11 de fev. de 2017

Os dogmas da Virgem Maria

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Professor Felipe Aquino. Foto: Arquivo/ cancaonova.com
A Igreja nos ensina quatro dogmas sobre Nossa Senhora 
Eu gostaria de começar falando dos quatros dogmas que a Igreja proclamou sobre a Virgem Maria. Quando a Igreja proclama um dogma com o Papa, no Concílio, nós precisamos acolher como verdade, mesmo não o entendendo. Santo Agostinho dizia: “Deus não é para ser entendido, mas adorado”. O Deus verdadeiro não cabe na nossa cabeça; por isso, muitas vezes, não entendemos os dogmas de fé.
Sobre Nossa Senhora a Igreja ensina quatro dogmas: a Maternidade divina, a Imaculada Conceição, a Assunção de Nossa Senhora ao céu e a Virgindade Perpétua de Maria.
Primeiro Dogma: Maternidade Divina. A maior glória de Nossa Senhora foi ter sido escolhida para ser a Mãe de Deus, do Verbo Encarnado. É claro que Ele sempre existiu no seio da Santíssima Trindade, pois o Senhor é eterno. Ao contrário de nós que fomos criados, Deus sempre existiu. Por isso, no Credo, Niceno-Constantinopolitano diz: “Creio em um só Deus, Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos verbo criado”. Jesus nasceu de forma humana, sem deixar de ser divino. Quando o Catecismo fala da escolha de Nossa Senhora, diz que, desde toda a eternidade, Deus já a havia escolhido para ser a Mãe de Seu filho ( 488).
“Deus juntou todas as águas e fez o mar. Deus juntou todas as graças e fez Maria” (Luís Maria Grignion de Montfort).
“Deus é um instante que não passa” (Karl Rahner). Podemos nos perguntar: “Porque o Senhor escolheu Maria?”. Nossa Senhora responde no Magnificat: “Ele olhou para a pequenez de sua serva” (Lucas). Dizem que todas as mulheres de Israel tinham o sonho de ser mãe do Salvador, mas Nossa Senhora não tinha essa pretensão.
“Deus criou o homem para a imortalidade” (Sabedoria 2,23), mas este não quis obedecer a Deus. E o Senhor, para trazer a salvação ao mundo, trouxe uma nova Mulher para vencer a soberba. Se pela soberba de Eva o pecado entrou no mundo, pela humildade de Maria entrou a salvação.
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“A maior glória de Nossa Senhora foi ter sido escolhida para ser a Mãe de Deus”, afirma professor Felipe Aquino. Foto: Arquivo/cancaonova.com

Quando Isabel ficou grávida e Maria foi visitá-la, o filho de Isabel estremeceu em seu seio, pois, no ventre de Maria, estava o Salvador; no de Isabel, o precursor de Jesus. Isabel disse: “A que devo a honra de receber a visita da Mãe do meu Senhor”. A primeira parte da Ave-Maria, saiu da boca de Isabel e do Anjo Gabriel.
Desde os primeiro séculos, já se acreditava neste dogma, Maria, a Mãe de Deus. Na biblioteca de Alexandria há papiros que dizem: “A vossa proteção nos recorremos Santa Mãe de Deus”. Essa oração é do século 200. E nessa região houve muitas perseguições e martírios. Quando chegou o ano 430, surgiu uma heresia: o Patriarca de Constantinopla dizia que Maria não era a Mãe de Deus. A Igreja precisou fazer o Concílio, na cidade de Éfeso, na Turquia, e ali a Igreja disse solenemente: “Maria é a Mãe de Deus (Theotokos).
Nós sabemos que, infelizmente, nossos irmãos separados não dizem a “Mãe de Deus”, mas a “Mãe de Jesus”. Nós dizemos que Maria é a Mãe de Deus, porque Jesus é Deus. E tudo o que o Filho precisa, Ele pede a Mãe.
Certa vez, eu estava dando aula e um aluno me disse: “Por que não podemos seguir as outras religiões?”. Eu lhe respondi: “Não vou dizer para você não seguir as outras religiões, porque precisamos respeitar uns aos outros. Mas eu vou lhe dizer por que eu sou católico. Estou convencido de que a minha religião veio de Deus. Se você me mostrar outra religião que Deus tenha andado sobre as águas, transformado a água em vinho, feito a multiplicação dos pães, curado leprosos, expulsado demônios, feito vários milagres e ainda ressuscitado, eu mudo de religião. Jesus é Deus por causa de Seus milagres. E o primeiro milagre aconteceu por causa de Maria. Por isso a ladainha diz: “Auxiliadora dos cristãos, refúgio dos pecadores”.
Segundo Dogma: A Imaculada Conceição. A Virgem Maria não teve pecado original. São Agostinho disse: “Nem se deve tocar na palavra “pecado” ao se tratar de Maria; e isso por respeito Àquele de quem mereceu ser a Mãe, que a preservou de todo pecado por sua graça.”
Pio IX no ano de 1974: “Maria foi concebida sem pecado original”. Não teve pecado original e pessoais. Que coisa bonita! Quatro anos depois, Nossa Senhora começou a aparecer para Bernadete, na França. Ela era uma criança, que nem sabia falar francês. Maria lhe disse: “Diga ao padre que quero uma capela”. O padre, não acreditando naquela pobre menina, disse a Bernadete que perguntasse o nome dela. Maria disse para Bernadete, no dia 25 de março: “Je sui le Immaculée Conception” (Eu sou a Imaculada Conceição). Nossa Senhora ainda deixou um sinal especial, pediu que Bernadete cavasse no chão um buraco, pois ali haveria uma mina. Nossa Senhora veio trazer um sinal do céu, e este sinal está em Lourdes.
Terceiro Dogma: Maria é sempre Virgem. Maria é virgem antes do parto, durante o parto e depois dele. A Igreja, na cidade Cápoa, 1972, proclamou este dogma. O Papa João Paulo II disse: “Não queira entender pela medicina, porque isso é um milagre”. “Eis que conceberás a luz e dará à luz” (Isaías). “A luz não passa no vidro sem quebrá-lo?”. Por que Deus não poderia gerar Jesus no ventre de Maria sem rasgar as paredes?” (James).
“Para Aquele que é extraordinário, todos os fatos são excepcionais” (Santo Agostinho).
Quarto Dogma: Assunção de Nossa Senhora. Maria foi levada ao céu de corpo e alma. A Igreja sempre acreditou nisso. Mas o Papa Pio XII disse: “A Virgem Maria é Mãe de Deus e Imaculada. Ao término da vida terrena, foi levada de corpo e alma para o céu”. É a única pessoa que a Igreja proclama que ressuscitou depois de Jesus. Os santos estão com suas almas no céu e os corpos ainda na terra. Maria, onde aparece, mostra sua feição conforme o lugar. Só pode fazer isso o corpo que ressuscitou, porque ele não está sujeito ao tempo nem ao espaço. Como Jesus, que apareceu aos discípulos no caminho de Emaús, e os discípulos não a reconheceram. Maria foi assunta ao céu para preparar o caminho de seus filhos.
No meio do Concílio, o Papa proclamou: “Mater Eclesi” (Mãe da Igreja). Assim como nós precisamos de uma mãe para nos gerar e criar, para nos dar o alimento, nós também precisamos de Maria como nossa Mãe no céu.
Transcrição e adaptação: Jakeline Megda D’Onofrio.
Data da Palestra: 16/05/15 
Fonte: Canção Nova 

10 de fev. de 2017

Batismo de bebês por imersão: Gloob-gloob de Jesus!




Tem gerado muito bafafá nas redes sociais os vídeos de padres mergulhando bebês inteiramente na água no momento do batismo. O mais curioso é que, pelo visto, a “moda” está pegando aqui no Brasil. Mas pode isso?
Sim, pode! A Igreja Católica admite o batismo de crianças e adultos dessa forma, por imersão. Porém, historicamente, esse rito é muito mais usado pelas igrejas católicas orientais sui iuris.
O Código de Direito Canônico diz:
“Cân. 854 – O batismo seja conferido por imersão ou por infusão, observando-se as prescrições da Conferência dos Bispos”.
Por sua vez, a CNBB diz que, no Brasil, o costume é batizar por infusão (jogando água sobre a cabeça); essa é a praxe. Porém, “permite-se o batismo por imersão, onde houver condições adequadas, a critério do Bispo Diocesano”.
Então, já sabemos que pode. Mas será que se deve batizar bebês, aqui no Brasil dessa maneira? É mesmo uma boa ideia? Bem, cada diocese tem sua própria realidade. Daí a importância do zelo e bom senso de cada bispo.
Mas, já que muitos de nossos leitores pediram a nossa opinião, eu – eu – acho que o batismo de adultos por imersão, por seu simbolismo forte e rico, pode muito bem ser aplicado para os adultos em nossas paróquias. Mas quanto aos bebês, a coisa não é tão simples assim. 
Por não estarem acostumadas com o rito do batismo por imersão, as famílias costumam ficar muito apreensivas ao ver seus bebês sendo mergulhados na água. É possível que alguns pais nem mesmo queiram que seus filhos sejam batizados assim. Sinceramente, é necessário expor os fiéis a esse tipo de tensão?
Outro problema é que, por não ser parte da nossa cultura, nem todo o padre tem a "manha" de afundar o bebê de forma causar a ele o mínimo desconforto possível. No vídeo abaixo, podemos ver o batismo de uma criança ortodoxa. O sacerdote faz tudo com tanta delicadeza que ninguém se mostra preocupado, e o bebê quase nem chora.
Nessa outra igreja ortodoxa, os padres se mostram muito habilidosos em um batismo coletivo, em que 500 bebês foram batizados:
Porém, um erro pode ser fatal. Apesar de raros, acidentes em batismos de bebês por imersão acontecem. Em 2010, um bebê morreu após ser submerso três vezes durante batismo, em uma igreja ortodoxa na Moldávia. Uma desgraça! 
Portanto, não dá para um padre do Rito Latino um dia acordar e , do nada, resolver fazer batismo de bebês por imersão. Ele precisa refletir se, do ponto de vista pastoral, essa novidade será realmente frutífera, e também precisa estar bem seguro do que está fazendo, para não haver acidentes nem pimpolhos traumatizados.


Via: http://ocatequista.com.br

Papa Francisco: Saúde é um direito, não existe apenas o dinheiro

10/02/2017




O Papa Francisco recebeu em audiência na manhã desta sexta-feira (10/02) no Vaticano, cerca de 300 participantes  no encontro promovido pela Comissão Caridade e Saúde da Conferência Episcopal Italiana (CEI), por ocasião dos 25 anos do Dia Mundial do Doente e os 20 do Secretariado Nacional para a pastoral da Saúde.
No seu discurso Francisco agradeceu ao Senhor pelos progressos feitos neste tempo em benefício de um tratamento integral dos doentes e pela  generosidade de tantos homens e mulheres que se têm dedicado aos doentes, tendo também observado que foi um tempo marcado por fortes mudanças sociais e culturais, pelo que hoje podemos constatar uma situação com luzes e sombras:
“Certamente, a pesquisa científica registou avanços  e estamos agradecidos pelos preciosos resultados obtidos para curar, se não mesmo derrotar, algumas patologias. Espero que o mesmo empenho seja assegurado para as doenças raras e negligenciadas, a que nem sempre é dada a devida atenção, com o risco de dar origem a ulteriores sofrimentos”.
E o Papa elogiou os muitos profissionais da saúde que, com conhecimento e consciência, vivem o seu trabalho como uma missão participando, assim, do amor efusivo de Deus Criador, e também os voluntários que, com generosidade e competência, tudo fazem para aliviar e humanizar os longos e difíceis dias de tantos doentes e idosos solitários, sobretudo pobres e indigentes.
Mas também o Papa Francisco falou de algumas sombras nos nossos dias que, disse, arriscam de agravar a experiência dos doentes tendo indicado o sector da saúde como aquele onde a cultura de descarte faz ver com evidência as suas dolorosas consequências:
“Quando a pessoa doente não é posta ao centro e considerada na sua dignidade, geram-se atitudes que podem levar até mesmo a especular sobre as desgraças dos outros. E isto é muito grave! Devemos ser vigilantes, sobretudo quando os pacientes são idosos com uma saúde muito comprometida, se estão a sofrer de doenças graves e onerosas para a sua cura ou são particularmente difíceis, como pacientes psiquiátricos”.
Em seguida Francisco observou que o modelo empresarial usado no âmbito da saúde não deve ser adoptado de forma indiscriminada, “optimizar os recursos significa utilizá-las de modo ético e na solidariedade, e não para penalizar os mais fracos”, disse o Papa, reafirmando que em primeiro lugar está a inviolável dignidade de cada pessoa humana do momento da sua concepção até ao seu último respiro.
A crescente pobreza dos serviços da saúde – reiterou ainda o Papa – particularmente entre as faixas mais pobres da população, devida, precisamente, à dificuldade de acesso às curas, não deixe ninguém indiferente e se multipliquem os esforços de todos, para que os direitos dos mais vulneráveis sejam tutelados.
E, citando S. João Paulo II, Francisco notou que entre as finalidades do Dia Mundial do Doente, para  além da promoção da cultura da vida, é também "envolver as dioceses, as comunidades cristãs e as famílias religiosas sobre a importância da pastoral da saúde, pois existem muitos doentes nos hospitais mas também nas casas, que vivem na solidão:
“Desejo que sejam visitados com frequência para que não se sintam excluídos da comunidade e possam experimentar a presença de Cristo na proximidade daqueles que os encontram (…). Infelizmente "a pior discriminação de que sofrem os pobres - e os doentes são pobres de saúde - é a falta de atenção espiritual”.
Os doentes são membros preciosos da Igreja. Com a graça de Deus e a intercessão de Maria, Saúde dos Enfermos, possam eles tornar-se fortes na fraqueza e “receber a graça de completar o que falta em nós dos sofrimentos de Cristo, em favor da Igreja seu corpo” – disse Francisco a concluir. (BS)

Rádio Vaticano 

Papa Francisco: na tentação não se dialoga, reza-se

10/02/2017



Na fraqueza das tentações, que “todos” nós temos, a graça de Jesus nos ajuda a não nos escondermos do Senhor, mas a pedir perdão para nos levantarmos e ir em frente. Foi o que disse o Papa Francisco na Missa da manhã desta sexta-feira na Casa Santa Marta, refletindo sobre o diabo que tenta seja Adão e Eva, seja Jesus. Mas, recorda o Pontífice, com o Diabo não se dialoga, porque você acaba em pecado e corrupção.
As tentações levam a se esconder do Senhor, permanecendo com a nossa “culpa”, com o nosso “pecado”, com a nossa “corrupção”. Partindo da primeira leitura de hoje do Livro do Gênesis, o Papa Francisco se detém sobre a tentação de Adão e Eva, e em seguida, sobre a de Jesus no deserto. É o diabo - explica - que “se mostra sob a forma de uma serpente”: é “atraente” e com a sua astúcia tenta “enganar”, é “especialista” nisto, é o “pai da mentira”, é um “mentiroso”. Sabe, portanto como enganar, como “trapacear” as pessoas. Fá-lo com Eva: a faz “se sentir bem”, diz o Papa, e assim começa o “diálogo” e “passo a passo” o diabo a leva onde ele quer.
Com Jesus é diferente, para o diabo “termina mal”, recorda Francisco. “Procura dialogar” com Cristo, porque “quando o diabo engana uma pessoa o faz com o diálogo”: tenta enganá-lo, mas Jesus não cede. Então o diabo se revela por aquilo que é, mas Jesus dá uma resposta “que não é sua”, é a da Palavra de Deus, porque “com o diabo não se pode dialogar”: acaba-se como Adão e Eva, “nus”:
“O diabo é um mau pagador, não paga bem! É um trapaceiro! Ele promete tudo e deixa você nu. Também Jesus acabou nu mas na cruz, por obediência ao Pai, outra estrada. A serpente, o diabo é inteligente: você não pode dialogar com o diabo. Todos nós sabemos o que são as tentações, todos nós sabemos, porque todos nós temos. Muitas tentações de vaidade, de orgulho, cobiça, avareza ... Tantas”.
Hoje, acrescentou o Papa, se fala muito de corrupção. Também por isso, se deve pedir ajuda ao Senhor:
“Muitos corruptos, existem muitas pessoas importantes corruptas no mundo, que conhecemos suas vidas através dos jornais. Talvez começaram com uma pequena coisa, não sei, não ajustando bem a balança e o que era um quilo façamos novecentos gramas, mas era um quilo! A corrupção começa de pequenas coisas como esta, com o diálogo: Não, não é verdade que esta fruta vai fazer mal a você! Coma! É boa! É pouca coisa, ninguém vai perceber! Faz, faz! E pouco a pouco cai-se no pecado, na corrupção.”
A Igreja nos ensina a “não sermos ingênuos”, a não sermos “tolos”, disse o Papa. Portanto, ter os “olhos abertos” e pedir ajuda a Deus “porque sozinhos não conseguimos”. Adão e Eva se escondem do Senhor, ao invés disso é preciso a graça de Jesus para “voltar e pedir perdão”:
“Na tentação não há diálogo, reza-se: Ajuda-me Senhor, sou fraco. Não quero me esconder de você. Isso é coragem, isso é vencer. Quando você começa a dialogar terminará vencido, derrotado. Que o Senhor nos dê a graça e nos sustente nesta coragem e se formos enganados pela nossa fraqueza na tentação que Ele nos dê a coragem de nos levantarmos e seguir em frente. Jesus veio para isso.” (BS/SP/MJ). 

Rádio Vaticano 

10 Fev Santa Escolástica – Fundadora da Ordem das Beneditinas

Mulher de muita intimidade com Deus. Doou, junto com seu irmão, toda sua vida pelas almas
Santa EscolásticaHoje, recordamos o testemunho daquela que foi irmã gêmea de São Bento, pai do monaquismo cristão. Ambos nasceram em 480, em Núrsia, região de Umbria, Itália.
Santa Escolástica começou a seguir Jesus muito cedo. Mulher de oração, ela sempre foi acompanhando o irmão por meio de intercessão. Depois, ao falecer seus pais, ela deu tudo aos pobres. Junto com uma criada, que era amiga de confiança e seguidora também de Cristo, foi ter com São Bento, que saiu da clausura para acolhê-la. Com alguns monges eles dialogaram e ela expressou o desejo de seguir Cristo através das regras beneditinas.
São Bento discerniu pela vocação ao ponto de passar a regra para sua irmã e ela tornou-se a fundadora do ramo feminino: as Beneditinas. Não demorou muito, muitas jovens começaram a seguir Cristo nos passos de São Bento e de Santa Escolástica.
Uma vez por ano, eles se encontravam dentro da propriedade do mosteiro. Certa vez, num último encontro, a santa, com sua intimidade com Deus, teve a revelação de que a sua partida estava próxima. Então, depois do diálogo e da partilha com seu irmão, ela pediu mais tempo para conversar sobre as realidades do céu e a vida dos bem-aventurados. Mas São Bento, que não sabia do que se tratava, por causa da regra disse não. Ela, então, inclinou a cabeça, fez uma oração silenciosa e o tempo, que estava tão bom, tornou-se uma tempestade. Eles ficaram presos no local e tiveram mais tempo.
A reação de São Bento foi de perguntar o que ela havia feito e desejar que Deus a perdoasse por aquilo. Santa Escolástica, na simplicidade e na alegria, disse-lhe: “Eu pedi para conversar, você não aceitou. Então, pedi para o Senhor e Ele me atendeu”.
Passados três dias, São Bento teve a visão de uma pomba que subia aos céus. Era o símbolo da partida de sua irmã. Não demorou muito, ele também faleceu.
Santa Escolástica, rogai por nós!
 Fonte: http://santo.cancaonova.com/

9 de fev. de 2017

Papa: sem a mulher não há harmonia no mundo

09/02/2017



Cidade do Vaticano (RV) – O Papa iniciou suas atividades nesta quinta-feira (09/02) celebrando a missa na capela da Casa Marta. “Sem a mulher não há harmonia no mundo”, disse o Papa na homilia, centralizada na figura da mulher a partir da Criação narrada no Livro do Gênesis.




O homem estava só, então o Senhor lhe tirou uma costela e fez a mulher, que o homem reconheceu como carne de sua carne. “Mas antes de vê-la – disse o Papa – a sonhou”: “para entender uma mulher é necessário antes sonhá-la”, explicou Francisco.
“Muitas vezes, quando nós falamos das mulheres falamos de modo funcional: “mas a mulher é para fazer isto, quando – ao invés – a mulher traz “uma riqueza que o homem e toda a criação e todos os animais não têm”: a mulher traz harmonia à Criação, somente com a mulher Adão podia ser uma única carne:
“Quando não há mulher, falta a harmonia. Nós dizemos, falando: mas esta é uma sociedade com uma forte atitude masculina, e isto, não? Falta a mulher. ‘Sim, sim: a mulher é para lavar a louça, para fazer…’ Não, não, não: a mulher é para trazer harmonia. Sem a mulher não há harmonia. Não são iguais, não são um superior ao outro: não. Só que o homem não traz harmonia: é ela. É ela que traz a harmonia, que nos ensina a acariciar, a amar com ternura e que faz do mundo uma coisa bela”.
A homilia de Francisco se desenvolveu em três temas: a solidão do homem, o sonho, porque não se entende uma mulher sem sonhá-la antes, e o terceiro, o destino dos dois: ser “uma só carne”. O Papa citou um exemplo concreto. Contou quando numa audiência, enquanto saudava as pessoas, perguntou a um casal que celebrava 60 anos de matrimônio: Qual de vocês teve mais paciência?”
“Eles que me olhavam, se olharam nos olhos, não me esqueço nunca daqueles olhos, hein? Depois voltaram e me disseram os dois juntos: Somos apaixonados! Depois de 60 anos, isto significa uma só carne. Isso é o que traz a mulher: a capacidade de se apaixonar. A harmonia ao mundo. Muitas vezes, ouvimos: Não, é necessário que nesta sociedade, nesta instituição, que aqui tenha uma mulher para que faça isso ou aquilo. Não, não! A funcionalidade não é o objetivo da mulher. É verdade que a mulher deve fazer coisas e faz coisas, como todos nós fazemos. O objetivo da mulher é criar harmonia e sem a mulher não há harmonia no mundo. Explorar as pessoas é um crime que lesa a humanidade: é verdade. Mas explorar uma mulher é algo ainda pior: é destruir a harmonia que Deus quis dar ao mundo. É destruir.”
Explorar uma mulher não é somente “um crime”, mas é “destruir a harmonia”, reiterou Francisco que fez referência também ao Evangelho de hoje onde se fala da mulher sírio-fenícia. E concluiu com uma observação pessoal:

“Este é o grande dom de Deus: nos deu a mulher. No Evangelho, ouvimos do que é capaz uma mulher, hein? Aquela é corajosa! Foi adiante com coragem. Mas é algo mais: a mulher é a harmonia, é a poesia, é a beleza. Sem ela o mundo não seria bonito, não seria harmônico. Gosto de pensar, mas isso é algo pessoal, que Deus criou a mulher para que todos nós tivéssemos uma mãe.”
(BF/MJ)

Rádio Vaticano 

Papa Francisco: Mensagem para a Quaresma 2017 - Texto integral

07/02/2017



Publicamos a seguir o texto integral da Mensagem do Santo Padre Francisco para a Quaresma 2017, sobre o tema "A Palavra é um dom. O outro é um dom":

Amados irmãos e irmãs!
A Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor. Jesus é o amigo fiel que nunca nos abandona, pois, mesmo quando pecamos, espera pacientemente pelo nosso regresso a Ele e, com esta espera, manifesta a sua vontade de perdão (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).
A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola. Na base de tudo isto, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). Deixemo-nos inspirar por esta página tão significativa, que nos dá a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão.
1. O outro é um dom
A parábola inicia com a apresentação dos dois personagens principais, mas quem aparece descrito de forma mais detalhada é o pobre: encontra-se numa condição desesperada e sem forças para se solevar, jaz à porta do rico na esperança de comer as migalhas que caem da mesa dele, tem o corpo coberto de chagas, que os cães vêm lamber (cf. vv. 20-21). Enfim, o quadro é sombrio, com o homem degradado e humilhado.
A cena revela-se ainda mais dramática, quando se considera que o pobre se chama Lázaro, um nome muito promissor pois significa, literalmente, «Deus ajuda». Não se trata duma pessoa anónima; antes, tem traços muito concretos e aparece como um indivíduo a quem podemos atribuir uma história pessoal. Enquanto Lázaro é como que invisível para o rico, a nossos olhos aparece como um ser conhecido e quase de família, torna-se um rosto; e, como tal, é um dom, uma riqueza inestimável, um ser querido, amado, recordado por Deus, apesar da sua condição concreta ser a duma escória humana (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).
Lázaro ensina-nos que o outro é um dom. A justa relação com as pessoas consiste em reconhecer, com gratidão, o seu valor. O próprio pobre à porta do rico não é um empecilho fastidioso, mas um apelo a converter-se e mudar de vida. O primeiro convite que nos faz esta parábola é o de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido. A Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós encontra-o no próprio caminho. Cada vida que se cruza connosco é um dom e merece aceitação, respeito, amor. A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil. Mas, para se poder fazer isto, é necessário tomar a sério também aquilo que o Evangelho nos revela a propósito do homem rico.
2. O pecado cega-nos
A parábola põe em evidência, sem piedade, as contradições em que vive o rico (cf. v. 19). Este personagem, ao contrário do pobre Lázaro, não tem um nome, é qualificado apenas como «rico». A sua opulência manifesta-se nas roupas, de um luxo exagerado, que usa. De facto, a púrpura era muito apreciada, mais do que a prata e o ouro, e por isso se reservava para os deuses (cf. Jr 10, 9) e os reis (cf. Jz 8, 26). O linho fino era um linho especial que ajudava a conferir à posição da pessoa um caráter quase sagrado. Assim, a riqueza deste homem é excessiva, inclusive porque exibida habitualmente: «Fazia todos os dias esplêndidos banquetes» (v. 19). Entrevê-se nele, dramaticamente, a corrupção do pecado, que se realiza em três momentos sucessivos: o amor ao dinheiro, a vaidade e a soberba (cf. Homilia na Santa Missa, 20 de setembro de 2013).
O apóstolo Paulo diz que «a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro» (1 Tm 6, 10). Esta é o motivo principal da corrupção e uma fonte de invejas, contendas e suspeitas. O dinheiro pode chegar a dominar-nos até ao ponto de se tornar um ídolo tirânico (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 55). Em vez de instrumento ao nosso dispor para fazer o bem e exercer a solidariedade com os outros, o dinheiro pode-nos subjugar, a nós e ao mundo inteiro, numa lógica egoísta que não deixa espaço ao amor e dificulta a paz.
Depois, a parábola mostra-nos que a ganância do rico fá-lo vaidoso. A sua personalidade vive de aparências, fazendo ver aos outros aquilo que se pode permitir. Mas a aparência serve de máscara para o seu vazio interior. A sua vida está prisioneira da exterioridade, da dimensão mais superficial e efémera da existência (cf. ibid., 62).
O degrau mais baixo desta deterioração moral é a soberba. O homem veste-se como se fosse um rei, simula a posição dum deus, esquecendo-se que é um simples mortal. Para o homem corrompido pelo amor das riquezas, nada mais existe além do próprio eu e, por isso, as pessoas que o rodeiam não caiem sob a alçada do seu olhar. Assim o fruto do apego ao dinheiro é uma espécie de cegueira: o rico não vê o pobre esfomeado, chagado e prostrado na sua humilhação.
Olhando para esta figura, compreende-se por que motivo o Evangelho é tão claro ao condenar o amor ao dinheiro: «Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Mt 6, 24).
3. A Palavra é um dom
O Evangelho do homem rico e do pobre Lázaro ajuda a prepararmo-nos bem para a Páscoa que se aproxima. A liturgia de Quarta-Feira de Cinzas convida-nos a viver uma experiência semelhante à que faz de forma tão dramática o rico. Quando impõe as cinzas sobre a cabeça, o sacerdote repete estas palavras: «Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás de voltar». De facto, tanto o rico como o pobre morrem, e a parte principal da parábola desenrola-se no Além. Dum momento para o outro, os dois personagens descobrem que nós «nada trouxemos ao mundo e nada podemos levar dele» (1 Tm 6, 7).
Também o nosso olhar se abre para o Além, onde o rico tece um longo diálogo com Abraão, a quem trata por «pai» (Lc 16, 24.27), dando mostras de fazer parte do povo de Deus. Este detalhe torna ainda mais contraditória a sua vida, porque até agora nada se disse da sua relação com Deus. Com efeito, na sua vida, não havia lugar para Deus, sendo ele mesmo o seu único deus.
Só no meio dos tormentos do Além é que o rico reconhece Lázaro e queria que o pobre aliviasse os seus sofrimentos com um pouco de água. Os gestos solicitados a Lázaro são semelhantes aos que o rico poderia ter feito, mas nunca fez. Abraão, porém, explica-lhe: «Recebeste os teus bens na vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és atormentado» (v. 25). No Além, restabelece-se uma certa equidade, e os males da vida são contrabalançados pelo bem.
Mas a parábola continua, apresentando uma mensagem para todos os cristãos. De facto o rico, que ainda tem irmãos vivos, pede a Abraão que mande Lázaro avisá-los; mas Abraão respondeu: «Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam» (v. 29). E, à sucessiva objeção do rico, acrescenta: «Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos» (v. 31).
Deste modo se patenteia o verdadeiro problema do rico: a raiz dos seus males é não dar ouvidos à Palavra de Deus; isto levou-o a deixar de amar a Deus e, consequentemente, a desprezar o próximo. A Palavra de Deus é uma força viva, capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa para Deus. Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão.
Amados irmãos e irmãs, a Quaresma é o tempo favorável para nos renovarmos, encontrando Cristo vivo na sua Palavra, nos Sacramentos e no próximo. O Senhor – que, nos quarenta dias passados no deserto, venceu as ciladas do Tentador – indica-nos o caminho a seguir. Que o Espírito Santo nos guie na realização dum verdadeiro caminho de conversão, para redescobrirmos o dom da Palavra de Deus, sermos purificados do pecado que nos cega e servirmos Cristo presente nos irmãos necessitados. Encorajo todos os fiéis a expressar esta renovação espiritual, inclusive participando nas Campanhas de Quaresma que muitos organismos eclesiais, em várias partes do mundo, promovem para fazer crescer a cultura do encontro na única família humana. Rezemos uns pelos outros para que, participando na vitória de Cristo, saibamos abrir as nossas portas ao frágil e ao pobre. Então poderemos viver e testemunhar em plenitude a alegria da Páscoa.
Vaticano, 18 de outubro de 2016.
Festa do Evangelista São Lucas
FRANCISCO

Rádio Vaticano 

9/2 – Santa Apolônia

Os seis anos, de 243 a 249, durante os quais Filipe, o árabe, governou o império, houve uma trégua nas perseguições ao cristianismo. No último ano aconteceu, conforme podemos ver em uma carta de Dionísio de Alexandria do Egito, um episódio que comprova não estarem os cristãos sendo perseguidos. Um charlatão alexandrino, adivinho e mau poeta, excitou a população contra os cristãos. Houve flagelação e lapidação. Conclui-se que não havia perseguição. Uma virgem de nome Apolônia, antes de ser queimada viva, foi atormentada de várias maneiras. Conta Dionísio: “Todos se lançam sobre as casas dos cristãos, cada um nas casas de vizinhos e conhecidos, depredam e devastam, levam objetivos preciosos e jogam fora o que não presta. É como uma cidade saqueada pelo inimigo. Os pagãos pegaram uma virgem, Apolônia, já idosa. Cortaram-lhe os seios e arrancaram-lhe os dentes.
Depois fizeram uma fogueira e ameaçaram jogá-la, caso não blasfemasse. Ela pediu-lhes que a deixassem livre por um instante. Soltaram-na e ela correu sozinha para a fogueira.” Essa atitude tem suscitado polêmicas, pois é um aparente suicídio. Santo Agostinho fala no livro “A cidade de Deus”, mas não toma posição. Apolônia já tinha 40 anos, quando sofreu o martírio, e seu culto logo se espalhou no Oriente e no Ocidente. Em várias cidades europeias surgiram igrejas a ela dedicadas. Em Roma erigiram-lhe uma igreja, junto a santa Maria in Trastevere, hoje desaparecida. Sobre sua vida, de que não possuímos outras notícias, conta-se a incrível história de uma jovem convertida ao cristianismo, cujo pai era pagão e que este a teria matado. Mas além das lendas fica o exemplo de generosa oferta a Cristo feito por essa virgem que é invocada, nas dores de dente. É bastante popular.

Cléofas 

8 de fev. de 2017

Papa convidou a rezar a Santa Bakhita pelos migrantes e pelos rohingya

08/02/2017




A data de 8 de Fevereiro foi escolhida precisamente porque recorda Santa Bakita, nascida no Sudão em 1869, raptada aos sete anos de idade e vendida várias vezes como escrava, nessas formas antigas de escravatura, talvez não suficientemente estudada e combatida, havendo hoje no mundo novas formas de escravatura. Depois da sua libertação Bakhita entrou na Congregação das Filhas da Caridade e foi canonizada pelo Papa João Paulo II no ano 2000. É, portanto, de algum modo, um símbolo da libertação da escravatura e do encontro com Cristo no nosso caminho, caminho a que muitas pessoas procuram levar hoje as pessoas apanhadas pela armadilha do tráfico humano. A irmã Mónica Chikwe da Nigériapaís bastante afectado por esses tráficos, é uma delas, como explica a colega Bianca Fraccalvieri na peça.
Papa recorda Dia Mundial de Oração contra o tráfico humano
No final da audiência de hoje, o Papa recordou este dia de oração e encorajou quantos se dedicam de modo particular a ajudar os menores escravizados e abusados a libertar dessa opressão. O Papa exprimiu também o desejo de que os governantes combatam decididamente esta praga dando voz – disse – “aos nossos irmãos mais pequenos, humilhados na sua dignidade". É preciso fazer todos os esforços para debelar este crime vergonhoso e intolerável, rematou o Papa recordando que Bakita, escravizada, explorada, humilhada, não perdeu a esperança. Levou avante a sua fé até chegar à Europa como migrante e ali sentiu a chamada do Senhor. Francisco pediu que rezemos a Santa Bakita para todos os migrantes e refugiados que sofrem muito, muito. E nesta senda pediu orações de modo particular pelos Rohinya, gente boa pacífica, não cristãos, mas nossos irmãos e irmãs, mandados embora da sua terra o Myanmar e que vão de um lado para outro, porque ninguém os quer aceitar. Foram torturados, mortos, simplesmente porque levam avante as suas tradições, a sua fé muçulmana. Rezemos por eles - concluiu o Papa 
Mártir japonês beatificado 
Ainda depois da audiência de hoje, o Papa recordou que ontem, em Osaka, no Japão, foi proclamado Bem-aventurado Justo Takayama Ukon, fiel leigo japonês, morto martirizado em Manila em 1615.
“Em vez de descer a pacto, renunciou a honras e a uma vida regalada, aceitando a humilhação e o exílio. Permaneceu fiel a Cristo e ao Evangelho; por isso representa um admirável exemplo de fortaleza na fé e de dedicação na caridade” – disse Francisco.
Dia Mundial dos Doentes
O Papa sublinhou ainda que sábado próximo 11 de Fevereiro ocorre a 25ª Jornada Mundial do Doente. “A celebração principal – disse – terá lugar em Lourdes e será  presidida pelo Cardeal Secretário de Estado. Convido a rezar , por intercepção da nossa Santa Mãe, por todos os doentes, especialmente pelos mais graves e mais sós, e também por todos aqueles que cuidam deles” 
(DA)

Rádio Vaticano 

Papa - Esperança tem uma dimensão individual, comunitária e eclesial

08/02/2017 


Na sua catequese semanal desta quarta-feira, 8 de Fevereiro, o Papa Francisco partiu da passagem bíblica da primeira carta de São Paulo aos Tessalonicenses para mostrar que a esperança cristã não tem apenas uma valência pessoal, como também comunitário e  eclesial. “Todos nós esperamos. Todos nós temos esperança, mas também comunitariamente”. Oiça a síntese desta catequese que, durante a audiência, foi feita em português para os peregrinos lusófonos:
Não se aprende, sozinho, a esperar. Não é possível. A esperança, para se alimentar, precisa dum «corpo», no qual os vários membros se apoiem e animem mutuamente. Isto significa que esperamos, porque muitos irmãos e irmãs nos ensinaram a esperar e mantiveram viva a nossa esperança. A morada natural da esperança é um «corpo» solidário; no caso da esperança cristã, este corpo é a Igreja. Nela, os primeiros chamados a alimentar a esperança são aqueles a quem está confiado o cuidado e a orientação pastoral; e não por serem melhores do que os outros, mas em virtude dum ministério divino, que supera de longe as suas próprias forças. Por isso têm tanta necessidade do apoio orante, do respeito e compreensão de todos. Depois dos responsáveis, o apóstolo Paulo pede a nossa atenção aos irmãos e irmãs cuja esperança corre maior risco de apagar-se: os desanimados, os frágeis, os oprimidos pelo peso da vida e das próprias culpas que estão sem forças para se levantar. Nestes casos, a proximidade solidária da Igreja deve fazer-se ainda mais intensa e amorosa, sob as formas de compaixão, conforto e consolação. Como escreve Paulo aos Romanos, «nós, os fortes, temos o dever de carregar com as fraquezas dos que são frágeis e não procurar aquilo que nos agrada». Este dever não está circunscrito aos membros da comunidade eclesial, mas estende-se a todo o contexto civil e social como apelo a não criar muros mas pontes, a não pagar o mal com o mal mas vencer o mal com o bem, a ofensa com o perdão, a viver em paz com todos. Esta é a Igreja; e isto é o que realiza a esperança cristã, quando assume os lineamentos fortes e, ao mesmo tempo, ternos do amor. Ora o sopro vital, a alma desta esperança é o Espírito Santo; é Ele a moldar as nossas comunidades, num Pentecostes perene, como sinais vivos de esperança para a família humana”.
Depois o Para dirigiu em italiano uma saudação aos peregrinos de língua portuguesa…
 “Carissimi pellegrini di lingua portoghese, benvenuti! Quando Dio aveva stabilito di venire sulla terra, Glielo ha consentito il «sì» della Vergine Immacolata. Ella ha vissuto come tutte le donne del suo tempo; ma, nella propria vita semplice di ogni dì, diede libero transito a Dio. Fate come Maria: date a Dio libero transito nella vostra vita, e sarete benedetti!
(DA)

Rádio Vaticano 

7 de fev. de 2017

Creio na Ressurreição da Carne: Introdução à Teologia do Corpo (Prólogo)

O início de uma série de artigos iluminadores para aprofundar em um dos elementos constitutivos mais fascinantes da natureza humana.



Entre 1979 e 1984, ao longo de muitas quartas-feiras, o amado Papa São João Paulo II dedicou-se a um belíssimo projeto: esclarecer aos fiéis e ao mundo, solidamente e em definitivo, qual é realmente a doutrina católica a respeito do corpo e da sexualidade do ser humano. Para isso, fundamentou-se nas Escrituras e em toda a Tradição Apostólica e dos Padres da Igreja, desde o cristianismo primitivo. Foram mais de uma centena de catequeses, nas quais tratou do assunto em profundidade, com brilhantismo e admirável rigor filosófico e teológico. A presente série de artigos oferecerá uma introdução a estas catequeses, que foram publicadas sob o título de Teologia do Corpo.

Prólogo para uma introdução à Teologia do Corpo
Antes mesmo de tocarmos nos conceitos específicos do projeto teológico de São João Paulo II, para “preparar o terreno”, é conveniente expor um pouco da intrínseca e inevitável relação de toda autêntica teologia católica com a realidade do corpo.
Após a Anunciação, o Espírito Santo gerou o Filho no ventre de Maria, a Santíssima Virgem. Jesus Cristo é Deus encarnado. Sua missão espiritual é marcada por uma forte corporeidade. Contemplemos a Paixão de Cristo: a agonia no Horto das Oliveiras, a flagelação, a coroa de espinhos, o carregamento da Cruz, a crucifixão, a lança que faz jorrar sangue e água de seu flanco, e também a Sua Ressurreição: “Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai-me e vede, porque um espírito não tem carne nem ossos, como estais vendo que eu tenho” (Lc 24,39).
Cristo, em sua missão, era um Sacramento Vivo. Pensemos na mulher hemorroíssa, que curou-se ao tocar somente as vestes de Jesus… Um pedaço de tecido, que protegia o Corpo de Deus. Tantos milagres similares relatados na vida dos Santos – pelas luvas que cobriam as chagas de Padre Pio, pelo lenço com o qual o mesmo enxugava as lágrimas que derramava na Celebração Eucarística. Pois Cristo, Ressuscitado, permanece Vivo na realidade sacramental de sua Igreja, Seu Corpo Místico. Pois Cristo Se doa inteiramente, até o fim dos tempos, em Espírito e em Corpo, à Igreja, Sua Esposa. Apenas aguardando nossa inteira doação, como membros da Igreja, para nos cumular de graças, e tornar-nos participantes de Sua Encarnação, Paixão, e Gloriosa Ressurreição.

Nós, católicos, não somos espiritualistas.
Quem quer que pense o oposto, dentro ou fora da Igreja, pensa em território longínquo ao depósito da fé cristã, e, sabendo ou não, foi fisgado pelas heresias gnósticas, que consideram o corpo e a matéria como essencialmente maus, e o espírito, exclusivamente, como bom. Não há nada mais distante da fé católica do que a consideração do corpo como mau. Pois, antes de mais nada, não é o corpo que peca, como alguns podem pensar; mas o espírito decaído.
Os animais de outras espécies, que não têm alma nem liberdade, não pecam. Mas os demônios, seres espirituais, pecam a todo instante. Nós, seres humanos, é por termos alma e sermos livres que podemos pecar, e cair na escravidão. Somos livres para sustentar nossa liberdade; ou para abrir mão dela, trocando nosso direito de primogenitura por um prato de lentilhas (Gn 25, 34). A queda da alma humana, no Pecado Original, assim como todo pecado atual, é o que tira de nós a essencial integração de nossos corpos e almas, e instaura em cada homem um conflito entre os impulsos da carne, e uma alma a estes sujeitada – ferida, desorientada, resistente ao Espírito.
Não somos espiritualistas, e, portanto, para sermos autenticamente católicos, precisamos rejeitar toda sorte de gnosticismo. Certamente, como veremos melhor nos próximos artigos, nós desejamos a “vida conforme o Espírito”, e não conforme à carne. Mas isso não quer dizer que gostaríamos de nos desfazer de nossos corpos, para uma afirmação exclusiva de nossos espíritos. Ao contrário, significa que queremos precisamente a espiritualização dos nossos corpos enquanto tais. E isto “significa não somente que o espírito dominará o corpo, mas, diria, que ele penetrará inteiramente no corpo, e que as forças do espírito penetrarão nas energias do corpo” (Teologia do Corpo, 67,1).
Como disse São Paulo aos Coríntios: “Sim, nós que moramos na tenda do corpo estamos oprimidos e gememos, porque, na verdade, não queremos ser despojados, mas queremos ser revestidos, de modo que o que é mortal, em nós, seja absorvido pela vida.” (2 Cor 5,4).
Queremos um corpo espiritualizado, repleto e pleno da Presença, da Graça e da Glória do Espírito Santo, do Deus Vivo, fonte e origem de toda a vida. “Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora ansioso vos busco! A minh’alma tem sede de vós, minha carne também vos deseja, como terra sedenta e sem água!” (Sl 62,2). Que mais é o próprio Corpo de Cristo, Deus feito Homem, que contemplamos com imensa adoração, e que recebemos em nossos corpos e almas no Santíssimo e Diviníssimo Sacramento da Eucaristia? Um Corpo pleno do Espírito, consubstancial ao Pai, que Se entregou e Se entrega por nós, e que nos revelou o Caminho, que é Ele mesmo: peguemos nossa cruz e O sigamos; entreguemo-nos em sacrifício por Deus e pelo próximo; pois esse é o Caminho da Vida e, com a Vida, o fardo será leve, o jugo será suave. Essa é a realidade fundamental na qual tocou todo mártir, e todo cristão autêntico, alimentado do viço do martírio, pela fé viva e pela graça do Espírito Santo: é melhor morrer pela Vida, sacrificar-se para ganhá-La, do que viver pela morte.
Quando vivemos a eficácia Eucarística da Igreja de Cristo, imediatamente mostra-se sem sentido, por exemplo, uma doutrina luterana como a da sola fides, pois, como poderia bastar uma fé em Cristo que se dissociasse da totalidade da Sua Revelação? Não seria completa fé. Pois a Revelação inclui a entrega sacramental do Seu Corpo e do Seu Sangue, os quais, pela fé católica, desejamos mais que tudo, e os quais, pelo Santíssimo Sacramento, efetivamente temos.
Não porque pedimos demais de Cristo, mas porque Ele mesmo quis e quer que comamos do Seu Corpo e que bebamos do Seu Sangue, conforme o sacramento que instituiu com seus apóstolos na noite de Sua Paixão, para que o repetíssemos até o fim dos tempos. Portanto, se temos a fé, somos obedientes a Cristo, cremos Nele e também em tudo o que Ele disse, sem nenhuma exceção: “Pois minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida.” (Jo 6,55). Isto disse Cristo, para que ninguém depois pudesse dizer que tudo não passou de uma metáfora. Na Santa Missa, oramos, mas também pedimos a Jesus, como Ele mesmo, Ressuscitado, pediu aos apóstolos: “Tendes aqui alguma coisa para comer?”. Sim, a Eucaristia, Corpo e Sangue de Cristo, é o maná que chove dos céus todos os dias para a sobrevivência e salvação da humanidade no exílio deste mundo desertificado pelo pecado. “O Senhor disse a Moisés: ‘Vou fazer chover pão do alto do céu. Sairá o povo e colherá diariamente a porção de cada dia. Pô-lo-ei desse modo à prova, para ver se andará ou não segundo minhas ordens.” (Ex 16,4). Éramos mendigos espirituais, nus, famintos e sedentos, e prisioneiros do pecado; o Verbo de Deus nos visitou, para nos libertar; Jesus veio para nos dar, eternamente, de comer e de beber, e para nos vestir. Ele apenas espera que consintamos com a salvação, que O procuremos, pois Ele jamais nos forçaria a comer, a beber, jamais nos vestiria à força. É preciso abrir a boca, levantar os braços, acolher as ordens salvíficas de Nosso Senhor.
A mentalidade esotérica da “Nova Era”, por exemplo, poderá pensar a frase em que falamos de um “corpo espiritualizado”, como referindo-se a um corpo que de alguma maneira é mais espírito que corpo, um corpo semi-descorporificado. Mas nós não falamos disso. Falamos de um corpo que é plenamente vivo enquanto corpo, presente, sólido, fértil, cheio da unção divina, e que de Deus pode receber e acolher a graça para realizar livremente os Seus mandamentos, que mantêm e sustentam, no interior do corpo e da alma, a vida plena. Se queremos um corpo espiritualizado, queremos na mesma medida um espírito corporificado. Tal é a unidade vital gradualmente acessível ao cristão católico conforme os avanços de sua busca pela santidade.
As quedas, os desvios, os pecados, necessariamente rompem tal unidade, e nos deixam sentir novamente o gosto amargo da miserável separação entre o homem e seu Criador. Deus permite tais quedas, não poucas vezes, para que voltemos com maior sede à nossa busca pela Comunhão, e também para que percebamos que a santificação somente é possível pela graça do Espírito, como dom Divino, de modo algum resultado exclusivo de nossos próprios esforços. Em nossos esforços próprios, infelizmente, estamos mais acostumados e inclinados ao egoísmo e ao pecado como regra, que à firme perseverança no estado de graça. Neste último estado, quando o sustentamos, o frescor e a alegria da fé, pela nossa maior conformação ao Cristo, faz manifestar a vida vigorosamente dentro de nós, e ao nosso imediato redor. Então, como é grande o desejo de sustentar tal estado! Pois, pelo pecado, tornamo-nos fracos, quando não obstinadamente egoístas, incapazes do amor-caridade, da entrega e do sacrifício pelo próximo, pela vida e por Cristo. Deus, em seu plano salvífico, quer nos restabelecer tal capacidade. Reconhecendo-nos pecadores, tornamo-nos sedentos pela Vida que é dom de Deus, queremos-na de novo em nossos corpos – sim – mas não conforme à carne: conforme o Espírito, unção vital e  “alegria dos anjos”, provinda de Deus Criador.
A fé solicita uma entrega a Deus que é tão espiritual quanto corpórea, em igual intensidade: a necessidade de vincular profundamente a fé com as obras (Tg 2,17). A isto veremos em detalhes nos próximos artigos. Aqui, basta dizer, ecoando a Teologia do Corpo, que a realização vocacional do ser humano, conforme pensada por Deus desde o princípio para todos e cada um de nós, concretiza-se somente com uma doação integral de si que abrange os dois aspectos do ser indissociavelmente, a alma e o corpo, tanto na reciprocidade conjugal do matrimônio, na complementaridade sexual, ser-para o marido ou a esposa, quanto no celibato voluntário “por amor ao Reino dos Céus”, ser-para Cristo, em serviço à comunidade como membro da Igreja, Sua Esposa.

Jesus Cristo: transcendente e imanente.
O cristianismo autêntico não apenas não nega o corpo, a sexualidade e a dimensão sensível da existência, como também se situa radicalmente fora do dualismo platônico. Este coloca a verdade transcendente como radicalmente separada da dimensão corpórea ou sensível, imanente, e, mais do que isso, como estando estas duas dimensões em um conflito intransponível. A verdade, transcendente, seria passível de ser intuída e tocada somente por nossas almas, alcançada apenas na proporção em que se conseguisse, o máximo possível, desvencilhar-se do corpo e da dimensão sensível, fontes de engano. Tal incorreção filosófica – contida também no gnosticismo – aparece e reaparece em diversas heresias, sob diversos nomes, ao longo da história da Igreja.
É quase uma unanimidade entre as heresias, por mais distintas que pareçam, uma dificuldade em aceitar uma realidade básica e essencial do cristianismo autêntico: o fato de que Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Cristo é Homem sem deixar de ser Deus, e é Deus sem deixar de ser Homem. Nós, de fé católica, adoramos a Humanidade de Cristo, não apenas a sua Divindade, pois adoramos o Cristo inteiro. Tal perfeita Humanidade, que em tudo foi igual à nossa com a exceção do pecado, foi o instrumento de Deus para a nossa salvação. A dificuldade em aceitar esta verdade fundamental da fé cristã aparece, inclusive, na base de todo o protestantismo. O problema é que tal verdade é exatamente aquela através da qual se dá a nossa Salvação: a ponte criada entre a transcendência e a imanência, entre o divino e o humano, ponte que segue, construída e aberta, dentro de toda grande basílica, e de toda pequena paróquia, concretamente presente dentro de todo sacrário; a gloriosa Comunhão do divino com o humano, à qual somos convidados por Cristo. E essa ponte já era mantida desde muito antes da construção do primeiro templo católico, é claro, quando os apóstolos, com a comunidade cristã primitiva, celebravam a Eucaristia após a ascensão de Cristo, ainda que isso fosse feito numa pequena casa, escondida da perseguição dos judeus e dos romanos.
“Se os homens conhecessem o valor da Santa Missa, a polícia teria que estar sempre às portas das igrejas para manter a ordem por causa da grande quantidade de pessoas que a assistiriam”. Qual a razão de tal frase, do nosso amado São Pio de Pietrelcina? Basta imaginar como seria a frequência nas igrejas, diariamente, se toda a humanidade subitamente soubesse, reconhecesse, se desse conta de que na Eucaristia nós recebemos o Corpo e o Sangue de Deus literalmente, em nossas almas, para nelas operar Suas graças…

Deus tem um Nome e é o Senhor da História.
Também é digno de nota, aqui, o fato de que em outras tradições religiosas e místicas, costuma-se buscar, através de um esforço do ser humano para desligar-se das “distrações” sensíveis – isto é, tudo o que é sensível sendo visto como obstáculo -, uma unidade puramente espiritual com a divindade (anônima) que descansaria dentro de cada um, em que o homem poderia dizer à divindade, “eu = tu”. Na tradição judaico-cristã, por sua vez, é o próprio Deus que procura o homem, lá onde ele está, e faz sua Aliança com ele, revelando seu Santo Nome ao ser humano, a começar pelas revelações veterotestamentárias: “Moisés disse a Deus: ‘Quando eu for para junto dos israelitas e lhes disser que o Deus de seus pais me enviou a eles, que lhes responderei se me perguntarem qual é o seu nome?’ Deus respondeu a Moisés: ‘EU SOU AQUELE QUE SOU’. E ajuntou: ‘Eis como responderás aos israelitas: (Aquele que se chama) EU SOU envia-me junto de vós.’ (Ex 3,13-14).
Deus nos criou, temos o Seu Espírito em nós, mas Deus é também o totalmente Outro por excelência, é o Todo-Poderoso, Inefável, Criador do céu e da terra. Revela-Se na imanência e na História, mas permanece transcendente e Eterno. Diz o salmista: “O Senhor, do alto do céu, observa os filhos dos homens, para ver se, acaso, existe alguém sensato que busque a Deus.” (Sl 13,2). O Criador nos busca e entra em relação conosco, pede que percebamos Seus sinais, que atendamos aos Seus chamados, faz-Se encontrar por nós, quer que entremos em relação com Ele, pela oração, e que O acolhamos em nossos corações; Tu + eu; Tu + cada um de nós.
Deus apresenta-Se ao homem numa relação face a face, digamos, corpo a corpo. Quando isso acontece, Ele não apaga a subjetividade do homem, mas, pelo contrário, concretiza-a, revela-a, dá ao homem seu verdadeiro nome; e a Seu Nome, que é Santo, revela-O, mas ao mesmo tempo guarda-O na eternidade do seu mistério. Assim é Deus: revela-Se a nós, mas permanece sendo o Inefável, o Inexprimível. Inesquecível a passagem do Livro do Gênesis em que Jacó, no deserto, luta com um homem que em seguida revela-Se como sendo o próprio Deus, que ganha corporeidade e toca em Jacó. “‘Teu nome não será mais Jacó, retomou ele, mas Israel, porque lutaste com Deus e com os homens, e venceste.’ Jacó perguntou-lhe: ‘Peço-te que me digas qual é o teu nome.’ ‘Por que me perguntas o meu nome?’, respondeu ele. E abençoou-o no mesmo lugar. Jacó chamou àquele lugar Fanuel: ‘porque, disse ele, eu vi a Deus face a face, e conservei a vida’.” (Gn 32, 28-30).
Com isso, podemos compreender o caráter não-espiritualista da fé no Deus que se revela nas Sagradas Escrituras. A esse respeito, diz o Cardeal Ratzinger: “Na mística, vale o primado da interioridade, absolutizando-se, assim, a experiência espiritual. Isso implica que Deus seja totalmente passivo em relação aos homens e que o conteúdo da religião só pode ser a submersão do homem em Deus. Não há nenhum ato de Deus, mas somente a ‘mística’ do homem, o caminho gradativo para a união. O caminho monoteísta parte de uma consideração oposta: aqui, o homem é passivo, o que atua nele é Deus; aqui, o homem nada pode por si mesmo, mas, em contrapartida, há uma ação de Deus, um chamado de Deus, a salvação abrindo-se para o homem na obediência a esse chamado”. Estamos falando de um Deus em ação, que nos procura. “Deus procura o homem no meio do mundo e das atividades mundanas e terrenas, vai atrás do homem, entra em relação com ele. Poder-se-ia dizer: a ‘mística’ da Bíblia não é uma mística pictórica, mas verbal, sua revelação não é exibição do homem, mas palavra e ação de Deus. Não é primariamente a descoberta de uma verdade, mas ato do próprio Deus que age na história. O seu sentido não é que a realidade divina se torna visível, mas fazer o receptor da revelação portador da mensagem divina. Pois aqui, em contraposição à mística, Deus é o que atua, e é Ele quem cria a salvação para o homem”.
Todo o espírito heroico dos Santos, todo o seu poder espiritual – como o de Maria, a Torre de Marfim, Senhora do Universo e de toda a Criação, que esmaga as heresias e o demônio – advém de uma total e irrestrita obediência a Deus e Suas ações. “Eis aqui a serva do Senhor”… Deus faz maravilhas em quem o serve; em quem mostra a Ele, com docilidade, sua pequenez.
Deus, que havia revelado o Seu Nome, EU SOU, e inspirado os patriarcas e os profetas, encarnou-Se como Jesus Cristo, a Palavra, o Logos de Deus. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1,1). “E o Verbo se fez carne”… Deus ganhou um Rosto, um Corpo, revelou-Se como Verdade, deixando-nos conhecer Seu projeto salvífico para a humanidade. O que podemos fazer para sermos salvos é ajoelhar em humildade diante Dele, Revelado e Ressuscitado, e orarmos em súplica: Meu Senhor… Pois Jesus Cristo é, efetivamente, o Senhor do Céu e da Terra. Somos seus servos, e que alegria, que plenitude, encontramos em servi-Lo! “Ao simples ecoar / do vosso nome eterno, / joelhos vão dobrando / o céu, a terra, o inferno”.
Na oração, diante de Deus, de Cristo Ressuscitado, descobrimos a nós mesmos, alma e corpo. “Ninguém sabe o que é seu corpo até que tenha orado. É no exercício dessa grande função respiratória (Pneuma-Espírito), que é a oração, que nós tomamos consciência de nosso corpo, que o ‘enchemos’ verdadeiramente. A oração é mesmo a função última do corpo, sua função mais perfeita, sua grande função biológica, pois a rigor não existe vida (bios) a não ser pelo Verbo (Logos) e pelo Espírito. Além de todas as suas funções biológicas, no sentido mais comum, o corpo só se realiza na função orante, inaugurada no tempo e levada à perfeição no universo escatológico da ressurreição. A posição que nosso corpo assume na oração, ‘esquema’ tão importante na iconografia cristã primitiva, antecipa e prepara sua forma definitiva de ressuscitado” (François Cassingena-Trevedy).

“Quem diz que o Verbo de Deus não veio na carne é o Anticristo”.
Em homilia feita no dia 16/09/2016, o Papa Francisco falou a respeito da “lógica da fé Cristã” – a maneira fundamental de pensar que nasce do verdadeiro assentimento à verdade revelada – que ele descreve como sendo a “lógica do dia de depois de amanhã”, que olha para a ressurreição do corpo.
“É fácil para todos nós”, disse o Santo Padre, “entrar na lógica do passado, porque é concreta”, e é também “fácil entrar na lógica do aqui-e-agora, porque nós o vemos”. Quando, no entanto, olhamos para o futuro, então pensamos que “é melhor não pensar”, ou caímos na tentação de não pensar no futuro até o fim. “A lógica do dia depois de amanhã, esta é difícil. (…) A ressurreição: Cristo ressuscitou (…) e está claro que Ele não ressuscitou como um espírito. Na passagem em Lucas sobre a ressurreição: ‘Mas me toquem’. Um espírito não tem carne, não tem ossos. ‘Toquem-me, me deem de comer’. A lógica do dia depois de amanhã é a lógica na qual entramos na [ressurreição da] carne”.
“Nós traímos um certo gnosticismo, e pensamos que tudo será espiritual, porque temos medo da carne”. O Papa clama aos cristãos que digam “não” a uma piedade espiritualista, e entrem na lógica da carne de Cristo. Não esqueçam, diz ele, “que esta foi a primeira heresia” que o apóstolo João condena: “Quem diz que o Verbo de Deus não veio na carne é o Anticristo”.
“Nós temos medo de aceitar e sustentar as últimas consequências da carne de Cristo. Uma piedade espiritualista é mais fácil, um pietismo sutil; mas entrar na lógica da carne de Cristo, isso é difícil. E esta é a lógica do dia de depois de amanhã. Nós vamos ressuscitar como Cristo, com nossa carne”.
O Papa já havia clamado aos cristãos, em outra ocasião, que não apenas dessem esmolas aos pobres, aos miseráveis necessitados, jogando para eles algumas moedas rapidamente para livrar-se deles, mas que não tivessem medo de tocá-los. “Quantas vezes encontramos um pobre e, mesmo sendo generosos e sentindo compaixão, não o tocamos. Oferecemos uma moeda, mas evitamos tocar sua mão. Esquecemos que aquele é o corpo de Cristo! Jesus nos ensina a não ter medo de tocar o pobre e o excluído, porque Ele está neles. Tocar o pobre pode nos purificar da hipocrisia”.
A humanidade de Deus, em Cristo, revela-nos de uma vez por todas que “O corpo, de fato, e só ele, é capaz de tornar visível o que é invisível: o espiritual e o divino. Foi criado para transferir para a realidade visível do mundo o mistério oculto desde a eternidade em Deus, e assim ser sinal d’Ele” (Teologia do Corpo 19,4). Adoramos o Corpo de Cristo e o Seu Sagrado Coração, “tabernáculo do Altíssimo”. Adoramos a Cruz e as imagens de Cristo, pois são sinal do mistério da verdadeira encarnação de Deus. Veneramos as imagens da Virgem Maria e dos Santos, pois nos remetem aos protótipos, que, efetivamente, viveram e pisaram esta terra, e trouxeram (continuam trazendo) à nossa realidade material e sensível – após todo pecado, terra de exílio – a plenitude da Divindade. Quando se beija a mão de um padre, está-se prestando respeito à autoridade espiritual conferida por Cristo aos seus apóstolos, para ministrar o caminho da salvação na economia sacramental da Igreja.
São Pio de Pietrelcina, o mais extraordinário místico católico do século XX, teve os estigmas de Cristo em suas mãos, pés e na lateral do tórax por 50 anos. É assim a vida dos maiores místicos cristãos da nossa história: eles têm o seu coração transverberado, as feridas de Cristo revividas em seu próprio corpo, e a mais imensa capacidade de amar, face a face, corpo a corpo. “Agora eu me alegro nos sofrimentos por vós e completo em minha carne o que resta das aflições do Cristo em favor de seu corpo, que é a Igreja”, diz o inspirado Apóstolo Paulo (Cl 1, 24).

Ética e espiritualidade.
Uma outra ligação entre o corpo e o espírito na fé cristã, já presente em toda a tradição veterotestamentária, vem da total indissociabilidade da espiritualidade com a ética e a moral.
A sociedade contemporânea, amplamente mundana e antieclesial, está sendo “educada” para rejeitar a moral judaico-cristã, e a divulgar uma vaga “espiritualidade” dissociada de toda “religião”, a partir dos enganosos imperativos do poder global contemporâneo, que se serve também das ideologias revolucionárias-totalitárias de viés marxista, para impor globalmente uma mudança de consciência que favoreça a aceitação de suas pautas mais caras, como o controle populacional e, para isso, a legalização do aborto e da eutanásia, o “casamento” gay, a ideologia de gênero etc. – em suma, a descaracterização da família, do casamento e da sexualidade como instituições naturais. Sobre isso, no livro “Poder Global e Religião Universal”, Mons. Juan Claudio Sanahuja mostra como, hoje, quer-se estabelecer uma “religião” universal sem dogmas nem hierarquias, mais de acordo com o projeto de poder totalitário que está em curso, através de uma tentativa de neutralização e esvaziamento do conteúdo da Revelação Divina tal como anunciada e protegida pela Igreja há dois milênios. A tradição judaico-cristã, com sua defesa da dignidade irredutível de toda vida humana (da concepção até a morte), e de outros valores fundamentais para a salvaguarda da mesma em sua realização plena, é (e permanecerá sendo) obstáculo para a revolução antinatural do mundo.
No ambiente secular, em que se dissemina a desinformação e a confusão – além da obstinação ideológica – muitos passam a rejeitar a Igreja como sendo uma instituição “antiquada”, e a apostar em práticas “espirituais” inteiramente dissociadas de qualquer código ético e moral claro. Quer-se religiões, seitas ou práticas em cujas atividades a pessoa possa ter algum “bem-estar”, sentir-se “espiritualizada”, ou então obter realizações pessoais (em geral, de cunho material), mas que possa seguir vivendo como “quiser”, determinando suas próprias regras de ação e relação, sem ser “importunada” por uma moral fundamental e imutável, que fosse compartilhada e sustentada pela comunidade. Vive-se uma “espiritualidade” difusa, que não transforma toda a conduta do ser humano, mas, pelo contrário: que sustenta o relativismo moral dos dias atuais. Pode-se pecar à vontade – “nada é pecado”, isso seria questão de pontos de vista, sempre relativos – mas depois tem-se uma sessão de alguma coisa, seja lá o que for, para sentir-se bem, e obter “bons fluidos”.
Na espiritualidade cristã, conhecemos que, para estarmos próximos de Deus e protegidos contra os ataques do diabo e de seus demônios, é necessário que obedeçamos aos mandamentos divinos. Aquele que obedece aos mandamentos divinos mas não é nenhum místico, não faz experiências sublimes de meditação, ainda assim está salvo, mantém-se em território espiritual protegido. Não poderíamos dizer o mesmo do contrário. De nada adianta uma mística desobediente. (Daí, também, o engano das práticas “espirituais” que recorrem à magia, adivinhação, comunicação com espíritos, e ofendem o coração de Deus, ignorando Seus mandamentos). A obediência aos mandamentos nos mantêm em Deus, no seu jardim, e assim somos inspirados por Ele. Recorrendo novamente ao Cardeal Ratzinger, sabemos que “para os diversos caminhos religiosos fora da revolução iniciada pelos profetas, salvas são as almas interiores, seja qual for a religião a que pertençam. Para o cristianismo, são os crentes, qualquer que seja o grau de interioridade que eles alcançaram. Uma criancinha, um trabalhador sobrecarregado de trabalho, quando creem, são maiores do que os grandes ascetas”. Existem grandes personalidades religiosas fora do cristianismo. “Mas isso não tem importância alguma; o que importa é a obediência à palavra de Cristo” (Jean Daniélou).
É pela obediência completa aos mandamentos de Deus que – mesmo antes da Ressurreição escatológica da Carne, que nos foi prometida por Cristo e que professamos em nosso Credo –  obtemos, não apenas a salvação de nossas almas, mas também a redenção de nossos corpos mesmo nessa vida de exílio, pois, pela obediência a Deus, podemos recuperar a integração corpo-alma e a abertura ao Espírito Santo, “distribuidor dos dons celestes”, e viver conforme a Sua Vontade.
“Comerás livremente o fruto de qualquer espécie de árvore que está no jardim; contudo, não comerás da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comeres, com toda a certeza morrerás” (Gn 2, 16-17). A transgressão dos mandamentos divinos leva à morte: isto é, à ruptura entre o corpo e a alma.
“Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para o meu caminho” (Sl 119,105). Deus nos revelou Suas Leis, porque nos ama imensamente, e quer que saibamos o que fazer para recuperarmos a vida que perdemos com o pecado, quer que recuperemos a nossa própria realidade. Fomos desorientados pelo Pecado; este nos cega para a visão do Criador, e então, desobedientes, nos frustramos em todas as tentativas de encontrarmos a nós mesmos. Deus, nosso Pastor, quer nos reorientar, quer nos reconduzir ao Seu rebanho, quer nos devolver o acesso à Árvore da Vida, que perdemos no pecado. Trata-se, desde a Criação, e desde a Redenção, de uma constante escolha entre comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, proibida a toda criatura, ou comer da Árvore da Vida, entregando a Deus o que é de Deus, isto é – tudo, e nós mesmos. Em espírito, e em corpo.
“Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância.” (Jo 10,10).
Quando pecamos, a vida escapa de nós, sentimos nossos corpos e almas esvaziarem-se de consistência e de sentido. Na comunhão bem feita com Deus, consistência e sentido são a própria matéria inseparável da vida, e quando sentimos isso, a ação de Deus, o Inefável, torna-se verdadeiramente palpável… Palpável na paz profunda e eterna, que suspende o tempo, que recai sobre o espírito e irriga o corpo na Eucaristia. Na atmosfera sobrenatural e milagrosa da adoração ao Santíssimo Sacramento… Em que, no sagrado silêncio, todos os fiéis parecem dizer em uníssono: Deus, como sois Real! Como sois o Dono de toda a Realidade! Como a vida é irreal sem Vós! Não Vos pedimos nada além da Vossa Una e Trina Presença. Quando entrais num ambiente, ó Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho, Espírito Santo, a tudo santificais e realizais… Na adoração ao Santíssimo, tudo o que é puro em nossos corações, tudo o que já foi purificado em nós pela conformação ao Cristo e à Virgem Maria, regozija interiormente, em paz e alegria; e tudo o que ainda não se santificou, mexe, incomoda, constrange-nos diante da Perfeição; toda inclinação para o pecado treme dentro de nós em santo temor. E como Jacó despertado do sono, depois de ter visto a escada para o céu, deitado sozinho ao ar livre com a cabeça sobre uma pedra, exclamamos: “Em verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!” (Gn 28,16).
“E, cheio de pavor, disse: ‘Quão terrível é este lugar! É nada menos que a casa de Deus; é aqui, a porta do céu.’ No dia seguinte, pela manhã, tomou Jacó a pedra sobre a qual repousara a cabeça e a erigiu em estela, derramando óleo sobre ela. Deu o nome de Betel [em hebraico, Casa de Deus] a este lugar, que antes se chamava Luza. Jacó fez então este voto: ‘Se Deus for comigo, se ele me guardar durante esta viagem que empreendi, e me der pão para comer e roupa para vestir, e me fizer voltar em paz para a casa paterna, então o Senhor será o meu Deus.’” (Gn 28,17-21).
Após encontrarmos com Deus corpo a corpo, após vermos tão de perto a escada para o céu como Jacó, não há como não querer retornar no dia seguinte mais dignos dessa visão, mais puros e conformados ao Cristo, para melhor subi-la. A Virgem Santíssima, que é a própria escada para subir ao céu, pois foi a escada que o céu usou para descer à terra, é nosso mais precioso auxílio, guarda-nos durante esta viagem, como Mãe da Igreja, para levar-nos à Comunhão com seu Filho Ressuscitado, que reina no topo e em todo lugar. A porta da Igreja é estreita – entra-se somente com a luta pela inteira conversão a Ele – mas do outro lado há pão para comer (Eucaristia), há roupa para vestir (a unção do Espírito Santo, o revestimento do “novo Homem”, isto é, de Cristo, o novo Adão). Há paz, plenitude de vida e verdade, no retorno à casa paterna. Há também uma boa Mãe.
“Quem crê em mim, como diz a Escritura: De seu seio jorrarão rios de água viva” (Jo 7,38).


Via: Aleteia

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