29 de mar. de 2018

Qual o significado da Procissão do Encontro?

Uma celebração litúrgica de muita piedade, e que o povo católico muito aprecia durante a Semana Santa, é a Procissão do Encontro, que marca o encontro da Virgem Maria com Seu Filho divino, carregando a cruz no caminho do Calvário, pelas ruas de Jerusalém, depois de ser flagelado, coroado de espinhos e condenado a morte por Pilatos. É um momento em que meditamos o doloroso encontro da Virgem Maria com Jesus; é um momento de profunda reflexão sobre as dores da Mãe de Jesus, desde o Seu nascimento até a Sua morte na cruz. Jesus sofreu a paixão e a Virgem sofreu a compaixão, por nós.
A “espada de Simeão”, que não saíra de mente nos 30 anos da vida de Jesus, apresentava-se cada vez mais diante dela ameaçadora.
Não é difícil imaginar o quanto Nossa Senhora sofreu ao ver seu Filho ser perseguido, odiado, jurado de morte pelos anciãos e doutores da Lei que o invejavam. Quantas ciladas lhe armavam! Quantas disputas Ele teve de travar com os mestres da Lei.
E eis que a Paixão do Senhor se torna presente. Todo ano ela ia a Jerusalém para a festa da Páscoa judaica, e também naquele ano da morte do seu amado, ela ali estava.
Podemos imaginar a dor do coração de Maria ao saber da traição de Judas, do abandono de seus discípulos no Horto das Oliveiras, a negação de Pedro, e depois a Sua prisão e maus tratos nas mãos dos soldados do sumo sacerdote. Certamente naquela noite santa e terrível, em que Ele “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13, 1), Maria foi informada pelos discípulos que abandonaram o Mestre e fugiram na noite.
Fico pensando na dor de Maria ao saber da tríplice negação de Pedro, o escolhido do Senhor; e de tudo o mais que Seu Filho divino estaria passando nas mãos dos soldados naquela noite. Ela sabia que o Sumo Sacerdote e os doutores a lei estavam ansiosos para por a mão Nele. São Lucas narra com riqueza de detalhes os fatos:
“Entretanto, os homens que guardavam Jesus escarneciam dele e davam-lhe bofetadas. Cobriam-lhe o rosto e diziam: Adivinha quem te bateu!” (Lc 22, 63-64).
E depois, na manhã do dia seguinte, sabia que seu Filho era colocado diante de Pilatos, que mandou-o flagelar até o sangue escorrer de suas chagas, e ainda coroado com uma coroa de espinho, dolorosa e humilhante. Que Mãe suportaria ver seu Filho sofrer tanto assim?
Que dor Maria não sentiu ao saber, ou quem sabe até ao ouvir, o povo insuflado pelos doutores da Lei gritando a Pilatos: “Crucifica-o, crucifica-o”? Como deve ter sofrido ao ouvir o povo gritar.
“Todo o povo gritou a uma voz: À morte com este, e solta-nos Barrabás… Pilatos, porém, querendo soltar Jesus, falou-lhes de novo, mas eles vociferavam: Crucifica-o! Crucifica-o!… Pilatos pronunciou então a sentença que lhes satisfazia o desejo. (Lc 23, 18-24)”.
Pilatos tinha sentimento humano para com Jesus; tivesse ele vencido sua covardia, talvez o teria salvo do furor da multidão. Maria aceitou tudo aquilo, não se revoltou naquela hora tremenda, que decide a vida ou a morte de seu Filho, ela sabe que o Filho podia por si, sem auxílio alheio, livrar-se dos seus inimigos, e se deixou-se como um cordeiro levar ao suplício; então, é porque o faz espontaneamente, cumprindo a vontade de Deus.
Maria vai ao encontro de Jesus que, carregado do peso da cruz, se encaminha para o Calvário. O vê todo desfigurado e entregue, coberto de mil feridas e horrivelmente ensanguentado. Seus olhares se cruzam. Nenhuma queixa sai da sua boca, porque as maiores dores Deus lhe reservou para a salvação do mundo. Aquelas duas almas, heroicamente generosas, continuam juntas no seu caminho do sofrimento, até o lugar do suplício.

Certamente Maria o acompanhou no caminho do Calvário, onde ela viu seu amado carregar a cruz de nossos pecados, todo chagado, ferido, coroado de espinhos, destruído. Certamente ela se lembrou da espada de Simeão e das palavras de Isaías que conhecia tão bem, tendo-a ouvido na sinagoga de Nazaré:
“Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele.
Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele não abriu a boca.) Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo? Foi-lhe dada sepultura ao lado de fascínoras e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e em sua boca nunca tenha havido mentira. Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento; se ele oferecer sua vida em sacrifício expiatório, terá uma posteridade duradoura, prolongará seus dias, e a vontade do Senhor será por ele realizada. Após suportar em sua pessoa os tormentos, alegrar-se-á de conhecê-lo até o enlevo. O Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre si suas iniquidades. Eis por que lhe darei parte com os grandes, e ele dividirá a presa com os poderosos: porque ele próprio deu sua vida, e deixou-se colocar entre os criminosos, tomando sobre si os pecados de muitos homens, e intercedendo pelos culpados” (Is 53,3-12).
Não há dor semelhante a esta de Nossa Senhora desde quando se encontrou seu divino Filho no caminho do Calvário, carregando a pesada cruz e insultado como se fosse um criminoso. A aceitação da vontade do Altíssimo sempre foi a sua força em horas tão cruéis como esta.
Ao encontrar sua Mãe, os olhos de Jesus a fitaram e ela certamente compreendeu a dor de sua alma. Não pôde lhe dizer palavra alguma, mas a fez compreender que era necessário que unisse a sua dor à Dele. A união da grande dor de Jesus e de Maria neste encontro tem sido a força de tantos mártires e de tantas mães aflitas.
Este fato ficou tão marcado na vida do povo católico, que tanto ama sua Mãe e seu Filho, que não deixa de celebrar esse Encontro com uma procissão na Semana Santa. Mãe e Filho se encontram nas ruas das cidades, ou em alguma praça onde o povo pode reviver esse santo Encontro.
Nós, que temos medo do sacrifício, devemos aprender aqui neste Encontro a submeter-nos à vontade de Deus, como Jesus e Maria se submeteram. Aprendamos a calar nos nossos sofrimentos, e os olhares de Jesus e de Maria consolarão a nossa pobre alma sofredora.
Maria viveu os tormentos da Paixão de seu armadíssimo Filho. Encontra-O no caminho do Calvário, flagelado, coroado de espinhos, esbofeteado, destruído… Que mãe poderia aguentar tamanha dor? Seu Filho Santo, Deus, carregando nas costas a cruz de Seu suplício!
As nossas almas vão sentir a eficácia desta riqueza na hora em que, abatidos pela dor, formos até nossa Mãe fazendo a meditação deste Encontro dolorosíssimo. Este silêncio se converterá em força para as almas aflitas, quando nas horas difíceis souberem recorrer à meditação desta Mãe que sofre.
É precioso o silêncio nas horas de sofrimentos; muitos não sabem sofrer uma dor física, uma tortura da alma, em silêncio; desejam logo contá-la para que todos o lastimem! Nossa Senhora e Jesus nos ensinam a vencer a aflição suportando tudo, em silêncio, por amor a Deus.
Certamente a dor nos humilha, mas é nesta santa humilhação que Deus nos edifica, corrige, cura e santifica. São Francisco de Sales dizia que ninguém se torna humilde e santo se não passar pelo cadinho da humilhação. Jesus e Maria nos ensinam a aprender a sofrer em silêncio, como eles sofreram no doloroso encontro no caminho do Calvário.
Prof. Felipe Aquino

Fonte: Cléofas 

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