25 de mar. de 2016

Sexta-feira Santa

Neste dia celebramos a paixão e morte de Jesus Cristo. O silêncio, o jejum e a oração devem marcar este dia que, ao contrário do que muitos pensam, não deve ser vivido em clima de luto, mas de profundo respeito diante da morte do Senhor que, morrendo, foi vitorioso e trouxe a salvação para todos, ressurgindo para a vida eterna.
Às 15 horas, horário em que Jesus foi morto, é celebrada a principal cerimônia do dia: a Paixão do Senhor. Ela consta de três partes: liturgia da Palavra, adoração da cruz e comunhão eucarística. Depois deste momento não há mais comunhão eucarística até que seja realizada a celebração da Páscoa, no Sábado Santo.
Ofício das Trevas
Trata-se de um conjunto de leituras, lamentações, salmos e preces penitenciais. O nome surgiu por causa da forma que se utilizava antigamente para celebrar o ritual. A igreja fica às escuras tendo somente um candelabro triangular, com velas acesas que se apagam aos poucos durante a cerimônia.

Sermão das Sete Palavras
Lembra as últimas palavras de Jesus, no Calvário, antes de sua morte. As sete palavras de Jesus são: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem…”, “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”, “Mulher, eis aí o teu filho… Eis aí a tua Mãe”, “Tenho Sede!”, “Eli, Eli, lema sabachtani? – Meu Deus, meus Deus, por que me abandonastes?”, “Tudo está consumado!”, “Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito!”. Neste dia, não se celebra a Santa Missa.
Por volta das 15 horas celebra-se nas igrejas católicas a Solene Ação Litúrgica comemorativa da Paixão e Morte de Jesus Cristo. À noite as paróquias fazem encenações da Paixão de Jesus Cristo com o Sermão do Descendimento da Cruz e em seguida a Procissão do Enterro, levando o esquife com a imagem do Senhor morto.
Prof. Felipe Aquino

Fonte: Cléofas

Via-Sacra: misericórdia, canal da graça de Deus que chega a todos

25/03/2016


Roma (RV) – Milhares de pessoas acompanharam as meditações das 14 estações da Via-Sacra presidida pelo Papa na noite de Sexta-feira Santa, no Coliseu em Roma.
As reflexões, propostas pelo Cardeal Arcebispo de Perugia, Gualtiero Bassetti, trouxeram o tema: “Deus é Misericórdia”.
“O corpo flagelado e humilhado de Jesus é o caminho da justiça, a justiça de Deus que transforma o sofrimento mais atroz na luz da ressurreição”.
As estações ainda recordaram as perseguições e a violência que atingiram a humanidade no passado e que a atingem também hoje: cristãos perseguidos, o drama dos migrantes.



As últimas estações recordaram o sofrimento das famílias em crise, dos casamentos fracassados, dos jovens sem trabalho, das “crianças profanadas na sua intimidade”, que sofreram abusos ou foram desrespeitadas na sua dignidade.
“Neste Jubileu extraordinário, a própria Via-Sacra de Sexta-feira Santa nos atrai com uma força especial, a força da misericórdia do Pai Celeste, que quer derramar o seu Espírito de graça e consolação sobre todos nós. A misericórdia é o canal da graça que, de Deus, chega a todos os homens e mulheres de hoje”.
Francisco encerrou a Via-Sacra com uma forte oração em que lembrou as cruzes que hoje atormentam o mundo.
Leia a íntegra das meditações
Fonte Rádio Vaticano 

Via-Sacra: cruzes que atormentam o mundo na oração do Papa

25/03/2016


Roma (RV) – Ao final das 14 estações da Via-Sacra no Coliseu de Roma, o Papa Francisco fez uma oração para denunciar as infinitas cruzes que atormentam a humanidade hoje.
O Pontífice condenou os fundamentalismos, o terrorismo, as guerras e os corruptos. Denunciou a destruição do meio ambiente em detrimento das futuras gerações, os mares que se tornaram “cemitérios insaciáveis”. O Papa falou também dos “ministros infiéis” que despojam os inocentes da sua dignidade. E rezou pelos idosos abandonados, pelas pessoas com deficiência e pelas crianças desnutridas.
Por outro lado, como sinais de esperança, Francisco citou religiosas e consagrados – “os bons samaritanos” – que abandonam tudo para faixar as feridas das pobrezas e da injustiça. E as pessoas que sonham com um coração de criança e que trabalham cada dia para tornar o mundo um lugar melhor, mais humano e mais justo.
“Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que o amanhecer do sol é mais forte do que a escuridão da noite. Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que a aparente vitória do mal se dissipa diante do túmulo vazio e perante a certeza da Ressurreição e do amor de Deus que nada pode derrotar, obscurecer ou enfraquecer”, pediu por fim o Santo Padre.


Abaixo, leia a oração do Papa Francisco
Ó Cruz de Cristo!
Ó Cruz de Cristo, símbolo do amor divino e da injustiça humana, ícone do sacrifício supremo por amor e do egoísmo extremo por insensatez, instrumento de morte e caminho de ressurreição, sinal da obediência e emblema da traição, patíbulo da perseguição e estandarte da vitória.
Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos erguida nas nossas irmãs e nos nossos irmãos assassinados, queimados vivos, degolados e decapitados com as espadas barbáricas e com o silêncio velhaco.
O Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos rostos exaustos e assustados das crianças, das mulheres e das pessoas que fogem das guerras e das violências e, muitas vezes, não encontram senão a morte e muitos Pilatos com as mãos lavadas.
Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos doutores da letra e não do espírito, da morte e não da vida, que, em vez de ensinar a misericórdia e a vida, ameaçam com a punição e a morte e condenam o justo.
Ó Cruz de Cristo, ainda hoje te vemos nos ministros infiéis que, em vez de se despojarem das suas vãs ambições, despojam mesmo os inocentes da sua dignidade.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos corações empedernidos daqueles que julgam comodamente os outros, corações prontos a condená-los até mesmo à lapidação, sem nunca se darem conta dos seus pecados e culpas.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos fundamentalismos e no terrorismo dos seguidores de alguma religião que profanam o nome de Deus e o utilizam para justificar as suas inauditas violências.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje naqueles que querem tirar-te dos lugares públicos e excluir-te da vida pública, em nome de certo paganismo laicista ou mesmo em nome da igualdade que tu própria nos ensinaste.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos poderosos e nos vendedores de armas que alimentam a fornalha das guerras com o sangue inocente dos irmãos.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos traidores que, por trinta dinheiros, entregam à morte qualquer um.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos ladrões e corruptos que, em vez de salvaguardar o bem comum e a ética, vendem-se no miserável mercado da imoralidade.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos insensatos que constroem depósitos para armazenar tesouros que perecem, deixando Lázaro morrer de fome às suas portas.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos destruidores da nossa «casa comum» que, egoisticamente, arruínam o futuro das próximas gerações.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos idosos abandonados pelos seus familiares, nas pessoas com deficiência e nas crianças desnutridas e descartadas pela nossa sociedade egoísta e hipócrita.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje no nosso Mediterrâneo e no Mar Egeu feitos um cemitério insaciável, imagem da nossa consciência insensível e narcotizada.
Ó Cruz de Cristo, imagem do amor sem fim e caminho da Ressurreição, vemos-te ainda hoje nas pessoas boas e justas que fazem o bem sem procurar aplausos nem a admiração dos outros.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos ministros fiéis e humildes que iluminam a escuridão da nossa vida como velas que se consumam gratuitamente para iluminar a vida dos últimos.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos rostos das religiosas e dos consagrados – os bons samaritanos – que abandonam tudo para faixar, no silêncio evangélico, as feridas das pobrezas e da injustiça.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos misericordiosos que encontram na misericórdia a expressão mais alta da justiça e da fé.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nas pessoas simples que vivem jubilosamente a sua fé no dia-a-dia e na filial observância dos mandamentos.
O Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos arrependidos que, a partir das profundezas da miséria dos seus pecados, sabem gritar: Senhor, lembra-Te de mim no teu reino!
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos Beatos e nos Santos que sabem atravessar a noite escura da fé sem perder a confiança em ti e sem a pretensão de compreender o teu silêncio misterioso.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nas famílias que vivem com fidelidade e fecundidade a sua vocação matrimonial.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos voluntários que generosamente socorrem os necessitados e os feridos.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos perseguidos pela sua fé que, no sofrimento, continuam a dar testemunho autêntico de Jesus e do Evangelho.
Ó Cruz de Cristo, vemos-te ainda hoje nos que sonham com um coração de criança e que trabalham cada dia para tornar o mundo um lugar melhor, mais humana e mais justo.
Em ti, Santa Cruz, vemos Deus que ama até ao fim, e vemos o ódio que domina e cega os corações e as mentes daqueles que preferem as trevas à luz.
Ó Cruz de Cristo, Arca de Noé que salvou a humanidade do dilúvio do pecado, salva-nos do mal e do maligno! Ó Trono de David e selo da Aliança divina e eterna, desperta-nos das seduções da vaidade! Ó grito de amor, suscita em nós o desejo de Deus, do bem e da luz.
Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que o amanhecer do sol é mais forte do que a escuridão da noite. Ó Cruz de Cristo, ensina-nos que a aparente vitória do mal se dissipa diante do túmulo vazio e perante a certeza da Ressurreição e do amor de Deus que nada pode derrotar, obscurecer ou enfraquecer. Amém!

Fonte: Rádio Vaticano 

Paixão do Senhor: homilia do Pregador da Casa Pontifícia

25/03/2016

Cidade do Vaticano (RV) - Publicamos a íntegra da homilia do Pregador da Casa Pontífícia, Pe. Raniero Cantalamessa, OFM Cap, na celebração da Paixão do Senhor, nesta Sexta-feira Santa, na Basílica de São Pedro. A tradução do italiano para o português foi realizada por Zenit. Os grifos são da redação.





"DEIXAI-VOS RECONCILIAR COM DEUS"
 
"Deus nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação [...] Suplicamo-vos em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não tinha conhecido o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornássemos justiça de Deus. Posto que somos seus colaboradores, exortamo-vos a não negligenciar a graça de Deus. Ele, com efeito, diz: ‘No tempo favorável te ouvi e no dia da salvação te socorri’. Eis agora o tempo favorável; eis agora o dia da salvação!” (2 Cor 5, 18; 6,2).
Estas são palavras de São Paulo na Segunda Carta aos Coríntios. O apelo do apóstolo a reconciliar-se com Deus não se refere à reconciliação histórica entre Deus e a humanidade (esta, ele acaba de dizer, já se realizou através de Cristo na cruz); tampouco se refere à reconciliação sacramental que acontece no batismo e no sacramento da reconciliação; refere-se a uma reconciliação existencial e pessoal, a ser vivida no presente. O apelo é dirigido aos cristãos de Corinto que são batizados e vivem há tempo na Igreja; é dirigido, por isso, também a nós, aqui e agora. “O tempo favorável, o dia da salvação” é, para nós, o ano da misericórdia que estamos vivendo.
Mas o que significa, em sentido existencial e psicológico, reconciliar-se com Deus? Uma das razões, talvez a principal, da alienação do homem moderno da religião e da fé é a imagem distorcida que ele tem de Deus. Qual é, de fato, a imagem "predefinida" de Deus no inconsciente humano coletivo? Para descobrir, basta fazer-se esta pergunta: "Que associação de ideias, que sentimentos e reações surgem em mim, antes de qualquer reflexão, quando, na oração do pai-nosso, chego às palavras ‘seja feita a vossa vontade’"?
Quem as diz é como se inclinasse interiormente a cabeça em resignação, preparando-se para o pior. Inconscientemente, vincula-se a vontade de Deus com tudo o que é desagradável, doloroso, com aquilo que, de uma forma ou de outra, pode ser visto como mutilação da liberdade e do desenvolvimento individual. É um pouco como se Deus fosse o inimigo de toda festa, alegria, prazer. Um Deus ranzinza e inquisidor.
Deus é visto como o Ser Supremo, o Onipotente, o Senhor do tempo e da história, isto é, como uma entidade que, de fora, se impõe ao indivíduo; nenhum particular da vida humana lhe escapa. A transgressão da Sua lei introduz inexoravelmente uma desordem que exige uma reparação adequada, que o homem sabe ser incapaz de lhe dar. Daí o medo e, às vezes, um surdo rancor contra Deus. É um resquício da ideia pagã de Deus, nunca erradicada de todo, e talvez inerradicável, do coração humano. É nela que se baseia a tragédia grega; Deus é aquele que intervém, através da punição divina, para restaurar a ordem perturbada pelo mal.
É claro que nunca foi ignorada, no cristianismo, a misericórdia de Deus! Mas a ela foi confiada apenas a incumbência de moderar os rigores irrenunciáveis ​​da justiça. A misericórdia era o expoente, não a base; a exceção, não a regra. O ano da misericórdia é a oportunidade de ouro para trazer de volta à luz a verdadeira imagem do Deus bíblico, que não somente tem misericórdia, mas é misericórdia.
Esta afirmação ousada se baseia no fato de que "Deus é amor" (1 Jo 4, 8.16). Só na Trindade Deus é amor sem ser misericórdia. Que o Pai ame o Filho não é graça ou concessão; é necessidade: Ele precisa amar para existir como Pai. Que o Filho ame o Pai não é misericórdia ou graça; é necessidade, mesmo queliberíssima: Ele precisa ser amado e amar para ser Filho. O mesmo deve ser dito do Espírito Santo, que é o amor feito pessoa.
É quando cria o mundo e, nele, as criaturas livres que o amor de Deus deixa de ser natureza e se torna graça. Este amor é uma livre concessão: poderia não existir; é hesed, graça e misericórdia. O pecado do homem não muda a natureza deste amor, mas provoca nele um salto de qualidade: da misericórdia como dom se passa à misericórdia como perdão. Do amor de simples doação se passa para um amor de sofrimento, porque Deus sofre diante da rejeição ao seu amor. "Eu nutri e criei filhos, diz o Senhor, mas eles se rebelaram contra mim" (Is 1, 2). Perguntemos aos muitos pais e mães que tiveram essa experiência se isto não é sofrimento, e dos mais amargos da vida.
* * *
E o que é da justiça de Deus? É esquecida ou desvalorizada? A esta pergunta quem respondeu de uma vez por todas foi São Paulo. Ele começa a sua exposição, na Carta aos Romanos, com uma notícia: "Manifestou-se a justiça de Deus" (Rm 3, 21). Nós nos perguntamos: qual justiça? Aquela que dá "unicuique suum", a cada um o que é seu, distribuindo prêmios e castigos de acordo com o mérito? Haverá, é verdade, um tempo em que se manifestará também essa justiça de Deus, que consiste em dar a cada um segundo os seus méritos. Deus, de fato, como escreveu pouco antes o Apóstolo, 
"retribuirá a cada um segundo as suas obras: a vida eterna aos que, perseverando nas obras de bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade; ira e indignação contra aqueles que, por rebelião, desobedecem à verdade e obedecem à injustiça" (Rom 2, 6-8).
Mas não é desta justiça que fala o Apóstolo quando escreve que "se manifestou a justiça de Deus". O primeiro é um evento futuro; este, um evento em ato, que acontece "agora". Se assim não fosse, a afirmação de Paulo seria absurda, negada pelos fatos. Do ponto de vista da justiça retributiva, nada mudou no mundo com a vinda de Cristo. Continuam, disseBossuet, a ver-se muitas vezes no trono os culpados e no patíbulo os inocentes[1]; mas para que não se creia que há no mundo alguma justiça e ordem fixa, ainda que invertida, eis que às vezes se vê o contrário, ou seja, o inocente no trono e o culpado no cadafalso. Não é nisto, portanto, que consiste a novidade trazida por Cristo. Ouçamos o que diz o Apóstolo:
"Todos pecaram e foram privados da glória de Deus, mas são justificados gratuitamente pela sua graça, em virtude da redenção realizada por Cristo Jesus. Deus o estabeleceu como instrumento de expiação por meio da fé, no seu sangue, a fim de manifestar a sua justiça, depois da tolerância usada para com os pecados passados no tempo da divina paciência. Ele manifesta a sua justiça no tempo presente, para ser justo e justificar quem tem fé em Jesus" (Rm 3, 23-26).
Deus faz justiça a si mesmo ao ter misericórdia! Eis a grande revelação. O Apóstolo diz que Deus é "justo e justificador": justo consigo mesmo quando justifica o homem; Ele, de fato, é amor e misericórdia; por isso faz justiça a si mesmo – demonstrando-se verdadeiramente como o que é – quando tem misericórdia.
Mas nada disto se entende quando não se compreende o que quer dizer, exatamente, a expressão "justiça de Deus". Existe o perigo de se ouvir falar de justiça de Deus e, ignorando o seu significado, ficar-se com medo em vez de encorajado. Santo Agostinho já tinha deixado claro: "A 'justiça de Deus' é aquela pela qual, por sua graça, nós nos tornamos justos, assim como a salvação do Senhor (Sl 3,9) é aquela pela qual Deus nos salva"[2]. Em outras palavras, a justiça de Deus é o ato pelo qual Deus faz justos, agradáveis a Si, aqueles que creem no Seu Filho. Não é um fazer-se justiça, mas um fazer justos.
Lutero teve o mérito de trazer de volta à luz esta verdade depois que, durante séculos, pelo menos na pregação cristã, o seu sentido tinha se perdido, e é isto, principalmente, que a Cristandade deve à Reforma, cujo quinto centenário ocorre no próximo ano. “Quando descobri isto, eu me senti renascer, e pareceu-me que se escancaravam para mim as portas do paraíso”[3], escreveu mais tarde o reformador. Mas não foram nem Agostinho nem Lutero os que assim explicaram o conceito de "justiça de Deus"; foi a Escritura que o fez antes deles:
"Quando se manifestaram a bondade de Deus e o seu amor pelos homens, Ele nos salvou, não por causa de obras de justiça por nós praticadas, mas por causa da sua misericórdia" (Tt 3, 4-5). "Deus, rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, fez-nos, de mortos que estávamos pelo pecado, reviver com Cristo. Pela graça fostes salvos" (cf. Ef 2, 4).
Dizer que "se manifestou a justiça de Deus", portanto, é como dizer que se manifestou a bondade de Deus, o seu amor, a sua misericórdia. A justiça de Deus não só não contradiz a sua misericórdia como consiste precisamente nela!
* * *
O que aconteceu na cruz de tão importante a ponto de justificar esta mudança radical nos destinos da humanidade? Em seu livro sobre Jesus de Nazaré, Bento XVI escreveu:
"A injustiça, o mal como realidade, não pode ser simplesmente ignorada, deixada acontecer. Deve ser eliminada, derrotada. Esta é a verdadeira misericórdia. E que o faça Deus mesmo, já que os homens não são capazes – esta é a bondade incondicional de Deus"[4].
Deus não se contentou em perdoar os pecados do homem; Ele fez infinitamente mais: Ele os tomou sobre si mesmo. O Filho de Deus, diz São Paulo, "se fez pecado por nós". Palavra terrível! Já na Idade Média havia quem achasse difícil acreditar que Deus exigira a morte do Filho para reconciliar consigo o mundo. São Bernardo lhe respondia: "Não foi a morte do Filho que aprouve a Deus, mas a sua vontade de morrer espontaneamente por nós": "non mors placuit sed voluntas sponte morientis"[5]. Não foi a morte, portanto, mas o amor que nos salvou! O amor de Deus alcançou o homem no ponto mais distante a que ele tinha se expulsado ao fugir de Deus, ou seja, a morte.
A morte de Cristo devia ser para todos a prova suprema da misericórdia de Deus para com os pecadores. É por isso que ela não tem sequer a majestade de certa solidão, mas é enquadrada, antes, entre dois ladrões. Jesus quis ser amigo dos pecadores até o fim: por isso morreu como eles e com eles. O ódio e a ferocidade dos ataques terroristas desta semana  em Bruxelas nos ajudam a entender a força divina contida nas últimas palavras de Cristo: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem" (Lc 23, 34). Não importa quão grande o ódio dos homens, o amor de Deus tem sido, e será, cada vez maior. Para nós, é dirigida, nas atuais circunstancias, a exortação do Apóstolo Paulo: "Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem"(Rm 12, 21).
* * *
É hora de perceber que o oposto da misericórdia não é a justiça, mas a vingança. Jesus não opôs a misericórdia à justiça, mas à lei de talião: "olho por olho, dente por dente". Perdoando os pecados, Deus não renuncia à justiça, mas à vingança; Ele não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez 18, 23). Jesus Cristo, na cruz, não pediu ao Pai que vingasse a sua causa; pediu-lhe que perdoasse os seus algozes.
Temos que desmitificar a vingança! Ela se tornou um mito penetrante, que contamina tudo e todos, começando pelas crianças. Grande parte das histórias levadas às tela e aos jogos eletrônicos são histórias de vingança. Metade, se não mais, do sofrimento que há no mundo (quando não se trata de males naturais) vem do desejo de vingança, seja nas relações entre as pessoas, seja nas relações entre países e povos.
Foi dito que "o mundo será salvo pela beleza"[6]; mas a beleza também pode levar à ruína. Há somente uma coisa que realmente pode salvar o mundo: a misericórdia! A misericórdia de Deus pelos homens e dos homens entre si. Ela pode salvar, em particular, a coisa mais preciosa e mais frágil que há no mundo neste momento: o matrimônio e a família.
Acontece no matrimônio algo semelhante ao que aconteceu na relação entre Deus e a humanidade, que a Bíblia descreve, precisamente, com a imagem de um casamento. No início de tudo, dizíamos, está o amor, não a misericórdia. A misericórdia só intervém depois do pecado do homem. Também no casamento, no início não há misericórdia, mas amor. As pessoas não se casam por misericórdia, mas por amor. Depois de anos, ou meses, de vida em comum, revelam-se os limites pessoais, os problemas de saúde, do dinheiro, dos filhos; intervém a rotina, que apaga toda alegria.
O que pode salvar um casamento de escorregar para um poço sem fundo, senão o divórcio, é a misericórdia, entendida no sentido completo da Bíblia, ou seja, não apenas como perdão recíproco, mas como um "revestir-se de sentimentos de ternura, de bondade, de humildade, de mansidão e de magnanimidade" (Col 3, 12). A misericórdia faz com que ao eros se junte o ágape; ao amor de busca, o de doação e de compaixão. Deus "se apieda" do homem (Sl 102, 13): não deveriam marido e mulher se apiedar um do outro? E não deveríamos, nós que vivemos em comunidade, apiedar-nos uns dos outros em vez de nos julgarmos?
Oremos. Pai Celestial, pelos méritos do teu Filho, que, na cruz, "se fez pecado" por nós, afasta do coração das pessoas, das famílias e dos povos o desejo de vingança e faz-nos enamorar da misericórdia. Faz que a intenção do Santo Padre ao proclamar este ano santo da misericórdia encontre resposta concreta em nosso coração e leve todos a experimentarem a alegria da reconciliação contigo. Assim seja!
[1] Jacques-Bénigne Bossuet“Sermon sur la Providence” (1662), in Oeuvresde Bossueteds. B. Velat and Y. Champailler (Paris: Pléiade, 1961), pág. 1062. 
[2] S. Agostinho, O Espírito e a letra, 32,56 (PL 44, 237).
[3] Martinho Lutero, Prefácio às obras em latim, ed . Weimar, 54, pág.186.
[4] Cf. J. Ratzinger - Bento XVI, Jesus de Nazaré, II Parte, Libreria Editrice Vaticana 2011, pág. 151.
[5] S. Bernardo de Claraval, Contra os erros de Abelardo, 8, 21-22 (PL 182, 1070).
[6] F. Dostoiévski, O Idiota, parte III, cap.5.

Fonte: Rádio Vaticano 

24 de mar. de 2016

Papa lava os pés de refugiados: somos todos filhos do mesmo Pai!

24/03/2016


Castelnuovo di Porto (RV) – O Papa deixou o Vaticano na tarde desta Quinta-feira Santa para ir até o norte de Roma onde, na presença de mais de 800 requerentes de asilo, celebrou a Missa da Ceia do Senhor com o Rito do Lava-pés.
A pequena cidade de Castelnuovo di Porto abriga os refugiados que chegam à Itália e permanecem no Centro de Acolhida até obter os documentos para viver legalmente no país.
Em sua homilia feita sem texto preparado, Francisco falou de dois gestos: Jesus que lava os pés aos seus discípulos e Judas que, por 30 moedas, entrega Jesus aos inimigos. "Também hoje aqui existem dois gestos", destacou o Papa:
Integração
“Este: todos nós, juntos, muçulmanos, hindus, católicos, coptas, evangélicos, mas irmãos, filhos do mesmo Deus, que queremos viver em paz, integrados”.
Ao lembrar os atentados terroristas em Bruxelas – “um gesto de guerra, de destruição”, – Francisco recordou que por trás dos camicazes haviam outros interesses:
“Atrás daquele de gesto estão os traficantes de armas que querem o sangue, não a paz, que querem a guerra, não a fraternidade”.
Para contrastar o terrorismo, Francisco citou a reunião de todos – “de diversas religiões, diversas culturas, filhos do mesmo Pai” – para celebrar a Ceia do Senhor contra “aqueles que compram as armas para destruir a fraternidade”. Neste ponto, o Papa recordou as dificuldades enfrentadas pelos refugiados:
Coração aberto
“Este é o gesto que eu faço com vocês: cada um de nós tem uma história, cada um de vocês tem uma história, tantas cruzes e dores, mas também um coração aberto que quer a fraternidade”.
Antes de passar ao Rito do Lava-pés, Francisco pediu que cada um, na sua língua, “rezasse ao Senhor para que esta fraternidade se espalhe pelo mundo”:
“Para que não existam as 30 moedas para matar o irmão, para que sempre exista a fraternidade e a bondade. Assim seja!”, concluiu o Pontífice. (rb)

Rádio Vaticano 

Missa do Crisma: sacerdotes, testemunhas da misericórdia

24/03/2016


Cidade do Vaticano (RV) – O Papa celebrou na manhã desta Quinta-feira Santa, na Basílica de São Pedro, a Missa do Santo Crisma, durante a qual abençoou os óleos dos Catecúmenos e dos Enfermos e consagrou o Santo Crisma.


Na sua homilia, na presença de milhares de sacerdotes, Francisco partiu da primeira pregação de Jesus na Sinagoga de Nazaré, que marcava o início da sua vida pública terrena. Mas, seus conterrâneos não quiseram ouvi-lo, pelo contrário, rejeitaram-no por ele ser o filho de José, o carpinteiro.
E precisamente onde o Senhor anuncia o evangelho da Misericórdia incondicional do Pai para com os mais pobres, os mais marginalizados e oprimidos, aí, disse Francisco, somos chamados a escolher, a "combater o bom combate da fé":
Libertação
“A luta do Senhor não é contra os homens, mas contra o demônio, inimigo da humanidade. Assim o Senhor, passando pelo meio daqueles que o queriam detê-lo, prosseguiu o seu caminho. Jesus não combate para consolidar um espaço de poder, mas para abrir uma brecha à torrente da Misericórdia que deseja, com o Pai e o Espírito, derramar sobre a terra. Uma Misericórdia que anuncia e traz algo de novo: cura, liberta e proclama o ano de graça do Senhor!”
De fato, a Misericórdia do nosso Deus é infinita e inefável; é uma Misericórdia a caminho, que avança sempre em uma terra onde reinavam a indiferença e a violência. Eis a dinâmica do bom Samaritano, que usou de misericórdia e de amor. «Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia»! E dirigindo-se, de modo particular, aos numerosos sacerdotes presentes, o Pontífice exortou:
Cura
Como sacerdotes, somos testemunhas e ministros de uma Misericórdia cada vez maior do nosso Pai; temos a doce e confortadora tarefa de a encarnar na terra, como Jesus fez ao andar, por toda a parte, fazendo o bem e curando, para que a sua misericórdia chegasse a todos. Devemos contribuir para a sua enculturação, a fim de que cada pessoa a receba, a compreenda e a pratique”.
Hoje, explicou o Papa, nesta Quinta-feira Santa do Ano Jubilar da Misericórdia, “gostaria de falar de dois âmbitos onde o Senhor excede na sua misericórdia: o encontro e o perdão. Com o encontro, Deus se esmera em Misericórdia e se entrega totalmente, como na parábola do Filho pródigo. Logo, devemos contemplar, glorificar e agradecer esta superabundância da graça e da bondade do Pai. Neste sentido, Francisco passou ao segundo âmbito da Misericórdia divina: o perdão:
Perdoar
A nossa resposta ao perdão superabundante do Senhor deveria consistir em manter-nos sempre naquela tensão saudável entre uma vergonha dignificante e uma dignidade que sabe envergonhar-se: atitude de quem procura humilhar-se e rebaixar-se, mas capaz de aceitar que o Senhor o eleve para benefício da missão: ‘Vós sereis chamados “sacerdotes do Senhor”, e nomeados “ministros do nosso Deus’. O Senhor transforma o povo pobre, faminto, prisioneiro de guerra, sem futuro, descartado, em povo sacerdotal”.
Neste sentido, o Santo Padre adverte os sacerdotes a identificar-se com aquele povo descartado, que o Senhor salva, lembrando-se de que existem multidões inumeráveis de pessoas pobres, ignorantes e prisioneiras por causa daqueles que as oprimem. Por isso, recorda que nós, tantas vezes, somos cegos, privados da luz maravilhosa da fé, devido ao excesso de teologias complicadas e de espiritualidades superficiais, que nos tornam prisioneiros e oprimidos. E concluiu:
E Jesus vem resgatar-nos, libertar-nos, transformando-nos de pobres e cegos, de prisioneiros e oprimidos em ministros da Misericórdia e da Consolação. Neste Ano Jubilar, celebremos o nosso Pai, com toda a gratidão do nosso coração, suplicando-lhe a recordar-se sempre da sua Misericórdia”! Peçamos-lhe que nos lave de todo o pecado e nos livre de todo o mal”.
Com a graça do Espírito Santo, disse por fim o Papa, procuremos comprometer-nos a comunicar a Misericórdia de Deus a todos os homens, praticando as obras que o Espírito suscita em cada um para o bem comum de todo o povo fiel de Deus! (MT)
    Rádio Vaticano 

23 de mar. de 2016

Cartas de Santa Faustina



Fonte: Canal no YouTube Santuário da Divina Misericórdia

As sete palavras do Senhor na Cruz

O profeta Isaías mostra-nos que Jesus foi para a cruz “como um cordeiro que se conduz ao matadouro (Ele não abriu a boca)” (Is 53,7). Mas o Senhor quis deixar-nos as suas últimas palavras, já pregado na Cruz. São aquelas que expressam as suas maiores preocupações e recomendações. A Igreja sempre guardou essas “Sete Palavras” com profundo amor, respeito e devoção, procurando tirar delas todo o seu riquíssimo significado.
1 – “Pai, perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Com essas palavras Jesus selava todo o seu ensinamento sobre a necessidade de “perdoar até os inimigos” ( Mt 5,44) .
Na Cruz o Senhor confirmava para todos nós que é possível, sim, viver “a maior exigência da fé cristã”: o perdão incondicional a todos. Na Cruz Ele selava o que tinha ensinado: “Não resistais ao mau. Se alguém te feriu a face direita, oferece-lhe também a outra… Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis filhos do vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons” (Mt 5,44-48). “Se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará”( Mt 6,14).cpa_as_sete_palavras
Quando for difícil perdoar o amigo que nos decepcionou, o marido que nos traiu, a mulher que nos abandonou, ou aquele que nos humilhou, caluniou ou destruiu, então, olhemos para o Senhor dilacerado na Cruz, dizendo aos seus algozes:“Pai, perdoai-lhes…”
Certa vez Pedro perguntou-Lhe: “Senhor, quantas vezes devo perdoar meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?”
Ao que Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18, 21-22).
2 – “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). Com essas palavras de perdão e amor ao “bom” ladrão, Jesus nos mostra o oceano ilimitado de sua misericórdia. Bastou Dimas confiar no Coração Misericordioso do Senhor, para ter-lhe abertas, de imediato, as portas do Céu.
Não é à toa que a Igreja ensina que o pior pecado é o da desesperança, o de não confiar no perdão de Deus, por achar que o próprio pecado possa ser maior do que a infinita misericórdia do Senhor. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia: “como a misericórdia e a bondade do coração de Jesus são pouco conhecidas”!
Muitas vezes o Senhor nos permite ser humilhados pelos nossos pecados, para sentirmos toda a nossa fraqueza, tocando o chão duro da nossa miséria, a fim de nos tornar humildes. Mas, ao levantarmos, arrependidos, experimentamos a doçura da sua misericórdia. Dizia Santo Agostinho: “oh! feliz culpa! oh! culpa feliz! Se não tivesse caído, não seria tão feliz!” Jesus mandou à Santa Maria Faustina Kowalska que, sob o “quadro da Misericórdia”, escrevesse esta frase: “Jesus, eu confio em Vós”.
3 – “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mt 27,46; Sl 21). Aqui vemos todo o aniquilamento do
Senhor. É aquilo que São Paulo exprimiu muito bem aos filipenses: “aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo” (Fil 2,8). Jesus sofreu todo o aniquilamento possível de se imaginar: moral, psicológico, afetivo, físico, espiritual, enfim, como disse o profeta: “foi castigado por nossos crimes e esmagado por nossas iniqüidades…” (Is 53,5).
Depois de tudo isto “ninguém tem mais o direito de duvidar do amor de Deus”. Será uma grande blasfêmia alguém dizer que Deus não lhe ama, depois que Jesus sofreu tanto para assumir em si o pecado de todos os homens e de cada homem. Paulo disse aos Gálatas: “Ele morreu por mim”(Gal 5,22). “Cristo remiu-nos da maldição da Lei, fazendo-se por nós Maldição, pois está escrito: ‘Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro’ (Deut 21,23)”.
4 – “Mulher, eis aí o teu filho”… “Filho, eis aí tua Mãe” (Jo19,26).
Tendo entregado-se todo pela nossa salvação, já prestes a morrer, Jesus ainda nos quis deixar o que Ele tinha de mais precioso nesta vida, a sua querida Mãe. E como Jesus confiava nela! A tal ponto de querê-la para nossa Mãe também. Todos aqueles que se esquecem de Maria, ou, pior ainda, a rejeitam, esquecem e rejeitam também a Jesus, pois negam receber de Suas mãos, na hora suprema da Morte, o seu maior Presente para nós.
Quem rejeita ou abandona essa boa Mãe, ofende gravemente a Jesus, pois foi por expressa vontade sua, na hora da morte, que nós a recebemos como nossa Mãe. E, se Ele assim o quis, será que nós ousaremos dizer não a Ele? Seria presunção.

É claro que só Jesus é o Salvador, “o único mediador entre Deus e os homens” (1Tm2,5), mas Maria é o mais curto caminho até o Senhor. A mediação de Maria, de forma alguma substitui a de Jesus, que é única e essencial. Maria coopera com a mediação de Jesus. Sem a de Jesus nenhuma outra teria eficácia. Maria é a grande Medianeira de todas as graças que recebemos de Deus, por Sua vontade.
5 – “Tenho sede!” (Jo 19,28). Dizem os Santos Padres da Igreja que esta “sede” do Senhor mais do que sede de água, é “sede de almas a serem salvas”, com o seu próprio Sacrifício que se consumava naquela hora. E esta “sede” de Jesus continua hoje, mais forte do que nunca.
Muitos ainda, pelos quais ele derramou o seu sangue preciosíssimo, continuam vivendo uma vida de pecado, afastados do amor de Deus e da Igreja. Quantos e quantos batizados, talvez a maioria, nem sequer vai à Missa aos domingos, não sabe o que é uma Confissão há anos, não comunga, não reza, enfim, vive como se Deus não existisse…
Cada um de nós, que tem consciência dessa enorme “sede” do Senhor, é chamado a saciá-la, ainda que seja com uma simples gota dágua. Trabalhar pelo Reino de Deus, lutar pela conversão dos pecadores, como fizeram todos os santos, sem exceção, é saciar essa sede imensa do Senhor. Ele é o bom Pastor que não quer perder “nenhuma” delas. Ele deixa as noventa e nove no aprisco e vai atrás daquela que está perdida nos abismos e nos espinheiros. Por isso a sua “sede” é imensa; é sede de amor.
6 – “Tudo está consumado” (Jo 19,30).
Diz-nos São João:“sabendo Jesus que tudo estava consumado…”. Enquanto tudo não estava cumprido, Ele não “entregou” o Seu espírito ao Pai. A nossa salvação depende agora de nós, porque a parte de Deus já foi perfeitamente cumprida até às últimas consequências. Ninguém mais poderá dizer que lhe falta o auxílio da graça de Deus, pois ela está agora a nosso dispor. Pelos méritos de Cristo morto na Cruz, a salvação está disponível a todos. E de graça. “O pecado já não vos dominará” (Rom 6,14), disse São Paulo. Agora já podemos ser livres dele. “De agora em diante, pois, já não há condenação alguma para aqueles que estão em Jesus Cristo. A lei do Espírito de vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte” (Rm 8,1). “É para que sejamos homens livres que Cristo nos libertou. Ficai, portanto, firmes e não vos submetais outra vez ao julgo da escravidão”( Gl 5,1).
7 – “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46).
Confiando plenamente no Pai, Jesus volta para Aquele que tanto amava. É o seu destino, o coração do Pai; e é o nosso destino também. Ao voltar para o Pai, Jesus indica o nosso fim; o seio do Pai, o Céu. O Céu sempre foi a grande atração dos santos durante toda vida. “Vós sois cidadãos do Céu” (Fil 3,20), grita o Apóstolo; por isso, como diz a Liturgia, é preciso “caminhar entre as coisas que passam, abraçando somente as que não passam”.
Jesus pôde entregar o espírito nas mãos do Pai, com toda confiança, porque não apegou-se a nada neste mundo, mas somente ao próprio Pai, e ao zelo de fazer a sua vontade. Depois de cumprir diligentemente tudo o que era a vontade do Pai, depois de beber até a última gota o cálice da nossa salvação, só então, Jesus entrega o espírito, só depois de ver “tudo consumado”. “Consumatum est!”
Para nós também esta deve ser a meta e o exemplo a ser seguido. Já que “ser cristão é ser um outro Cristo”, cada um de nós é chamado a desapegar-se de tudo nesta vida; a si mesmo, aos outros, aos bens, aos prazeres deste mundo, etc, para poder cumprir, como Jesus, a vontade do Pai.cpa_carta_aos_amigos
Diante da Cruz de Jesus, o que é a nossa cruz? Diante do Sofrimento do Justo, o que é o nosso sofrimento? De que podemos reclamar nesta vida, quando o Filho de Deus segue para o suplício cruel “como um cordeiro que se conduz ao matadouro?” (Is 53,7)
O que podemos exigir, quando Ele nada exigiu?
Que direito temos de reagir às ofensas e maus tratos que os outros e a vida nos impõem, quando o Santo morreu perdoando os seus algozes?
Olhando para o Senhor crucificado, devemos ficar envergonhados de nossas exigências, revoltas, lamúrias, reclamações, auto piedade, desforras, etc…
“Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca ” (Is 53,4).
Prof. Felipe Aquino

Via: Cléofas 

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