A igreja,
nos primeiros séculos, ministrava numa única celebração, para os adultos e
crianças, três Sacramentos: Batismo, Crisma e Eucaristia. Para os adultos havia
uma preparação de três anos, o catecumenato. Na vigília pascal o catecúmeno
recebia os três Sacramentos.
Muitos são
os documentos e citações que narram o Batismo dos primeiros séculos. Vamos
conhecer algumas citações importantes dos “Padres da Igreja”, que nos
esclarecem muitas coisas. Esses Padres foram os grandes homens que formularam a
fé católica, desde os Apóstolos, enfrentando as heresias e os cismas. Entre
eles estão S. Jerônimo, S. Basílio Magno, S. Gregório Magno, S. Agostinho, S.
Irineu de Lião etc. É interessante e importante conhecer um pouco do que esses
pais da Igreja escreveram sobre Batismo nos primeiros séculos da Igreja.
Tertuliano
(† 220), que foi bispo em Cesareia, escreveu no século III o “Tratado sobre o
Batismo”, que fornece informações importantes. Ensina que “os catecúmenos
deviam invocar Deus em orações fervorosas, com jejuns, genuflexões e vigílias”.
O ministro, o bispo, na vigília pascal, benzia a água; o catecúmeno renunciava
ao demônio; a seguir, o ministro perguntava: “Crês em Deus Pai?” Após a
resposta afirmava do catecúmeno, mergulhava-o na água; interrogava ainda: “Crê
em Deus Filho?” e “Crês em Deus Espírito Santo?”, seguindo-se a cada resposta
um mergulho na água. Depois ele era ungido com óleo e recebia a imposição das
mãos, pela qual se comunicava o Espírito Santo.
S.
Hipólito de Roma († 235) descreveu sobre o Batismo, com detalhes, em sua
Tradição Apostólica:
“Ouçam os
catecúmenos a palavra durante três anos… escolhidos os que receberão o Batismo,
sua vida será examinada: se viveram com dignidade enquanto catecúmenos, se
honraram as viúvas, se visitaram os enfermos, se só praticaram boas ações…
Aproximando-se o dia em que serão batizados, exorcize o bispo cada um… Jejuem
na véspera do sábado os que receberão o Batismo… Ordene-se a todos que rezem e
se ajoelhem; impondo-se sobre eles as mãos, exorcizará o bispo todos os
espíritos estranhos para que fujam e não tornem jamais; ao terminar o
exorcismo, sopre-lhes no rosto. Depois de marcar-lhes com o sinal da cruz a
fonte, os ouvidos e as narinas, ele os fará levantar-se… Ao cantar do galo,
reze-se primeiro sobre a água, na fonte ou derramando-se do alto… Em caso de
necessidade usa-se a água que se encontraram… Os batizados despirão as suas
roupas, batizando-se primeiro as crianças. Todos os que puderem falar por si
mesmo falem. Os pais, ou alguém da família, falem pelos que não puderem falar
por si. Batizem-se os homens e finalmente as mulheres…”
Esta longa
descrição de como era ministrado o Batismo, e que continua, mostra que este
Sacramento era ministrado na madrugada do domingo, após um dia inteiro de
orações, leituras e jejum; a preparação era longa, com anos de instrução e
exorcismos (não de processos); batizavam crianças que ainda não tinham idade
para falar; a unção do óleo após o Batismo equivale ao Sacramento da Crisma.
S. Justino
Mártir, († 151), I Apologia 61:
“Os que
são batizados por nós são levados para um lugar onde haja água e são
regenerados da mesma forma como nós o fomos. É em nome do Pai de todos, de
Nosso Senhor Jesus Cristo e do Espírito Santo que recebem a loção na água. Este
rito foi-nos entregue pelos Apóstolos.”
Didaquè –
A Doutrina dos Apóstolos, o primeiro “catecismo” da Igreja (ano 100):
“Quanto ao
Batismo, batizai assim: depois de terdes ensinado o que precede, batizai em
nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, em água corrente; se não existe
água corrente, batize-se em outra água. Se não puder ser em água fria, faze em
água quente. Se não tens bastante, de uma ou de outra, derrama água três vezes
sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Antes do
Batismo, jejuem: o que batiza, o que é batizado e outras pessoas.”
Aqui se vê
claramente que desde o primeiro século a Igreja já ministrava o Batismo por
efusão (derramamento de água) e não apenas por imersão (mergulho na água).
S. Ireneu
(140-202), que foi bispo de Lião:
“Jesus
veio salvar a todos os que através dele nasceram de novo [pelo Batismo] de
Deus: os recém-nascidos, os meninos, os jovens, os velhos.”
“O Batismo
nos concede a graça do novo nascimento em Deus Pai os que têm o Espírito Santo.
Pois os que têm o Espírito de Deus são conduzidos ao Verbo, isto é, ao Filho;
mas o Filho os apresenta ao Pai, e o Pai lhes concede a incorruptibilidade.
Portanto, sem o Espírito Santo não é possível ver o Filho de Deus, e, sem o
Filho, ninguém pode aproximar-se do Pai, pois o conhecimento do Pai é o Filho,
e o conhecimento do Filho de Deus se faz pelo Espírito Santo” (Dem. 7).
Orígenes –
bispo de Alexandria (184-285):
“A igreja
recebeu dos Apóstolos a Tradição de dar o Batismo também aos recém-nascidos”
(Ep. Ad. Rom. LV, 5,9).
S.
Cipriano, bispo de Cartago (210-258):
“Do
Batismo e da graça não devemos afastar as crianças” (Carta a Fido).
Note que
desde o século II já há uma comprovação de que a igreja batizava os
recém-nascidos, como continua a fazer hoje.
Santo
Hilário (310-367):
“Tudo o
que aconteceu com Cristo dá-nos a conhecer que, depois na imersão na água, o
Espírito Santo voa sobre nós do algo do Céu e que, adotados pela Voz do Pai,
nos tornamos filhos de Deus” (Mat. 2).
O concílio
de Cartago (ano 418), que condenou o pelagianismo, rejeitou a posição “daqueles
que negam que se devam batizar as crianças recém-nascidas do seio materno”
(Cânon 2, DS, 223).
O concílio
de Florença (ano 1442), exigiu que fosse administrado o Batismo aos
recém-nascidos “o mais depressa que se possa fazer comodamente” (DS. 1349).
Prof.
Felipe Aquino Retirado do livro “Batismo”- Coleção Sacramentos- Ed. Canção Nova