31 de dez. de 2016

Papa Francisco, 2016: reforma real é o amor dos santos

31/12/2016 



O ano de 2016 está chegando ao fim. É tempo de balanço. O ano que termina foi muito intenso para o Papa com as suas seis viagens internacionais e as três realizadas na Itália, a publicação da Exortação Apostólica Amoris Laetitia sobre a família, o Jubileu da Misericórdia, com seus muitos eventos e, ainda os encontros, as audiências gerais, as Missas na Casa Santa Marta e as novas etapas da reforma da Cúria. Mas o traço comum também deste ano é a profunda renovação espiritual que o Papa Francisco está promovendo na Igreja para que os cristãos levem em todo o mundo a alegria do Evangelho.
O amor de Deus é o centro do Evangelho, não a lei
“No centro não está a lei”, mas “o amor de Deus, que sabe ler o coração de cada pessoa, para compreender o desejo mais escondido, e que deve ter a primazia sobre tudo”. São, talvez, essas as palavras mais significativas deste ano do Papa Francisco: estão contidas na Carta Apostólica “Misericordia et Misera” publicada na conclusão do Jubileu. “Este é o tempo da misericórdia”, reafirma. É o poder do Evangelho que nós sempre tentamos engaiolar nos padrões tranquilizadores, assim como fazem os escribas e fariseus que fazem perguntas capciosas a Jesus citando Moisés e a Lei, porque “sempre foi feito assim”: mas o amor do Senhor é mais forte. “O cristão - escreve o Papa - é chamado a viver a novidade do Evangelho” e “também nos casos mais complexos, onde se procura fazer prevalecer uma justiça que vem apenas das regras, se deve acreditar na força que brota da graça divina”:
“O que isso significa? Que muda a lei? Não! Que a lei está a serviço do homem que está a serviço de Deus, e por isso o homem deve ter um coração aberto. O “sempre foi feito assim” é coração fechado e Jesus nos disse: “Vou enviar o Espírito Santo e Ele os conduzirá à plena verdade”. Se você tem o coração fechado à novidade do Espírito, nunca vai chegar à plena verdade”.
Rigidez e soberba
Não é fácil caminhar na Lei do Senhor “sem cair na rigidez”, disse o Papa. “A Lei não é feita para nos tornar escravos, mas para nos tornar livres, para nos tornar filhos”. O risco dos rígidos é cair na soberba, e considerarem-se mais justos do que os outros:
“Vamos rezar por nossos irmãos e irmãs que acreditam que caminhar na Lei do Senhor é tornar-se rígido. Que o Senhor faça com quem eles sintam que Ele é Pai e que Ele ama a misericórdia, a ternura, a bondade, a mansidão, a humildade. E a todos nos ensine a caminhar na Lei do Senhor com estas atitudes”.
Abertos às surpresas do Espírito
Desde o início, o Espírito Santo impele a Igreja para a frente, em direção de novas estradas, das novidades de Deus. Cresce, de fato, a compreensão da fé, as verdades de sempre são cada vez mais entendidas na sua plenitude. A partir do primeiro Concílio da história, o de Jerusalém, onde os apóstolos decidiram juntos de não impor a Lei Mosaica aos gentios convertidos:
“Este é o caminho da Igreja até hoje. E quando o Espírito nos surpreende com algo que parece novo ou que “nunca se fez assim”, “se deve fazer assim”, pensem no Vaticano II, às resistências que teve o Concílio Vaticano II, e digo isto porque é mais perto de nós. Quantas resistências: "Oh, não ... '. Também hoje resistências que continuam, de uma forma ou de outra, e o Espírito que vai avante. E o caminho da Igreja é este: reunir-se, unir-se, ouvir, discutir, rezar e decidir. E isso é a chamada sinodalidade da Igreja, na qual se expressa a comunhão da Igreja. E quem faz a comunhão? E o Espírito! Outra vez o protagonista. O que o Senhor pede de nós? Docilidade ao Espírito. O que o Senhor pede de nós? Não ter medo, quando vemos que é o Espírito que nos chama”.
O diabo quer destruir a Igreja com as divisões
O Papa Francisco convida a trabalhar pela unidade da Igreja, a não dilacerar o Corpo de Cristo. É o diabo - disse - que procura destruir a Igreja através de divisões teológicas e ideológicas. A sua “é uma guerra suja” e “nós ingênuos nos submetemos”:
“As divisões na Igreja não deixam que o Reino de Deus cresça; não deixam que o Senhor se mostre bem, como Ele é. As divisões fazem com que se veja esta parte, esta outra, contra esta, contra contra ... Sempre contra! Não há o óleo da unidade, o bálsamo da unidade (...) eu lhe peço para fazer todo o possível para não destruir a Igreja com as divisões, sejam ideológicas, sejam de ganância e de ambição, sejam de ciúmes” .
A Igreja - disse o Papa Francisco - tem necessidade constante de renovar-se, porque é um corpo vivo. Mas os verdadeiros reformadores são os santos.
(SP)

Rádio Vaticano 

Papa: ajudar os jovens a encontrar horizontes concretos

31/12/2016


Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco presidiu neste sábado, 31 de dezembro, último dia do ano, na Basílica de São Pedro, as primeiras Vésperas com o Te Deum da Solenidade da Santa Mãe de Deus, Maria.

«Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de que fôssemos adotados como filhos» (Gal 4, 4-5).
“Hoje, ressoam com uma força particular estas palavras de São Paulo, que, de forma breve e concisa, nos introduzem no plano que Deus tem para nós: quer que vivamos como filhos. Ecoa aqui toda a história da salvação: Aquele que não estava sujeito à Lei decidiu, por amor, deixar de lado todo tipo de privilégio e entrar pelo lugar menos esperado, a fim de nos libertar.” 
“Longe de se encerrar num estado de ideia ou essência abstrata, quis estar perto de todos aqueles que se sentem perdidos, mortificados, feridos, desanimados, abatidos e amedrontados; perto de todos aqueles que, na sua carne, carregam o peso do afastamento e da solidão, para que o pecado, a vergonha, as feridas, o desconforto, a exclusão não tenham a última palavra na vida dos seus filhos.”
O Papa frisou que “o presépio nos convida a assumir esta lógica divina: não uma lógica centrada no privilégio, em favores, no compadrio; mas a lógica do encontro, da aproximação e da proximidade. O presépio nos convida a abandonar a lógica feita de exceções para uns e exclusões para outros. O próprio Deus veio quebrar a cadeia do privilégio que gera sempre exclusão, para inaugurar a carícia da compaixão que gera a inclusão, que faz resplandecer em cada pessoa a dignidade para que foi criada. Um menino envolto em panos mostra-nos a força de Deus que interpela como dom, como oferta, como fermento e oportunidade para criar uma cultura do encontro”.
“Queremos hoje, diante do Menino de Belém, admitir a necessidade que temos de que o Senhor nos ilumine, pois tantas vezes parecemos míopes ou ficamos prisioneiros da atitude decididamente egocêntrica de quem quer forçar os outros a entrar nos próprios esquemas. Ver o presépio implica saber que o tempo que nos espera requer iniciativas cheias de audácia e esperança, bem como a renúncia a vãos protagonismos ou a lutas intermináveis para sobressair”, sublinhou Francisco.
“Ao ver o presépio, deparamo-nos com os rostos de José e Maria: rostos jovens, cheios de esperanças e aspirações, cheios de incertezas; rostos jovens, que perscrutam o futuro com a tarefa não fácil de ajudar o Deus-Menino a crescer. Não se pode falar de futuro sem contemplar estes rostos jovens e assumir a responsabilidade que temos para com os nossos jovens; mais do que responsabilidade, a palavra justa é dívida: sim, a dívida que temos para com eles. Falar de um ano que termina, é nos sentir convidados a pensar como estamos a nos interessar pelo lugar que os jovens têm em nossa sociedade”.
Segundo o Papa, “criamos uma cultura que por um lado idolatra a juventude procurando torná-la eterna, mas por outro, paradoxalmente, condenamos os nossos jovens a não possuir um espaço de real inserção, porque lentamente os fomos marginalizando da vida pública, obrigando-os a emigrar ou a mendigar trabalho que não existe ou que não lhes permite projetar o amanhã. Privilegiamos a especulação em vez de trabalhos dignos e genuínos que lhes permitam ser protagonistas ativos na vida da nossa sociedade. Esperamos deles e exigimos que sejam fermento de futuro, mas os discriminamos e condenamos a bater a portas que, na maioria delas, permanecem fechadas”.
“A cada um de nós é pedido para assumir o próprio compromisso – por mais insignificante que possa parecer – de ajudar os nossos jovens a encontrar aqui na sua terra, na sua pátria, horizontes concretos de um futuro a construir. Não nos privemos da força das suas mãos, das suas inteligências, das suas capacidades de profetizar os sonhos dos seus idosos. Se queremos apontar para um futuro que seja digno deles, só o poderemos alcançar apostando numa verdadeira inclusão: a inclusão resultante do trabalho digno, livre, criativo, participativo e solidário”, concluiu Francisco.
(MJ)

Segue, na íntegra, a homilia do Papa Francisco nas primeiras vésperas da Solenidade de Maria Mãe de Deus
HOMILIA DO SANTO PADRE
nas Vésperas com Te Deum
(Basílica de S. Pedro, 31 de dezembro de 2016)
«Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adoção de filhos» (Gal 4, 4-5).
Hoje ressoam com uma força particular estas palavras de São Paulo, que, de forma breve e concisa, nos introduzem no plano que Deus tem para nós: quer que vivamos como filhos. Ecoa aqui toda a história da salvação: Aquele que não estava sujeito à Lei decidiu, por amor, deixar de lado qualquer tipo de privilégio (privus legis) e entrar pelo lugar menos esperado, a fim de nos libertar a nós que estávamos – nós, sim – sob a Lei. E a novidade é que decidiu fazê-lo na pequenez e fragilidade dum recém-nascido; decidiu aproximar-Se pessoalmente e, na sua carne, abraçar a nossa carne; na sua fraqueza, abraçar a nossa fraqueza; na sua pequenez, superar a nossa. Em Cristo, Deus não Se mascarou de homem, fez-Se homem e partilhou em tudo a nossa condição. Longe de se encerrar num estado de ideia ou essência abstrata, quis estar perto de todos aqueles que se sentem perdidos, mortificados, feridos, desanimados, abatidos e amedrontados; perto de todos aqueles que, na sua carne, carregam o peso do afastamento e da solidão, para que o pecado, a vergonha, as feridas, o desconforto, a exclusão não tenham a última palavra na vida dos seus filhos.
O presépio convida-nos a assumir esta lógica divina: não uma lógica centrada no privilégio, em favores, no compadrio; mas a lógica do encontro, da aproximação e da proximidade. O presépio convida-nos a abandonar a lógica feita de exceções para uns e exclusões para outros. O próprio Deus veio quebrar a cadeia do privilégio que gera sempre exclusão, para inaugurar a carícia da compaixão que gera a inclusão, que faz resplandecer em cada pessoa a dignidade para que foi criada. Um menino envolto em panos mostra-nos a força de Deus que interpela como dom, como oferta, como fermento e oportunidade para criar uma cultura do encontro.
Não podemos dar-nos ao luxo de ser ingénuos; sabemos que nos vem, de vários lados, a tentação de viver nesta lógica do privilégio que, ao separar, nos separa; ao excluir, nos exclui; ao confinar os sonhos e a vida de muitos dos nossos irmãos, nos confina.
Queremos hoje, diante do Menino de Belém, admitir a necessidade que temos que o Senhor nos ilumine, pois tantas vezes parecemos míopes ou ficamos prisioneiros da atitude decididamente egocentrista de quem quer forçar os outros a entrar nos próprios esquemas. Precisamos da luz que nos faça aprender com os nossos próprios erros e tentativas, a fim de melhorar e nos vencermos; aquela luz que nasce da consciência humilde e corajosa de quem, todas as vezes, encontra força para se erguer e recomeçar.
Quando chega ao fim mais um ano, paremos diante do presépio para agradecer todos os sinais da generosidade divina na nossa vida e na nossa história, que se manifestou de inúmeras maneiras no testemunho de tantos rostos que anonimamente souberam arriscar. Agradecimento esse, que não quer ser nostalgia estéril nem vã recordação do passado idealizado e desencarnado, mas memória viva que ajude a suscitar a criatividade pessoal e comunitária, pois sabemos que Deus está connosco.
Paremos diante do presépio a contemplar como Deus Se fez presente durante todo este ano, lembrando-nos assim de que cada tempo, cada momento é portador de graça e bênção. O presépio desafia-nos a não dar nada e ninguém como perdido. Ver o presépio significa encontrar a força de ocupar o nosso lugar na história, sem nos perdermos em lamentos nem azedumes, sem nos fecharmos nem evadirmos, sem procurar atalhos que nos privilegiem. Ver o presépio implica saber que o tempo que nos espera requer iniciativas cheias de audácia e esperança, bem como a renúncia a vãos protagonismos ou a lutas intermináveis para sobressair.
Ver o presépio é descobrir como Deus Se envolve envolvendo-nos, tornando-nos parte da sua obra, convidando-nos a acolher com coragem e decisão o futuro que temos à nossa frente.
Ao ver o presépio, deparamo-nos com os rostos de José e Maria: rostos jovens, cheios de esperanças e aspirações, cheios de incertezas; rostos jovens, que perscrutam o futuro com a tarefa não fácil de ajudar o Deus-Menino a crescer. Não se pode falar de futuro sem contemplar estes rostos jovens e assumir a responsabilidade que temos para com os nossos jovens; mais do que responsabilidade, a palavra justa é dívida: sim, a dívida que temos para com eles. Falar de um ano que termina, é sentirmo-nos convidados a pensar como estamos a interessar-nos com o lugar que os jovens têm na nossa sociedade.
Criamos uma cultura que por um lado idolatra a juventude procurando torná-la eterna, mas por outro, paradoxalmente, condenamos os nossos jovens a não possuir um espaço de real inserção, porque lentamente os fomos marginalizando da vida pública, obrigando-os a emigrar ou a mendigar ocupação que não existe ou que não lhes permite projetar o amanhã. Privilegiamos a especulação em vez de trabalhos dignos e genuínos que lhes permitam ser protagonistas ativos na vida da nossa sociedade. Esperamos deles e exigimos que sejam fermento de futuro, mas discriminamo-los e «condenamo-los» a bater a portas que, na maioria delas, permanecem fechadas.
Somos convidados a não ser como o estalajadeiro de Belém que, à vista do jovem casal, dizia: aqui não há lugar. Não havia lugar para a vida, para o futuro. A cada um de nós é pedido para assumir o compromisso próprio – por mais insignificante que possa parecer – de ajudar os nossos jovens a encontrar aqui na sua terra, na sua pátria, horizontes concretos de um futuro a construir. Não nos privemos da força das suas mãos, das suas inteligências, das suas capacidades de profetizar os sonhos dos seus idosos (cf. Jl 3, 1). Se queremos apontar para um futuro que seja digno deles, só o poderemos alcançar apostando numa verdadeira inclusão: a inclusão resultante do trabalho digno, livre, criativo, participativo e solidário (cf. Discurso na atribuição do Prémio Carlos Magno, 6 de maio de 2016).
Ver o presépio desafia-nos a ajudar os nossos jovens para não ficarem desiludidos à vista das nossas imaturidades, e a estimulá-los para que sejam capazes de sonhar e lutar pelos seus sonhos; capazes de crescer e tornar-se pais e mães do nosso povo.
Olhando o ano que acaba, como nos faz bem contemplar o Deus-Menino! É um convite a voltar às fontes e às raízes da nossa fé. Em Jesus, a fé faz-se esperança, torna-se fermento e bênção: «Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 3).
Rádio Vaticano 

31/12 – São Silvestre I

Este Papa do início da nossa Igreja era um homem piedoso e santo, mas de personalidade pouco marcada
São Silvestre I apagou-se ao lado de um Imperador culto e ousado como Constantino, o qual, mais que servi-lo se terá antes servido dele, da sua simplicidade e humanidade, agindo por vezes como verdadeiro Bispo da Igreja, sobretudo no Oriente, onde recebe o nome de Isapóstolo, isto é, igual aos apóstolos.
E na realidade, nos assuntos externos da Igreja, o Imperador considerava-se acima dos próprios Bispos, o Bispo dos Bispos, com inevitáveis intromissões nos próprios assuntos internos, uma vez que, com a sua mentalidade ainda pagã, não estava capacitado para entender e aceitar um poder espiritual diferente e acima do civil ou político.
E talvez São Silvestre, na sua simplicidade, tivesse sido o Papa ideal para a circunstância. Outro Papa mais exigente, mais cioso da sua autoridade, teria irritado a megalomania de Constantino, perdendo a sua proteção. Ainda estava muito viva a lembrança dos horrores por que passara a Igreja no reinado de Diocleciano, e São Silvestre, testemunha dessa perseguição que ameaçou subverter por completo a Igreja, terá preferido agradecer este dom inesperado da proteção imperial e agir com moderação e prudência.
Constantino terá certamente exorbitado. Mas isso ter-se-á devido ao desejo de manter a paz no Império, ameaçada por dissenções ideológicas da Igreja, como na questão do donatismo que, apesar de já condenado no pontificado anterior, se vê de novo discutido, em 316, por iniciativa sua.
Dois anos depois, gerou-se nova agitação doutrinária mais perigosa, com origem na pregação de Ario, sacerdote alexandrino que negava a divindade da segunda Pessoa e, consequentemente, o mistério da Santíssima Trindade. Constantino, inteirado da agitação doutrinária, manda mais uma vez convocar os Bispos do Império para dirimirem a questão. Sabemos pelo Liber Pontificalis, por Eusébio e Santo Atanásio, que o Papa dá o seu acordo, e envia, como representantes seus, Ósio, Bispo de Córdova, acompanhado por dois presbíteros.
Ele, como dignidade suprema, não se imiscuiria nas disputas, reservando-se a aprovação do veredito final. Além disso, não convinha parecer demasiado submisso ao Imperador.
Foi o primeiro Concílio Ecumênico (universal) que reuniu em Niceia, no ano 325, mais de 300 Bispos, com o próprio Imperador a presidir em lugar de honra. Os Padres conciliares não tiveram dificuldade em fazer prevalecer a doutrina recebida dos Apóstolos sobre a divindade de Cristo, proposta energicamente pelo Bispo de Alexandria, Santo Atanásio. A heresia de Ario foi condenada sem hesitação e a ortodoxia trinitária ficou exarada no chamado Símbolo Niceno ou Credo, ratificado por S. Silvestre.
Constantino, satisfeito com a união estabelecida, parte no ano seguinte para as margens do Bósforo onde, em 330, inaugura Constantinopla, a que seria a nova capital do Império, eixo nevrálgico entre o Oriente e o Ocidente, até à sua queda em poder dos turcos otomanos, em 1453.
Data dessa altura a chamada doação constantiniana, mediante a qual o Imperador entrega à Igreja, na pessoa de S. Silvestre, a Domus Faustae, Casa de Fausta, sua esposa, ou palácio imperial de Latrão (residência papal até Leão XI), junto ao qual se ergueria uma grandiosa basílica de cinco naves, dedicada a Cristo Salvador e mais tarde a S. João Batista e S. João Evangelista (futura e atual catedral episcopal de Roma, S. João de Latrão). Mais tarde, doaria igualmente a própria cidade.
Depois de um longo pontificado, cheio de acontecimentos e transformações profundas na vida da Igreja, morre S. Silvestre I no último dia do ano 335, dia em que a Igreja venera a sua memória. Sepultado no cemitério de Priscila, os seus restos mortais seriam transladados por Paulo I (757-767) para a igreja erguida em sua memória.
São Silvestre, rogai por nós!

Fonte: Cléofas 

30 de dez. de 2016

Simpatia de ano novo ou confiança em Deus?

Católicos devem buscar a bênção de Deus com oração, não nas superstições de ano novo


“A diferença entre a religião cristã e práticas de superstição é que essas práticas se baseiam no desejo de dominar e controlar. A superstição pode dar a impressão para quem a pratica de que é possível dominar o futuro, mas nós sabemos que isso não é verdade. Todo cristão deve saber que a atitude dele diante do futuro não pode ser uma postura de domínio ou controle, mas sim de entrega e de confiança em Deus”, afirmou o sacerdote carioca e autor do Livro “Basta uma Palavra”, Padre Antonio José Afonso da Costa. Segundo ele, a expectativa criada pela passagem do dia 31 de dezembro para o dia 1º de janeiro não pode afastar a pessoa de sua fé em Jesus, por meio de superstições e simpatias.
O sacerdote, que é pároco da Igreja Nossa Senhora de Fátima, no Méier (RJ), explicou que no Cristianismo a postura correta diante do futuro é buscar crescer no relacionamento com Deus, para que na confiança a pessoa seja capaz de construir um futuro melhor.
“O futuro da gente não está escrito como algumas pessoas pensam de uma maneira determinista ou fatalista. O futuro da gente é construído na medida em que caminhamos com Deus”, ensinou.
O sacerdote também refletiu sobre a importância do dia 1º de janeiro, quando a Igreja celebra a solenidade e o dogma de Maria, Mãe de Deus e o Dia Mundial da Paz.
“É costume da Igreja que as grandes celebrações como a Páscoa e o Natal, não durem apenas um dia. São celebrações grandiosas que comemoram os grandes mistérios da nossa fé e devem se estender por um tempo, de forma especial pela semana seguinte a festa. O dia 1º de janeiro é a Oitava da Festa do Natal, ou seja, o término dessa grande celebração do Nascimento de Jesus que a Igreja comemora recordando a união entre Maria e seu filho Jesus. Por isso, no oitavo dia da Festa do Natal, que coincide com o primeiro dia do ano civil, é celebrada a maternidade divina de Nossa Senhora.
O sacerdote ressaltou que na Solenidade de Maria Mãe do Filho de Deus, a Igreja coloca todo o ano civil debaixo da proteção de Nossa Senhora.

“Esse dia traz uma série de lembranças e evocações importantes para a vidada Igreja, é o dia em que celebramos a circuncisão de Jesus. A leitura do Evangelho recorda esse acontecimento e o momento em que o nome do menino Jesus foi imposto. A primeira leitura relata Deus ensinando a abençoar o povo de Israel. Sempre no início de um novo ano, a Igreja recorda que o Senhor é um Deus que abençoa, que deseja nos abençoar. Também lembra que com o nome de Jesus nos lábios a gente encontra salvação, porque Jesus significa ‘Deus é o nosso Salvador’. Esse dia é uma concorrência de coisas bonitas que unem o mistério do Natal às expectativas que temos para o ano que se inicia. Mas repito, o grande segredo da nossa esperança a respeito do futuro é a nossa união com Jesus Cristo”, garantiu.


Via: Aleteia

30/12 – São Rugero

Rugero nasceu entre 1060 e 1070, na célebre e antiga cidade italiana de Cane. O seu nome de origem normanda sugere que seja essa a sua origem. Além dessas poucas referências imprecisas nada mais se sabe sobre sua vida na infância e juventude. Mas ele era respeitado pelos habitantes da cidade, como um homem trabalhador, bom, caridoso e muito penitente. Quando o Bispo de Cane morreu os fiéis quiseram que Rugero ficasse no seu lugar de pastor. E foi o que aconteceu, aos trinta anos de idade, ele foi consagrado Bispo de Cane. No século II, essa cidade havia sido destruída pelo imperador Aníbal, quando expulsou o exército romano. Depois ela retomou sua importância no período medieval, sendo inclusive uma sede episcopal. No século XI, mais precisamente em 1083, por causa da rivalidade entre o Conde de Cane e o Duque de Puglia, localidade vizinha, a cidade ficou novamente em ruínas. O Bispo Rugero assumiu a direção da diocese dentro de um clima de prostração geral. Assim, depois desse desastre, seu primeiro dever era tratar da sobrevivência da população abatida pelo flagelo das epidemias do pós-guerra. Ele transformou a sua sede numa hospedaria aberta dia e noite, para abrigar viajantes, peregrinos e as viúvas com seus órfãos. Possuindo o dom da cura, socorria a todos, incansável, andando por todos os cantos, descalço.
Doava tudo que fosse possível e a sua carruagem era usada apenas para transportar os doentes e as crianças. Todavia, esse século também foi um período conturbado para a História da Igreja. Com excessivo poder civil estava dividida entre religiosos corruptos e os que viviam em santidade. Rugero estava entre os que entendiam o episcopado como uma missão e não como uma posição de prestígio para ser usada em benefício próprio. Vivia para o seu rebanho, seguindo o ensinamento de São Paulo: “tudo para todos”. Por tudo isso e por seus dons de conselho e sabedoria, no seu tempo, foi estimado por dois Papas: Pascoal II e Celasio II. Para ambos executou missões delicadas e os aconselhou nas questões das rivalidades internas da Igreja, que tentava iniciar sua renovação. Entrou rico de merecimentos no reino de Deus, o dia 30 de dezembro de 1129, em Cane, onde foi sepultado na Catedral. Considerado taumaturgo em vida, pelos prodígios que promovia com a força de suas orações, logo depois de sua morte os devotos divulgaram a sua santidade. No século XVIII, a cidade de Cane praticamente já não existia. A população se transferira para outra mais próspera, Barleta. Mas eles já cultuavam o querido Bispo Rugero como Santo. Pediram a transferência das suas relíquias para a igreja de Santa Maria Maior, em Barleta. Depois foi acolhido na sepultura definitiva na igreja do Mosteiro de Santo Estevão, atual Santuário de Santo Rugero. Os devotos o veneram no dia de sua morte como o Bispo de Cane e o padroeiro de Barleta. Em 1946, Santo Rugero foi canonizado pela Igreja.

Cléofas 

As lições de Nazaré

Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho.
Aqui se aprende a olhar, a escutar, a meditar e penetrar o significado, tão profundo e tão misterioso, dessa manifestação tão simples, tão humilde e tão bela, do Filho de Deus. Talvez se aprenda até, insensivelmente, a imitá-lo.
Aqui se aprende o método que nos permitirá compreender quem é o Cristo. Aqui se descobre a necessidade de observar o quadro de sua permanência entre nós: os lugares, os tempos, os costumes, a linguagem, as práticas religiosas, tudo de que Jesus se serviu para revelar-se ao mundo. Aqui tudo fala, tudo tem um sentido.
Aqui, nesta escola, compreende-se a necessidade de uma disciplina espiritual para quem quer seguir o ensinamento do Evangelho e ser discípulo do Cristo.
Ó como gostaríamos de voltar à infância e seguir essa humilde e sublime escola de Nazaré! Como gostaríamos, junto a Maria, de recomeçar a adquirir a verdadeira ciência e a elevada sabedoria das verdades divinas.
Mas estamos apenas de passagem. Temos de abandonar este desejo de continuar aqui o estudo, nunca terminado, do conhecimento do Evangelho. Não partiremos, porém, antes de colher às pressas e quase furtivamente algumas breves lições de Nazaré.

Primeiro, uma lição de silêncio. Que renasça em nós a estima pelo silêncio, essa admirável e indispensável condição do espírito; em nós, assediados por tantos clamores, ruídos e gritos em nossa vida moderna barulhenta e hipersensibilizada. O silêncio de Nazaré ensina-nos o recolhimento, a interioridade, a disposição para escutar as boas inspirações e as palavras dos verdadeiros mestres. Ensina-nos a necessidade e o valor das preparações, do estudo, da meditação, da vida pessoal e interior, da oração que só Deus vê no segredo.
Uma lição de vida familiar. Que Nazaré nos ensine o que é a família, sua comunhão de amor, sua beleza simples e austera, seu caráter sagrado e inviolável; aprendamos de Nazaré o quanto a formação que recebemos é doce e insubstituível: aprendamos qual é sua função primária no plano social.
Uma lição de trabalho. Ó Nazaré, ó casa do “filho do carpinteiro”! É aqui que gostaríamos de compreender e celebrar a lei, severa e redentora, do trabalho humano; aqui, restabelecer a consciência da nobreza do trabalho; aqui, lembrar que o trabalho não pode ser um fim em si mesmo, mas que sua liberdade e nobreza resultam, mais que de seu valor econômico, dos valores que constituem o seu fim. Finalmente, como gostaríamos de saudar aqui todos os trabalhadores do mundo inteiro e mostrar-lhes seu grande modelo, seu divino irmão, o profeta de todas as causas justas, o Cristo nosso Senhor.
Alocuções do Papa Paulo VI
(Alocução pronunciada em Nazaré a 5 de janeiro de 1964)
(Séc. XX)

Cléofas 

Imitemos a Família de Nazaré

Não é à toa que após o Natal a Igreja celebra a Festa da Sagrada Família de Nazaré. Cristo quis entrar na nossa história pela mesma porta que entramos no mundo, porque a família é base do plano de Deus para a existência da humanidade.
Jesus não precisava ter uma família, pois não teve um pai natural entre os homens. Ele foi gerado pelo Espírito Santo, pois nenhum homem poderia fazer a Virgem Imaculada conceber o Verbo a ser encarnado. Mas Jesus quis ter uma Família, quis iniciar a obra da Redenção pela família para restaurar a base da humanidade.
Os Santos Padres disseram que o Filho de Deus começou sua obra pela família.
Ele adotou um pai, São José. Já tinha escolhido para ser Sua Mãe a mais santa e humilde Mulher, e escolheu também o mais santo e humilde dos homens, aquele que era digno de ser o pai legal, protetor e educador do grande Menino.
Na família, Jesus foi submisso e obediente a seus pais, dos quais foi o Criador.
Ali Ele aprendeu como homem a obediência aos pais, e aprendeu com Seu pai o ofício de carpinteiro.
Contemplando a Sagrada Família de Nazaré no Presépio, deve crescer em nós o amor e o compromisso pela defesa da instituição divina da família, hoje tão ameaçada pelas forças do Mal.
São João Paulo II disse na “Carta as Famílias”(1994), que é na família que se trava hoje a luta decisiva pela dignidade humana. Destruir a família, como Deus a criou, seria a destruição do plano de Deus. A Irmã Lucia, vidente de Fátima, disse em uma Carta ao cardeal Carlo Cafarra, de Bolonha, Itália, que a investida do Mal contra Deus será sobre a família e a vida.
Mas, como a família é uma instituição divina, logo, não há forças humanas capazes de eliminá-la, embora possa fazê-la sofrer muito. Então, cabe a cada cristão, com a força e a graça de Deus lutar para defendê-la. É imitando a Sagrada Família, sem desanimar com as dificuldades enfrentadas para isso que poderemos defendê-la. Olhem os pais para a grandeza de São José e o copiem. Olhem as mães para a santidade de Maria e a imitem. Olhem os filhos para Jesus e vivam como Ele.
Jesus, Maria e José, minha família vossa é!
Prof. Felipe Aquino

Via: Cléofas 

Semana do Papa Especial Natal

30/12/2016



Nesta “Semana do Papa Especial Natal” fazemos uma síntese das principais mensagens, atividades e celebrações do Santo Padre neste início do Tempo de Natal.
Não à loucura homicida
Começamos esta nossa rubrica pelo atentado terrorista que manchou o Natal na Europa: o ataque a um mercado de Natal em Berlim, na Alemanha, perpetrado por um grupo ligado ao auto proclamado Estado Islâmico. Um atentado que aconteceu na segunda-feira dia 19 de dezembro e que provocou doze mortos e dezenas de feridos.
O Papa Francisco, através de um telegrama assinado pelo Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin, manifestou o seu pesar pelas vítimas do atentado dizendo que foi com “profunda comoção” que soube do “terrível ato de violência ocorrido em Berlim, no qual, além do considerável número de feridos, muitas pessoas encontraram a morte” – disse o Santo Padre numa mensagem endereçada ao Arcebispo de Berlim, Heiner Koch.
Francisco afirmou neste telegrama a sua proximidade no sofrimento e no luto dos familiares das vítimas e assegurou a sua oração dizendo que “confia os falecidos à misericórdia de Deus, suplicando a Ele também a cura dos feridos”.
Nesta mensagem, o Papa Francisco uniu-se a todos os homens de boa vontade que se empenham “para que a loucura homicida do terrorismo não encontre mais espaço no nosso mundo”.
12 critérios para a Reforma da Cúria
Na quinta-feira dia 22 de dezembro o Papa Francisco encontrou-se na Sala Clementina no Vaticano com os seus colaboradores da Cúria Romana. Esta audiência é uma tradição e uma ocasião para a troca de votos natalícios.
No seu discurso o Santo Padre destacou as “prescrições” que devem ser seguidas na Reforma da Cúria que está em curso na Santa Sé.
Francisco recordou que nos encontros natalícios anteriores tinha abordado as “doenças” e as “virtudes” respetivamente em 2014 e 2015. Desta vez, o Papa falou dos tratamentos necessários para a Reforma. Uma Reforma que não tem uma finalidade meramente estética – disse o Papa:
“A reforma não tem uma finalidade estética, como se se quisesse tornar mais bela a Cúria; nem se pode entender como uma espécie de lifting, ou de maquilhagem para embelezar o idoso corpo curial, e nem mesmo como uma operação de cirurgia plástica para tirar as rugas.  Caros irmãos, não são as rugas que se devem temer na Igreja, mas as manchas!”
Os 12 “critérios” para a reforma da Cúria Romana propostos pelo Papa são os seguintes: individualidade, pastoralidade, missionariedade, racionalidade, funcionalidade, modernidade, sobriedade, subsidiariedade, sinodalidade, catolicidade, profissionalismo e gradualidade.
O Papa sublinhou no seu discurso as medidas que já foram tomadas na Reforma da Cúria: no IOR, Instituto para as Obras de Religião, no Comité de Segurança Financeira da Santa Sé, na Autoridade de Informação Financeira, na Comissão para a Tutela de Menores.
Francisco destacou ainda a criação da Secretaria para a Economia e da Secretaria para a Comunicação e, em particular, a instituição de dois novos dicastérios: o Dicastério para Leigos, Família e Vida e o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral.
No Menino Jesus a interpelação das crianças migrantes
Sábado, 24 de dezembro, Missa da Noite de Natal com o Papa Francisco na Basílica de S. Pedro. O Santo Padre afirmou que esta é uma noite de glória, alegria e luz e recordou as crianças que “jazem nas miseráveis manjedouras de dignidade”.
Na sua homilia Francisco declarou que no Menino que Deus nos dá “faz-se concreto o amor de Deus por nós”. Na simplicidade e fragilidade de um recém-nascido está Deus e não na “sala nobre de um palácio” – disse o Papa.
É um Menino que nos “interpela” e que “nos chama a deixar as ilusões do efémero para ir ao essencial, a renunciar às nossas insaciáveis pretensões” – afirmou o Santo Padre que se referiu à interpelação do Menino na manjedoura:
“Deixemo-nos interpelar pelo Menino na manjedoura, mas deixemo-nos interpelar também pelas crianças que, hoje, não são reclinadas num berço nem acariciadas pelo carinho de uma mãe e de um pai, mas jazem nas miseráveis ‘manjedouras de dignidade’: no refúgio subterrâneo para fugir aos bombardeamentos, no passeio de uma grande cidade, no fundo de uma barca sobrecarregada de migrantes. Deixemo-nos interpelar pelas crianças que não se deixam nascer, as que choram porque ninguém lhes sacia a fome, aquelas que na mão não têm brinquedos, mas armas.”
O “Mistério do Natal” interpela-nos – acrescentou Francisco – porque é ao mesmo tempo um mistério de esperança e de tristeza. O sabor da tristeza descobre-se quando José e Maria encontram portas fechadas e tiveram que pôr Jesus numa manjedoura – disse o Papa que sublinhou que o Natal é sobretudo o sabor da esperança: “Deus, enamorado de nós, atrai-nos com a sua ternura, nascendo pobre e frágil no meio de nós”.
O Papa salientou ainda que “Jesus nasce rejeitado por alguns e na indiferença da maioria. E a mesma indiferença pode reinar também hoje, quando o Natal se torna uma festa onde os protagonistas somos nós, em vez de ser Ele; quando as luzes do comércio põem na sombra a luz de Deus; quando nos afanamos com as prendas e ficamos insensíveis a quem está marginalizado” – observou.
No final da sua homilia na Missa da Noite de Natal neste ano de 2016 o Papa Francisco exortou os cristãos a entrarem “no verdadeiro Natal” com os pastores que estavam entre os marginalizados daquele tempo e sentirmo-nos “amados por Deus”.
Que as armas se calem
Domingo, 25 de dezembro, Mensagem e Benção Urbi et Orbi com o Papa na Praça de S. Pedro.
No Dia de Natal o Santo Padre apelou para a paz no conflito israelo-palestiniano e recordou a “guerra e brutais ações terroristas” no Iraque, na Líbia e no Iémen, e também o sofrimento humano em várias regiões da África, particularmente na Nigéria.
Destaque para os apelos para a reconciliação em países como o Sudão do Sul, a República Democrática do Congo, Mianmar, o leste da Ucrânia, a Colômbia e a Venezuela. O Papa citou também a península coreana pedindo um renovado espírito de colaboração.
Referências na mensagem do Santo Padre para quem perdeu familiares por causa do terrorismo. Votos de paz para os migrantes, os excluídos e os refugiados. Citadas também as pessoas que “sofrem por causa das ambições económicas de poucos” e uma saudação para as crianças “privadas das alegrias da infância” por causa da fome e da guerra.
Importante o apelo de Francisco para a paz na Síria:
“Paz aos homens e mulheres na martirizada Síria, onde já demasiado sangue foi versado. Sobretudo na cidade de Aleppo, cenário nas últimas semanas de uma das batalhas mais atrozes, é tão urgente assegurar assistência e conforto à população civil exausta, que se encontra ainda numa situação desesperada e de grande sofrimento e miséria. É tempo que as armas se calem definitivamente, e a comunidade internacional se empenhe ativamente para se alcançar uma solução negociada e restabelecer a convivência civil no país.”
E com a Benção Urbi et Orbi do Papa Francisco no Dia de Natal deste ano de 2016 terminamos esta “Semana do Papa Especial Natal”. “Venite Adoremus!”
(RS)
Rádio Vaticano 

29 de dez. de 2016

Edith Stein e o segredo do Natal

Uma reflexão natalina da filósofa judia que se converteu ao cristianismo e morreu mártir




Por Claudia Mancini, em Libertà e Persona
No recolhimento da abadia beneditina de Beuron, em 1932, três anos antes de entrar no carmelo, Edith Stein escreveu uma riquíssima meditação teológica sobre o Natal. O texto, pronunciado numa conferência da Associação de Acadêmicos Católicos de Ludwigshafen, na Renânia-Palatinado, Alemanha, foi publicado pela primeira vez em 1950, em Colônia.
Filósofa, judia, ateia, convertida, religiosa e mártir, essa mulher especial começa a meditação não com uma citação erudita, como quem se esforçasse por captar as atenções, e sim com uma reflexão que surpreende pela simplicidade; pela simplicidade de quem tem o olhar inclusivo da fenomenologia. Edith Stein destaca que o fascínio do Natal atinge a todos, mesmo os que pertencem a outras religiões e os não crentes, para quem a antiga história do Menino de Belém não diz nada.
Nas semanas anteriores ao dia de Natal, "uma cálida corrente de amor inunda toda a terra", porque "todos preparam a festa e tentam irradiar um raio de alegria". É sempre apreciável o gesto de procurar e dar alegria, de preparar e de preparar-se para uma festa: são gestos estruturalmente humanos. Para o cristão, porém, especialmente para os cristãos católicos, a estrela que leva até a manjedoura é diferente. O coração de quem vive com a Igreja, desde o repicar do Rorate Coeli até os cantos do Advento, começa a bater em uníssono com a sagrada liturgia que emoldura um momento único: o tempo de uma espera que é também ardente nostalgia. Uma espera-nostalgia que cresce durante o Advento e encontra satisfação somente quando os sinos da Missa do Galo anunciam que "o Verbo se fez carne". Com este anúncio, vemo-nos sempre diante do fascínio do Menino na manjedoura, que estende as mãos e parece já dizer, sorrindo, o que mais tarde os seus lábios de Mestre repetirão até o último suspiro na cruz: "Segue-me".
Atenção: a Luz da estrela e o encanto do Menino na manjedoura duram um piscar de olhos. "À luz descida do céu, opõe-se, ainda mais escura, a noite do pecado". Diante do Menino, ao mesmo tempo, os espíritos se dividem em "contra" e "a favor". Diante do "segue-me", quem não é por Ele é contra Ele. Não por acaso, no dia depois do Natal, enquanto ainda ecoam os sons festivos dos sinos da noite e das festivas liturgias natalinas, a Igreja se desveste do branco de festa e se reveste do vermelho do sangue, e, no quarto dia, já usa o roxo do luto para recordar o primeiro mártir, Estêvão, e as crianças inocentes que foram mortas por Herodes. O que isto significa? Onde foi parar o encanto do Menino na manjedoura? Onde está o bem-aventurado silêncio da noite santa?
O mistério da noite de Natal, escreve Edith Stein, carrega uma verdade grave e séria que o encanto da manjedoura não deve encobrir aos nossos olhos: "O mistério da encarnação e o mistério do mal estão intimamente unidos". A alegria do Menino e das figuras luminosas que se ajoelham em torno da manjedoura, das crianças inocentes, dos pastores esperançosos, dos reis humildes, dos mártires, dos discípulos, dos homens de boa vontade que seguem o chamado do Senhor, essa alegria, enfim, caminha de mãos dadas com a constatação de que nem todos os homens são de boa vontade; de que a paz não alcança "os filhos das trevas"; de que, para esses, o Príncipe da Paz "traz a espada"; de que, para esses, Ele é a "pedra de tropeço" que os derruba. Aquele Menino divide e separa, porque, enquanto o contemplamos, Ele nos impõe uma escolha: "Segue- me". Ele a impõe a nós também, hoje, e nos coloca diante da decisão entre a luz e a escuridão. As mãos do Menino "dão e exigem ao mesmo tempo".
Se colocarmos as nossas mãos nas do Menino Deus e respondermos "sim" ao seu "Segue-me", o que recebemos?
"Oh, maravilhoso intercâmbio! O Criador da humanidade nos dá, assumindo um corpo, a sua divindade!". Aqui reside a grandeza do mistério da Encarnação: quem escolhe a luz, quem fica do lado do Menino, "abre caminho para que a sua vida divina se derrame sobre nós" e traz "de forma invisível o Reino de Deus dentro de si". O Natal é o começo da aventura de deixar a graça "permear de vida divina toda a vida humana". Por que Deus se fez homem? Deus se tornou um filho do homem para que os homens se tornem filhos de Deus. Escreve Edith Stein: "Um de nós tinha rasgado o vínculo da filiação divina; um de nós tinha que reatá-lo e pagar pelo pecado. Mas nenhum descendente da antiga progênie, doente e bastarda, tinha condições de fazê-lo. Era preciso enxertar-lhe um ramo novo, saudável e nobre". Estas palavras de Edith Stein evocam, por analogia óbvia, uma passagem do "Cur Deus Homo", de Santo Anselmo, que contém a mesma lógica da redenção: "a restauração da natureza humana não teria acontecido se o homem não tivesse pagado a Deus o que lhe devia pelo pecado. Mas a dívida era tão grande que a satisfação, de obrigação apenas do homem, mas possível somente a Deus, precisava ser dada por um homem-Deus" (CDH 2,6).
Edith Stein tinha aprendido, na escola dos professores do carmelo, Teresa de Ávila e João da Cruz em particular, que a graça se desenvolve em nós como uma semente que nos transforma, deixando-nos participar da própria vida de Deus. Por esta razão, a meditação seguinte insiste nos sinais fundamentais de uma vida humana unida a Deus.


O primeiro sinal da filiação divina é "ser um só com Deus". O Menino desceu ao mundo para ser um "corpo misterioso" conosco: "ele é a nossa cabeça, nós os seus membros". Não existimos mais "um ao lado do outro, como pessoas isoladas, autônomas, e sim, todos juntos, como uma só coisa com Cristo". O segundo sinal da filiação divina é "ser um só em Deus": "Se, no corpo místico, Cristo é o corpo e nós os membros, então somos membros uns dos outros e, todos juntos, somos um só em Deus". A medida do nosso amor a Deus é o nosso amor para com o próximo, "seja parente ou não, seja-nos simpático ou não, seja moralmente digno da nossa ajuda ou não; quem ama com o amor de Cristo, ama a humanidade por Deus e não por si". O terceiro sinal da filiação divina é a disponibilidade para aceitar qualquer coisa da mão de Deus: o "faça-se a tua vontade!", em toda a sua extensão, deve ser o critério da vida cristã. Ele deve permear a jornada da manhã até a noite, o curso do ano e de toda a vida. "Deve ser a única preocupação do cristão. Todas as outras o Senhor toma para si".
À luz e ao calor da noite santa , quando mal começamos a nos confiar ao Menino, apertamos confiantes a sua mão e vemos com clareza o que devemos fazer ou não fazer. Mas a situação não ficará assim para sempre. Quem vê o encanto do Menino na noite santa não pode fingir que não percebe que o caminho que parte de Belém conduz ao Gólgota, vai da manjedoura até a cruz. "Quem pertence a Cristo deve viver toda a sua vida". A noite de Natal e a noite da cruz são uma única noite. Chegará o tempo do sofrimento e da morte para cada homem. Quando ele vier, a confiança em Deus permanecerá firme? Estaremos dispostos a aceitar qualquer coisa da sua mão? Seremos ainda capazes de dizer "faça-se a tua vontade", mesmo na "noite escura", quando a luz divina já não brilhar e a voz do Senhor silenciar? Os mistérios do cristianismo são um todo indivisível. Quem se aprofunda em um, acaba por tocar os outros todos, escreve Edith Stein. Sobre o luminoso esplendor da manjedoura paira a sombra da cruz. A luz da noite santa se apaga na escuridão da Sexta-feira Santa, mas volta a brilhar mais forte na manhã da ressurreição. O Filho encarnado de Deus, através da cruz e da paixão, chega até a glória da ressurreição. É assim que cada homem deve sofrer e morrer. Se for um membro vivo do Corpo de Cristo, porém, o seu sofrimento e a sua morte se tornarão, graças à divindade da Cabeça do corpo, redentores: "Cada um de nós, toda a humanidade, chegará, com o filho do homem, através do sofrimento e da morte, até a mesma glória". E o Salvador, sabendo que somos homens em luta diária com as nossas fraquezas, vem em nosso auxílio com aqueles que Edith Stein chamava de "meios de salvação": "estar todos os dias em relação com Deus" através da escuta da Palavra, da oração litúrgica e interior, da vida sacramental. Mas é principalmente para o "Salvador eucarístico" que precisamos abrir espaço, para podermos transformar a nossa vida na dele. Assim como o corpo terreno precisa do pão de cada dia, assim também a vida divina aspira em nós a ser alimentada continuamente: "Em quem realmente faz dele o seu pão de cada dia, cumpre-se diariamente o mistério do Natal, a encarnação do Verbo". E esta é, sem dúvida, a maneira mais segura de manter ininterrupta a união com Deus e de enraizar-se todos os dias e cada vez mais firmemente no corpo místico de Cristo.
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Edith Stein escreveu vinte páginas de meditação sobre o Natal, densíssimas, para lembrar que os mistérios do cristianismo são um todo indivisível, porque todos são mistérios portadores de salvação. Encarnação, cruz e ressurreição são inseparáveis. Só porque verdadeiramente o Filho, e nele o próprio Deus, "se fez carne", é que Ele poderia morrer e ressuscitar, arrebatando-nos da morte e nos abrindo um futuro em que esta "carne", a nossa existência terrena, entrará na eternidade do Reino de Deus. Celebramos o Natal como um convite a nos deixar transformar por Aquele que entrou em nossa carne, que se uniu a nós e nos uniu a si, para permear de vida divina toda a vida humana.
Que o mistério da noite de Natal nos lembre que algo extraordinário acontece mediante a encarnação: a carne se torna o instrumento da salvação.
"Verbum caro factum est": o Verbo se fez carne, escreve João Evangelista, e um autor cristão do século III, Tertuliano, afirma: "Caro salutis est cardo", a carne é o eixo da salvação. "Se a alma se torna totalmente de Deus, é a carne que o torna possível! A carne é batizada para que a alma seja purificada; a carne é ungida para que a alma seja consagrada; a carne é marcada pela cruz para que a alma fique incólume; a carne é coberta pela imposição das mãos para que a alma seja iluminada pelo Espírito; a carne se nutre do Corpo e do Sangue de Cristo para que a alma se sacie de Deus. Elas não serão, pois, separadas no dia da recompensa, porque estiveram unidas durante as obras" (De carnis resurrectione, 8,3: PL 2,806).


Via: Aleteia 


A responsabilidade dos pregadores

Ninguém prega em seu próprio nome, mas é enviado pela Igreja; então, o pregador precisa ser fiel à Igreja que representa.
Em suas homilias sobre os Evangelhos, São Gregório Magno (540-604), papa e doutor da Igreja, nos deixa uma profunda reflexão sobre a missão de todo pregador da Palavra de Deus. (Hom. 17,3.14: PL 76,1139-1140.1146).
Ele começa lembrando as palavras do Senhor: “A messe é grande, mas poucos os operários. Rogai, portanto, ao Senhor da messe que envie operários a seu campo. São poucos os operários para a grande messe” (Mt 9,37-38).
Sem meias palavras ele critica os maus sacerdotes do seu tempo: “Não podemos deixar de dizer isto com imensa tristeza, porque, embora haja quem escute as boas palavras, falta quem as diga. Eis que o mundo está cheio de sacerdotes. Todavia na messe de Deus é muito raro encontrar-se um operário. Recebemos, é certo, o ofício sacerdotal, mas não o pomos em prática… Que a língua não se entorpeça diante da exortação, para que, tendo recebido a condição de pregadores, nosso silêncio também não nos imobilize diante do justo juiz. Com frequência, por maldade sua, a língua dos pregadores se vê impedida. Por sua vez, por culpa dos súditos, muitas vezes acontece que seus chefes os privem da palavra da pregação. Por maldade sua, com efeito, a língua dos pregadores se vê impedida… Por sua vez, por culpa dos súditos, cala-se a voz dos pregadores”.
Neste tempo de relativismo moral, em que nem sempre os pregadores obedecem aos ensinamentos do Magistério da Igreja, muito bem definidos no Catecismo da Igreja, preferindo às vezes ensinar os “seus” conceitos, São Gregório diz:
“Porque se o silêncio do pastor às vezes o prejudica, sempre causa dano ao povo, isto é absolutamente certo. Há ainda outra coisa, irmãos caríssimos, que muito me aflige na vida dos pastores… Um cargo nos foi dado pela consagração e, na prática, damos prova de outro. Abandonamos o ministério da pregação e, reconheço-o para pesar nosso… Aqueles que nos foram confiados abandonam a Deus e nos calamos. Jazem em suas más ações e não lhes estendemos a mão da advertência. Quando, porém, conseguiremos corrigir a vida de outrem, se descuramos a nossa? Preocupados com questões terrenas, tornamo-nos tanto mais insensíveis interiormente quanto mais parecemos aplicados às coisas exteriores.”

Estas exortações não são apenas para os padres e bispos, porque hoje há muitos pregadores leigos, e todos nós precisamos pensar nisso. A Igreja, desde o Concílio Vaticano II, confiando nos leigos abriu-lhes as portas da evangelização. Mas isso tem uma consequência séria; é preciso que nós leigos estejamos preparados para pregar ao povo segundo aquilo que nos ensina a Igreja, e não aquilo que escolhemos pregar. Só a Igreja recebeu de Cristo o carisma de ensinar sem erro e de participar de sua infalibilidade. Diz o Catecismo da Igreja que:
“Para manter a Igreja na pureza da fé transmitida pelos Apóstolos, Cristo quis conferir à sua Igreja uma participação em sua própria infalibilidade, ele que é a Verdade ” (n.889).
De modo especial, os Catequistas, que exercem uma missão tão importante na Igreja, precisam conhecer muito bem o que ela nos ensina, tudo que recebeu do Espírito Santo, desde Cristo até hoje.
Cristo continua a chamar os pregadores “de todas as horas”: “Ao sair pelas nove horas da manhã, viu outros, que estavam ociosos, e disse-lhes: Ide vós também para a minha vinha” (Mt 20, 3-4).
Na exortação “Catechesi Tradendae”, São João Paulo II disse que: “A catequese foi sempre considerada pela Igreja como uma das suas tarefas primordiais, porque Cristo ressuscitado, antes de voltar para o Pai, deu aos Apóstolos uma última ordem: fazer discípulos de todas as nações e ensinar-lhes a observar tudo aquilo que lhes tinha mandado (cf. Mt 28,19).
alma_apostoladoDisse o Papa: “Todos os catequistas deveriam poder aplicar a si próprios a misteriosa palavra de Jesus: “A minha doutrina não é minha mas d’Aquele que me enviou” (Jo. 7,16). Está enunciado nesta passagem um tema frequente no quarto Evangelho: (cf. Jo. 3,34; 8,28; 12,49 s.; 14,24; 17,8.14. 13). É isso que faz São Paulo, ao tratar de um assunto de grande importância: “Eu aprendi do Senhor isto, que por minha vez vos transmiti” (1 Cor 11,23). A Igreja também nos adverte na Apostolicam Actuositatem: “Grassando em nossa época gravíssimos erros que ameaçam inverter profundamente a religião, este Concílio [Vat II] exorta de coração todos os leigos que assumam mais conscientemente suas responsabilidades na defesa dos princípios cristãos”. (Apostolicam Actuositatem, 6)
Que frequente e assíduo contato com a Palavra de Deus transmitida pelo Magistério da Igreja, que familiaridade profunda com Cristo e com o Pai, que espírito de oração e que desprendimento de si mesmo deve ter um catequista, para poder dizer: “A minha doutrina não é minha”!
Ninguém prega em seu próprio nome, mas é enviado pela Igreja; então, o pregador precisa ser fiel à Igreja que representa. Esta é a segurança de quem prega. Assim pode “pregar com autoridade”, como Jesus, certo de que ensina o que Deus quer.
Prof. Felipe Aquino

Cléofas 

Natividade de São João Batista: o maior dos profetas

A natividade de  São João Batista  é  uma solenidade muito importante no ano litúrgico, porque nesse dia lembramos o maior dos profetas, com...