente do amor fiel e misericordioso de Deus”.
Teologia e pastoral caminham juntos
O Papa Francisco recorda, por fim, que “a teologia e pastoral caminham juntos”: “Não nos esqueçamos de que também os bons teólogos, como os bons pastores, têm o cheiro do povo e das estradas e, com sua reflexão, derramam óleo e vinho nas feridas dos homens”:
Uma doutrina teológica que não se deixa orientar e plasmar pela finalidade evangelizadora e pelo cuidado pastoral da Igreja é também impensável para uma pastoral da Igreja que não saiba fazer tesouro da revelação e da sua tradição, voltada a uma melhor inteligência e transmissão da fé”. (BS/SP)

Rádio Vaticano 

Papa: reforçar empenho para eliminar tráfico de seres humanos

28/10/2016


O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (27/10), os membros do “Grupo Santa Marta” que participaram do encontro realizado, no Vaticano, sobre o tráfico de seres humanos.
“Reforçar o compromisso para eliminar a chaga social do tráfico de pessoas”, disse o Pontífice no seu discurso às autoridades eclesiásticas e civis do Grupo Santa Marta, que dá uma contribuição importante na luta contra esta nova forma de escravidão.
O Papa sublinhou com amargura que as vítimas “são homens e mulheres, muitas vezes menores, explorados, aproveitando da sua pobreza e marginalização”.
“Serve um esforço mirado, eficaz e constante, tanto para eliminar as causas deste fenómeno complexo, quanto para encontrar, assistir e acompanhar as pessoas que caem nas armadilhas do tráfico.”
“O número destas vítimas cresce, infelizmente, de ano para ano, afirmam as organizações internacionais. Aos indefesos são roubadas a dignidade, a integridade física e psíquica, e até mesmo a vida”, disse ainda o Pontífice.

“Queridos amigos, agradeço-vos e encorajo-vos a prosseguir neste empenho. O Senhor recompensará o que for feito a estes pequenos da sociedade de hoje. Ele disse: ‘Tive fome ... tive sede e tu me ajudaste; hoje também poderia dizer: "Eu fui abusado, explorado e escravizado, e tu me socorreste.”
(BS/MJ)

Rádio Vaticano 

28/10 – Santos Simão e Judas Tadeu

De Simão, o mais desconhecido dos apóstolos, a Sagrada Escritura conserva somente o nome, dividido com outro Simão. Para distingui-lo de Pedro, os evangelistas Mateus e Marcos lhe dão o sobrenome de Zelote ou Cananeu. O apelido pode significar tanto a cidade de proveniência, como a sua participação no partido dos zelotes ou conservadores das tradições hebraicas. Nada sabemos das circunstâncias que se referem a sua vocação. Simão, o desconhecido, é sempre um apóstolo do Senhor, protótipo de tantos discípulos sem nome, que trabalham a vida toda na lavoura do Senhor ou combatem nas trincheiras da fé não em vista de uma menção de honra, mas para o triunfo do Reino de Deus. Como os outros apóstolos, também Simão percorreu os caminhos do Evangelho “sem mala, sem dinheiro, pregando o reino dos céus; curou os enfermos, ressuscitou os mortos, limpou os leprosos, expulsou os espíritos maus”; zeloso desde jovem das tradições hebraicas, e agora zeloso e humilde servo do Senhor. Simão, conforme notícias duvidosas do historiador Eusébio, parece ter sido o sucessor de Tiago na cátedra de Jerusalém, nos anos da trágica destruição da cidade santa.
Também as suas atividades além dos confins da Palestina são uma dedução dos lendários Atos de Simão e Judas, segundo os quais, os dois apóstolos percorreram juntos as doze províncias do império persa. Outras fontes assinalam para Simão o Egito, a Líbia e a Mauritânia. Segundo uma notícia de Egesipo, o apóstolo teria sofrido o martírio durante o Império de Trajano, em 107, com a respeitável idade de 120 anos. Judas, não o Iscariotes (apressa-se a distinguir o evangelista são João), ocupa o último lugar no elenco dos apóstolos, com o sobrenome de Tadeu, e é identificado com o autor da epístola canônica que traz o seu nome. O apóstolo que teve a infelicidade de partilhar o nome com o traidor, é chamado também irmão do Senhor: “Não é este – perguntam-se os nazarenos, maravilhados pela fama de Jesus – o carpinteiro… o irmão de Tiago e Judas?” Conforme as notícias de Eusébio, Judas teria sido o esposo nas núpcias de Caná (bodas de Caná), (isso explicaria a presença de Maria e de Jesus). Dada a notoriedade de Tiago, na Igreja primitiva, Judas era sempre lembrado como o irmão de Tiago. O breve escrito de Judas é uma severa advertência contra os falsos mestres e um convite a manter a pureza da fé.

Cléofas 

26 de out. de 2016

A Igreja Católica admite a predestinação?

“Afinal a doutrina católica admite ou não a predestinação? Em que se distinguiria do fato ou do destino a predestinação?”
Abordamos aqui uma das questões mais elevadas da fé cristã. Para penetrá-la, o estudioso tem que se resolver a não se deixar levar pelo sentimentalismo nem pelo antropocentrismo. Mas estritamente pelos dados da Revelação, que é sobrenatural (não, porém, anti-natural) e teocêntrica.
A questão da predestinação se prenda à do mal, de que trata “Pergunte e Responderemos” nº 5/1957 qu. 1. Tenha-se em vista o que aí se diz: 1) a possibilidade de errar é inerente ao conceito mesmo da criatura; 2) esta possibilidade se realizou no mundo quando o primeiro homem cometeu livremente o erro ou o mal moral, o pecado; 3) os males físicos (misérias e morte) são consequências do pecado; 4) a culpa dessas desordens recai em última análise sobre o livro arbítrio do homem, não sobre Deus; 5) Este se apiedou da criatura, tomando a sua sorte na Encarnação e na morte de cruz, a fim de dar valor salvífico ao sofrimento.
Entremos agora no tema da predestinação.
Conceito e existência da predestinação
Por predestinação entende-se em Teologia o desígnio, concebido por Deus, de levar a criatura racional (o homem) ao fim sobrenatural, que é a vida eterna. Note-se logo que este desígnio tem por exclusivo objeto a bem-aventurança celeste; não há predestinação para o mal ou o inferno.
A Sagrada Escritura atesta amplamente a existência de tal desígnio no Criador. De um lado, ela ensina que a Boa Notícia da salvação deve ser anunciada a todos os povos (cf. Mt 28,19) e que Deus quer “sejam salvos todos os homens e cheguem ao conhecimento da verdade” (cf. 1 Tim 2,4). De outro lado, ela também diz que há homens que se perdem (cf. Jô 17,12) e que o Senhor exerce uma providência especial para salvar os que não se perdem:
“Sabemos que, com aqueles que O amam, Deus colabora em tudo para o bem dos mesmos, daqueles que Ele chamou segundo o seu desígnio. Pois, aqueles que de ante-mão Ele conheceu, Ele também os predestinou a reproduzir a imagem de seu Filho… E, aqueles que Ele predestinou, Ele também os chamou (à fé); os que Ele chamou, Ele também os justificou (mediante o batismo); os que Ele justificou, Ele também os glorificou” (Rom 8,28-30).
Cf. Ef 1,3-6; Rom 9,14; 11,33; Mt 20,23; 22,14; 24,22-24; Jô 6,39; 10,28.
Na base destes textos, não resta dúvida entre os teólogos, desde o início do Cristianismo, sobre o fato da predestinação. Vejamos agora um ponto mais árduo, que é
II. O modo como Deus predestina
Está claro que o homem, como ser essencialmente relativo, depende do Criador não somente quanto ao seu existir, mas também quanto ao agir; já que ele nada é por si mesmo, também nada pode por si. É Deus, pois, quem lhe outorga o dom de praticar atos bons e, mediante os seus atos bons, chegar ao último fim, à bem-aventurança eterna. Esta conclusão se torna particularmente imperiosa se se tem em vista o caso do cristão: este é chamado a um fim sobrenatural (a visão de Deus face a face), objetivo que, ultrapassando todas as exigências da natureza, só por graça de Deus sobrenatural pode ser alcançado.
Estas proposições, claras em si mesmas, suscitam sério problema desde que se indague: como conciliar a primazia da ação de Deus no homem com a liberdade de arbítrio da criatura? Não se torna vã esta última debaixo daquela? Ou, vice-versa, não deve aquela retroceder para que seja esta salva guardada?
A fim de resolver a questão, dois sistemas são propostos pelos teólogos:
1) o sistema molinista: segundo L. Molina S. J. (+ 1600), Deus oferece a sua graça a todo homem; este, posto diante da oferta, livremente escolhe aceitá-la ou não; caso a aceite, a graça se torna eficiente, e induz o homem a praticar o bem.
Estendendo a sua doutrina à questão da predestinação, Molina ensinava que Deus, desde toda a eternidade, na sua “ciência média”, prevê como cada um dos homens se comportaria com relação à graça nas mais variadas circunstâncias da vida. Diante desta visão, o Criador decreta colocar tal indivíduo em tais e tais circunstâncias em que Ele sabe que a criatura aceitará a graça, e assim irá merecendo a salvação eterna. Desta forma. Deus predestina para a glória, mas – note-se bem – praevisis meritis, depois de haver previsto os méritos da criatura.
2) o sistema tomista (que tem por pioneiro Domingos Banes O.P. (+ 1604): partindo do princípio de que nada, absolutamente nada, pode haver na criatura que não lhe venha de Deus, ensina que a graça é eficaz por si mesma, anteriormente a qualquer determinação ou atitude do homem; não é este quem determina aquela, mas é a graça que predetermina a este, não moralmente apenas (por meio de exortações), mas fisicamente (por sua moção intrínseca, soberana). Contudo a graça por si eficaz não extingue a liberdade de arbítrio do homem; ao contrário, movendo e predeterminando a criatura, move tudo que nesta se encontra, isto é, as faculdades de agir e o livre arbítrio mesmo; ela dá ao homem não somente  agir, e tal agir determinado, mas também a modalidade com que o homem costuma agir, isto é, a liberdade; em conseqüência, sob a graça eficaz (na doutrina tomista) o homem pratica infalivelmente a ação à  qual Deus predetermina, mas pratica-a sem perder a sua liberdade, antes atuando-a plenamente. Como se vê, o tomismo é rigorosamente lógico: partindo dos conceitos de Criador e criatura, ensina que Deus deve ser o Autor de tudo aquilo de que também o homem é autor, até mesmo desta determinação do homem e do modo livre de tal determinação; o homem deve a Deus não somente a sua faculdade de livre arbítrio, mas também o uso preciso (tal e tal modo de usar) dessa faculdade.
No tocante à predestinação, o tomismo consequentemente afirma que Deus a decreta ante praevisa merita,  antes de prever os méritos do homem: de maneira absoluta e independente, o Criador determina levar tal e tal criatura à glória eterna e, por conseguinte, conferir-lhe os meios necessários para que a alcance. Em conseqüência desta predestinação é que o homem produzirá atos meritórios no decorrer da sua vida; estes são gratuitos dons de Deus; não desencadeiam o amor divino, mas, ao contrário, são desencadeados pelo liberal beneplácito do Senhor.
Nos séculos XVII/XIX alguns teólogos procuraram sistemas intermediários, conciliatórios entre o tomismo e o molinismo; recaíram, porém, indiretamente neste ou naquele. De fato, os dois sistemas são irredutíveis um ao outro. Quando foram pela primeira vez propostos na história, o Papa Clemente VIII instituiu em Roma uma Comissão ou Congregação dita “de autxiliis” (“concernente aos auxílios da graça”) a fim de os julgar. As sessões da Congregação prolongaram-se de 2 de janeiro de 1958 a 20 de agosto de 1607, tendo os Soberanos Pontífices tomado parte pessoal nos estudos respectivos. Finalmente o Papa Paulo V resolveu suspender o exame da questão, declarando lícito ensinar qualquer dos dois sistemas, pois nenhum deles envolve heresia (um é outro salvaguardam suficientemente a soberana ação de Deus e o livre arbítrio do homem, embora o tomismo mais acentue aquela e o molinismo mais realce a este). O Papa bento XIV confirmou esta decisão em um decreto de 13 de julho de 1748.
Fica, portanto, aos teólogos e fiéis católicos a liberdade de optar entre as duas teorias acima propostas. O católico tanto pode ser tomista como pode ser molinista; a ação do Espírito Santo em sua alma, a sua conaturalidade com as coisas de Deus lhe sugerirão a atitude a tomar.
Há, porém, três pontos atinentes à doutrina estudada sobre os quais a Santa Igreja se pronunciou definitivamente, de sorte que tanto molinistas como tomistas os professam indistintamente:
1) a conversão do pecador a Deus, ou seja, o ato inicial da via da salvação já é efeito da graça de Deus; é Deus quem primeiramente se volta para o pecador e lhe dá os meios de se colocar em estado de graça; não é o homem quem por suas forças naturais começa a procurar o Senhor, recebendo d’Este em resposta a graça sobrenatural;
2) a perseverança final ou a morte em estado de graça (a boa morte) é dom especial de Deus: não decorre dos mártires anteriores da pessoa, mas pode ser implorada pela oração;
3) a predestinação “adequada” (isto é, o desígnio que compreende todos os auxílios sobrenaturais, desde a graça da conversão até a graça da boa morte) é gratuita ou anterior à previsão dos méritos da criatura. E isto, tanto no tomismo como no molinismo… Também este reconhece que é Deus quem gratuitamente decreta colocar o homem em tais e tais circunstâncias nas quais Ele prevê que a criatura fará bom uso da graça (o tomismo diria:… nas quais Ele predetermina a criatura a fazer livremente bom o uso da graça).
As três proposições acima foram definidas por concílios, cujas declarações se encontram em Denziger-Umberg, Enchiridion Symbolorum 176-180; 183-189, 191-193;200.
III. Um juízo sobre a questão
1. A muitos fiéis impressiona o fato de que Deus predestina positivamente alguns para a glória celeste, deixando que outros se percam – fato firmemente atestado pela Sagrada Escritura e pela Tradição cristã. Perguntam se não haveria nisto injustiça da parte do Senhor.
– Não; em absoluto. Considere-se que
a) Deus a ninguém criou com destino positivo para a perdição ou a condenação.

Ensinavam o concílio de Valença (França) em 855: “In malis ipsorum malitiam (Deus) praescivisse, quia ex ipsis est, non praedestinasse, quia ex illo non est. – Deus viu de ante-mão a malícia dos maus, porque provém deles, mas não a predestinou, porque não se deriva d’Ele” (Dz 322).
Foi condenada pelo episcopado da Gália no séc. V a seguinte proposição: “Cristo, Senhor e Salvador nosso, não morreu pela salvação de todos…; a presciência de Deus impele o homem violentamente para a morte; e todo aquele que se perde, perde-se por vontade de Deus…; alguns são destinados à morte, outros predestinados à vida” (carta de Fausto de Riez, ed. Migne lat. T. 53,683).
Outras declarações da Igreja se encontram em Dz 200; 316-318; 321-323; 514; 816; 827.
b) Deus, porém, criou seres finitos (só pode haver um Infinito, Deus), aos quais é inerente a falibilidade, o “poder errar”.
c) Esta falibilidade, sendo congênita, naturalmente tende a se atuar num ou noutro. Deus concede, sim, a qualquer indivíduo humano os meios necessários para que se salve pois quer a salvação de todos os homens (cf. 1 Tim 2,4); isto é doutrina freqüentemente afirmada pela Escritura e a Tradição (cf. Dz 318); nenhum desses meios de salvação, porém, força a liberdade humana; esta é sempre respeitada por Deus.
d) Por conseguinte, a menos que o Criador intervenha extraordinariamente, algumas criaturas, em virtude da sua falibilidade natural, se encaminham para a ruína eterna; o Criador não lhes faz injustiça se permite que se percam, apesar de terem os meios necessários para não se perderem.
e) Dado, porém, que Deus se empenhe infalivelmente pela salvação de alguns (muito ou poucos) homens, predestinando-os à glória eterna, Ele faz ato de pura misericórdia beneficia gratuitamente a estes, sem lesar em absoluto aos outros, que, por sua natural falibilidade e apesar dos auxílios divinos, se perdem (cf. a parábola dos operários na vinha, comentado em “Pergunte e Responderemos” 1/1958 qu. 8).
O concílio de Quierzy na Gália em 853 declarava: “Quod quidam salvantur, salvantis est donum; quod autem pereunt, pereuntilum est meritum. – O fato de que alguns se salvam, deve-se a um dom d’Aquele que os salva; o fato de que outros se perdem, deve-se ao mérito (mérito mau ou demérito) dos que se perdem” (Dz 318).
Deus, no caso de uns, manifesta sua Bondade transcendente; no caso de outros patenteia sua Justiça; em todo e qualquer caso, porém, faz reluzir sua soberana Liberdade, a qual não pode ser necessitada por bem algum criado, pois ela é o princípio e a causa de qualquer bem: “Que é que te distingue dos outros? E que tens que não hajas recebido? E, se o recebeste, porque te vanglorias como se não o tivesses recebido?” (1 Cor 4,7).
A predestinação, portanto, não implica injustiça em Deus; não deixa, porém, de constituir um mistério, mistério porque, com nosso intelecto finito, não vemos plenamente como em Deus se conciliam Justiça, Misericórdia e Liberdade, embora não nos seja plausível duvidar de que de fato se associam em estupenda harmonia (na visão face a face de Deus, no céu, contemplaremos a sábia combinação dos atributos divinos). – Em particular, não podemos assinalar motivo por que Deus escolhe tal homem para a glória, e não tal outro, por que escolheu Pedro e não Judas; lembremo-nos de que não são os méritos do homem que a este atraem o amor de Deus, mas é o amor antecipado de Deus que proporciona à criatura os respectivos méritos Sto. Agostinho admoestava: “Quare hunc trahat (Deus) et ilum non trahat, noli velle diiundicare, si non vis errare. – Porque é que Deus atrai a este e não aquele, não queiras investigar, se não queres errar” (In Io tr. 26 init.). Ante os desígnios do Criador, tome a criatura uma atitude de silêncio reverente; confie em Deus, cuja sabedoria e santidade certamente ultrapassam as de qualquer ser humano.
2. A luz dos procedentes, vê-se que sentido tem a frase de São Paulo: “Deus quer que todos os homens sejam salvos” (1 Tim 2,4). São Tomas (I Sent. D. 46, q. 1, a.1) a distingue nos termos seguintes:
a) Deus quer que se salvem todos os homens, enquanto os considera em si, como criaturas capazes de apreender a vida eterna, abstração feita das circunstâncias particulares em que tal ou tal homem se possa encontrar; deus a ninguém criou senão para a vida eterna;
b) O Criador, porém, não pode (não pode, por causa de sua Justiça) querer que todos se salvem, se considera cada um nas circunstâncias precisas em que ocorre ao Divino Juiz; alguns, com efeito, se Lhe apresentam como criaturas que deliberadamente rejeitam ser salvas ou recusam estar com Deus, pois se rebelaram conscientemente (por um pecado grave) contra Ele e permanecem impenitentes ou apegados ao pecado; o Senhor respeita o alvitre de tais homens e, em conseqüência, só pode querer assinalar-lhes a sorte por que optaram (embora tenha feito tudo para se salvarem).
É esta a famosa distinção entre “vontade antecedente” (isto é, que considera seu objeto em si, abstraindo das circunstâncias concretas em que ocorre) e “vontade conseqüente” (isto é, que considera o mesmo na situação precisa em que se acha). S. Tomas ilustra a doutrina lembrando o que se dá com todo juiz justo: este, em tese, antes de examinar as causas judiciárias, quer que todo e qualquer homem permaneça em vida; dado, porém, que se apresente algum homicida, ele não pode (porque é justo) deixar de querer seja punido (e punido com a pena de morte, onde esta é imposta pela lei).
IV. A atitude prática do cristão
O mistério da predestinação dos justos para a glória, embora apresente seus aspectos luminosos, tem suas raízes na insondável Magnificência divina; não podemos sempre assinalar a causa por que Deus outorga tal dom a tal pessoa. A quem o interrogasse a respeito. Ele diria com o Senhor da parábola: “Amigo, não cometo injustiça para contigo… Toma o que te compete, e vai-te… Não tenho o direito de dispor dos meus bens como me agrada? Ou tornar-se-á mau o teu modo de ver pelo fato de que Eu sou bom?” (Mt 20,13-15).
Consciente disto, o cristão não se detém em perscrutar sutilmente o que está acima do seu alcance, preocupando-se com questões curiosas ou vãs atinentes à predestinação. Na orientação da sua conduta cotidiana, tenha o fiel ante os olhos as três seguintes proposições:
1) Deus a ninguém absolutamente faz injustiça, nem no decorrer desta vida nem no momento do juízo final;
2) Muito ao contrário, o Criador se comporta para com todos qual Pai cheio de amor ou como o primeiro Ator empenhado na salvação dos homens.
Lembra o concílio de Trento, retomando palavras de Sto. Agostinho:
“Deus não manda o impossível, mas, dando os seus preceitos. Exorta-te a fazer o que podes e a pedir-lhe a graça para o que não podes, e auxilia-te para que o possas” (Sto Agostinho, de natura et  gratia 43,50; Denziger 804).
Mais ainda:
“Deus não abandona a não ser que primeiro seja abandonado. – Non deserit nisi prius deseratur” (Dz 804).
3) A atitude prática do cristão encontras ótimo modelo em São Paulo:
a) de um lado, o Apóstolo, consciente da eficácia e da responsabilidade do livre arbítrio, lutava qual bom atleta no estádio para conseguir a incorruptível coroa da vida (cf. 1 Cor 9, 24-27). No mistério da predestinação, muita coisa pode ficar oculta ao fiel; contudo nunca lhe restará dúvida sobre o fato de que Deus exige de cada um todo o zelo de que é capaz para chegar à salvação. Nisto se diferencia a doutrina tradicional cristã de qualquer fatalismo ou determinismo: Deus não retira ao homem o dom do livre arbítrio e da responsabilidade própria com que o quis dignificar; nem há força super-humana cega que de antemão torne vãos os esforços da criatura que procura o Criador. Portanto, errado estaria quem, com vistas à vida eterna, tomasse atitude desinteressada e passiva, baseada em raciocínio análogo ao seguinte: “Se tenho que quebrar a cabeça, nada me pode preservar desta desgraça; não importa, pois, que me atire ou deixe de me atirar à rua pela janela do quinto andar da casa”. Ó homem, nada há que determine a tua sorte eterna independentemente do teu livre arbítrio! O decreto pelo qual Deus predestina alguém à salvação eterna, implica sempre que esta será obtida mediante a livre cooperação do homem.
b) De outro lado, São Paulo, o lutador de Cristo, era feliz ao pensar na sua sorte póstuma; assim também o cristão. Para o Apóstolo, morrer equivalia a “dissolver-se para estar com Cristo” (cf. Flp 1,23), “deixar de ser peregrino na terra a fim de viver na casa do Senhor” (cf. 2 Cor 5,8). Todo discípulo de Cristo, embora reconheça a possibilidade de frustrar o seu último fim, tem confiança no Pai do céu e sabe que a procura sincera de Deus na terra não poderá ficar vã junto ao Pai; vive, por conseguinte, em demanda otimista da mansão celeste, consciente de que Deus o chama continuamente a esta após lhe ter preparado os meios para a conseguir. E, firme nesta crença, não permite que hipó
teses inconsistentes tomem na sua mente o lugar de verdades seguras.
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 5, Ano 1958, p. 184

Via : Cléofas 

26/10 – Santo Evaristo

Nasceu em Belém na Palestina e morreu em 107 DC.
Um Judeu Helenita foi convertido ao cristianismo e eventualmente chegou a Roma. Aí ele aceitou o perigoso (na época) oficio de papa, após a morte do Papa Clemente entre os anos de 96 a 107 .
Evaristus contribuiu para organizar a Igreja. Ele dividiu a Igreja em sete setores e nomeou os cardeais que seriam os diretores de cada setor para servir a cidade assim como os apóstolos serviam aos pobres de Jerusalém. Evaristo conferiu varias ordens sagradas, três vezes em dezembro, quando as ordenações aconteciam mais por razões morais e místicas ( de acordo com Amalarius).
Outros dizem que as ordenações aconteciam durante o Advento porque os bispos se sentiam mais livres para dar mais atenção a esta importante função e porque a ordens sagradas eram sempre conferidas na época de jejuns e orações.
Não há evidencias que São Evaristo morreu martirizado embora os martirologistas listam ele como um deles. É provável tenha sido martirizado, porque nos primeiros anos da Igreja, todos os proeminentes cristãos foram brutalmente martirizado e assassinados. São Evaristo foi enterrado junto de São Pedro.


Cléofas 

Audiência: acolher o estrangeiro e vestir os nus

26/10/2016



Quarta-feira, 26 de outubro: audiência geral na Praça de S. Pedro com o Papa Francisco que propôs uma catequese sobre duas obras de misericórdia corporais: acolher o estrangeiro e vestir os nus:
“Hoje damos atenção a esta palavra de Jesus: «Era estrangeiro e acolheste-me, nu e vestiste-me» (Mt 25,35-36). Hoje em dia é muito atual a obra de acolher os estrangeiros. A crise económica e as mudanças climáticas empurram tantas pessoas a emigrar.”
O Santo Padre salientou que, de facto, ao longo dos séculos, foram muitas as expressões de solidariedade para com os migrantes. Este não é um fenómeno recente, pois a história da humanidade é uma história de migração. Até mesmo Jesus teve que emigrar com a sua família para o Egito durante a perseguição de Herodes – recordou o Papa:
“ A própria Santa Família – Maria, José e o pequeno Jesus – foi obrigada a emigrar para fugir à ameaça de Herodes: «José levantou-se, na noite, pegou no menino e sua mãe e refugiou-se no Egito, onde ficou até à morte de Herodes» (Mt 2,14-15).”
Num mundo onde a crise económica, conflitos armados e mudanças climáticas obrigam muitas pessoas a abandonarem a sua pátria – continuou Francisco – acolher o estrangeiro apresenta-se como uma obra de misericórdia muito atual. Uma ajuda que deve ser promovida por todos sem exceção – observou o Santo Padre:
“ É um compromisso que envolve todos, ninguém excluído. As dioceses, as paróquias, os institutos de vida consagrada, as associações e os movimentos, como cada um dos cristãos, somos todos chamados a acolher os irmãos e as irmãs que fogem da guerra, d fome, da violência das condições desumanas. Todos juntos somos uma grande força de apoio para os que perderam pátria, família, trabalho e dignidade.”
É preciso também vestir aquele que está nu, ou seja, restituir a dignidade a quem é vítima de todo o tipo de exploração ou discriminação – sublinhou Francisco recordando as mulheres  e as crianças vítimas de tráfico humano e também as pessoas que não têm “um trabalho, uma casa, um salário justo” ou aquelas que são discriminadas pela raça ou pela fé: todas estas são formas de nudez – sublinhou o Papa.
O Santo Padre no final da sua catequese declarou que o Senhor chama-nos a não nos fecharmos na indiferença, mas a abrirmo-nos aos outros, num compromisso comunitário e pessoal, que torna a nossa fé fecunda, gerando paz e preservando a dignidade das pessoas.
Nas saudações o Papa dirigiu-se também aos peregrinos de língua portuguesa presentes na praça, nomeadamente, aos fiéis de várias paróquias do Brasil e de Portugal e pediu-lhes para serem “solidários com os mais necessitados, lembrando que, quando os acolhemos, tocamos na carne sofredora de Cristo.”
O Papa Francisco a todos deu a sua benção!
Rádio Vaticano 
(RS)

Natividade de São João Batista: o maior dos profetas

A natividade de  São João Batista  é  uma solenidade muito importante no ano litúrgico, porque nesse dia lembramos o maior dos profetas, com...