13 de nov. de 2015

O “Deus de Justiça” do Antigo Testamento

Ancient bookA história bíblica, assim como a da civilização profana, não deixam de fornecer indícios de que o homem antigo tinha mentalidade rude – dura cerviz, como dizem, a respeito de seu povo, os autores israelitas (cf. Êx 32,9; 33, 3; Dt 9,6; 10, 16).
Todavia uma dificuldade se põe a quem lê a Sagrada Escritura: esta, em um ou outro caso, parece ensinar que o próprio Deus é o Autor da dureza de coração do homem; dir-se-ia que o Altíssimo se compraz desproporcional. É o que faz com que no Antigo Testamento predomine a figura de um Deus aparentemente “vingativo, mais ou menos arbitrário na aplicação da justiça”.
Ao estudo deste tema dedicar-se-á o presente capítulo. Longe de pretender reconstituir a “teologia” do Antigo Testamento, restringir-se-á ao aspecto “Deus e o pecado na Antiga aliança”.
§ 1.° Um princípio geral
Para se abordar devidamente o assunto, tenha-se em vista um traço já mencionado da mentalidade oriental: o semita tendia a exaltar a ação de Deus em tudo que aconteça na história, sem distinguir se tal efeito é, direta ou indiretamente, causado ou apenas permitido pelo Altíssimo.
Esta tendência, de resto, se enquadra dentro de uma atitude ainda mais geral do pensamento hebraico: o judeu era propenso a atribuir ao dinamismo, ao movimento, o primado sobre os demais valores que constituem um ser perfeito. Era, pois, a fim de mais colocar em realce a suma Perfeição Divina que ele imputava ao Todo-Poderoso intervenção direta, soberana, em tudo que se faz no mundo; Javé, por conseguinte, na Sagrada Escritura, é apresentado em ato de trovejar (Sl 28), ocultar Jeremias e Baruque contra investidas dos ímpios, ditar ou escrever o conteúdo das tábuas da Leis; os israelitas chegavam a admitir que nem o mal fica fora da alçada da atividade divina. Tal modo de falar, apresentando Deus sempre muito envolvido nas façanhas dos homens, acarretava o risco de se encobrir indevidamente outro aspecto da Divindade: a sua absoluta transcendência.
Ao contrário, a mentalidade grega, que neste ponto mais influenciou o pensamento cristão, inclinava-se a exaltar principalmente a perfeição ontológica, o perfeitíssimo Ser de Deus como tal; para ela, a Divindade era objeto de contemplação mais ainda do que sujeito de atividade.
Esta advertência já nos abre a via ao entendimento das passagens bíblicas que falam da intervenção de Deus no mal cometido pelos homens. Passamos a examinar os principais desses textos.
§ 2.°O recenseamento pecaminoso
Não há talvez trecho que mais revele a mentalidade dos autores sagradas na questão proposta do que a narrativa de um recenseamento do povo de Israel instituído pelo rei Davi. Referem-no dois textos bíblicos: 2Sm 24, 1-4 e 1C r 21, 1-4. Comparemo-los entre si:
2SM 24,1. “A ira do Senhor se inflamou de novo contra Israel, e incitou Davi contra eles, dizendo: ‘Vai, faze o recenseamento de Israel e de Judá’.
2. O rei então disse a Joab, chefe do exército, que estava com ele: ‘Percorre, pois, todas as tribos de Israel, desde Dã até Bersabé; faze o alistamento do povo a fim de que eu fique sabendo o total da população’. 3. Joab respondeu ao rei: ‘Que o Senhor teu Deus torne o povo cem vezes mais numeroso do que é agora, e que os olhos do rei meu senhor o vejam! Mas por que se compraz o Senhor meu rei em fazer isso?’ 4. A palavra do rei, porém, prevaleceu contra Joab e contra os chefes do exército; e Joab e os chefes do exército partiram a fim de fazer o recenseamento do povo de Israel.”
1Cr 21, 1. “Satã se levantou contra Israel e excitou Davi a fazer o recenseamento de Israel.
2.Disse então Davi a Joab e aos chefes do povo: ‘Ide contai a população de Israel desde Bersabé até Dã, e trazei-me o resultado, a fim de que eu conheça o seu número’. 3. Joab respondeu: ‘Que o Senhor torne o povo cem vezes mias numeroso! O rei meu senhor, não são todos escravos do meu senhor? Por que é, pois, que o meu senhor pede isso? Por que fazer vir o pecado sobre Israel?’ 4. Mas a palavra do rei prevaleceu contra Joab. Este se foi e percorreu todo Israel, voltando por fim a Jerusalém.”
Particular importante: 2Sm data provavelmente do séc IX a.C., ao passo que 1Cr terá sido redigido nos séc. IV/III a.C.
O autor de 2Sm 24 dava a entender, pouco antes da seção acima, que o povo de Israel incorrera em grave culpa perante Deus; devendo puni-lo, o Senhor houve por bem servir-se, para isto, de uma falta do rei Davi. Diz então o hagiógrafo que Deus mesmo instigou Davi ao pecado; teria, sim, excitado o monarca a promover um recenseamento das tribos de Israel…
Perguntar-se-á de passagem: e que mal podia haver nessa medida de caráter administrativo?
Para os orientais, um recenseamento significava ato de arrogância do homem frente a Deus, pois implicava a intromissão da criatura num domínio reservado só ao Criador – o da multiplicação dos seres vivos. O texto bíblico mesmo insinua esta concepção: refere que Joab, general de Davi, tendo recebido a dita ordem, procurou dissuadir o rei (2Sm 24, 3); e com particular razão o fez: Israel era, por excelência, o povo de Deus; o monarca, mandando recenseá-lo, procedia como qualquer outro soberano, isto é, como se considerasse senhor absoluto dos seus súbitos e contasse unicamente com os recursos de administração humanos. Mais ainda: tendo Deus prometido a Abrãao posteridade inumerável (cf. Gn 15, 5), um recenseamento do povo tomava facilmente o aspecto de verificação do dom de Deus, ditada por falta de confiança.
Não obstante as palavras de Joab, Davi insistiu na execução da ordem; em consequência, foi, com os israelitas, castigado pelo flagelo de uma peste que durante três dias assolou a nação.
Eis como o episódio era narrado no séc. IX a.C.
Um redator bem posterior (séc. IV/III a.C) referiu no livro das Crônicas a mesma história. Tinha, porém, consciência de que 2Sm 24 empregava um modo de falar ambíguo, e resolveu dar mais precisão teológica à fórmula do cronista anterior: atribuiu, pois, a Satã a instigação ao mal que a Deus fora imputada. Mencionava assim o verdadeiro inspirador do pecado de Davi; deixava-nos concluir que o Altíssimo não fizera senão permitir a falta, prestes a englobá-la dentro do sábio plano da Providência.
Aliás, no início da era cristã (ca. De 50 d. C.), também o apóstolo S. Tiago, na sua epístola, reagia contra a falsa nação que o texto de 2Sm 24 podia sugerir:
“Ninguém, ao ser tentado, diga: ‘É Deus quem me tenta’. Com efeito, Deus não pode ser tentado para o mal nem tenta alguém. Ao contrário, cada um é tentado por sua própria concupiscência.” (1, 13)
Eis como a Sagrada escritura mesma explica uma de suas passagens obscuras, abrindo-nos o caminho para a exegese de outras semelhantes.
§ 3.° O “Mau Espírito” do Senhor
1. O rei Saul, depois de ter tornado indigno de sua missão, foi rejeitado por Deus. em consequência, via-se frequentemente acometido de acessos de neurastenia, que o levavam até ao desvairo; por duas vezes, enfurecido, tentou matar Davi, transpassando-o com uma lança contra o muro (cf. 1SM 18, 10s.). Ora a Escritura explica isso tudo, dizendo que “o espírito do Senhor se retirou de Saul, e um mau espírito, vindo do Senhor, dele se apossou” (1 Sm 16, 14; o “mau espírito do Senhor” é mencionado outrossim em 1Sm 18, 10; 19, 9).
Como se há de entender uma tal “possessão”?
Nas expressões acima, o vocábulo “espírito” deve ser interpretado à luz de outros trechos do Antigo Testamento, que falam do “espírito de inveja que se apodera de um marido” (cf. Nm 5, 14.30), do “espírito de prostituição” ou apostasia religiosa (Os 4, 12; 5,4) do “espírito de impureza” (Zc 13, 2), do “espírito de sabedoria” (Êx 28, 3), do “espírito de torpor” (Is 29, 10) etc. “Espírito”, em todas essas passagens, designa claramente, conforme o contexto, uma atitude de ânimo, disposições interiores de um indivíduo, em que predomina ora a inveja, ora a infidelidade, ora a luxúria, ora a sabedoria, ora outro atributo (não se trata aí de algum anjo ou demônio). Ilustrados por tais textos, os dizeres de 1Sm significam, pois, que Saul perdeu suas habituais disposições de piedade e deferência para com Javé (“um espírito mau”); esta atitude mesma é mencionada como proveniente do Senhor, porque foi Deus quem permitiu, sim, que Saul fosse infiel e ressentisse as consequências, fisiológicas e psicológicas, do seu erro.
2. Semelhante é a exegese do trecho de Jz 9, 23.: “Deus enviou um espírito mau entre Abimeleque e os habitantes de Siquém”, espírito que provocou rebelião dos siquemitas contra seu chefe. Isto não quer dizer senão que o Senhor deixou que se originassem discórdias graves entre homens que se haviam previamente associado para cometer hediondo morticínio (ou seja, o assassinato de setenta consanguíneos de Abimeleque). A aliança fundada sobre planos pecaminosos não pode ser duradoura; cedo ou tarde, o egoísmo não refreado dos contraentes tende a rompê-la! É o que se dá em especial intervenção de Deus; foi o que se deu no caso acima.
3. Análogos aos textos antecedentes são aqueles onde hagiógrafo diz que Deus endurece o coração dos homens, seja do Faraó, seja do povo eleito.
Tais passagens significam apenas que Deus é o Autor de feitos destinados a promover o bem dos pecadores; todavia os homens, em vez de renderem ao significado providencial de tais obras e se salvarem, à vista das mesmas obstinam-se ainda mais conscientemente no mal, fechando-se nos seus propósitos perversos; destarte a ação divina, em si benévola, torna-se ocasião para que a criatura tome grave atitude pecaminosa. Para os judeus, que em tudo viam a atividade de Deus, isto equivalia a uma ação direta do Senhor sobre o coração humano, visando a obstinação dos pecadores.
Na história do Faraó em particular, o próprio hagiógrafo interpreta a sua expressão literária, afirmando em Êx 8, 11.28 que o monarca mesmo “endureceu o seu coração”, resistindo aos sinais divinos, ou que “continuou a pecar e tornou pesado o seu coração” (9 ,35); assim procedendo, Faraó reconhecia estar falando contra Deus (cf. Êx 9, 27; 10, 16).
Quanto à missa de pregar confiada ao profeta Isaías, torna-se evidente que não visava obcecar o povo no pecado (como poderia sugerir Is 6, 9s.), se consideram passagens como Is 1, 16-20, em que o profeta exorta os judeus à conversão, e Is 1,25-27, onde prediz que a ação de Deus purificará Israel. As admoestações de Isaías, porém, seriam ocasiões para que muitos, obstinados no mal, fechassem ainda mais conscientemente os olhos à verdade. Paralelamente, na plenitude dos tempos, Jesus, embora soubesse que seus ensinamentos e milagres acarretariam a queda momentânea de Israel, não quis deixar de apregoar a “Boa Nova”, sem tolher a liberdade do homem, o Senhor sabe sempre envolver os desmandos deste dentro de um plano sumamente harmonioso.
Por fim, já próximo da era cristã, o autor do Eclesiástico dava com toda a clareza a norma básica para a exegese dos textos acima, afirmando categoricamente:
“Deus a ninguém nada seja ímpio,
A ninguém concede a licença de pecar”. (15, 20)
4. Na linha dos episódios que vimos analisando, ainda se poderia citar o de 1Rs 22, 6-23: é em termos particularmente vivos e insistentes que apresenta o “mau espírito do Senhor”.

O hagiógrafo conduz o leitor à corte do rei Acab de Israel (874-853 a.C.), o qual desejava fazer uma expedição bélica contra o rei da Síria; antes, porém, de partir para a guerra, resolveu consultar os profetas que o assistiam. Ora havia naquela época não poucos falsos portadores da Palavra de Deus, que faziam carreira na corte real. Interrogados, predisseram ao rei pleno sucesso na campanha. Eis, porém, que em dado momento um autêntico profeta, Miquéias, surge na assembleia dos sedutores e destemidamente anuncia o absoluto malogro da batalha… Contudo, vendo que Acab não lhe dava crédito, tentou persuadir o rei por meio de novo expediente, ou seja, um antropomorfismo impressionante: disse-lhe, pois, ter visto os céus abertos e o Senhor sentado num trono, em meio aos anjos seus conselheiros; deliberavam sobre a maneira mais eficaz de iludir Acab, introduzindo-o à infeliz incursão contra o rei da Síria; apresentou-se então a Javé um dos assistentes celestes, o qual se ofereceu para tornar mentirosos e enganadores todos os profetas da corte de Acab. A proposta tendo sido aceita pelo Senhor, realizara o emissário a sua missão… Na base desta narrativa, que era mero artifício oratório, podia Miquéias repetir ainda com mais vivacidade a sua advertência: as palavras dos profetas encorajando Acab à guerra não eram senão o efeito de uma ação sedutora muito consciente e maliciosa; eram a trama de homens mal intencionados, não hesitasse o rei em abrir os olhos para o perigo que ameaça na expedição planejada!
Neste trecho bíblico, portanto, a visão da corte celeste e do anjo sedutor que Deus envia à terra, não corresponde, segundo a mente mesma de Miquéias, a um fato que se tenha realizado no mundo superno; ela não passa de mero recurso de linguagem destinada a calar no ânimo do rei Acab mais fundo que uma simples admoestação.
Os judeus, principalmente após o exílio (séc. VI a.C.), tinham, sim, a noção de um anjo mau sedutor a quem Javé, conforme um plano sábio, concede licença para desencadear males na terra. Dado que, já no séc. IX a.C., Miquéias e seus interlocutores tenham tido conhecimento de tal espírito tentador, ainda nos é forçoso dizer que o acesso desse anjo maligno junto a Deus e a aceitação dos seus serviços por parte do Senhor são meros artifícios usados pelo profeta para avivar a sua exortação. A realidade correspondente a tais artifícios não é senão a seguinte: Javé resolvera permitir (sem deliberar com os anjos) que Acab fosse seduzido pelos mentirosos oragos da corte e, em consequência, sofresse grave derrota, pois destarte o Senhor lhe faria expiar o morticínio anteriormente cometido contra Nabot (cf. 1Rs 21,1-29).
§ 4.° O Deus que fulmina
Há duas passagens da história sagrada em que Deus é mostrado a punir os homens com a morte, sem que para isto pareça haver culpa proporcional. Daí perguntar-se: será tão cruel procedimento compatível com o conceito de Justiça Divina?
1. O primeiro dos ditos trechos faz-nos retroceder aos tempos de Samuel (ca. de 1050 a.C.). Refere-se à volta da arca do Senhor para o seu santuário em Israel, depois que, raptada pelos filisteus, estivera em terra pagã. Numa das etapas do itinerário, o móvel sagrado pousou em Betsamés, aldeia israelita; foi então que, conforme o texto hebraico atual e a tradução latina da Vulgata, se deu o seguinte episódio:
“O Senhor prostrou os habitantes de Betsamés, por terem olhado para a arca; prostrou setenta homens dentre o povo e cinquenta mil da multidão”. (1Sm 6, 19)
O texto, sem dúvida, oferece ao leitor dificuldades de interpretação literárias e teológicas. Os exegetas lhe têm dado explicações diversas:
a) os betsamitas lançaram para a arca do Senhor olhares curiosos, indiscretos ou irreverentes. Ora a falta de respeito para com o Divino foi sempre considerada grave culpa no Antigo Testamento, como se depreende de várias prescrições da Lei mosaica. Assim, por exemplo, rezava cláusula referente aos caatitas ou ministros subalternos do culto:
“A fim de que (os caatitas) vivam e não morram quando se aproximarem dos objetos sagrados… Aarão e seus filhos assinalarão a cada qual o seu ofício… para que não entrem, por um só instante que seja, para ver os objetos sagrados e, em consequência, morram”. (Nm 4, 19s).
Os levitas mesmos, homens exclusivamente dedicados ao santuário, não se podiam, sem perigo de morte, aproximar da arca do Senhor antes que os sacerdotes a tivessem recoberto (cf. Nm 4,5.15).
Os levitas mesmos, homens exclusivamente dedicados ao santuário, não se podiam, sem perigo de morte, aproximar da arca do Senhor antes que os sacerdotes a tivessem recoberto (cf. Nm 4, 5.15). De modo geral, a nenhum profano era lícito, sem arriscar a vida, entrar em contato com o Santo, ainda que fosse por mero olhar (cf. Êx 19, 21); por isto, quando a glória do Senhor se tornou manifesta sobre o monte Sinai, Moisés cerrou o acesso à montanha, a fim de que o povo não se aproximasse indevidamente do lugar da aparição (cf. Êx 19,23). Sabe-se, aliás, que os antigos, mesmo pagãos, julgavam que o sagrado é intangível, invisível, inacessível ao homem não iniciado; todos os objetivos religiosos, principalmente os que servem ao culto divino, comportam a presença de uma força misteriosa e temível. Entre os judeus, a irreverência para com as leis do culto era punida com especial rigor, dado o perigo que ameaçava o povo, de adotar usos e crenças do paganismo.
O conhecimento destes particulares certamente contribui para esclarecer certos textos da Sagrada Escritura. Contudo pergunta-se se realmente podia haver culpa grave nos betsamitas por terem considerado a arca, que se oferecia aos olhares de todos. O fato de haverem previamente oferecido sacrifícios ao Senhor (cf. 6, 15) não atesta o seu respeito religioso?
b) Considerando tais dificuldade, há quem julgue que o betsamitas foram punidos por anteriores pecados do povo ainda não expiados;
c) Flávio José, historiador judaico do séc. I d.C., supõe que, simultaneamente com o olhar, alguns israelitas hajam indevidamente tocado a arca (Ant. 6, 1, 4).
Nenhuma dessas interpretações satisfaz plenamente.
Na verdade, o problema parece estar mal formulado. O texto hebraico dos livros de Samuel chegou até nós em estado de conservação deficiente; em particular, o versículo 1Sm 6, 19 parece ter sido maltratado pela tradição literária, pois refere duas cotas de vítimas (setenta e cinquenta mil), das quais a segunda é evidentemente errônea; a cifra de cinquenta mil ultrapassaria o número de habitantes de toda a região de Betsamés; além disso, não é mencionada por alguns manuscritos hebraicos nem por Flávio José (Ant. 6, 1, 4); terá sido interpolada, como julgam bons exegetas modernos. Considerando isto, os críticos bíblicos dão preferência à forma do texto de 1Sm 6, 19 apresentada pela tradução grega dos LXX:
“Os filhos de Jeconias, dentre todos os moradores de Betsamés, foram os únicos que não se alegraram ao ver a arca do Senhor. O Senhor então prostou setenta homens dentre eles”.
Os filhos de Jeconias, que, de resto, nos são desconhecidos, teriam tomado uma atitude de indiferença, contrastando com o entusiasmo sagrado do povo. O escândalo assim suscitado teria provocado a punição de setenta membros de tal família! A necessidade de preservar a verdadeira fé e excitar a consciência de um povo de dura cerviz podiam exigir tão severa intervenção de Deus, de mais a mais que o episódio se dava numa fase da história assaz remota, quando Israel ainda era muito rude. E – note-se bem – a advertência produziu seus efeitos, pois diz o texto sagrado (6, 20) que os betsamitas reconheceram no ocorrido um sinal, não da crueldade, mas da santidade de Deus!… Em geral, os israelitas temiam, mas não criticavam, os castigos infligidos do Senhor.
2. Trecho que, por análogos motivos, chama a atenção é de 2Sm 6, 6s. (paralelo a 1Cr 13,7-10).
O hagiógrafo continua a descrever o itinerário da arca do Senhor em Israel, itinerário interrompido pela permanência da mesma em Cariatiarim ou Baalá, pouco após o episódio de Betsamés acima referido (cf. 1Sm 7, 1). Tendo estado setenta anos em Cariatiarim, o santuário foi transferido para Jerusalém, onde Davi erigira a capital do seu reino. Aconteceu, porém, que durante o trajeto certo varão chamado Oza percebeu que a arca, posta sobre um carro de bois, corria o risco de cair por terra; tocou-a então com as mãos a fim de ampará-la; logo, porém, o Senhor, enfurecido, o fulminou com a morte.
Tal punição talvez desnorteie a boa mente do leitor… Como interpretá-la?
Antes do mais, rejeitar-se-á, como descabida, a sentença de que o exegeta moderno Procksch se faz porta-voz: “A arca aparece como que carregada de eletricidade sagrada, da qual uma centelha fere o homem profano como um raio”. Outros autores (Fritz Kahn, Denis Papin), cedendo à imaginação, explicam que os sacerdotes de Israel, conhecedores dos segredos da eletricidade, haviam feito da arca “um autentico condensador elétrico, que se carregava mediante eletricidade atmosférica”; e isto a fim de explorar a religiosidade do povo! Esta sentença, dado o seu caráter gratuito, é irrisória; carece de fundamento tanto no texto sagrado como na própria história da civilização humana (que assinala a utilização das forças elétricas a época relativamente recente). Entre outras coisas, note-se que a causa da morte de Oza não parece proceder da arca mesma; ao se ler a narrativa, dir-se-ia que houve uma intervenção de Deus entre o toque e a fulminação.
Mas por que terá o Senhor procedido de maneira tão prepotente?
A ação de Oza, considerada em si, representava uma falta contra as prescrições de culto israelita. Com efeito, não era permitido aos hebreus violar os objetivos sagrados com olhares indiscretos (como acima ficou dito); muito menos lhes era lícito tocá-los. Tão rigorosa era mesmo esta última proibição que os próprios levitas, embora fossem encarregados de transportar os objetos do culto (turíbulos, pinças, bacias, etc…), deviam carregar a arca do Senhor servindo-se de barras, e barras que jamais deveriam ser separadas do móvel, a fim de não se dar ocasião a que alguém o ousasse tocar diretamente (cf. Êc 25, 15).
A pena de morte infligida a Oza por haver transgredido a proibição poderá parecer excessivamente severa. O episódio, porém, há de ser estimado à luz da concepção particularmente rigorista com que em Israel era tachada a violação das coisas santas (cf. pág. 178); ademais é preciso não esquecer que no Antigo Testamento nos defrontamos com um povo que muitas vezes só se rende às impressões fortes.
Uma dúvida ainda fica: terá tido Oza ao menos a consciência de que praticava algo de condenável? Não parece que, ao contrário, era boa a sua intenção, já que desejava preservar de incidente a arca do Senhor?
O texto bíblico não é muito claro neste particular. O original hebraico diz que Oza foi punido por sua “falta” (‘al-hassal, também “erro, negligência”). Como quer que seja, os antigos israelitas não distinguiam muito exatamente entre pecado formal, voluntário, consciente, e pecado material, inconsciente, involuntário; consideravam não raro apenas a ação externa, sem levar em conta a intenção de quem agia. Aliás, nem a teologia, muito apurada, dos rabinos contemporâneos de Cristo fazia distinção entre pecado formal e pecado meramente material, inconsciente. Assim é que no Antigo Testamento a longa seção de Lv 4, 1-5, 6 trata de faltas cometidas por ignorância; prescreve, não obstante, sacrifícios expiatórios para tais ações. Conforme 1Sm 14, 24-45, Jônatas se viu ameaçado de sofrer a morte por ter violado um voto que Saul, seu pai, fizera em nome de todo o exército, voto, porém, de que Jônatas não tinha conhecimento; salvou-o o bom senso do povo, que intercedeu pelo réu inconsciente. A viúva de Sarepta, tendo perdido o filho, julgava que isto lhe podia ter acontecido em punição de faltas que ela mesma ignorava (cf. 1Rs 17, 18).
Considerados estes particulares, não causa estranheza que Oza, pelo simples fato de ser cometido um ato em si mau, embora animado por boa intenção, se possa ter tornado merecedor de castigo. Não falta, porém, exegetas que, em última análise, julgam necessário renunciar ao entendimento pleno do episódio de 2Sm 6, 6s., já que o texto sagrado não fornece indicações suficientes para tal.
§ 5.° Conclusão
Os episódios acima analisados não foram consignados nas Escrituras para fazer tropeçar o leitor cristão; tal finalidade seria indigna de Deus. Trazem, antes, um ensinamento religioso: veja-se neles mais um aspecto dos preparativos pelos quais o Senhor quis fazer passar o gênero humano a fim de que nós, cristãos, pudéssemos finalmente compreender a “justiça melhor” (cf. Mt 5, 20) do Evangelho.
Ao lado dos trechos que manifestam rude mentalidade religiosa em Israel, encontram-se outros que os completam, pois dão a ver que o Senhor Deus, ao mesmo tempo que se revela como “Deus de Justiça”, mostrava também ser o Deus de Bondade e Amor.
Com efeito, o primeiro preceito da Lei mosaica era o do amor, amor a Deus:
“Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e com todas as tuas forças”. (Dt 6, 5)
O segundo lhe era semelhante:
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. (Lv 19, 18; cf. 19, 8-10)
A estes dois mandamentos se podiam reduzir toda a Lei, todas as admoestações do Profetas e, em geral, a Escritura do Antigo Testamento, como reconhecia o Doutor da Lei perante Jesus (cf. Mt 22, 34-40; Mc 12, 28-31; Lc 10, 27);escoladafeii
Da sua parte, o Senhor, por meio de Moisés, lembrava que se revelara aos Patriarcas e exercera a sua Providência para com Israel, não em virtude de algum direito ou merecimento do povo, mas por mero amor:
O Senhor vosso Deus vos escolheu… dentre todos os povos que estão sobre a face da terra. O Senhor aderiu a vós e vos escolheu, não porque ultrapasseis em número todos os povos; sois o mínimo de todos os povos. Mas porque o Senhor vos ama e quis cumprir o juramento que fez a vossos pais”. (Dt 7, 6s.)
“Sabeis que não é por causa da vossa justiça que o Senhor vosso Deus vos dá esse belo país (Canaã) como propriedade; sois um povo de dura cerviz.” (Dt 9, 6; cf. 4, 37)
Voltando-nos agora para os livros de Samuel em particular, donde procede a maioria dos textos considerados neste capítulo, observamos os seguintes traços complementares:
O Senhor que pune é também Aquele em cuja benevolência o povo deposita profunda confiança, pois é o grande Aliado e Tutor de Israel, principalmente na guerra: 1Sm 4,5; 2Sm 5, 10; 8, 6-14.
Talvez nenhum livro histórico da Sagrada Escritura ponha tanto em realce a piedade pessoal, as íntimas relações dos fiéis com o Senhor, como os livros de Samuel. É o que se verifica na história de Ana, que, devota e confiante, pede um filho (1Sm 1, 11.20.26), na celebração frequente dos sacrifícios populares (1Sm 2, 13.18s.), no entusiasmo das “escolas profetas” (1Sm 10, 5; 19, 20), no zelo religioso sincero, embora pouco esclarecido, de Saul (cf. o voto de Saul em 1Sm 14, 24-35; seu desejo de oferecer sacrifícios em 1Sm 13, 9-12; 15, 9.15; outras afirmações em 11, 13; 17, 37; 28, 6); principalmente no amor de Davi, que promove o culto sagrado (1Sm 26, 19s.; 2Sm 6, 5.14-16.22; 12, 16-23; 15, 25.31). Davi sabe que a sua vida é cara a Deus (1Sm 26, 24; 2Sm 7, 18s.21); o seu arrependimento, após o pecado, testemunha amor, não temor apenas (2Sm 12, 13; 24, 10).
Por fim, embora muito valor se desse ao aspecto exterior da santidade ou da virtude, o Autor Sagrado inculcava que Deus vê além das aparências: “O homem considera a face; Deus, porém, percebe o coração”. (1Sm 16, 7)
Texto retirado do livro: Para Entender o Antigo Testamento, Estêvão Bettencourt

Via: Editora Cléofas 

Papa Francisco: a beleza de Deus é eterna

13/11/2015

Sexta-feira, 13 de novembro – na Missa em Santa Marta o Papa Francisco afirmou que só Deus é eterno e não as coisas da terra ou os hábitos humanos. Exortou os cristãos a não olharem para trás mas em frente.
A grande beleza é Deus – diz o Papa, citando o Salmo e afirmando que o ser humano dá atenção a coisas que um dia acabarão e liga-se às belezas terrenas.
A primeira leitura e o Salmo da liturgia do dia, narram a beleza da criação, mas sublinham os erros “daquela gente que não foi capaz de olhar para a transcendência”.
Estão ligados à idolatria; “estão tocados de admiração pela sua potência e energia” – afirmou o Papa Francisco que se refere ao culto dos seres humanos pelas belezas do mundo sem perceberem que tudo um dia acabará. Esquecem o “entardecer” da vida – disse o Santo Padre.
Ao mesmo tempo, há também a idolatria dos hábitos que tornam surdo o coração – disse o Papa referindo o Evangelho do dia no qual Jesus faz uma descrição dos homens e das mulheres de Sodoma e também aqueles do tempo de Noé: bebiam, comiam, tomavam mulher e marido, sem pensarem nos outros. “E também isto é uma idolatria” – sublinhou o Santo Padre – “estar ligado aos hábitos sem pensar que acabarão”.
Na conclusão da sua homilia o Papa Francisco exortou os cristãos a não serem gente que olha para trás e que quer “voltar para trás”, mas gente que olha em frente e que caminha “em frente” sem divinizar as belezas e hábitos que temos, mas contemplando a “Glória de Deus”.

Rádio Vaticano 

Francisco: pobres não podem esperar, não à carestia da caridade

13/11/2015 


O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (12/11), na Sala Paulo VI, no Vaticano, cerca de 5 mil representantes da Peregrinação da Família Guanelliana. “Vós celebrais o primeiro centenário do nascimento no céu de São Luís Guanella. Gostaria de imaginar o que ele vos diria para vos confirmar na fé, esperança e caridade. Certamente, o faria com a sua simplicidade franca e genuína. Então pensei em três verbos concretos: confiar, olhar e apressar”, disse o pontífice.
“A vida de Dom Guanella teve no centro a certeza de que Deus é Pai misericordioso e providente. Ele acreditou no amor concreto e providente do Pai e teve muitas vezes a coragem de superar os limites da prudência humana para colocar em prática o Evangelho. Para ele a providência não era uma poesia, mas a realidade. Deus cuida de nós e quer que nos confiemos a Ele”, frisou Francisco.
O segundo verbo é olhar. “Deus criador motiva a criatividade naqueles que vivem como seus filhos.” Assim, eles aprendem a olhar o mundo com olhos novos, cheios de amor e esperança. “São olhos que vêem dentro de si com verdade e enxergam longe na caridade.” Nesta maneira de olhar “os outros não aparecem como obstáculos a serem superados, mas como irmãos e irmãs a serem acolhidos. Descobre-se assim, como disse Dom Guanella, que “o amor ao próximo é o conforto da vida”, disse ainda o Papa.
Não faltam problemas, pobrezas e injustiças no nosso mundo que tem fome de caridade. “Precisamos de pessoas com olhos renovados pelo amor que infundem esperança.” “O amor faz encontrar maneiras e discursos para confortar quem é vulnerável”, dizia Dom Guanella.
Francisco disse que “às vezes a nossa espiritualidade é míope, pois não conseguimos olhar além do nosso eu. Muitas vezes gostamos de ajudar quem está longe e não somos capazes de nos inclinar para quem vive perto de nós. Muitas vezes preferimos fechar os olhos, porque estamos cansados, derrotados pelo pessimismo. Dom Guanella, que recomendava olhar Jesus partindo do seu coração, nos convida a ter o mesmo olhar do Senhor: um olhar que infunde esperança e alegria, paciente com quem sofre”.
O último verbo é apressar. Os pobres são filhos predilectos do Pai, dizia São Luís Guanella que amava repetir: “Quem dá aos pobres, empresta a Deus.”
Como o Pai é delicado e concreto com os filhos pequenos e frágeis, também nós não podemos fazer esperar os irmãos e irmãs que estão em dificuldades, “porque a misericórdia não pode esperar. Não podemos parar enquanto tiver pobre para socorrer”, dizia Dom Guanella.
O Papa disse que “precisamos ouvir o convite do Espírito para ir ao encontro de quem precisa dos nossos cuidados e o nosso afecto, porque como ensinava São Luís, um coração cristão que crê e sente não pode passar diante das indigências do pobre sem socorrê-lo”.
Francisco concluiu o seu discurso encorajando os guanellianos a prosseguirem no seu caminho, e pediu para que rezem por ele. (BS/MJ)


Fonte: Rádio Vaticano 

12 de nov. de 2015

Papa: Eucaristia não é prémio mas força para os pecadores

12/11/2015

Começou nesta quinta-feira dia 12 de novembro em Mumbai o Congresso Eucarístico indiano. O Cardeal Malcolm Ranjith, arcebispo de Colombo, no Sri Lanka, é o enviado especial do Papa. Participam também os quatro cardeais indianos: Telesphore Toppo, Baselios Cleemis, George Alencherry e Oswald Gracias, além de 71 bispos e 665 delegados de toda a Índia. O Congresso termina no próximo domingo dia 15.
O Papa Francisco participa do Congresso com uma mensagem em formato vídeo. Com o tema “Nutridos pela Eucaristia para nutrir os outros”, “este Congresso é um dom de Deus não só para os cristãos da Índia, mas para toda a população deste país tão rico de diversidades culturais e espiritualidades”, diz o Papa na sua mensagem.
Passo importante da mensagem do Santo Padre é aquele em que o Papa afirma que devemos aprender que “a Eucaristia não é um prémio para os bons mas é força para os frágeis, para os pecadores. E o perdão é o viático que nos ajuda a andar e caminhar.”
O Papa Francisco refere ainda que “os seres humanos de todo o mundo precisam hoje de nutrimento para saciar também fomes como a de amor, de imortalidade, de afeto, atenção, perdão e misericórdia, que podem ser satisfeitas somente com o Pão que vem do alto”.
O Santo Padre explica assim que a Eucaristia não se encerra com a comunhão do corpo e do sangue, mas nos conduz à solidariedade com os outros, afirmando que “quem é saciado e nutrido por Cristo não pode ficar indiferente quando vê os seus irmãos e irmãs sofrerem na indigência e na fome. São chamados a levar a alegria do Evangelho àqueles que ainda não a receberam; e reforçados pelo Pão Vivo, serem portadores de esperança àqueles que vivem nas trevas e no desespero”.
O Papa encerra a mensagem fazendo votos de que o Congresso Eucarístico seja ocasião para a união de todos no amor. 

Fonte: Rádio Vaticano 

12/11 – São Josafá

Sao JosafaHoje celebramos a memória do santo Bispo que derramou o seu sangue por amor do Supremo e Único Pastor das ovelhas, tornando-se precursor do ecumenismo. João Kuncevicz nasceu em Wladimir (Ucrânia), no ano de 1580, numa família de ortodoxos, ou seja, ligados à Igreja Bizantina e não à Igreja Romana.
Com a mudança de vida mudou também o nome para Josafá, pois era comerciante até que, tocado pelo Espírito do Senhor, abraçou a fé católica e entrou para a Ordem de São Basílio, na qual, como monge desde os 24 anos, tornou-se apóstolo da unidade e sacerdote do Senhor. Dotado de muitas virtudes e dons, foi superior de vários conventos, até tornar-se Arcebispo de Polotsk em 1618 e lutar pela formação do Clero, pela catequese do povo e pela evangelização de todos.
São Josafá, além de promover com o seu testemunho a caridade para com os pobres, desgastou-se por inteiro na promoção da unidade da Igreja Bizantina com a Romana; por isso conseguiu levar muitos a viverem unidos na Igreja de Cristo. Os que entravam em comunhão com a Igreja Romana, como Josafá, passaram a ser chamados de “uniatas”, ou seja, excluídos e acusados de maus patriotas e apóstolos, segundo os ortodoxos. Aconteceu que numa viagem pastoral, Josafá, com 43 anos na época, foi atacado, maltratado e martirizado. Após ser assassinado, São Josafá foi preso a um cão morto e lançado num rio. Dessa forma, entrou no Céu, donde continua intercedendo pela unidade dos cristãos, tanto assim que os próprios assassinos mais tarde converteram-se à unidade desejada por Nosso Senhor Jesus Cristo.
São Josafá, rogai por nós!
Fonte: Canção Nova

As 3 táticas de Santa Teresinha para vencer a tentação

Um ensinamento breve e incrivelmente poderoso para a sua vida espiritual.



O Pe. Angel Rossi, em seu livro “Teresa de Lisieux: a missioneira, a doutora”, fala sobre as três táticas que Santa Teresinha usava para vencer a tentação:
1. Não ter medo do mal: ela não se acanhava, e sim confrontava o mal com a verdade, ou simplesmente, quando necessário, dava as costas à tentação, matando-a com a indiferença.
2. Ir diretamente a Jesus para falar do que está acontecendo comigo: e também talvez conversar com alguém com mais experiência espiritual. Mas sobretudo fazer da tentação uma matéria da própria oração.
3. Oferecer, reparar, por meio do que estou vivendo com dor, pelos outros. Sobre esta terceira tática, o Pe. Angel diz:
Faz bem saber que, enquanto eu sofro isso, talvez perto de mim ou muito longe haja outras pessoas que estão sofrendo a mesma coisa, ou até mais. Além disso, saber que minha dor de agora pode estar sendo fecunda em um âmbito que eu nem imagino, graças à comunhão dos santos.
Minha oração de hoje, meu sofrimento de hoje, diz Van Deer Mer, é como uma semente que eu pego e tenho a coragem de jogar ao ar livre, confiando que os ventos do Espírito a levarão até onde Ele achar mais conveniente, e lá ela germinará e dará fruto, um fruto que eu talvez nunca veja nesta vida, mas sim no céu, onde parte da minha alegria será quando Senhor me apresentar aquelas pessoas das quais pude cuidar misteriosamente com a minha oração e oferecimentos, e sobretudo quando Ele nos apresentar aquelas às quais devo o milagre de crer.
O Senhor, além do abraço que esperamos dele, vai nos chamar e dizer:
– Veja, você está no céu graças a esta velhinha que ofereceu sua dor, graças a este menino que rezava toda noite um Pai-Nosso.
– Mas eu não a conheço, Senhor.
– E o que isso tem a ver? – dirá Deus.
Assim, Ele nos apresentará a pessoas que nunca vimos, ou talvez ao contrário, vamos nos encontrar com pessoas que estavam muito perto de nós, que nem percebemos até que ponto cuidavam de nós “invisivelmente”, com seu amor e dor oferecida pela nossa salvação.


Via: Aleteia 

11 de nov. de 2015

As imagens na Tradição da Igreja

Altar da igreja de Floriano1Na Encarnação do Verbo, Jesus Cristo mostrou aos homens uma face visível de Deus, que quis se servir de numerosos elementos sensíveis (imagens, palavras, cenas históricas…) para nos comunicar a Boa-Nova.
Os cristãos foram, então, compreendendo que segundo a pedagogia divina, deveriam passar da contemplação do visível ao invisível. As imagens, principalmente os que reproduziam personagens e cenas da história sagrada, tornaram-se “a Bíblia dos iletrados” ou analfabetos.
As imagens sempre foram usadas por Jesus e pelos Apóstolos como instrumentos eficazes e reveladores da realidade invisível: para anunciar o Reino de Deus usaram imagens de lírios, pássaros, sal, luz, etc., coisas que estimulavam a compreensão do abstrato através de imagens retiradas do mundo concreto. São Paulo também ensina que o Deus invisível tornou-se visível em Jesus Cristo (cf. Cl 1,15).aintercessoecultodossantos
A controvérsia iconoclasta, inspirada por correntes judaizantes e heréticas nos séculos VIII e IX, que condenava o uso das imagens, terminou com a reafirmação do culto dessas no Concílio de Nicéia II, em 787.
Os Reformadores protestantes rejeitaram as imagens por causa dos abusos do fim da Idade Média; Lutero, porém, se mostrou bastante liberal com as imagens; não as proibia. Ultimamente entre os luteranos a atitude diante das imagens tem sido submetida a revisão. Lutero disse em 1528:
“Tenho como algo deixado à livre escolha as imagens, os sinos, as vestes litúrgicas… e coisas semelhantes. Quem não os quer, deixe-os de lado, embora as imagens inspiradas pela Escritura e por histórias edificantes me pareçam muito úteis… Nada tenho em comum com os Iconoclastas (quebradores de imagens)” (Da Ceia de Cristo).
S. Clemente de Alexandria († antes de 215) dizia que: “O próprio homem é a imagem viva de Deus”, eis o argumento que repete, acrescentando ainda um adágio freqüente na Igreja antiga: “Viste teu irmão, viste teu Deus” (Stromateis I 19 e II 15, PG 8,812 e 1009).
Os cristãos foram percebendo que a proibição de fazer imagens no Antigo Testamento era apenas uma questão pedagógica de Deus com o povo de Israel. As gerações cristãs foram compreendendo que a realidade da Encarnação do Verbo como homem, visível, indicava que eles deveriam subir ao Invisível passando pelo visível que Cristo apresentou aos homens. Assim, começaram a representar e meditar as fases da vida de Jesus e a representação artística das mesmas começaram a surgir como um meio valioso para que o povo fiel se aproximasse do Filho de Deus.
É relevante notar que já nas antigas Catacumbas de Roma, os antigos cemitérios cristãos, encontram-se diversos afrescos geralmente inspirados pelo texto bíblico: Noé salvo das águas do dilúvio, os três jovens cantando na fornalha, Daniel na cova dos leões, os pães e os peixes restantes da multiplicação efetuada por Jesus, o Peixe (Ichthys), que simbolizava o Cristo…
Note que esses cristãos dos primeiros séculos ainda estão debaixo da perseguição dos romanos. E eles faziam imagens e pintavam figuras. Será que eram idólatras por isso? É lógico que não, eles morriam às vezes mártires exatamente para não praticarem a idolatria, reconhecendo César como Deus e lhe queimando incenso. Ora, se os nossos mártires usavam figuras pintadas, é claro que elas são legítimas.
Nas Igrejas as imagens tornaram-se a “Bíblia dos iletrados”, dos simples e das crianças, exercendo grande função catequética. Alguns escritores cristãos nos contam isso.
S. Gregório de Nissa (†394) escreveu:
“O desenho mudo sabe falar sobre as paredes das igrejas e ajuda grandemente” (Panegírico de S. Teodoro, PG 94, 1248c).
S. João Damasceno, doutor da Igreja, grande defensor das imagens no Concilio de Nicéia II, disse:
“O que a Bíblia é para os que sabem ler, a imagem o é para os iletrados” (De imaginibus I 17 PG, 1248c).
“Antigamente Deus, que não tem corpo nem face, não poderia ser absolutamente representado através duma imagem. Mas agora que Ele se fez ver na carne e que Ele viveu com os homens, eu posso fazer uma imagem do que vi de Deus.”
“A beleza e a cor das imagens estimula minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto quanto o espetáculo dos campos estimula o meu coração para dar glória a Deus” (CIC, 1162).
“Como fazer a imagem do invisível?… Na medida em que Deus é invisível, não o represento por imagens; mas, desde que viste o incorpóreo feito homem, fazes a imagem da forma humana: já que o inviável se tornou visível na carne, pinta a semelhança do invisível” (I 8 PG 94, 1237-1240).

“Outrora Deus, o Incorpóreo e invisível, nunca era representado. Mas agora que Deus se manifestou na carne e habitou entre os homens, eu represento o “visível” de Deus. Não adoro a matéria, mas o Criador da matéria” (Ibid. I 16 PG 94, 1245s).
O Papa São Gregório Magno(† 604), doutor da Igreja, escreveu a Sereno, bispo de Marselha, que ordenou quebrar as imagens:
“Tu não devias quebrar o que foi colocado nas Igrejas não para ser adorado, mas simplesmente para ser venerado. Uma coisa é adorar uma imagem, outra coisa é aprender, mediante essa imagem, a quem se dirigem as tuas preces. O que a Escritura é para aqueles que sabem ler, a imagem o é para os ignorantes; mediante essas imagens aprendem o caminho a seguir. A imagem é o livro daqueles que não sabem ler” (epist. XI 13 PL 77, 1128c).
O Concílio de Nicéia II (787), com base nos sólidos argumentos de grandes teólogos como São João Damasceno, doutor da Igreja, reafirmou a validade do culto de veneração (não adoração) das imagens. O Concílio distinguiu entre Iatréia (em grego adoração), devida somente a Deus, e proskynesis (veneração), tributável aos santos e também às imagens sagradas na medida em que estas representam os santos ou o próprio Senhor; o culto às imagens é, portanto, relativo, só se explica na medida em que é tributado indiretamente àqueles que as imagens representam. Assim se pronunciaram os padres conciliares:
“Definimos… que, como as representações da Cruz…, assim também as veneráveis e santas imagens, em pintura, em mosaico ou de qualquer outra matéria adequada, devem ser expostas nas santas igrejas de Deus (sobre os santos utensílios e os paramentos, sobre as paredes e de quadros), nas casas e nas entradas. O mesmo se faça com a imagem de Deus Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, com as da… santa Mãe de Deus, com as dos santos Anjos e as de todos os santos e justos. Quanto mais os fiéis contemplarem essas representações, mais serão levados a recordar-se dos modelos originais, a se voltar para eles, e lhes testemunhar … uma veneração respeitosa, sem que isto seja adoração, pois esta só convém, segundo a nossa fé, a Deus” (sessão 7, 13 de outubro de 787; Denzinger-Schönmetzer, Enchridion Symbolorum nº 600s).
Note, então, que muito antes da Reforma Protestante, a Igreja já tinha estudado o uso das imagens; isto foi há cerca de 750 anos antes da Reforma.
A sagrada Tradição da Igreja, sempre assistida pelo Espírito Santo (cf. Jo14,15.25; 16,12-13) sempre reconheceu o valor pedagógico e psicológico das imagens como um auxílio para a vida de oração.
Todos os santos da Igreja, em todas as épocas, valorizaram as imagens. Santa Teresa de Ávila († 1582), ao ensinar as vias da oração às suas Religiosas, dizia :“Eis um meio que vos poderá ajudar… Cuidai de ter uma imagem ou uma pintura de Nosso Senhor que esteja de acordo com o vosso gosto. Não vos contenteis com trazê-las sobre o vosso coração sem jamais a olhar, mas servi-vos da mesma para vos entreterdes muitas vezes com Ele” (Caminho de Perfeição, cap. 43,1).nsaparecida25cmestilizada
Enfim, Deus não proibiu imagens de maneira absoluta; mas proibiu imagens de ídolos para serem adorados. Sabemos que uma meia verdade é pior do que uma mentira. Não se pode interpretar a Bíblia lendo apenas alguns versículos sobre um determinado assunto; é preciso ler todos os versículos da Bíblia que falam do mesmo assunto para que a interpretação seja correta.
O perigo da interpretação fundamentalista é este: fixar os olhos em um único versículo e querer tirar daí uma interpretação definitiva de uma verdade religiosa. Cai-se no erro.
Prof. Felipe Aquino

Via Cléofas 

11/11 – São Martinho de Tours

pedras_angulares_sao_martinho_tours_3Hoje celebramos a memória do Bispo São Martinho, que tornou-se intercessor e modelo de apostolado para todos nós.
Nasceu em 316 na Panônia (atual Hungria), numa família pagã que da parte do pai (oficial do exército romano) fez de Martinho um militar, enquanto o Pai do Céu o estava fazendo cristão, já que começou a fazer o Catecumenato.
Certa vez quando militar, mas ainda não batizado, Martinho partiu em duas partes seu manto para dá-lo a um pobre, e assim Jesus Cristo aparece-lhe durante a noite e disse-lhe: “Martinho, principiante na fé, cobriu-me com este manto”. Então este homem de Deus foi batizado e abandonou a vida militar para viver intensamente a vida religiosa e as inspirações do Espírito Santo para sua vida.
Com a direção e ajuda do Bispo Hilário, Martinho tornou-se monge, Diácono, fundador do primeiro mosteiro na França e depois sacerdote que formava os seus “filhos” para a contemplação e ao mesmo tempo para a missão de evangelizar os pagãos; diferenciando-se com isso dos mosteiros do Oriente.
Por ser fiel no pouco, São Martinho recebeu o mais, que veio com a sua Ordenação para Bispo em Tours. Isto não o impediu de fundar ainda muitos outros mosteiros a fim de melhor evangelizar sua Diocese. Entrou no Céu em 397.
São Martinho de Tours, rogai por nós!
Fonte: Canção Nova

Audiência: no convívio familiar viver a Eucaristia

11/11/2015

Quarta-feira, 11 de novembro – o Papa Francisco na audiência geral falou sobre a convivialidade na família, em particular, ao redor de uma mesa. Considerou ser hoje importante passar da mesa da família, à mesa da Eucaristia
O Santo Padre começou por afirmar na sua catequese que o convívio, ou seja, “a partilha dos bens da vida”, é uma característica das relações familiares:
“A convivialidade é um termômetro
seguro para medir a saúde das relações: se na família há alguma coisa que não corre bem, ou alguma ferida escondida, à mesa percebe-se. Uma família que quase nunca come junta, ou na qual à mesa não se fala mas olha-se para a televisão, ou para o smartphone, é uma família ‘pouco família’.”
Desta forma – continuou o Papa – “a família reunida ao redor da mesa é um símbolo, um ícone, desta experiência fundamental” – disse o Papa que salientou que “o cristianismo possui uma vocação especial para esta índole convivial”.
Jesus, além de ensinar quando se encontrava à mesa, também usava esta imagem para falar do Reino de Deus; aliás, foi na mesa da última Ceia que Ele nos deixou a Eucaristia como testamento do seu Sacrifício na Cruz. E esta é uma verdadeira oportunidade do nosso tempo – declarou o Papa Francisco:
“Neste nosso tempo, marcado por tantos fechamentos e por tantos muros, a convivialidade, gerada pela família e dilatada pela Eucaristia, torna-se numa oportunidade crucial. A Eucaristia e as famílias por essas nutridas podem vencer os fechamentos e construir pontes de acolhimento e de caridade.”
“Sim, a Eucaristia de uma Igreja de famílias, capaz de restituir à comunidade o fermento da convivialidade e da hospitalidade recíproca, é uma escola de inclusão humana que não teme confrontos! Não há pequenos, órfãos, frágeis, indefesos, feridos, desiludidos, desesperados e abandonados, que a convivialidade eucarística das famílias não possa nutrir, refrescar, proteger e acolher.”
Nos dias de hoje, em que vemos as famílias sempre menos reunidas, a passagem da mesa da família à mesa da Eucaristia é ainda mais importante – afirmou o Santo Padre  que frisou que na Missa, o Senhor oferece o seu Corpo e Sangue para todos, fazendo com que a própria experiência do convívio familiar se abra a uma experiência de uma convivência universal: assim a família cristã mostra o seu verdadeiro horizonte, que é o da Igreja, Mãe de todos os homens, onde não existem excluídos nem abandonados.
Nas saudações nas várias línguas o Santo Padre saudou também os peregrinos de língua portuguesa:
“Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, particularmente os fiéis brasileiros de Aracaju, Divinópolis, Pernambuco e São Paulo. Faço votos que este encontro que, nos faz sentir membros da única família dos filhos de Deus, vos ajude a renovar em vossos lares o desejo de valorizar ainda mais os momentos de convívio junto com as vossas famílias. Que Deus vos abençoe.”
O Papa Francisco a todos deu a sua benção!

Fonte: Rádio Vaticano 

Natividade de São João Batista: o maior dos profetas

A natividade de  São João Batista  é  uma solenidade muito importante no ano litúrgico, porque nesse dia lembramos o maior dos profetas, com...